História
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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Edição de 07h49min de 4 de Outubro de 2017
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- A tensão entre memória e história é a mesma que entre phýsis e lógos. A história enquanto acontecer é a manifestação da memória enquanto o que é, o que foi e o que será. A Memória é o génos que se manifesta como história. A história é o acontecer da memória. Por isso, a história é a realização da memória enquanto manifestação do tempo. Não podemos falar em história sem tempo, mas por sua vez a memória é o tempo em seu vigorar. Por sua vez, memória e história são a manifestação da phýsis enquanto linguagem. Tradição, historiografia e língua enquanto discurso são como ritos do que é memória, história, linguagem e tempo, mas sem o vigor do mito.
- Ver também:
2
- O homem moderno, ao descobrir a historicidade/historicização do homem, compreendeu-o no horizonte constituído pela história. E escreveram-se as diferentes histórias. Mas a partir da radicalização do pensamento heideggeriano sobre ser e tempo, sobre história como acontecer poético e sobre a historicidade do homem, não é mais possível continuar a estudar a arte através das histórias tradicionais. Com os impasses da pós-modernidade sobre tempo/história e o questionamento ainda não feito de como a própria ciência pode constituir-se como história, devemos pensar as obras de arte como acontecer poético. Por outro lado, há as épocas em que o ser em seu sentido se destina. Como relacionar estas épocas-destinadas e o acontecer poético de toda historicidade, de toda obra de arte? Na medida em que se responde e corresponde a esta questão é que se pode "pensar" uma "história" da arte. Por outro lado, a história da arte tradicional não se serve meramente da cronologia, mas está fundada na sucessão de formas e matérias. Heidegger questiona esta concepção da coisa, usada para ser pensado o utensílio, no ensaio A origem da obra de arte. Desse questionamento se abre a possibilidade de repensar não só a história da arte mas também as próprias obras enquanto históricas. Isto fica mais claro a partir da constatação de que a pós-modernidade, ao centralizar-se no presente, que denomina contemporâneo (como se toda época não fosse contemporânea de si mesma!), ao acelerar o tempo ou retardá-lo, comprimindo-o, leva o homem para o campo das vivências, abolindo as experiências. Isto se reflete na memória e na linguagem (de comunicação). E é nesse eixo que se pode pensar, sim ou não, a interpretação das obras como vigília desvelante, respondendo e correspondendo ao tempo, à memória e à linguagem. E neste horizonte à historicidade essencial do ser humano.
- Ver também:
3
- A relação entre tempo e história e a afirmação ou negação da história/tempo se dá através de uma questão central: o sentido. Para o homem mítico, dá-se através da atualização dos mitos nos ritos. No homem antigo e em outras culturas, o sentido do tempo/história aparece nos ciclos temporais (Grande ano). A teoria de Hegel da história se estabelece enquanto teoria de um sentido. Idem para Marx e para a visão cristã. O que é sentido? Os gregos o pensavam como télos.
4
- O lançar mão dos dados históricos para a compreensão da obra de arte pode se tornar inútil e até atrapalhar, porque os muitos dados e explicações podem facilmente obnubilar e fazer esquecer a presença do extraordinário. Ora, esse é o núcleo de todo vigor da arte e do pensamento. Isso fica bem claro no fragmento 18 de Heráclito: "Se não se espera, não se encontra o inesperado, sendo sem caminhos de encontro nem vias de acesso" (1). O inesperado está radicado na ambiguidade radical da Linguagem poética e do pensamento, na medida em que estas são falas do sagrado.
- Referência:
- (1) HERÁCLITO, Fragmento 18. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Os pensadores originários. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 63.
5
- "A História nos leva hoje a conjugar cada vez mais os verbos de calcular e compor poderes de combinação. O progresso da técnica e o desenvolvimento da ciência escondem do homem o mistério da vida e o verbo criador da História" (1).
- - Referência:
- (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 188: 145 / 153, jan.-mar., 2012, p. 149.
5
- O que é perguntar historicamente?
- "Perguntar historicamente significa: libertar e pôr em movimento o que repousa na questão e nela está preso" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. O que é uma coisa. Lisboa: Edições 70, 1992, pp. 53-4.
6
- "A história parte da concepção tricotômica do tempo. Historiograficamente estuda-se no presente os fatos do passado. Não se questiona a condição de possibilidade da correlação entre esses dois tempos, sendo o futuro um filho enjeitado, como se não fosse uma dimensão do humano" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético – A história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 40.
7
- "A essência da história é o destino ou a estruturação do que é enviado para ser disposto" (1), isto é, "...a história é o destinar-se do Ser no homem. Isso quer dizer: é no destinar-se do Ser que o homem se hominiza..." (2).
- Referências:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. O acontecer poético – A história literária. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 59.
- (2) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 59.
- Ver também:
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- “O grito mineral da carne é o clamor da terra embebida de sangue e cravada de pele, da pele da história de quem suou e remexeu o chão nas culturas, de quem pisou e deixou suas pegadas na memória telúrica, de quem morreu e teve sua vida renascida nos frutos da colheita. Colher é ser histórico na medida em que não há revisita a fatos passados, e sim acolhimento daquilo que se apresenta no ato de uma experiência” (1). Essa passagem tem a ver com a interpretação do poema "Ouamisi", de Virgílio de Lemos. No poema, lemos o seguinte verso: "Será que posso falar de omnipresente osmose / entre o sagrado e o grito mineral da carne?" (2).
- Referências:
- (1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 107.
- (2) Idem, p. 100.
9
- "Que nos importam todas as filosofias da História que apenas fazem historiografia, pois elas só brilham com seus sinópticos cientificamente reunidos; elas explicam a história sem, jamais, pensar os fundamentos de seus princípios de explicação a partir da essência da História, e esta a partir de seu próprio ser?" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". Trad. Ernildo Stein. In: Os pré-socráticos - fragmentos, doxografia e comentários. Coleção Os pensadores. Seleção de textos de José Cavalcante de Souza. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 22.
10
- "Sempre que a arte acontece, quer dizer, quando há um principiar, a história experimenta um impulso de embate. Então ela principia ou torna a principiar. História não significa aqui a sucessão de não importa o que no tempo, mesmo que sejam importantes fatos. História é o desabrochar de um povo em sua tarefa histórica, enquanto um adentrar no que lhe foi entre-doado para realizar" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 197.