Verdade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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Edição de 22h41min de 9 de Junho de 2018

1

A tese central de Heidegger em A origem da obra de arte (1) é a de que arte é verdade e a obra é a verdade operando. Mas então o que Heidegger entende por verdade é a realidade eclodindo, desvelando-se na disputa com o velar-se. Por isso, à verdade corresponderá a não-verdade. Então verdade enquanto desvelamento é a realidade se dando como presença. E presença é sempre corpo denso e inteiro, tendendo à plenitude, à esfericidade. E isso é o ser humano: corpo-presença entre-sendo.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70 / Almedina-Brasil, 2010.


Ver também:

2

O verdadeiro diz sempre respeito ao sendo em seus atributos. A verdade diz originariamente respeito ao Ser do sendo, pela e na qual o sendo chega a Ser o que é: sendo do Ser.


- Manuel Antônio de Castro


3

Todas as verdades enunciadas e anunciadas foram e são errâncias originárias.


- Manuel Antônio de Castro

4

"A verdade é, portanto, uma dimensão, isto é, a possibilidade do real como dinâmica se estabelecer e, em se fazendo presença, desencadear as possibilidades de medida, não como conversão a uma convenção pré-estabelecida, mas a instauração da possibilidade do real fazer-se medida de si mesmo" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 78.

5

"A exigência do verossímil é que, no seu domínio, a correspondência esteja correta, certa. Para o que é verossímil basta a certeza. No domínio da verdade, a certeza não é suficiente. O verdadeiro não é o correto, o certo. A verdade necessita do movimento e da memória para que se estabeleça como dimensão, unidade e desencadeador de realidade. Verdade é des-velar o que se vela. É desocultar o que necessariamente se oculta. A dinâmica da verdade não pretende depurar a realidade de seus processos de ocultação. A verdade vive do oculto, pois é este, e somente este que necessariamente tende a se mostrar, a se des-ocultar" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 86.

6

A verdade pode se referir ao real enquanto desvelamento e velamento e aí então ela se realiza enquanto sentido e essência da phýsis como agir/poíesis. Mas também pode referir-se à proposição e então será verdadeira ou falsa dentro do estreito ciclo de relação do código, onde verdadeiro e falso dizem respeito ao significado. Não há significação fora do código e da proposição. Esta verdade do e como significado vive das relações inerentes:
a) À proposição;
b) Ao período;
c) Ao contexto.
Nem sempre parte-se do significado da proposição em relação ao código. Um tal significado e uma tal verdade é necessariamente relacional aos predicativos e à representação do que se diz na enunciação e no enunciado. Olhando uma rede/texto, notamos que cada nó rizomático tem múltiplas linhas que se originam nele mas que constituem relações de manifestação predicativa do que é inerente ao nó. Essas relações nunca levam em consideração os vazios onde estão suspensas as linhas/relações. Mas é do vazio surgem os sentidos. As relações entre os nós formam os períodos e os textos e o todo como dis-curso. Um dis-curso resulta de uma linearidade que pressupõe o ideológico que dá origem a diferentes dis-cursos. Isso é motivado pelas diferentes disciplinas e pela redução da poíesis à práxis. Porém, a práxis pressupõe a poíesis e a reduz a um aprendizado. À práxis não é possível ser a poíesis, como não é possível o discurso cronológico ser o tempo-currere-linguagem.
A Linguagem fala. Isto implica a poíesis, o verbo como sentido e verdade como alétheia. Aí a rede se dimensiona no horizonte do vazio. E as relações deixam de ser só epistêmicas para serem poético-ontológicas. A Linguagem fala dizendo: a poíesis/verbo/Hermes fala.


- Manuel Antônio de Castro


7

"Nosso conceito de verdade e o conceito grego da verdade tiram sua respectiva inteligibilidade intuitiva de áreas e conjunturas de relações intuitivamente diferentes. "A-letheia", descobrimento, provém do feito e do fato de encobrir, velar, respectivamente, desvelar, descobrir. Correção provém do feito e do fato de reger uma coisa por outra, através de medida e medir. Desvelar e medir são feitos e fatos inteiramente diferentes " (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 111.

8

"A verdade está em alguma parte: mas inútil pensar. Não a descobrirei e no entanto vivo dela" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Água viva. Rio de Janeiro: Artenova, 1973, p. 36.


