Cristianismo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "O [[cristianismo]] opôs à [[visão]] do [[tempo]] cíclico da antiguidade greco-romana um [[tempo]] linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um [[fim]], da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse [[tempo]] [[histórico]] e [[mortal]] houve outro [[tempo]] sobrenatural, invulnerável diante da [[morte]] e da sucessão: a [[Eternidade]]. Por isso, o único episódio decisivo da [[história]] terrestre foi o da Redenção: o descenso de [[Cristo]] e o seu [[sacrifício]] representam a interseção entre a [[Eternidade]] e a temporalidade, o tempo recessivo e [[moral]] dos [[homens]] e o [[tempo]] do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio [[sempre]]. A [[Idade Moderna]] começa com a [[crítica]] à [[Eternidade]] [[cristã]] e com a aparição de outro [[tempo]]. De um lado, o [[tempo]] [[finito]] do [[cristianismo]], com um [[começo]] e um [[fim]], se converte num [[tempo]] quase [[infinito]] da [[evolução]] [[natural]] e da [[história]], aberto em direção do [[futuro]]. De outro lado, a [[modernidade]] desvaloriza a [[Eternidade]]: a perfeição se translada para o [[futuro]], não no outro [[mundo]], mas neste. Basta lembrar a [[imagem]] célebre de [[Hegel]]: a rosa da [[razão]] está crucificada no [[presente]]" (2).
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: (1) PAZ, Octávio. "Ruptura e convergência". In: ''A outra voz''. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36.
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: "Também convém notar que o [[cristianismo]] que [[Feuerbach]] conheceu foi uma das muitas [[interpretações]] [[protestantes]] do [[cristianismo]]. Nestas [[interpretações]] se considerava o [[homem]] como intrinsecamente [[mau]], incapaz de qualquer [[obra]] [[boa]], e que é salvo apenas enquanto os [[méritos]] de [[Cristo]] cobrem a podridão [[moral]] do [[homem]], mas não o purificam [[realmente]]. Numa tal [[concepção]] do [[cristianismo]], a [[justiça]] está toda da [[parte]] de [[Deus]], a [[bondade]], o [[amor]], o [[bem]], são [[impossíveis]] no [[homem]], por causa da queda [[original]] que corrompeu totalmente a [[natureza humana]]. Nesta [[perspectiva]] [[protestante]], e somente nesta, se compreende esta frase de [[Feuerbach]]: “A [[religião]] não encontra [[nada]] de [[bom]] na [[natureza]] [[humana]]; para ela o [[homem]] é [[mau]], corrompido, levando-o ao [[mal]]: se [[Deus]] é [[bom]], só Ele quer o [[bem]]”. Mas esta frase é [[totalmente]] [[falsa]], quando aplicada ao [[cristianismo]] em sua [[forma]] [[católica]] onde o pecado [[original]] não é interpretado como corruptor [[radical]] da [[natureza humana]], onde, portanto, o [[homem]] é capaz de [[verdadeiras]] [[obras]] de [[justiça]], de [[amor]], e onde a [[salvação]] de [[Cristo]] não é apenas um manto, mas uma [[verdadeira]] purificação interna" (1).
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: "Também convém notar que o [[cristianismo]] que Feuerbach conheceu foi uma das muitas [[interpretações]] protestantes do [[cristianismo]]. Nestas [[interpretações]] se considerava o [[homem]] como intrinsecamente [[mau]], incapaz de qualquer [[obra]] boa, e que é salvo apenas enquanto os méritos de [[Cristo]] cobrem a podridão [[moral]] do [[homem]], mas não o purificam [[realmente]]. Numa tal [[concepção]] do [[cristianismo]], a [[justiça]] está toda da [[parte]] de [[Deus]], a [[bondade]], o [[amor]], o [[bem]], são impossíveis no [[homem]], por causa da queda [[original]] que corrompeu totalmente a natureza humana. Nesta [[perspectiva]] protestante, e somente nesta, se compreende esta frase de Feuerbach: “A [[religião]] não encontra [[nada]] de [[bom]] na [[natureza]] [[humana]]; para ela o [[homem]] é [[mau]], corrompido, levando-o ao [[mal]]: se [[Deus]] é [[bom]], só Ele quer o [[bem]]”. Mas esta frase é totalmente [[falsa]], quando aplicada ao [[cristianismo]] em sua [[forma]] católica onde o pecado [[original]] não é interpretado como corruptor [[radical]] da natureza humana, onde, portanto, o [[homem]] é capaz de [[verdadeiras]] [[obras]] de [[justiça]], de [[amor]], e onde a [[salvação]] de [[Cristo]] não é apenas um manto, mas uma [[verdadeira]] purificação interna" (1).
