Acontecimento
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :"Se o [[tempo]] é o desencadeador, isto é, o largo horizonte onde se dá o acontecer, quando se chega à enunciação do acontecimento, parece ser este que engravida a experiência da [[vivência]] temporal, como se o acontecimento fosse o ''locus'' de manifestação do [[tempo]] e sua real concretização. O ad-vento do tempo é acontecimento" (1). | + | : "Se o [[tempo]] é o desencadeador, isto é, o largo [[horizonte]] onde se dá o [[acontecer]], quando se chega à enunciação do [[acontecimento]], parece ser este que engravida a [[experiência]] da [[vivência]] [[temporal]], como se o [[acontecimento]] fosse o ''locus'' de manifestação do [[tempo]] e sua [[real]] [[concretização]]. O ad-vento do [[tempo]] é [[acontecimento]]" (1). |
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- | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O [[acontecer]] [[poético]]. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 36.''' |
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- | :"Acontecimento vem de acontecer. E acontecer, verbo incoativo (ação progressiva) de ''contingere'', já traz no seu âmago a noção de estar, ter contato ou relação com. Esta relação se efetiva na [[percepção]]" (1). | + | : "[[Acontecimento]] vem de [[acontecer]]. E [[acontecer]], [[verbo]] incoativo (ação progressiva) de ''contingere'', já traz no seu âmago a [[noção]] de [[estar]], ter contato ou [[relação]] com. Esta [[relação]] se efetiva na [[percepção]]" (1). |
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- | :(1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''O acontecer poético | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. '''O [[acontecer]] [[poético]]. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 36.''' |
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- | :"A [[história]] tem que se repensar originariamente em seu núcleo de manifestação: o acontecimento, porque o acontecimento é o fato feito ato | + | : "A [[história]] tem que se repensar originariamente em seu núcleo de [[manifestação]]: o [[acontecimento]], porque o [[acontecimento]] é o [[fato]] feito [[ato]]" (1). |
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- | ::''Nunca me esquecerei que no meio do caminho'' | + | ::''Nunca me esquecerei que no meio do [[caminho]]'' |
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- | :"O acontecimento nos remete para uma [[experiência]] fundamental. O [[poeta]], morador e vigia que é do [[Ser]], canta em seu poema uma experiência. Ela foi, é e será. A celebração poética insiste na [[memória]] do acontecimento. Esse acontecimento consiste na experiência de 'que tinha uma pedra no meio do [[caminho]]'. Por isso é um acontecimento. Nele e por ele se faz a experiência [[história|histórica]] do Ser | + | : "O [[acontecimento]] nos remete para uma [[experiência]] fundamental. O [[poeta]], morador e vigia que é do [[Ser]], canta em seu poema uma [[experiência]]. Ela foi, é e será. A [[celebração]] [[poética]] insiste na [[memória]] do [[acontecimento]]. Esse [[acontecimento]] consiste na [[experiência]] de 'que tinha uma pedra no meio do [[caminho]]'. Por isso é um [[acontecimento]]. Nele e por ele se faz a [[experiência]] [[história|histórica]] do [[Ser]]" (2). |
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+ | : (1) BRAGA, Diego.''' A terceira margem do [[mito]]: [[hermenêutica]] da [[corporeidade]]. In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em [[Ciência]] da [[Literatura]] da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 60.''' | ||
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+ | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Época]] e [[tempo]] [[poético]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 292.''' | ||
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+ | : Todo [[evento]] é o [[realizar-se]] de uma [[possibilidade]] da [[realidade]]. A [[ideia]] de uma [[realidade]] estática é um [[equívoco]]. Ela não para de [[estar]] [[acontecendo]]. Nesse [[sentido]] temos em cada [[evento]] um [[acontecimento]]. Assim sendo, todo [[evento]] é uma [[realização]] da [[realidade]]. A [[noção]] de [[evento]] é muito importante, sobretudo para a [[ciência]] porque desfaz a [[ilusão]] de termos [[leis]] permanentes na [[ciência]]. Toda [[lei]] está ligada ao [[tempo]]. E este não para. Claro, há uma recorrência dos [[acontecimentos]] da [[vida]], da [[realidade]]. Por exemplo, todo [[ser]] vivo morre algum dia. Porém, o