Ética

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: [[Ética]] é o [[sentido]] do [[agir]] e da [[verdade]] do [[ser]] como possível [[horizonte]] do [[agir]] [[humano]]. E todo [[agir]], não todo [[fazer]], em [[essência]] é [[ético]], pois funda-se no [[sentido]] e [[verdade]] do [[ser]], ou seja, são a sua [[medida]].
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: [[Ética]] vem do grego ''[[ethos]]'', fundando os [[valores]] [[éticos]] e, portanto, as [[ações]] [[éticas]]. Estas dizem respeito ao [[ser]] e seu [[sentido]]. São [[valores]] e [[ações]] [[ontológicas]]. Elas se [[originam]] do [[sentido]] de [[viver]], de [[existir]]. A [[sentença]] 119 de Heráclito diz: ''[[Ethos]] anthropou [[daimon]]'', que significa: "A [[morada]] do [[homem]]: o [[extraordinário]]" (1). O [[homem]] vive, existe no e a partir do [[extraordinário]], em [[grego]]: ''[[daimon]]'', o [[sagrado]], o [[divino]]. [[Ética]] diz então: a [[essência]] e [[sentido]] do [[agir]] [[humano]] para cada um chegar a [[ser]] o que [[é]], o que recebeu para [[ser]]. Há, portanto, uma [[diferença]] [[radical]] em [[relação]] à [[moral]], embora frequentemente se usam como se fossem [[sinônimas]] essas [[palavras]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) '''Os pensadores originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito'''. Petrópolis, Vozes, 1991. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão e Sérgio Wrublesvski.
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:Todo [[agir]] essencial exige uma [[ética]] não como [[norma]] ou [[paradigma]], mas como [[aprender]] no [[sentido]] grego de ''manthano'', pois este diz não o [[aprender]] algo, mas o agarrar-se à [[essência]] do [[ser]] que já somos, do qual nos vem o [[sentido]] do [[agir]]. É nesse sentido que Píndaro nos ensina: "Chega a [[ser]] o que já és, aprendendo", em grego: ''Genoi 'óios essi mathon...''. [[Ensinar]] é, pois, [[aprender]], ''manthano'', e não decorar algo sobre. Todo [[ensinar]] e [[aprender]], essencialmente, somente são quando se tornam [[éticos]].  
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: "No [[princípio]] de tudo a [[ação]]. O [[agir]] [[humano]] é empenho e conquista de [[ser]], é [[percepção]] e [[vivência]] de não ser na experiência de [[vir a ser]]. O [[homem]] não faz apenas bem e /ou mal as [[coisas]] que faz. Ele faz também um [[bem]] e/ou um [[mal]] a si mesmo e aos [[outros]]. Mas em tudo que venha a [[fazer]] e/ou deixar de [[fazer]] lhe chega sempre um convite radical, o convite de [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]]. É neste sentido que, na dinâmica de todo [[agir]] [[humano]], vive um tríplice apelo: [[fazer]] [[bem]], [[fazer]] um [[bem]], fazer o [[bem]]. Assim, a [[ética]], em que mora todo [[agir]] dos [[homens]], consiste em [[fazer]] o [[bem]] e evitar o [[mal]] em tudo." (1).
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.
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:Ética é chegar a ser o que já se é, ou seja, [[aprender]] na e pela [[experienciação]] do [[viver]]. É a [[vida]] não apenas vivida, mas experienciada. É o que nos ensina Píndaro, quando diz: ''Genoi 'óios essi mathon...'' (Chega a [[ser]] o que és: aprendendo).
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: [[Ética]] é chegar a [[ser]] o que já se [[é]], ou seja, [[aprender]] na e pela [[experienciação]] do [[viver]]. É a [[vida]] não apenas vivida, mas experienciada. É o que nos ensina Píndaro, quando diz: ''Genoi 'óios essi mathon...'' (Chega a [[ser]] o que és: aprendendo).
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:"A [[ética]] está no [[empenho]] de [[ser]], mora no [[desempenho]] de não ser tudo que já se tem e não se tem. Na ética já estamos onde temos ainda de chegar" (1).
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:"A [[ética]] está no [[empenho]] de [[ser]], mora no [[desempenho]] de não ser tudo que já se tem e não se tem. Na [[ética]] já estamos onde temos ainda de chegar" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.
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:"Prescrever e dever já provêm da [[ética]] a ser conquistada e dita em toda [[libertação]]. Pois [[ética]] é sempre [[libertação]] do [[mal]] para voltar à [[liberdade]] [[originária]] do [[bem]] de [[ser]] e não ser tudo que já se é, mas de que nunca se está de posse. No engajamento [[ético]] de [[fazer]] e deixar de [[fazer]], somos e estamos investindo pela [[liberdade]] numa [[libertação]] sem [[princípio]], [[meio]] ou [[fim]]" (1).
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: "Prescrever e dever já provêm da [[ética]] a ser conquistada e dita em toda [[libertação]]. Pois [[ética]] é sempre [[libertação]] do [[mal]] para voltar à [[liberdade]] [[originária]] do [[bem]] de [[ser]] e [[não ser]] tudo que já se [[é]], mas de que nunca se está de posse. No engajamento [[ético]] de [[fazer]] e deixar de [[fazer]], somos e estamos investindo pela [[liberdade]] numa [[libertação]] sem [[princípio]], [[meio]] ou [[fim]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----.  ''Filosofia contemporânea''. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----.  '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.
