Essência

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 15h21min de 4 de Novembro de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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O melhor caminho para compreender a essência é pensar o agir: A essência do agir é o agir da essência. Eis aí o universal concreto, que se diferencia do universal conceitual ou representacional. A essência do agir é questão e não se pode reduzir a um conceito.


- Manuel Antônio de Castro

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"Por essência não cabe entender algo, alguma coisa por trás, sub- ou pré-existente e que seria, p. ex., a causa desta ou daquela coisa. Não é um núcleo dentro, o caroço, formando o em-si da coisa. Essência é a própria dinâmica de algo fazer-se ou tornar-se algo, a dinâmica ou a força a partir da qual e como a qual algo vem a ser este algo que é e tal qual é - sempre uma escandalosa superfície. Vê-se ou tem-se realmente algo quando conseguimos nos transpor à sua essência, isto é, à sua proveniência, origem ou gênese. Então, partilhamos a coisa na sua gênese, na sua nascividade. Participamos, pois, de seu ser ou modo de ser e, assim, co-nascemos com ela" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Pensamento, elemento, transcendência". In: Revista Scintilla, Curitiba, volume especial, n. 6-03.2009, p. 46-64.

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A palavra essência provém do latim essentia e está relacionada ao verbo latino esse (ser). Está ligada às palavras gregas ón e ousia. Porém, na trajetória ocidental e metafísica ligou-se muito mais ao ente do que ao Ser. Por isso, ela tornou-se um conceito, indicando algo que sub-está como fundamento e causa de cada ente. Daí ter-se também traduzido por sub-stância, perdendo o caráter verbal que tem em grego e deslocando-se para o substantivo, exercendo a função de sujeito na proposição. Por isso todos os substantivos podem exercer, sintaticamente, a posição funcional de sujeito (ou objeto). Essência significa então a natureza, a quididade, a causa, podendo se opor à existência ou à realidade. Esta dicotomia não existe nas palavras gregas, nas obras dos grandes pensadores. Essência diz, em verdade, a estrutura em que vigora, ou seja, atua e desenvolve a força do vigorar, do agir. Então essência diz a arkhé, aquilo que não deixa de vigorar para que algo se torne algo, chegando a seu télos. Essência nunca admite a separação de causa e causado, onde o causado é algo diferente da própria essência. Essência nunca é um conceito geral atribuível a diversas coisas, a diferentes sendo (entes). Essência é o vigorar do Ser no sendo.


- Manuel Antônio de Castro

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Essência não é a origem ou natureza de algo conforme diz e geralmente se entende o conceito. Essência de algo é o originário do sendo enquanto vigorar do Ser. Podemos, portanto, distinguir a essência conceitual e a Essência como vigorar do Ser em cada sendo. Se a primeira é metafísica, dual, a segunda é poética, integradora e realizadora.


- Manuel Antônio de Castro

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"Energia ancestral. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos pais, que a receberam de seus pais e assim sucessivamente, ou seja, temos uma ligação profunda e originária com a família. Ela é memória imemorial. Os gregos denominavam a unidade e origem das famílias e das pessoas: genos. Este genos (de onde se forma a palavra genética) passa, como energia, a ser tudo, a própria energia Qi. É ela também que faz com que cada um tenha um próprio, aquilo que cada um é, sua identidade e essência. Em si, a energia Qi é infinita e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do genos e pais é finita, originando a morte. E então se coloca a questão da relação essencial entre infinito e finito para nós" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 23.

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"A essência do ser humano é a sua referência ao ser. Daí não poder ficar determinada pelo instrumental ditado seja lá por qual sistema for. Nesse sentido de disciplina e sistema, a dança é o não-conhecimento porque é o não-sistema, porque é o livre dar-se e manifestar-se do que cada um já desde sempre é. Dança é sempre travessia, história, obra. E obra é o que opera. Opera o quê? A educação do humano pelo deixar vigorar o seu princípio constitutivo. Aqui está a questão. O princípio constitutivo do humano é o estético ou o poético? Dança não pode ficar reduzida a vivências estético-sentimentais, a um espetáculo para os olhos ou prazeres dos sentidos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Aprender com a dança: fluxos e diálogos poéticos”. In: TAVARES, Renata (org.). O que me move, de Pina Bausch – e outros textos sobre dança-teatro. São Paulo: LibersArs, 2017, p. 82.



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"A essência é uma questão no pensamento grego. Depois, ao longo do percurso filosófico tornou-se conceito. Ela está pensada na primeira interpretação do on, da coisa enunciada e comentada por Heidegger em A origem da obra de arte (1). Mas como muito bem diz Emmanuel C. Leão, essa palavra tem um uso tradicional que deu origem ao par opositivo metafísico: essência versus aparência e essência versus existência. A tradição sempre fez preceder a essência sobre a aparência. Depois Sartre fez uma inversão: disse que a existência precedia a essência, daí seu conceito de liberdade existencial, que deu origem ao existencialismo. Como se pode ver houve apenas uma nova inversão" (2).


Referência :
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Notas de tradução. In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antonio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Heidegger e a questão da essência". In: www.travessiapoetica.blogspot.com


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"O acesso à essência de uma coisa nos advém da linguagem. Isso só acontece, porém, quando prestamos atenção ao vigor próprio da linguagem. Enquanto essa atenção não se dá, desenfreiam-se palavras, escritos, programas, numa avalanche sem fim. O homem se comporta como se ele fosse criador e senhor da linguagem, ao passo que ela permanece sendo a senhora do homem. Talvez seja o modo de o homem lidar com esse assenhoramento que impele o seu ser para a via da estranheza. É salutar o cuidado com o dizer" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar´". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: ----------. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 126.


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Todos sabemos que Platão desenvolveu seu pensamento escrevendo quase exclusivamente diálogos. Nisso, era movido por algum motivo muito forte, não sendo jamais uma questão de gênero, de estilo literário ou de opção estética, muito menos metodológico, o que nos indica que neles o que está em questão é o próprio caminhar como trajetória de compreensão do que seja o humano e sua verdade, enquanto processo de realização, libertação e consumação. Todos os diálogos movem-se sempre na procura da compreensão do humano enquanto essência da verdade e esta como a essência do humano. É que a essência da verdade é a verdade da essência e, portanto, do humano. Foi sempre uma questão de pensamento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Dialética e diálogo: A verdade do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 192, Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.- mar., 2013, p. 12.


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"O pensamento busca elaborar uma representação universal da linguagem. O universal, o que vale para toda e qualquer coisa, chama-se essência. Prevalece a opinião de que o traço fundamental do pensamento é representar de maneira universal o que possui validade universal" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A linguagem". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes; Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 7.


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"Energia ancestral. Esta é a que recebemos ao sermos concebidos e provém de nossos pais, que a receberam de seus pais e assim sucessivamente, ou seja, temos uma ligação profunda e originária com a família. Ela é memória imemorial. Os gregos denominavam a unidade e origem das famílias e das pessoas: genos. Este genos (de onde se forma a palavra genética) passa, como energia, a ser tudo, a própria energia Qi. É ela também que faz com que cada um tenha um próprio, aquilo que cada um é, sua identidade e essência. Em si, a energia Qi é infinita e inesgotável. Contudo, aquela que cada um recebe do genos e pais é finita, originando a morte. E então se coloca a questão da relação essencial entre infinito e finito para nós" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 23.