Angústia

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"Na angústia - dizemos nós - 'a gente se sente estranho'. O que suscita tal estranheza e o que é por ela afetado? Não podemos dizer diante de que a gente se sente [[estranho]]. A gente se sente totalmente assim. Todas as coisas e nós mesmos afundamo-nos numa [[indiferença]]. Isto, entretanto, não no sentido de um simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime. Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevem - na fuga do ente - este 'nenhum'... A angústia manifesta o [[nada]]" (1).  
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: "Na [[angústia]] - dizemos nós - 'a gente se sente estranho'. O que suscita tal [[estranheza]] e o que é por ela afetado? Não podemos [[dizer]] diante de que a gente se sente [[estranho]]. A gente se sente totalmente assim. Todas as [[coisas]] e nós mesmos afundamo-nos numa [[indiferença]]. Isto, entretanto, não no [[sentido]] de um [[simples]] desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se do [[ente]] em sua totalidade, que nos assedia na [[angústia]], nos oprime. Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevém - na fuga do [[ente]] - este 'nenhum'. A [[angústia]] manifesta o [[nada]]" (1).  
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letra, 2005, p. 57.
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Que é metafísica?'''. In: ------. '''Heidegger'''. Coleção '''Os pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 39.
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: "A [[angústia]] nos corta a [[palavra]]. Pelo [[fato]] de o [[ente]] em sua [[totalidade]] fugir e, assim, justamente, nos acossar o [[nada]], em sua [[presença]], emudece qualquer dicção do "[[é]]". O [[fato]] de nós procurarmos muitas vezes, na [[estranheza]] da [[angústia]], romper o [[vazio]] [[silêncio]] com [[palavras]] sem nexo é apenas o testemunho da [[presença]] do [[nada]]. Que a [[angústia]] revela o [[nada]] é confirmado imediatamente pelo próprio [[homem]] quando a [[angústia]] se afastou. Na posse da [[claridade]] do [[olhar]],  a lembrança recente nos leva a [[dizer]]:  Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - [[nada]]. Efetivamente: o [[nada]] mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
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: De alguma maneira a [[angústia]] está ligada à nossa [[condição humana]] de [[finitos]], ou seja, à nossa [[finitude]], pois nesta nos defrontamos com o [[nada]] que elimina quaisquer [[limites]] e então surge a [[angústia]] diante do [[infinito]]. É que a [[finitude]] se faz presente em todo o nosso [[caminhar]], em todo o nosso [[querer]], em todas as nossas [[ações]] em sua [[essência]]. Como fica a nossa [[liberdade]] e o nosso [[conhecer]]? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que [[nada]] sei? Certamente somente o [[ser humano]] é tomado pela [[angústia]], pois só ele [[é]] [[finito]] e sabe que [[é]] [[finito]] diante do [[infinito]]. Como fica diante da [[finitude]] a nossa [[plenitude]] e [[felicidade]]?
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: (1) HEIDEGGER, Martin. '''Que é metafísica?'''. In: ------. '''Heidegger'''. Coleção '''Os pensadores'''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.
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: "Jamais a [[proximidade]] será a [[realização]] de todas as [[possibilidades]]. Nunca haverá uma anulação da [[distância]] nem uma [[plenitude]] total na [[proximidade]], simplesmente porque é [[impossível]] tanto a [[distância]] total quanto a [[proximidade]] total" (1).
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: Daí surge a [[angústia]] e a [[ansiedade]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. '''Arte: o humano e o destino'''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.
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: O [[ser humano]] vive sempre na [[angústia]] do [[nada]], pois, de um lado, se descobre sempre, em sua [[finitude]], diante do [[infinito]] [[externo]] e, de outro, do [[infinito]] [[interno]]. Só aparentemente estes dois [[infinitos]] se [[opõem]], mas se [[diferenciam]]. E assim o [[ser humano]] [[vive]] o [[dilema]], melhor, a [[angústia]] de uma [[eterna]] [[aprendizagem]] de [[procura]] de si mesmo. Eis sua [[riqueza]] maior: sua [[finitude]] como [[destino]] de [[procura]] até a [[morte]]. Neste [[sentido]], a [[morte]] é uma [[necessidade]] [[ontológica]] e jamais o [[término]] de [[tudo]]. Não será pelo contrário o [[começo]] [[permanente]] de [[tudo]]? Nesse [[horizonte]] tanto a [[psicologia]] e a [[psiquiatria]] quanto toda e qualquer [[cosmologia]] se [[experienciam]] como sendo as [[mesmas]] [[questões]]. Daí o [[enigma]] e [[mistério]] em que [[vive]] [[todo]] [[ser humano]] desde que [[nasce]]. Para muitos o [[difícil]] é seguir [[permanentemente]] esse [[caminho]]. [[Procuramos]] [[desesperadamente]] a [[resposta]] dessas [[questões]]. E o que aí a [[ciência]] [[pode]] [[fazer]]? Se for [[verdadeira]] [[ciência]], pôr-nos a [[caminho]] de nos [[pensarmos]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "A [[psicose]] traduz um esforço desesperado de [[criar]] o [[mundo]], no déficit doloroso de [[ser]] e [[conviver]]. A [[angústia]] é a [[morte]] sentida com extrema [[intensidade]] que vem sempre acompanhada de uma [[radical]] [[insegurança]]. Por outro lado, a [[angústia]] é o que nos singulariza ao extremo. Enquanto não se lidar com ela, a [[angústia]] sufoca a [[existência]] na [[existência]]. Logo, porém, que consigo aceitá-la, eu me [[revelo]] para mim mesmo em minhas [[possibilidades]] e meus [[limites]]. Por sua [[radicalidade]], a [[angústia]] nos dá uma [[lucidez]] única" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. '''Filosofia contemporânea'''. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 71.
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: " a [[angústia]] é a passagem que leva à [[alegria]] " (1)
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:  (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa'''. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 48.