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: Essencialmente, a [[ética]] é [[realizar]] aquilo que somos e recebemos como [[destino]], como ''[[moira]]'', diziam os gregos. Já a [[realização]] [[moral]] é seguir o [[social]], o que todos fazem. Na [[moral]] não há [[próprio]], mas [[padrões]] de comportamento e [[valores]] padronizados.
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: "O desafio da [[ética]] hoje não está em transformar-se numa [[ética]] da situação. Toda [[ética]] da situação inclui uma [[abstração]] nevoenta. O desafio [[concreto]] da [[ética]] está em entregar-se toda à [[espera]] do [[inesperado]]. Uma [[espera]] que vive e vivifica a [[vida]] do [[pensamento]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ética e comunicação". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 108.
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: Todo [[agir]] essencial exige uma [[ética]] não como [[norma]] ou [[paradigma]], mas como [[aprender]] no [[sentido]] grego de ''manthano'', pois este diz não o [[aprender]] algo, mas o agarrar-se à [[essência]] do [[ser]] que já somos, do qual nos vem o [[sentido]] do [[agir]]. É nesse sentido que Píndaro nos ensina: "Chega a [[ser]] o que já és, aprendendo", em grego: ''Genoi 'óios essi mathon...''. [[Ensinar]] é, pois, [[aprender]], ''manthano'', e não decorar algo sobre. Todo [[ensinar]] e [[aprender]], essencialmente, somente são quando se tornam [[éticos]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "As [[poéticas]] das [[obras]] são [[memória]] do [[real]]. Um [[conhecimento]] cultural e científico pode ser superado por outro. Em [[relação]] às [[obras poéticas]] não há, nunca houve, jamais haverá superação. Nelas e por elas se perfaz o [[sentido]] do [[homem]], isto é, nelas o [[humano]] do [[homem]] se abre para a [[escuta]] da [[linguagem]] e o [[homem]] se faz [[humano]], isto é, [[ético]]. Pois ''[[ethos]]'', em grego, diz a [[morada]] da [[linguagem]], o [[lugar]] do [[humano]] do [[homem]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte: corpo, mundo e terra'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.
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: "A aposta do [[Bem]] pelo [[Bem]] traz consigo o [[apelo]] de [[vir a ser]] nas [[ações]] o que já se [[é]] e não se é no [[ser]] que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da [[libertação]] implica e traz consigo o [[desafio]] do [[Bem]] e do [[Mal]]. Percorrer o [[curso]] de [[libertação]] próprio desta urgência supõe apostar na [[criação]] do [[inesperado]] que alimenta de [[esperança]] toda espera. Radicalmente, nenhuma [[ética]] se reduz à prescrição de [[normas]], nem está apenas no cumprimento do [[dever]]. Toda [[prescrição]] e todo [[dever]] já chegam sempre tarde. São um [[evento]] temporão" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.
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: "À reunião de [[informações]] com [[conhecimentos]] sendo [[o que é]] se chama, sempre se chamou: [[sentido]] de [[vida]]. [[Ser]] [[sábio]] é dar [[sentido]] a nossas [[ações]]. Ao [[sentido]] do [[agir]] desde [[sempre]] se denominou [[ética]]. [[Ser]] [[sábio]] é [[ser]], onde se sabe o [[sentido de ser]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 84.
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: "A [[imagem-questão]] é a [[imagem-poética]] nos con-vocando para a [[escuta]] das grandes [[questões]], onde essa [[escuta]] é a condição [[fundamental]] de todo [[diá-logo]] e de todas as [[interpretações]]. Na [[imagem-poética]] comparece [[sempre]] a ''[[poiesis]]'' como [[vigor]] de todo [[agir]] [[essencial]] e, ao mesmo tempo, o ''[[ethos]]'', como [[linguagem]] e [[sentido do ser]]. Na medida em que é ''[[ethos]]'' e [[sentido]], a [[interpretação]] se torna o [[horizonte]] onde se decide o que somos enquanto [[valor]] e [[sentido]]. Por isso, de ''[[ethos]]'' se originou a [[ética]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). '''Arte em questão: as questões da arte'''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 19.
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: "A [[imagem-questão]] é a [[imagem-poética]] con-vocando-nos para a [[escuta]] das grandes [[questões]], onde essa [[escuta]] é a condição [[fundamental]] de todo [[diá-logo]] e de todas as [[interpretações]], enfim, de todas as [[leituras]]. Na [[imagem-poética]] comparece [[sempre]] a ''[[poiesis]]'' como [[vigor]] do [[sentido]] do [[agir]] [[essencial]] e, ao mesmo tempo, o ''[[ethos]]'', como [[linguagem]] e [[sentido do ser]]. Na medida em que é ''[[ethos]]'' e [[sentido]], a [[leitura]] interpretativa se torna o [[horizonte]] onde se decide a [[essência]] do [[ser humano]], enquanto [[valor]] e [[sentido]]. [[Ético]] é o [[humano]] de todo [[ser humano]]. Por isso, de ''[[ethos]]'' se originou a [[ética]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---------. '''Leitura: questões'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 235.

