Organismo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Organismo é o ''sistema'' de funcionamento entendido por ''causa'' e efeito. Porém, a ''vida'' enquanto ''corpo'' e projeto existencial, como ''acontecer poético'', não se limita a esse sistema de funcionamento e análise. Um funcionamento é previsível e o acontecer poético é o irromper do inaugural do corpo em seu ser, transfigurando o organismo. Isso é corpo. É aí que se dá, acontece, o limite da ''razão'' diante do ''mistério'' que é a ''zoé'' dando-se e retraindo-se enquanto corpo. Por isso, todo corpo é sempre ''presença'' e ''ausência'' e não e jamais ''forma''. Esta é organismo, daí a forma poder ser analisada em seu funcionamento. Não sendo racional, o corpo não pode ser explicado nem conhecido pela ''ciência'', domínio do racional. O acontecer poético no corpo é o próprio ''destino'', regido pela ''Lei cósmica'' do ''sagrado'', esse mistério sem nome e pura ''linguagem'', ''verdade'' e ''sentido'' imemorial do ser humano. O organismo não tem olhos. São os olhos do corpo acontecendo que possibilitam o que se vê e se diz, racionalmente, do organismo. Quem vê organismo vê forma, quem vê corpo deixa acontecer a presença e ausência.
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: [[Organismo]] é o [[sistema]] de funcionamento entendido por [[causa]] e efeito. Porém, a [[vida]] enquanto [[corpo]] e projeto [[existencial]], como [[acontecer poético]], não se limita a esse [[sistema]] de funcionamento e [[análise]]. Um [[funcionamento]] é previsível e o [[acontecer poético]] é o irromper do [[inaugural]] do [[corpo]] em seu [[ser]] como sentido, transfigurando o [[organismo]]. Isso é [[corpo]]. É aí que se dá, acontece, o [[limite]] da [[razão]] diante do [[mistério]] que é a ''[[zoé]]'', dando-se e retraindo-se enquanto [[corpo]]. Por isso, todo [[corpo]] é sempre [[presença]] e [[ausência]] e não e jamais só [[forma]]. Esta é [[organismo]], daí a [[forma]] poder ser analisada em seu [[funcionamento]]. Não sendo racional, o [[corpo]] não pode ser explicado nem conhecido pela [[ciência]], domínio do [[racional]]. O [[acontecer poético]] no [[corpo]] é o próprio [[destino]], regido pela [[Lei]] cósmica do [[sagrado]], esse [[mistério]] sem [[nome]] e pura [[linguagem]], [[verdade]] e [[sentido]] imemorial do [[ser humano]], acontecendo no e como [[mundo]]. O [[organismo]] não tem [[olhos]]. São os [[olhos]] do [[corpo]] acontecendo que possibilitam o que se vê e se diz, racionalmente, do [[organismo]]. Quem vê [[organismo]] [[forma]], quem vê [[corpo]] deixa [[acontecer]] a [[presença]] e [[ausência]]. Assim sendo, todo [[sistema]] é composto por [[órgãos]], constituindo estes o [[organismo]] e sua [[organização]].
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: "Seja para o [[pensamento]], seja para as [[artes]], [[Éros]] sempre foi a grande [[questão]], sendo a mais tematizada, interpretada e aprofundada. Por detrás do seu [[agir]], como aquilo que o move, está sempre o [[Amor]] do [[amar]]. Dessa maneira, há uma certa impropriedade em se falar de [[Éros]] como algo [[substantivo]], pois remete facilmente para a sua [[interpretação]] e [[compreensão]] como algo, como um [[ente]]. E não é isso [[Éros]]. Como [[essência]] do [[agir]] é total e plena [[energia]] de [[realização]], é [[luz]] irradiante em contínuo [[acontecer]]. E isso já nos obriga a [[compreender]] o que é o [[corpo]] do [[ser humano]], em toda a sua complexidade e densidade, muito além de um [[simples]] [[organismo]] e seu [[funcionamento]]. O [[ser humano]], sendo [[essencialmente]] o [[agir]] de [[Eros]], jamais pode ser reduzido a um [[corpo]] [[orgânico]] ou mecânico ou [[virtual]]. Sendo filhos, como somos, de [[Pênia]], a [[Pobreza]], pro-curamos pelo que nos é [[necessário]]: o [[Bem]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "''Eros'', humano e os humanismos". In: MONTEIRO, Maria Conceição e outros (org.). '''Eros, Tecnologia, Transumanismo'''. Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2015, p. 45.
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: "O que no [[diálogo]] se entretece é o que somos como [[mundo]]. Mas há o [[mundo]] do [[orgânico]] e o [[mundo]] do [[corpo]]. Ao [[organismo]] corresponde o [[mundo]] já dado e manifestado enquanto [[rede]] de [[relações]] e [[funções]]. É o [[mundo]] das [[disciplinas]], da [[língua]] como [[código]], da [[linguagem]] como [[meio]]. Ao [[corpo]] corresponde o [[mundo]] [[inaugural]], [[poético]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 34.
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: "A [[diferença]] e [[referência]] [[entre]] [[consciente]] e [[inconsciente]] não se pode [[reduzir]] apenas a [[mecanismos]] e [[processadores]], mas inclui ambas as [[coisas]]. O que a [[fenomenologia]] do [[fenômeno]] nos faz [[perceber]] é que qualquer emergente na [[vida]] perfaz um [[movimento]] só na [[criação]] das [[pessoas]]. Sem o [[percurso]] desta [[identidade]], de [[igualdade]] e [[diferença]], não é [[possível]] [[sentir-se]] dentro nem encontrar-se com [[movimento]] de [[transformação]] da [[fenomenologia]] de todo [[fenômeno]]. Assim é indispensável passar dos [[mecanismos]] para o [[sentido]] que revelam e a que visam  os [[mecanismos]]" (1).
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: Quando examinamos o [[ser humano]] e dizemos que ele é constituído por um [[organismo]], reduzimos seu [[corpo]] apenas aos [[mecanismos]] e seus [[processos]] de [[funcionamento]]. E esquecemos que um [[corpo]] não pode ser [[reduzido]] a isso, não pode ser reduzido a [[funções]]. Seu [[corpo]] é mais complexo e [[rico]]. E a grande [[diferença]] é que o [[corpo]] em sua [[realização]] como [[pessoa]] portadora de uma [[identidade]] e [[diferença]], sempre se dá na dinâmica da [[caminhada]] ([[existência]]) da [[realização]] de um [[sentido]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: Referência:
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.