Edição atual tal como 19h58min de 25 de fevereiro de 2024

1

"Na angústia - dizemos nós - 'a gente se sente estranho'. O que suscita tal estranheza e o que é por ela afetado? Não podemos dizer diante de que a gente se sente estranho. A gente se sente totalmente assim. Todas as coisas e nós mesmos afundamo-nos numa indiferença. Isto, entretanto, não no sentido de um simples desaparecer, mas em se afastando elas se voltam para nós. Este afastar-se do ente em sua totalidade, que nos assedia na angústia, nos oprime. Não resta nenhum apoio. Só resta e nos sobrevém - na fuga do ente - este 'nenhum'. A angústia manifesta o nada" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica?. In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 39.

2

"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Que é metafísica?. In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.

3

"Jamais a proximidade será a realização de todas as possibilidades. Nunca haverá uma anulação da distância nem uma plenitude total na proximidade, simplesmente porque é impossível tanto a distância total quanto a proximidade total" (1).
Daí surge a angústia e a ansiedade.


- Manuel Antônio de Castro.
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 307.

4

O ser humano vive sempre na angústia do nada, pois, de um lado, se descobre sempre, em sua finitude, diante do infinito externo e, de outro, do infinito interno. Só aparentemente estes dois infinitos se opõem, mas se diferenciam. E assim o ser humano vive o dilema, melhor, a angústia de uma eterna aprendizagem de procura de si mesmo. Eis sua riqueza maior: sua finitude como destino de procura até a morte. Neste sentido, a morte é uma necessidade ontológica e jamais o término de tudo. Não será pelo contrário o começo permanente de tudo? Nesse horizonte tanto a psicologia e a psiquiatria quanto toda e qualquer cosmologia se experienciam como sendo as mesmas questões. Daí o enigma e mistério em que vive todo ser humano desde que nasce. Para muitos o difícil é seguir permanentemente esse caminho. Procuramos desesperadamente a resposta dessas questões. E o que aí a ciência pode fazer? Se for verdadeira ciência, pôr-nos a caminho de nos pensarmos.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"A psicose traduz um esforço desesperado de criar o mundo, no déficit doloroso de ser e conviver. A angústia é a morte sentida com extrema intensidade que vem sempre acompanhada de uma radical insegurança. Por outro lado, a angústia é o que nos singulariza ao extremo. Enquanto não se lidar com ela, a angústia sufoca a existência na existência. Logo, porém, que consigo aceitá-la, eu me revelo para mim mesmo em minhas possibilidades e meus limites. Por sua radicalidade, a angústia nos dá uma lucidez única" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 71.

6

" a angústia é a passagem que leva à alegria " (1)


Referência:
(1) KAUR, rupi. meu corpo / minha casa. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 48.