Edição atual tal como 22h41min de 19 de Maio de 2021

1

Ética vem do grego ethos, fundando os valores éticos e, portanto, as ações éticas. Estas dizem respeito ao ser e seu sentido. São valores e ações ontológicas. Elas se originam do sentido de viver, de existir. A sentença 119 de Heráclito diz: Ethos anthropou daimon, que significa: "A morada do homem: o extraordinário" (1). O homem vive, existe no e a partir do extraordinário, em grego: daimon, o sagrado, o divino. Ética diz então: a essência e sentido do agir humano para cada um chegar a ser o que é, o que recebeu para ser. Há, portanto, uma diferença radical em relação à moral, embora frequentemente se usam como se fossem sinônimas essas palavras.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Os pensadores originários: Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Petrópolis, Vozes, 1991. Tradução: Emmanuel Carneiro Leão e Sérgio Wrublesvski.

2

"No princípio de tudo a ação. O agir humano é empenho e conquista de ser, é percepção e vivência de não ser na experiência de vir a ser. O homem não faz apenas bem e /ou mal as coisas que faz. Ele faz também um bem e/ou um mal a si mesmo e aos outros. Mas em tudo que venha a fazer e/ou deixar de fazer lhe chega sempre um convite radical, o convite de fazer o bem e evitar o mal. É neste sentido que, na dinâmica de todo agir humano, vive um tríplice apelo: fazer bem, fazer um bem, fazer o bem. Assim, a ética, em que mora todo agir dos homens, consiste em fazer o bem e evitar o mal em tudo." (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 63.

3

Ética é chegar a ser o que já se é, ou seja, aprender na e pela experienciação do viver. É a vida não apenas vivida, mas experienciada. É o que nos ensina Píndaro, quando diz: Genoi 'óios essi mathon... (Chega a ser o que és: aprendendo).


- Manuel Antônio de Castro

4

"A ética está no empenho de ser, mora no desempenho de não ser tudo que já se tem e não se tem. Na ética já estamos onde temos ainda de chegar" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.

5

Na ética o valor (lei) não vem da relação social nem de um sistema prévio, seja ele subjetivo, seja ele social-institucional (valores ou leis morais, ideológicas, normas de conduta etc.). O valor é o acolhimento do sentido do Ser, enquanto este é o fundar do agir. É neste que se realiza o próprio de cada ser humano (só este pode ser ético), ou seja, sua essência, isto é, suas possibilidades recebidas do Ser. Ética e linguagem dizem o mesmo, porque esta se torna o horizonte da própria libertação e realização, de cada um. O horizonte jamais é o sujeito ou o sujeito o horizonte com sua razão. Nesse polemos, ( que podemos traduzir por entre, disputa, guerra), o que somos e o sentido e agir do Ser, passa a vigorar a verdade enquanto a tensão dialética de desvelamento e velamento, de sentido e forma (morphe), de solidão e liberdade, de interno e externo, de limite e não-limite. Eis aí a essência do pólemos, que podemos traduzir por:entre, disputa, guerra. O ético é o valor ontológico, não um valor subjetivo ou objetivo-moral e suas leis.