principal dessa recorrência é o que acontece em seu [[realizar-se]], o seu [[sentido]], o seu [[motivo]]. Nesse sentido, devemos [[diferenciar]] a [[certeza]] dos [[conceitos]] pelas [[possibilidades]] contínuas de todo [[ente]], de todo [[acontecer]]. Por isso, o [[evento]] é mais importante do que o [[fato]] e, então, temos a [[diferença]] [[fundamental]], [[essencial]], de [[conceito]] e [[questão]]. Desse modo, temos que passar de uma [[visão]] estática da [[realidade]] e da própria [[ciência]] para uma [[visão]] [[dinâmica]]. Neste [[horizonte]], todo [[fato]] é a [[realização]] de uma [[possibilidade]] da [[realidade]], mas que não se pode tornar uma [[lei]] [[universal]], no que diz respeito à [[realidade]]. Essa [[lei]] [[universal]] diz muito mais respeito a uma determinada [[teoria]] da [[realidade]]. Nesse [[horizonte]], com as descobertas da física quântica certas [[concepções]] de [[ciência]] sofreram uma grande [[transformação]]. Talvez, a maior delas é o [[fim]] da [[certeza]] [[absoluta]], ou seja, de uma [[certeza]] que é uma [[verdade]] acabada. Todo [[evento]], em seu [[sentido]] [[fundamental]], [[essencial]], é um [[acontecimento]]. | ||
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+ | : "Nestes termos, o [[silêncio]] se torna o ''[[acontecimento]]'' daquele ''calar-se [[originário]] da [[presença]] [[humana]]'', a partir da qual o [[silêncio]], isto é, a [[totalidade]] do [[sendo]], em cujo seio está a [[presença]] [[humana]], vem à [[linguagem]]" (1). | ||
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+ | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin. '''[[Ser]] e [[verdade]]. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, p. 123.''' | ||
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+ | : não durma no ponto | ||
+ | : do seu [[potencial]] | ||
+ | : esperando o que pode [[acontecer]] | ||
+ | : quando [[você]] pode ''ser'' | ||
+ | : o [[acontecimento]] (1) | ||
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+ | : (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 145.''' | ||
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+ | : "O mesmo [[acontecimento]], visto por [[pessoas]] diferentes e ao mesmo [[tempo]], tem [[leituras]]-[[versões]] [[diferentes]]. E mais. Esse mesmo [[acontecimento]] age dentro de nós e sofre uma estranha [[ação]] da [[memória]], de tal maneira que, tempos depois, esquecemos alguns aspectos e, por outro lado, os reinventamos de maneira [[diferente]]. Ou fica de vez jogado para o sótão do [[inconsciente]] da [[memória]]. É que a [[memória]] não é só o [[consciente]], mas também o [[inconsciente]]. E do [[inconsciente]] quem fala não somos nós, mas a [[memória]] enquanto [[linguagem]], projetando-se em nossa [[consciência]] como [[imagens-questões]], que muitas vezes advêm como [[sonhos]], [[imaginações]], [[ficções]]" (1). | ||
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- | :(1) | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Obra]] de [[arte]] e imagem-[[questão]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 232.''' |
Edição atual tal como 20h22min de 9 de fevereiro de 2025
1
- "Se o tempo é o desencadeador, isto é, o largo horizonte onde se dá o acontecer, quando se chega à enunciação do acontecimento, parece ser este que engravida a experiência da vivência temporal, como se o acontecimento fosse o locus de manifestação do tempo e sua real concretização. O ad-vento do tempo é acontecimento" (1).
- Referência:
2
- "Acontecimento vem de acontecer. E acontecer, verbo incoativo (ação progressiva) de contingere, já traz no seu âmago a noção de estar, ter contato ou relação com. Esta relação se efetiva na percepção" (1).
- Referência:
3
- "A história tem que se repensar originariamente em seu núcleo de manifestação: o acontecimento, porque o acontecimento é o fato feito ato" (1).
- Referência:
4
- Nunca me esquecerei desse acontecimento
- ...........................................................................
- Nunca me esquecerei que no meio do caminho
- tinha uma pedra
- ........................................................................... (1)
- "O acontecimento nos remete para uma experiência fundamental. O poeta, morador e vigia que é do Ser, canta em seu poema uma experiência. Ela foi, é e será. A celebração poética insiste na memória do acontecimento. Esse acontecimento consiste na experiência de 'que tinha uma pedra no meio do caminho'. Por isso é um acontecimento. Nele e por ele se faz a experiência histórica do Ser" (2).
