Silêncio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:"O silêncio não é [[ausência]] de [[fala]], não é sinônimo de imobilidade. O silêncio é o [[velar]] de todo ímpeto, o [[movimento]] pleno em que a [[vigência]] de [[ser]] se resguarda no agir do [[sendo]]" (1).
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: E o que é o silêncio? “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais” (1).
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:(1) PESSANHA, Fábio Santana. "O rio como insólito na terceira margem do homem". In: GARCÍA, Flavio; PINTO, Marcello de Oliveira; MICHELLI, Regina (orgs.). ''[http://www.dialogarts.uerj.br/arquivos/simposios.pdf O insólito em questão]'' – Anais do V Painel Reflexões sobre o Insólito na narrativa ficcional/ I Encontro Nacional Insólito como Questão na Narrativa Ficcional. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2010, p. 32.
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: (1) ROSA, João Guimarães. ''Grande sertão: veredas''. 6 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1968, p. 319.
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Edição de 00h49min de 5 de Dezembro de 2016

1

O silêncio não é a falta de fala nem o excesso. O silêncio é a plenitude da fala e como plenitude não é. Deste não-é lhe advém a excessividade, que é fala. O silêncio dá-se fala. Fala silenciando. Quem pro-cura o silêncio encontra a fala como escuta. Quem só fala e não escuta, não encontra o silêncio, que sempre se retrai e vela. O falatório só repete o falaz-tório e não procura nem trilha as veredas do silêncio. O falatório e palavrório repetem formas vazias de informação. A fala do silêncio pro-duz Cura e Sabedoria. A gramática é falatório de formas vazias. A fala do silêncio é poesia. A gramática que se queira mais do que algo formal deve-se abrir para a escuta do silêncio. Questão: ainda será gramática ou se abriu para o poético?


- Manuel Antônio de Castro


2

"Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. O silêncio é a profunda noite secreta do mundo. E não se pode falar do silêncio como se fala da neve: sentiu o silêncio dessas noites? Quem ouviu não diz. Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 34.


3

O silêncio é a excessividade ontopoética do nada. A pausa não é silêncio, mas disposição da escuta. A mudez não é silêncio porque é a falta do que ainda não se tem e se pode vir a ter. A mudez como mudez tem em si uma opacidade de anulação da fertilidade do silêncio. A mudez é estéril até que a insemine a poíesis do silêncio, porque só sabemos que alguém é mudo quando não fala, mas não pode haver fala se não houver escuta. E para haver escuta é necessário abrir-se para a fala do silêncio. O silêncio é mudo não por falta de fala, mas por excesso. Cabe a nós escutá-lo nessa excessividade criativa para que, escutando-o, possamos falar. A mudez pode então ser a decisão pela escuta atenta da fala do silêncio. Emudecemos quando nada temos para dizer, mas emudecemos muito mais quando somos possuídos pela excessividade da realidade, que é o silêncio enquanto lógos. Podemos emudecer quando somos tomados pelo páthos e dele podemos simplesmente dar testemunho num grito primal de dor ou paixão, então elas podem nos jogar no abismo silencioso da morte. Emudecemos, tomados pela excessividade da realidade ou pelo nada excessivo da morte, quando somos possuídos pelo éros mortal.


- Manuel Antônio de Castro

4

E o que é o silêncio? “O senhor sabe o que o silêncio é? É a gente mesmo, demais” (1).


Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1968, p. 319.

5

"[...] nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. 3ª ed. Rio de Janeiro: Sabiá, 1972, p. 117.

6

"O silêncio é condição de possibilidade da memória, do pensar, enquanto concentrar-se no âmago, para atingir o concreto, isto é, o que desencadeia realidade. A ruidosidade é, ao contrário, uma mera simulação deletéria da sonoridade. O pensar se dá desde um concentrar-se e não desde um dispersar-se" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 182.


7

O silêncio não é a falta de fala nem o excesso. O silêncio é a plenitude da fala. E como plenitude não é. Deste não-é lhe advém a excessividade, que é fala. O silêncio não é, fala, dá-se fala. Fala silenciando. Quem procura o silêncio encontra a fala como escuta. Quem só fala e não escuta não encontra o silêncio, que sempre se retrai e vela. Ele é a fonte originária e in-augural de toda fala. Falamos para nos encontrar e realizar no e a partir do silêncio. Quem não cultiva o silêncio não pode falar a fala do que é.


- Manuel Antônio de Castro.

8

O silêncio é a não-verdade de toda verdade. O silêncio está para além de falso e certo. O silêncio é a graça nutriente e gratificante da , da fé do silêncio, do mistério do silêncio, para quem qualquer palavra é já inútil e desnecessária e aprisionante.


- Manuel Antônio de Castro.


9

"O homem fala por pretender indicar e comunicar alguma coisa ou o homem fala por ser aquele que pode calar-se e ficar em silêncio, no silêncio morar no vazio? O que isso significa? Será, então, que em última análise, a origem da essência da linguagem está em poder calar-se e guardar silêncio? O silêncio será apenas algo negativo, não falar, e meramente um dado externo, a ausência de som, a calada? Ou será que o silêncio é algo positivo e mais profundo, e toda fala não é senão o não-silêncio, o já não e ainda não calar-se?" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ser e verdade. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, p. 119.

10

"Às vezes passo dias sem falar com ninguém. Penso: Deveria ligar para alguém, mas deixo para lá, porque há algo prazeroso em ficar quieto. Mas gosto de falar. Então não é isso. Porém, às vezes pode ser satisfatório... Não é como se eu ficasse aqui filosofando, porque não sou bom nisso. É apenas - o silêncio - isso é tão maravilhoso, tão fantástico" (1).


Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Fala dele no filme: A ilha de Bergman. Direção de Marie Nyreröd, 2004.


11

A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio.


- Manuel Antônio de Castro


12

O vazio, o silêncio, é a identidade das diferenças porque é a diferença de todas as identidades. Silêncio não é falta, mas plenitude de possibilidades de sons, palavras, vozes, música, porque o silêncio configura a fonte de toda a musicalidade. Musicalidade é a realidade se manifestando em mundo, em sentido, em saber do que se é, do ser. Por isso, o universo é essencialmente musical. O humano enquanto mundo é o vigorar do sentido do silêncio. Quando este silêncio procriador vigora acontece o humano de todo ser humano. Tal acontecer é o acontecer do destinar-se do sentido da verdade do ser.


- Manuel Antônio de Castro
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