- Manuel Antônio de Castro

6

"Prescrever e dever já provêm da ética a ser conquistada e dita em toda libertação. Pois ética é sempre libertação do mal para voltar à liberdade originária do bem de ser e não ser tudo que já se é, mas de que nunca se está de posse. No engajamento ético de fazer e deixar de fazer, somos e estamos investindo pela liberdade numa libertação sem princípio, meio ou fim" (1).


Referência;
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis / RJ: Daimon Editora, 2013, 64.

7

Essencialmente, a ética é realizar aquilo que somos e recebemos como destino, como moira, diziam os gregos. Já a realização moral é seguir o social, o que todos fazem. Na moral não há próprio, mas padrões de comportamento e valores padronizados.


- Manuel Antônio de Castro.

8

"O desafio da ética hoje não está em transformar-se numa ética da situação. Toda ética da situação inclui uma abstração nevoenta. O desafio concreto da ética está em entregar-se toda à espera do inesperado. Uma espera que vive e vivifica a vida do pensamento" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Ética e comunicação". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 108.

9

Todo agir essencial exige uma ética não como norma ou paradigma, mas como aprender no sentido grego de manthano, pois este diz não o aprender algo, mas o agarrar-se à essência do ser que já somos, do qual nos vem o sentido do agir. É nesse sentido que Píndaro nos ensina: "Chega a ser o que já és, aprendendo", em grego: Genoi 'óios essi mathon.... Ensinar é, pois, aprender, manthano, e não decorar algo sobre. Todo ensinar e aprender, essencialmente, somente são quando se tornam éticos.


- Manuel Antônio de Castro

10

"As poéticas das obras são memória do real. Um conhecimento cultural e científico pode ser superado por outro. Em relação às obras poéticas não há, nunca houve, jamais haverá superação. Nelas e por elas se perfaz o sentido do homem, isto é, nelas o humano do homem se abre para a escuta da linguagem e o homem se faz humano, isto é, ético. Pois ethos, em grego, diz a morada da linguagem, o lugar do humano do homem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.

11

"A aposta do Bem pelo Bem traz consigo o apelo de vir a ser nas ações o que já se é e não se é no ser que se tem e não se tem. Por outro lado, a urgência da libertação implica e traz consigo o desafio do Bem e do Mal. Percorrer o curso de libertação próprio desta urgência supõe apostar na criação do inesperado que alimenta de esperança toda espera. Radicalmente, nenhuma ética se reduz à prescrição de normas, nem está apenas no cumprimento do dever. Toda prescrição e todo dever já chegam sempre tarde. São um evento temporão" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 64.

12

"À reunião de informações com conhecimentos sendo o que é se chama, sempre se chamou: sentido de vida. Ser sábio é dar sentido a nossas ações. Ao sentido do agir desde sempre se denominou ética. Ser sábio é ser, onde se sabe o sentido de ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 84.

13

"A imagem-questão é a imagem-poética nos con-vocando para a escuta das grandes questões, onde essa escuta é a condição fundamental de todo diá-logo e de todas as interpretações. Na imagem-poética comparece sempre a poiesis como vigor de todo agir essencial e, ao mesmo tempo, o ethos, como linguagem e sentido do ser. Na medida em que é ethos e sentido, a interpretação se torna o horizonte onde se decide o que somos enquanto valor e sentido. Por isso, de ethos se originou a ética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 19.

14

"A imagem-questão é a imagem-poética con-vocando-nos para a escuta das grandes questões, onde essa escuta é a condição fundamental de todo diá-logo e de todas as interpretações, enfim, de todas as leituras. Na imagem-poética comparece sempre a poiesis como vigor do sentido do agir essencial e, ao mesmo tempo, o ethos, como linguagem e sentido do ser. Na medida em que é ethos e sentido, a leitura interpretativa se torna o horizonte onde se decide a essência do ser humano, enquanto valor e sentido. Ético é o humano de todo ser humano. Por isso, de ethos se originou a ética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte e imagem-questão". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 235.
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