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: (1) HUMMES ofm, Dom Cláudio (Hoje Cardeal). "Os hegelianos de esquerda". In: ----. ''História da Filosofia''.
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: (1) [[HUMMES]] o.f.m, Frei Cláudio. '''Depois passou por uma ordenação Episcopal e, posteriormente, foi nomeado Cardeal. '''
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: Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS, em 1964.
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:''' Os "hegelianos de esquerda". In: ----. [[História]] da [[Filosofia]].'''
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:''' Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS.'''
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: (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: (1) [[HUMMES]], o.f.m. Frei Cláudio.'''[[Metafísica]]. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois foi sagrado Bispo e posteriormente nomeado Cardeal.'''
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: "E assim como o [[humanismo]] masca e mascara a [[experiência]] [[originária]] do [[homem]] com o [[Ser]], assim também o [[monoteísmo]] [[metafísico]] diverte e perverte a [[experiência]] [[originária]] do [[homem]] com o [[Divino]]. Ora, o [[Divino]] constitui o [[horizonte]] pluridimensional da [[deidade]], o elemento [[misterioso]] onde poderá haver uma correspondência com [[Deus]] e os [[Deuses]]. Por isso, o [[Pensamento Essencial]] procura sua [[Verdade]] fora da [[dualidade]] [[metafísica]] do teísmo e [[ateísmo]]. O [[ateísmo]] [[moderno]] não passa de uma consequência do [[cristianismo]]. É o [[cristianismo]] perfeitamente [[humanizado]], isto é, no fundo totalmente [[descristianizado]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. '''[[Aprendendo]] a [[pensar]] I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 216.'''
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: "Uma [[sociedade]] que acredita numa [[dimensão]] extrafísica - as [[profundas]] [[verdades]] que se ocultam por trás do véu da [[vida]] [[terrena]] - investe sua [[fé]] em especialistas talentosos, capazes de servir de intermediários [[entre]] os dois [[mundos]]: os [[videntes]], os [[druidas]] e os [[bardos]]. Com o [[surgimento]] do [[Cristianismo]], os [[santos]] se juntaram às fileiras de talentos guardiães da [[alma]] - e muitas [[figuras]] antes [[pagãs]] adquiriram outros [[nomes]] e um novo conjunto de [[atributos]] [[religiosos]]" (1).
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: (1) HOOD, Juliette.''' "Guardiães da [[alma]]". O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 95.'''
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: "Todos os líderes [[druidas]] predizem [[acontecimentos]] relacionados ao [[rei]] e seu [[reino]], no entanto, Beag mac De, [[druida]] da corte do Grande Rei Diarmid mac Cearrbheoil, tem outras capacidades surpreendentes - ele é capaz de [[prever]] o [[futuro]] [[poder]] dos [[santos]] irlandeses e tem [[visões]] de São Brenan, São Ciaran e São Columba. Beag é recompensado antes da sua [[morte]], quando encontra São Columba, que administra os sacramentos [[cristãos]] ao [[druida]] como um favor especial. Essa afinidade [[entre]] [[homens]] santos [[pagãos]] e [[cristãos]] simboliza o modo como o [[Cristianismo]] incorporou os aspectos da antiga [[sabedoria]] [[celta]] e assimilou-os em suas próprias [[tradições]]" (1).
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: (1) HOOD, Juliette.''' A [[sabedoria]] dos druidas. O [[livro]] [[celta]] da [[vida]] e da [[morte]]. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora [[Pensamento]], 2011, p. 99.'''