Edição atual tal como 20h53min de 1 de Maio de 2024

1

Organismo é o sistema de funcionamento entendido por causa e efeito. Porém, a vida enquanto corpo e projeto existencial, como acontecer poético, não se limita a esse sistema de funcionamento e análise. Um funcionamento é previsível e o acontecer poético é o irromper do inaugural do corpo em seu ser como sentido, transfigurando o organismo. Isso é corpo. É aí que se dá, acontece, o limite da razão diante do mistério que é a zoé, dando-se e retraindo-se enquanto corpo. Por isso, todo corpo é sempre presença e ausência e não e jamais só forma. Esta é organismo, daí a forma poder ser analisada em seu funcionamento. Não sendo racional, o corpo não pode ser explicado nem conhecido pela ciência, domínio do racional. O acontecer poético no corpo é o próprio destino, regido pela Lei cósmica do sagrado, esse mistério sem nome e pura linguagem, verdade e sentido imemorial do ser humano, acontecendo no e como mundo. O organismo não tem olhos. São os olhos do corpo acontecendo que possibilitam o que se vê e se diz, racionalmente, do organismo. Quem vê organismoforma, quem vê corpo deixa acontecer a presença e ausência. Assim sendo, todo sistema é composto por órgãos, constituindo estes o organismo e sua organização.


- Manuel Antônio de Castro

2

"Seja para o pensamento, seja para as artes, Éros sempre foi a grande questão, sendo a mais tematizada, interpretada e aprofundada. Por detrás do seu agir, como aquilo que o move, está sempre o Amor do amar. Dessa maneira, há uma certa impropriedade em se falar de Éros como algo substantivo, pois remete facilmente para a sua interpretação e compreensão como algo, como um ente. E não é isso Éros. Como essência do agir é total e plena energia de realização, é luz irradiante em contínuo acontecer. E isso já nos obriga a compreender o que é o corpo do ser humano, em toda a sua complexidade e densidade, muito além de um simples organismo e seu funcionamento. O ser humano, sendo essencialmente o agir de Eros, jamais pode ser reduzido a um corpo orgânico ou mecânico ou virtual. Sendo filhos, como somos, de Pênia, a Pobreza, pro-curamos pelo que nos é necessário: o Bem" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, humano e os humanismos". In: MONTEIRO, Maria Conceição e outros (org.). Eros, Tecnologia, Transumanismo. Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2015, p. 45.

3

"O que no diálogo se entretece é o que somos como mundo. Mas há o mundo do orgânico e o mundo do corpo. Ao organismo corresponde o mundo já dado e manifestado enquanto rede de relações e funções. É o mundo das disciplinas, da língua como código, da linguagem como meio. Ao corpo corresponde o mundo inaugural, poético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 34.

4

"A diferença e referência entre consciente e inconsciente não se pode reduzir apenas a mecanismos e processadores, mas inclui ambas as coisas. O que a fenomenologia do fenômeno nos faz perceber é que qualquer emergente na vida perfaz um movimento só na criação das pessoas. Sem o percurso desta identidade, de igualdade e diferença, não é possível sentir-se dentro nem encontrar-se com movimento de transformação da fenomenologia de todo fenômeno. Assim é indispensável passar dos mecanismos para o sentido que revelam e a que visam os mecanismos" (1).
Quando examinamos o ser humano e dizemos que ele é constituído por um organismo, reduzimos seu corpo apenas aos mecanismos e seus processos de funcionamento. E esquecemos que um corpo não pode ser reduzido a isso, não pode ser reduzido a funções. Seu corpo é mais complexo e rico. E a grande diferença é que o corpo em sua realização como pessoa portadora de uma identidade e diferença, sempre se dá na dinâmica da caminhada (existência) da realização de um sentido.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.