9

"Ler Alice, em consequência, nos ajuda a entender a potência do pensamento criativo e não normativo. Para a verdade, as coisas podem ser úteis tanto do lado direito quanto do avesso. A verdade não tem bom senso. A verdade é selvagem e paradoxal - e nem sempre suportamos isso. Pois Alice com suas aventuras sem pé nem cabeça, nos ajuda a suportar. Volta e meia, a menina se pergunta quando as coisas voltarão a acontecer "de forma natural". O que ela descobre, não sem alguma dor, é que não existe tal forma estável e sensata de existir" (1). O autor se refere à obra de Lewis Carroll Alice no país das maravilhas.
Manuel Antônio de Castro
(1) CASTELLO, José. "Por que ler 'Alice'?. In: O Globo, Caderno "Prosa e verso", 23-05-2015, p. 5.


10

A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. Sem luz não há claridade nem escuridão. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio da luz. Portanto, a luz é o princípio de tudo, pois dela provêm tanto a claridade quanto a escuridão. E o silêncio é essa energia de plenitude e origem de sentido e verdade em que se constitui originariamente a luz. Como origem de tudo, a luz pode-se mostrar como desvelamento e velamento, como claridade e escuridão.


- Manuel Antônio de Castro


11

"A verdade é o desvelamento do sendo enquanto sendo. A verdade é a verdade do ser. A beleza não aparece junto desta verdade. Quando a verdade se põe na obra, ela aparece. O aparecer é – como este ser da verdade na obra e como obra – a beleza. Assim, o belo pertence ao acontecer-se apropriante da verdade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 207 .


12

"Na conclusão do livro de Heidegger A origem da obra de arte, o pensador-poeta diz: “Na frase “Pôr-em-obra-da verdade”, em que fica indeterminado, porém, determinável de que modo quem ou o que “põe”, vela-se a referência do Ser e da essência humana, e tal referência, nesta formulação, já é pensada inadequadamente...” (Heidegger: 2010, p. 221. Grifo meu) (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 9.


13

"Um homem verdadeiramente sábio não é aquele que persegue cegamente uma verdade. É somente aquele que conhece constantemente todos os três caminhos: o do Ser, o do não-ser e o da aparência.
Os três caminhos proporcionam uma indicação em si unitária:
O caminho para o Ser é inevitável.
O caminho para o Nada é inacessível.
O caminho para a aparência é sempre acessível e frequentado, mas evitável" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1969, p. 139.


14

O raciocinar se move sempre no que pode ser claro e passível de conhecimento enquanto conceito, daí tal conhecimento basear-se na verdade por adequação, ou seja, na “adaequatio rei et intellectus”, expressão latina da filosofia medieval que diz: a verdade é a adequação da coisa/real ao intelecto. Tal adequação é o resultado do exercício da razão enquanto no juízo profere algo de lógico, ou seja, o que é passível de comprovação e exatidão racional, isto é, lógico, verdadeiro.


- Manuel Antônio de Castro


15

Uni-verso é formada da palavra latina: uni: uno, ou seja, do ser enquanto unidade, sentido e verdade de tudo. E -verso, do verbo latino vertere, cujo particípio passado é versum, traduzido como versão. O verbo significa: verter, realizar, dar forma, versões ou mudanças, realizações. Por isso, é que de universo se formou o universal, aplicado à questão da verdade. Toda verdade tem de ter um valor universal, como unidade ou identidade das diferenças. Por isso os gregos pensaram a verdade como a-letheia: desvelamento, ou seja, a dobra de velar e desvelar. Para isso, a verdade deve ser regida pelo princípio do uno, do ser.


- Manuel Antônio de Castro


16

" -"Eu quero te conhecer melhor, diz Taliesin um dia a Cadoc. Diz-me que tipo de homem tu és". E o sábio Cadoc respondeu a Taliesin: -"Tu o deves saber melhor do que eu, pois tu escutas nas minhas costas dizerem de mim o que jamais chegou aos meus ouvidos. São aqueles que nos cercam que melhor podem julgar alguém, pois nem eu nem ninguém pode saber toda a verdade sobre aquilo que lhe diz respeito." "(1).


Referência:
(1) Os ditados do sábio Cadoc(VI século). Textos apresentados por Jean Markale. Paris: Albin Michel, Cadernos de Sabedoria, 2004, p. 13. Tradução do francês: Manuel Antônio de Castro.
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