Edição atual tal como 19h41min de 26 de fevereiro de 2025

Tabela de conteúdo

1

"O cristianismo opôs à visão do tempo cíclico da antiguidade greco-romana um tempo linear, sucessivo e irreversível, com um começo, um fim, da queda de Adão e Eva ao Juízo Final. Diante desse tempo histórico e mortal houve outro tempo sobrenatural, invulnerável diante da morte e da sucessão: a Eternidade. Por isso, o único episódio decisivo da história terrestre foi o da Redenção: o descenso de Cristo e o seu sacrifício representam a interseção entre a Eternidade e a temporalidade, o tempo recessivo e moral dos homens e o tempo do mais além, que não muda nem sucede, idêntico a si próprio sempre. A Idade Moderna começa com a crítica à Eternidade cristã e com a aparição de outro tempo. De um lado, o tempo finito do cristianismo, com um começo e um fim, se converte num tempo quase infinito da evolução natural e da história, aberto em direção do futuro. De outro lado, a modernidade desvaloriza a Eternidade: a perfeição se translada para o futuro, não no outro mundo, mas neste. Basta lembrar a imagem célebre de Hegel: a rosa da razão está crucificada no presente" (2).


Referência:
(1) PAZ, Octávio. Ruptura e convergência. In: A outra voz. São Paulo: Siciliano, 2001, pp. 36.

2

"Também convém notar que o cristianismo que Feuerbach conheceu foi uma das muitas interpretações protestantes do cristianismo. Nestas interpretações se considerava o homem como intrinsecamente mau, incapaz de qualquer obra boa, e que é salvo apenas enquanto os méritos de Cristo cobrem a podridão moral do homem, mas não o purificam realmente. Numa tal concepção do cristianismo, a justiça está toda da parte de Deus, a bondade, o amor, o bem, são impossíveis no homem, por causa da queda original que corrompeu totalmente a natureza humana. Nesta perspectiva protestante, e somente nesta, se compreende esta frase de Feuerbach: “A religião não encontra nada de bom na natureza humana; para ela o homem é mau, corrompido, levando-o ao mal: se Deus é bom, só Ele quer o bem”. Mas esta frase é totalmente falsa, quando aplicada ao cristianismo em sua forma católica onde o pecado original não é interpretado como corruptor radical da natureza humana, onde, portanto, o homem é capaz de verdadeiras obras de justiça, de amor, e onde a salvação de Cristo não é apenas um manto, mas uma verdadeira purificação interna" (1).


(1) HUMMES o.f.m, Frei Cláudio. Depois passou por uma ordenação Episcopal e, posteriormente, foi nomeado Cardeal.
Os "hegelianos de esquerda". In: ----. História da Filosofia.
Curso proferido em 1964 em Daltro Filho, (hoje cidade Imigrantes), RS.

3

"Foi somente com o cristianismo que o homem começou a dar-se conta, mais explicitamente, da sua espiritualidade, da sua interioridade, desta sua capacidade de entrar em si mesmo, de separar-se, por assim dizer, da exterioridade da natureza. Esta tomada da consciência proveio justamente do fato de que o cristianismo começou por ensinar que o homem tem uma alma espiritual capaz de viver separada do corpo e que ele deve por assim dizer salvar fugindo do mundo: o interior do homem vale mais do que seu exterior" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio.Metafísica. Mimeo. Curso dado em Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois foi sagrado Bispo e posteriormente nomeado Cardeal.

4

"E assim como o humanismo masca e mascara a experiência originária do homem com o Ser, assim também o monoteísmo metafísico diverte e perverte a experiência originária do homem com o Divino. Ora, o Divino constitui o horizonte pluridimensional da deidade, o elemento misterioso onde poderá haver uma correspondência com Deus e os Deuses. Por isso, o Pensamento Essencial procura sua Verdade fora da dualidade metafísica do teísmo e ateísmo. O ateísmo moderno não passa de uma consequência do cristianismo. É o cristianismo perfeitamente humanizado, isto é, no fundo totalmente descristianizado" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar I. Teresópolis: Daimon, 2008, p. 216.

5

"Uma sociedade que acredita numa dimensão extrafísica - as profundas verdades que se ocultam por trás do véu da vida terrena - investe sua em especialistas talentosos, capazes de servir de intermediários entre os dois mundos: os videntes, os druidas e os bardos. Com o surgimento do Cristianismo, os santos se juntaram às fileiras de talentos guardiães da alma - e muitas figuras antes pagãs adquiriram outros nomes e um novo conjunto de atributos religiosos" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. "Guardiães da alma". O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 95.

6

"Todos os líderes druidas predizem acontecimentos relacionados ao rei e seu reino, no entanto, Beag mac De, druida da corte do Grande Rei Diarmid mac Cearrbheoil, tem outras capacidades surpreendentes - ele é capaz de prever o futuro poder dos santos irlandeses e tem visões de São Brenan, São Ciaran e São Columba. Beag é recompensado antes da sua morte, quando encontra São Columba, que administra os sacramentos cristãos ao druida como um favor especial. Essa afinidade entre homens santos pagãos e cristãos simboliza o modo como o Cristianismo incorporou os aspectos da antiga sabedoria celta e assimilou-os em suas próprias tradições" (1).


Referência:
(1) HOOD, Juliette. A sabedoria dos druidas. O livro celta da vida e da morte. Trad. Denise de C. Rocha Delela. São Paulo: Editora Pensamento, 2011, p. 99.
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