Liberdade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:Não há, não houve e nunca haverá qualquer [[modelo]], suporte, [[paradigma]], [[teoria]] que consiga enclausurar a [[experienciação]] amorosa que é [[viver]] a liberdade de ser, tendo como [[horizonte]] de [[sentido]] permanente a [[morte]]. Viver é tornar-se, construir-se livre, ser livre poeticamente, mas uma liberdade que encontra seu [[vigor]] e sentido na morte, não na pretensa liberdade da [[vontade]] e do querer subjetivo. Como exercer a [[razão]] crítica em relação ao que não se sabe nem pode caber na [[consciência]]? Não há [[identidades]] culturais, ideológicas, formais, religiosas, políticas, que possam prescrever o que só cuidando livremente podemos [[realizar]] sempre inauguralmente como atualidade e permanência do [[poético]], da [[poética]]: apropriar-nos do que nos é [[próprio]]. Isto é a [[essência]] originária do [[humano]] em sua vigência na liberdade. Toda [[travessia]] é travessia de [[libertação]] em seu [[acontecer]] [[poético]].
 
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
 

Edição de 14h24min de 5 de Abril de 2017

1

"O destino do desencobrimento sempre rege o homem em todo o seu ser, mas nunca é a fatalidade de uma coação. Pois o homem só se torna livre num envio, fazendo-se ouvinte e não escravo do destino. A essência da liberdade não pertence originariamente à vontade e nem tampouco se reduz à causalidade do querer humano. A liberdade rege o aberto, no sentido do aclarado, isto é, des-encoberto. A liberdade tem seu parentesco mais próximo e mais íntimo com o dar-se do desencobrimento, ou seja, da verdade. Todo desencobrimento pertence a um abrigar e esconder. Ora, o que liberta é o mistério, um encoberto que sempre se encobre, mesmo quando se desencobre. Todo desencobrimento provém do que é livre, dirige-se ao que é livre e conduz ao que é livre. A liberdade do livre não está na licença do arbitrário nem na submissão a simples leis. A liberdade é o que aclarando encobre e cobre, em cuja clareira tremula o véu que vela o vigor de toda verdade e faz aparecer o véu como o véu que vela. A liberdade é o reino do destino que põe o desencobrimento em seu próprio caminho" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 27.


Ver também:


2

Somos possibilidades de e para possibilidades. E como possibilidades somos agir ontológico. Este agir é que manifesta o que já somos e por isso não acrescenta nem pode acrescentar nada. Dá sentido ao que já somos. E a adveniência desse sentido consiste em nos deixarmos libertar para o agir da verdade e para o agir da linguagem. A liberdade não é uma questão de vontade de negação ou vitória sobre o que se nos opõe. Isso é aparente e passageiro, meramente entitativo. A liberdade é, sim, deixar-se tomar pelo agir do pensar no qual e dentro do qual o que somos chega ao saber do sentido da luz, ou seja, ao sentido da verdade e da linguagem. Por isso, verdade é sentido e não certeza ou incerteza a respeito de algo externo e meramente entitativo. Só o sentido liberta porque sentido é ação ontológica. Sentido, enfim, é saber-se sendo o que já desde sempre somos.


- Manuel Antônio de Castro

3

"Há infinitas maneiras, pessoais e coletivas, de se compreender o que é a liberdade. Entretanto, ainda que se possam conferir diferentes sentidos à liberdade, são sempre diferentes sentidos da liberdade. A permanência desta questão aponta para uma dimensão ontológica, que antecede o ângulo de visão desta ou daquela pessoa, época ou cultura. A liberdade se inscreve no modo de ser do homem. Por isso, para se questionar o que é a liberdade, é necessário colocá-la em referência com a pergunta: o que é o homem?" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 133.

4

"Liberdade é sempre libertação. Não inclui negar ou recusar, mas identificar-se e lidar com dependências. Sem necessidade não se tem liberdade. O engodo de uma liberdade sem libertação implica pretender desvencilhar-se das dependências, em buscar eliminar as necessidades e iludir-se de somente assim poder ser livre e conquistar a liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Sociedade do conhecimento: passes e impasses". In: Revista Tempo Brasileiro, 152, jan.-mar., 2003, p. 17.


5

"Livres das aparentes soluções dos sistemas e das procuras circunstanciais, devemos reconduzir nossos saberes ao saber essencial e único: experienciar o tempo enquanto linguagem para sermos essencialmente livres e realizados. Só assim seremos poéticos, porque ser poético é ser realizando-se enquanto libertação. Temos que nos livrar do que é somente circunstancial para nos libertarmos para o que nos foi destinado e nos plenifica: o próprio. Só a liberdade realiza e plenifica. Eis a demanda e tarefa poética, enquanto Cura. Por isso, a Cura não será um bem, será o Bem. Bem é a liberdade sem atributos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2011, p. 233.


6

"O que no homem se destina é ele ser uma questão. Não uma resposta, mas uma pergunta. Liberdade é realizar a plenitude do que se é. O que somos é uma abertura para as questões que nos constituem em nossa humanidade. Somos delas doações. Não as temos: elas nos têm. Por isso, ser livre não é fazer só o que queremos com a vida, e, sim, escutar o que a vida quer de nós" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 134.


7

Na ordem da ciência, a falta de bens e cultura pode ser indigência e na dimensão do humano a falta de cultura e bens pode ser renúncia para a aprendizagem. Porque a renúncia não tira, dá. Pois o silêncio não é a falta de voz da poesia e o som não é a falta de música, mas a sua plenitude. O repouso não é falta de dança e gestos, mas a plenitude do agir do corpo como simplicidade. Do silêncio e do repouso, paradoxalmente, vem a possibilidade de libertação.


- Manuel Antônio de Castro


8

"A liberdade não é uma propriedade do homem. Muito pelo contrário. O homem é que vem a si mesmo e se constitui como homem enquanto e na medida em que é apropriado pela liberdade. A liberdade é uma dinâmica abrangente, em cuja vigência o homem se faz homem. A hominização do homem se funda e se exerce na significância da liberdade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Heidegger e a questão da liberdade real". In: O que nos faz pensar - Homenagem a Martin Heidegger. Rio de Janeiro: Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC-RIO, v. 1, out. de 1996, p. 57.

9

A liberdade do homem não é a liberdade do humano. A liberdade do homem pode exercer o escravizar, o fazer mal, o proceder injustamente, o espoliar o outro, o anular os que se lhe opõem, aniquilar e matar os inimigos. Só a liberdade do humano deixa a liberdade libertar, o bem tornar-se bem, a justiça ser justiça e ética, a vida vitalizar e o amor acolher as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro



10

"Os tebanos proclamam Édipo tyranos, "senhor" de Tebas em reconhecimento pela libertação. Não sabem ainda, mas logo vão saber que toda libertação é transitória, presenteia-nos com uma liberdade provisória a ser sempre de novo conquistada. Liberdade provisória está em se ter de assumir cada vez, sem nunca desistir, a tarefa de libertar-se" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 66.

11

"A todo instante de ser e de não ser sente-se a urgência de vir a ser, na libertação, a necessidade de libertar-se das e com as necessidades. Sem necessidade não se dá libertação" (1).


Referência bibliográfica:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Édipo em Píndaro e Freud". In: ------. Filosofia contemporânea. Teresópolis - RJ: Editora Daimon, 2013, p. 64.
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