Kairós
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Ulisses]] e a [[Escuta]] do [[Canto]] das [[Sereias]]”. In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175.''' |
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- | : “Na filosofia greco-romana, Kairós é a experiência do momento oportuno. Os pitagóricos consideravam Kairós como "oportunidade". | + | : “Na [[filosofia]] greco-romana, [[Kairós]] é a [[experiência]] do [[momento oportuno]]. Os pitagóricos consideravam [[Kairós]] como "oportunidade". [[Kairós]] é o [[tempo]] em [[potencial]], [[tempo]] eterno e não linear, enquanto [[Chronos]] é a medida linear de um movimento ou [[período]]. Na retórica, [[Kairós]] era uma noção central, pois caracterizava "o [[momento]] fugaz em que uma oportunidade/abertura se apresenta e deve ser encarada com força e destreza para que o sucesso seja alcançado" (1). |
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+ | : 4o. E, finalmente, as ''[[Horae]]'', as horas, estações ou fases da [[vida]], como: criança, jovem, adulto, idoso. E sobretudo [[vida]] e [[morte]], ou seja, ''[[eros]]'' e ''[[thanatos]]''. Porém, nada disto, que estamos pensando, podia [[acontecer]] para o [[grego]] sem uma outra [[palavra]] sinônimo de [[ser]]: ''[[physis]]''. | ||
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Edição atual tal como 20h57min de 31 de março de 2025
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1
- "Porque, embora os mitos vivam hoje ausentes, ainda assim temos sempre vivo o mítico, que é um apelo para a Escuta do canto das Sereias. Cada um de nós já está desde sempre aberto para a fala da Escuta, mas há um tempo próprio, que os gregos denominavam kairós, o tempo do ad-vento, do momento oportuno, que não se regula por datas nem por causas e consequências conhecidas cientificamente, muito menos por análises ou explicações técnicas ou críticas. É o advento do inesperado, do extraordinário, do mistério, do acontecer poético da palavra cantada, da fala do lógos. Não é o desejo de algo consciente ou inconscientemente manifestado, mas um despertar para realizar a travessia do que somos" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ulisses e a Escuta do Canto das Sereias”. In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 175.
2
- Kairós é a palavra grega para dizer o tempo oportuno, o tempo de plenitude (telos) a que algo chegou e vai eclodir, é todo nascimento no seu tempo de vir à luz. Kairós funda as diferentes oportunidades que nos aparecem na vida, em nosso tempo próprio. Todo momento de Kairós é uma oportunidade.
3
- "Nosso projeto de ser acontece como tempo e linguagem. A vida vivida como experienciação de ser – sentido - é o tempo como linguagem. A linguagem é o tempo oportuno de manifestação do que somos. A esse tempo os gregos deram o nome de kairós: é o tempo oportuno, o tempo do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu kairós. Para ser. Ser é o único desafio verdadeiro de nossa vida. Então esse é o horizonte de nossas escolhas" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85.
4
- “Kairós (em grego: καιρός, "o momento oportuno", "certo" ou "supremo"), na mitologia grega, é o deus do tempo oportuno. Kairós é referido a partir do século V a.C., quando Íon de Quios lhe dedicou um hino, no qual o celebra como o filho mais jovem de Zeus. Em Sícion se encontrava uma estátua de Kairós, esculpida por Lisipo. Kairós também teve um altar em Olímpia” (1).
- Referência:
- (1) https: //pt.wikipedia.org/wiki/Kairós
5
- "... kairos, que em português escrevemos kairós, tinha para os gregos o significado de "momento certo" ou momento oportuno. É uma ocasião indeterminada no tempo em que algo especial acontece. A palavra é usada em teologia para descrever o "tempo de Deus". Não é um tempo quantitativo, como khronos. Não pode ser medido porque é um tempo diferente. É um tempo qualitativo " (1).
- Referência:
- (1) ROSSI, Padre Marcelo. "Introdução". In: ---. Kairós. São Paulo: Editora Globo, 2013, p. 18.
6
- “Na filosofia greco-romana, Kairós é a experiência do momento oportuno. Os pitagóricos consideravam Kairós como "oportunidade". Kairós é o tempo em potencial, tempo eterno e não linear, enquanto Chronos é a medida linear de um movimento ou período. Na retórica, Kairós era uma noção central, pois caracterizava "o momento fugaz em que uma oportunidade/abertura se apresenta e deve ser encarada com força e destreza para que o sucesso seja alcançado" (1).
- Referência:
- (1) https: //pt.wikipedia.org/wiki/Kairós.
7
- Quanto a tempo, no pensamento grego, havia quatro palavras para pensar o tempo:
- 1º. Kronos, é o tempo do dis-correr, do discurso, que trans-corre e é enumerável, daí a cronologia, bem como a História concebida como Historiografia, em que, propriamente, não se leva em conta o acontecer das demais experienciações do tempo entre os gregos. É o tempo adotado pela gramática;
- 2º. Aion, o tempo que perdura, é o princípio, a origem originária de tudo que acontece na realidade, eternidade sem início nem fim;
- 3º. Kairos, o tempo do amadurecimento e eclosão de tudo, o tempo oportuno, o tempo do próprio;
- 4o. E, finalmente, as Horae, as horas, estações ou fases da vida, como: criança, jovem, adulto, idoso. E sobretudo vida e morte, ou seja, eros e thanatos. Porém, nada disto, que estamos pensando, podia acontecer para o grego sem uma outra palavra sinônimo de ser: physis.