- Referências:
- (1) ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. 4ª e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, p. 12.
- (2) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 58.
5
- "O alcance histórico do acontecimento é consumar no pensar a experiência da Verdade do Ser" (1).
- Referência:
6
- "... o pensamento que se esforça em permanecer na facilidade das representações geralmente procura uma saída ainda mais distanciadora da dinâmica concreta do acontecimento de sentido: geralmente procura-se instaurar, de uma forma ou de outra, uma autonomia do signo, uma autonomia dos dispositivos, símbolos e analogias. Este recurso é buscado como se todo signo, símbolo, dispositivo e analogia não dependesse do acontecimento de sentido da realidade. Entretanto, no único instante criativo que as acomete – a saber, o momento em que surge, vale dizer, o momento em que se dão em correspondência a um determinado acontecimento da realidade em seu sentido e verdade – as coisas então erroneamente chamadas signos, dispositivos, símbolos e analogias não são outra coisa que o sentido do acontecimento da realidade se manifestando. São gestos de mundo que respondem a um aceno telúrico" (1).
- Referência:
- (1) BRAGA, Diego. A terceira margem do mito: hermenêutica da corporeidade. In: Revista Terceira margem. Revista do Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Ano XIV, 22, jan.-jun, 2010, p. 60.
7
- "Podemos apreender o que é acontecimento quando nos deixamos tomar pelo que no rito lhe dá sentido: o mito. Será então o acontecer poético" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 292.
8
- Todo evento é o realizar-se de uma possibilidade da realidade. A ideia de uma realidade estática é um equívoco. Ela não para de estar acontecendo. Nesse sentido temos em cada evento um acontecimento. Assim sendo, todo evento é uma realização da realidade. A noção de evento é muito importante, sobretudo para a ciência porque desfaz a ilusão de termos leis permanentes na ciência. Toda lei está ligada ao tempo. E este não para. Claro, há uma recorrência dos acontecimentos da vida, da realidade. Por exemplo, todo ser vivo morre algum dia. Porém, o principal dessa recorrência é o que acontece em seu realizar-se, o seu sentido, o seu motivo. Nesse sentido, devemos diferenciar a certeza dos conceitos pelas possibilidades contínuas de todo ente, de todo acontecer. Por isso, o evento é mais importante do que o fato e, então, temos a diferença fundamental, essencial, de conceito e questão. Desse modo, temos que passar de uma visão estática da realidade e da própria ciência para uma visão dinâmica. Neste horizonte, todo fato é a realização de uma possibilidade da realidade, mas que não se pode tornar uma lei universal, no que diz respeito à realidade. Essa lei universal diz muito mais respeito a uma determinada teoria da realidade. Nesse horizonte, com as descobertas da física quântica certas concepções de ciência sofreram uma grande transformação. Talvez, a maior delas é o fim da certeza absoluta, ou seja, de uma certeza que é uma verdade acabada. Todo evento, em seu sentido fundamental, essencial, é um acontecimento.
9
- "Nestes termos, o silêncio se torna o acontecimento daquele calar-se originário da presença humana, a partir da qual o silêncio, isto é, a totalidade do sendo, em cujo seio está a presença humana, vem à linguagem" (1).
- Referência:
10
- não durma no ponto
- do seu potencial
- esperando o que pode acontecer
- quando você pode ser
- o acontecimento (1)
- Referência:
- (1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 145.
11
- "O mesmo acontecimento, visto por pessoas diferentes e ao mesmo tempo, tem leituras-versões diferentes. E mais. Esse mesmo acontecimento age dentro de nós e sofre uma estranha ação da memória, de tal maneira que, tempos depois, esquecemos alguns aspectos e, por outro lado, os reinventamos de maneira diferente. Ou fica de vez jogado para o sótão do inconsciente da memória. É que a memória não é só o consciente, mas também o inconsciente. E do inconsciente quem fala não somos nós, mas a memória enquanto linguagem, projetando-se em nossa consciência como imagens-questões, que muitas vezes advêm como sonhos, imaginações, ficções" (1).
- Referência: