Leitura

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(6)
(8)
 
(42 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
__NOTOC__
__NOTOC__
== 1 ==
== 1 ==
-
:Toda leitura só será verdadeira leitura se, para além da [[relação]] com um [[texto]] escrito, houver leitura de [[mundo]] e [[vida]] e do que toca a [[essência]] do [[ser humano]]. Não podemos reduzir a leitura à relação do [[leitor]] com a [[representação]] da [[realidade]] e do ser humano e suas [[questões]]. Toda leitura no que ela tem de essencial é apreender o [[sentido]] originário tanto da realidade quanto do ser humano em [[viver]] e realizar-se. Toda leitura, por isso, é o [[caminho]] do chegar a ser o que é em seu sentido, [[verdade]] e [[mundo]].
+
:Toda [[leitura]] só será [[verdadeira]] [[leitura]] se, para além da [[relação]] com um [[texto]] escrito, houver [[leitura]] de [[mundo]] e [[vida]] e do que toca a [[essência]] do [[ser humano]]. Não podemos reduzir a [[leitura]] à [[relação]] do [[leitor]] com a [[representação]] da [[realidade]] e do [[ser humano]] e suas [[questões]]. Toda [[leitura]] no que ela tem de [[essencial]] é [[apreender]] o [[sentido]] [[originário]] tanto da [[realidade]] quanto do [[ser humano]] em [[viver]] e [[realizar-se]]. Toda [[leitura]], por isso, é o [[caminho]] do chegar a [[ser]] o que é em seu [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]].
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
:- [[Manuel Antônio de Castro]]
-
 
: Consultar também:
: Consultar também:
-
: * [[Ler]].
+
: '''* [[Ler]].'''
== 2 ==
== 2 ==
-
: “De fato, [[originariamente]], toda [[leitura]] só é [[leitura]] na [[medida]] em que já está acontecendo um [[diá-logo]]. Por sermos [[essencialmente]] [[diálogo]] é que, [[necessariamente]], somos uns com os [[outros]], isto é, somos [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[social]]. Por isso mesmo, o [[social]] não depende de nenhuma [[cultura]]. [[Seres humanos]] de [[diferentes]] [[culturas]] e [[épocas]] podem [[aprender]] [[outras]] [[línguas]] e conviver pacificamente, isto é, serem [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[ser humano]] e, por isso mesmo, qualquer [[pré-conceito]] de cor, [[raça]], [[cultura]], etnia, [[religião]], [[valores]] [[morais]], [[gênero]] etc. é uma aberração e injustificável" (1).
+
: “De fato, [[originariamente]], toda [[leitura]] só é [[leitura]] na [[medida]] em que já está acontecendo um [[diá-logo]]. Por sermos [[essencialmente]] [[diálogo]] é que, [[necessariamente]], somos uns com os [[outros]], isto é, somos [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[social]]. Por isso mesmo, o [[social]] não depende de nenhuma [[cultura]]. [[Seres humanos]] de [[diferentes]] [[culturas]] e [[épocas]] podem [[aprender]] [[outras]] [[línguas]] e [[conviver]] pacificamente, isto é, serem [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[ser humano]] e, por isso mesmo, qualquer pré-conceito de cor, [[raça]], [[cultura]], etnia, [[religião]], [[valores]] [[morais]], [[gênero]] etc. é uma aberração e injustificável" (1).
-
 
+
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 123.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]] e [[Crítica]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 123.'''
== 3 ==
== 3 ==
-
: [[Ler]] é alimentar-se da e pela [[memória]] do que já desde sempre somos. [[Ser]] é o que há de mais [[autêntico]], íntimo, [[profundo]], imediato, [[evidente]] em cada um. O [[dizer]] mais [[radical]] e [[essencial]] é sempre: ''[[eu]] [[sou]]''. Onde o [[sou]] é que é a [[fonte]] [[originária]] de todo [[eu]], de toda [[subjetividade]]. Mas também o mais misterioso. O hábito das [[leituras]] [[essenciais]] nos predispõe para a [[escuta]] do seu [[silêncio]], do seu [[mistério]]. Então se dá o sabor da [[sabedoria]] como [[advento]] do véu do [[mistério]] que se rasga: a [[morte]]. [[Viver]] e [[morrer]] são faces da mesma moeda. Mas quem faz do [[viver]] uma [[experienciação]] do [[morrer]] como [[sabedoria]]? A [[leitura]] [[silenciosa]]  e que interioriza prepara um tal [[diálogo]] e [[caminho]].
+
: [[Ler]] é alimentar-se da e pela [[memória]] do que já desde [[sempre]] somos. [[Ser]] é o que há de mais [[autêntico]], íntimo, [[profundo]], imediato, [[evidente]] em cada um. O [[dizer]] mais [[radical]] e [[essencial]] é [[sempre]]: ''[[eu]] [[sou]]''. Onde o [[sou]] é que é a [[fonte]] [[originária]] de [[todo]] [[eu]], de toda [[subjetividade]]. Mas também o mais [[misterioso]]. O hábito das [[leituras]] [[essenciais]] nos predispõe para a [[escuta]] do seu [[silêncio]], do seu [[mistério]]. Então se dá o sabor da [[sabedoria]] como [[advento]] do véu do [[mistério]] que se rasga: a [[morte]]. [[Viver]] e [[morrer]] são faces da [[mesma]] moeda. Mas quem faz do [[viver]] uma [[experienciação]] do [[morrer]] como [[sabedoria]]? A [[leitura]] [[silenciosa]]  e que interioriza prepara um tal [[diálogo]] e [[caminho]].
Linha 27: Linha 25:
== 4 ==
== 4 ==
-
: "O [[vigor]] permanente da [[obra]] ([[verdade]]) como [[figura]] (a disputa de [[delimitação]] e [[vazio]]/[[nada]]) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a [[obra]] ser [[obra]]. A esta operação que não impõe uma [[perspectiva]] nem uma [[vontade]] subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina ''Bewahrung''. Nós escolhemos uma [[palavra]] portuguesa aproximada, pois toda [[tradução]] é sempre um aproximar: [[desvelo]]. [[Desvelo]]: grande [[cuidado]], carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando [[ser]], aguardar o que é [[próprio]] e persiste, resguardar o deixar [[acontecer]]. Nela ressoa o [[cuidado]] e [[doação]] amorosa como ocorre, por exemplo, no [[desvelo]] da mãe para com o filho, o que pressupõe também no [[leitor]] o [[desvelo]] para com o que na [[obra]] ''Se dá, presenteia'' (1).
+
: "O [[vigor]] permanente da [[obra]] ([[verdade]]) como [[figura]] (a [[disputa]] de [[delimitação]] e [[vazio]]/[[nada]]) está aí para [[ser]] manifestado, operado. Mas tem que [[ser]] uma operação que deixe a [[obra]] [[ser]] [[obra]]. A esta operação que não impõe uma [[perspectiva]] nem uma [[vontade]] [[subjetiva]] nem [[objetiva]], é que [[Heidegger]] denomina ''Bewahrung''. Nós escolhemos uma [[palavra]] portuguesa aproximada, pois toda [[tradução]] é [[sempre]] um aproximar: [[desvelo]]. [[Desvelo]]: grande [[cuidado]], carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando [[ser]], aguardar o que é [[próprio]] e persiste, resguardar o deixar [[acontecer]]. No [[desvelo]] ressoa o [[cuidado]] e [[doação]] amorosa como ocorre, por exemplo, no [[desvelo]] da [[mãe]] para com o [[filho]], o que pressupõe também no [[leitor]] o [[desvelo]] para com o que na [[obra]] ''Se dá, presenteia'' (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Notas". In: [[HEIDEGGER]], Martin. A [[origem]] da [[obra]] de [[arte]]. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.'''
-
 
+
-
 
+
== 5 ==
== 5 ==
-
: "Todas as [[línguas]], como [[ritos]], dizem o diferente, mas como [[linguagem]] dizem sempre o [[mesmo]], embora não digam as mesmas coisas. Só porque a [[linguagem]] diz sempre o [[mesmo]] é que um [[mesmo]] [[ser humano]] pode falar diferentes [[línguas]], [[traduções]] podem ser feitas e haver a [[tradição]] viva da [[memória]]. Tudo isso é [[leitura]]" (1).
+
: "[[Todas]] as [[línguas]], como [[ritos]], [[dizem]] o [[diferente]], mas como [[linguagem]] [[dizem]] [[sempre]] o [[mesmo]], embora não digam as [[mesmas]] [[coisas]]. Só porque a [[linguagem]] [[diz]] [[sempre]] o [[mesmo]] é que um [[mesmo]] [[ser humano]] pode [[falar]] [[diferentes]] [[línguas]], [[traduções]] podem ser feitas e haver a [[tradição]] viva da [[memória]]. Tudo isso é [[leitura]]" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A [[linguagem]] [[poética]] e [[instrumental]]". In: --------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.'''
== 6 ==
== 6 ==
-
: "Hoje todos sabem que temos um [[código]] [[genético]] que “comanda” a [[formação]] de nosso [[organismo]] e de suas tendências orgânicas, mas não “comanda” a nossa [[formação]] [[cultural]], o nosso crescimento [[intelectual]], o nosso desenvolvimento [[emocional]], ou seja, não “comanda” aquilo que chamamos com muita propriedade: nosso [[corpo]], nosso [[próprio]], nosso [[ser]]. É que [[corpo]] diz a integridade do que somos" (1).
+
: "Hoje todos sabem que temos um [[código]] [[genético]] que “comanda” a [[formação]] de nosso [[organismo]] e de suas tendências orgânicas, mas não “comanda” a nossa [[formação]] [[cultural]], o nosso [[crescimento]] [[intelectual]], o nosso desenvolvimento [[emocional]], ou seja, não “comanda” aquilo que chamamos com muita propriedade: nosso [[corpo]], nosso [[próprio]], nosso [[ser]]. É que [[corpo]] diz a [[integridade]] do que somos" (1).
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]]". In: -----. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.'''
== 7 ==
== 7 ==
Linha 58: Linha 54:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.'''
 +
 
 +
== 8 ==
 +
: "A [[leitura]] é o grão que o moinho da [[inteligência]] e do sopro [[vital]] - a [[alma]] - mói e transforma, transformando-se. Sem [[leitura]] não há [[crescimento]]. Como temos o hábito de comer devemos ter também o de [[ler]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Leitura]]". In: ---------. [[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 83.'''
 +
 
 +
== 9 ==
 +
: "Alguém que está só e tem o [[hábito]] de [[ler]] e um bom [[livro]] à mão, tornará a [[solidão]], muitas vezes, até um [[ato]] desejado, para [[poder]] [[ler]]. Na [[leitura]] das grandes [[obras]] damos um grande mergulho em nós mesmos e através da [[reflexão]] aprendemos muito sobre os [[outros]] e muito mais sobre [[nós]]. Os [[limites]] do [[ser humano]] são insondáveis. E do [[sofrimento]], na [[leitura]] e com a [[leitura]], podem surgir grandes [[alegrias]]. Alguém que tem o [[hábito]] de [[leitura]], de [[boas]] [[leituras]], poderá [[sofrer]] muito menos e fazer da [[solidão]] uma [[convivência]] inimaginável. E mais, a [[vida]] se densifica. E até [[algo]] surpreendente [[acontece]], vivermos mais, porque a [[atividade]] [[intelectual]] ativa a [[circulação]] do sangue e nossa [[memória]] se mantém [[viva]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.'''
 +
 
 +
== 10 ==
 +
: "O [[silêncio]] da [[leitura]] das grandes [[obras]] articula a tessitura daquilo que recebemos para [[ser]]. A [[leitura]] nos permite recuperar como [[memória]] o [[tempo]] aparentemente perdido, e que está [[vivo]] como [[memória]] da [[linguagem]] das [[obras de arte]], da [[poesia]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "[[Leitura]]". In: ---------. '''[[Leitura]]: [[questões]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.'''
 +
 
 +
== 11 ==
 +
: "O [[sentido do Ser]] torna a [[questão]] da [[essência]] do [[agir]] o fio condutor para repensar não só a [[filosofia]], mas também a [[poesia]] e o seu exercício de [[leitura]] e [[interpretação]]. É porque [[ação]] em seu [[sentido]] não pode [[ser]] apenas [[algo]] [[racional]], [[abstrato]] e distante, implica a [[presença]] do ''[[Dasein]]'' [[concreto]] e [[vital]]" (1).
 +
 
 +
 
 +
: Referência:
 +
 
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' “[[Heidegger]] e as [[questões]] da [[arte]]”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). [[Arte]] em [[questão]]: as [[questões]] da [[arte]]. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.'''

Edição atual tal como 15h57min de 15 de fevereiro de 2025

1

Toda leitura só será verdadeira leitura se, para além da relação com um texto escrito, houver leitura de mundo e vida e do que toca a essência do ser humano. Não podemos reduzir a leitura à relação do leitor com a representação da realidade e do ser humano e suas questões. Toda leitura no que ela tem de essencial é apreender o sentido originário tanto da realidade quanto do ser humano em viver e realizar-se. Toda leitura, por isso, é o caminho do chegar a ser o que é em seu sentido, verdade e mundo.


- Manuel Antônio de Castro
Consultar também:
* Ler.

2

“De fato, originariamente, toda leitura só é leitura na medida em que já está acontecendo um diá-logo. Por sermos essencialmente diálogo é que, necessariamente, somos uns com os outros, isto é, somos sociais. A linguagem funda o social. Por isso mesmo, o social não depende de nenhuma cultura. Seres humanos de diferentes culturas e épocas podem aprender outras línguas e conviver pacificamente, isto é, serem sociais. A linguagem funda o ser humano e, por isso mesmo, qualquer pré-conceito de cor, raça, cultura, etnia, religião, valores morais, gênero etc. é uma aberração e injustificável" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 123.

3

Ler é alimentar-se da e pela memória do que já desde sempre somos. Ser é o que há de mais autêntico, íntimo, profundo, imediato, evidente em cada um. O dizer mais radical e essencial é sempre: eu sou. Onde o sou é que é a fonte originária de todo eu, de toda subjetividade. Mas também o mais misterioso. O hábito das leituras essenciais nos predispõe para a escuta do seu silêncio, do seu mistério. Então se dá o sabor da sabedoria como advento do véu do mistério que se rasga: a morte. Viver e morrer são faces da mesma moeda. Mas quem faz do viver uma experienciação do morrer como sabedoria? A leitura silenciosa e que interioriza prepara um tal diálogo e caminho.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"O vigor permanente da obra (verdade) como figura (a disputa de delimitação e vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a obra ser obra. A esta operação que não impõe uma perspectiva nem uma vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina Bewahrung. Nós escolhemos uma palavra portuguesa aproximada, pois toda tradução é sempre um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando ser, aguardar o que é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer. No desvelo ressoa o cuidado e doação amorosa como ocorre, por exemplo, no desvelo da mãe para com o filho, o que pressupõe também no leitor o desvelo para com o que na obra Se dá, presenteia (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.

5

"Todas as línguas, como ritos, dizem o diferente, mas como linguagem dizem sempre o mesmo, embora não digam as mesmas coisas. Só porque a linguagem diz sempre o mesmo é que um mesmo ser humano pode falar diferentes línguas, traduções podem ser feitas e haver a tradição viva da memória. Tudo isso é leitura" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.

6

"Hoje todos sabem que temos um código genético que “comanda” a formação de nosso organismo e de suas tendências orgânicas, mas não “comanda” a nossa formação cultural, o nosso crescimento intelectual, o nosso desenvolvimento emocional, ou seja, não “comanda” aquilo que chamamos com muita propriedade: nosso corpo, nosso próprio, nosso ser. É que corpo diz a integridade do que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.

7

"A leitura será o ato livre pelo qual nos alimentamos para podermos chegar a ser o que somos. Hoje, em nossa sociedade globalizada, sem esse alimento propiciado pela leitura, não será possível de jeito nenhum o crescimento normal, a inclusão social, a realização do que somos. Leitura é alimento. E na leitura deve ocorrer o mesmo processo do alimento físico: um metabolismo intelectual pelo qual devemos transformar o que os outros dizem e escrevem em algo nosso, incorporado a nosso ser. Isso pressupõe que o ler não deve consistir em decorar nem em repetir o que os outros dizem. Leitura é alimento à espera de metabolização em cada leitor" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.

8

"A leitura é o grão que o moinho da inteligência e do sopro vital - a alma - mói e transforma, transformando-se. Sem leitura não há crescimento. Como temos o hábito de comer devemos ter também o de ler" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 83.

9

"Alguém que está só e tem o hábito de ler e um bom livro à mão, tornará a solidão, muitas vezes, até um ato desejado, para poder ler. Na leitura das grandes obras damos um grande mergulho em nós mesmos e através da reflexão aprendemos muito sobre os outros e muito mais sobre nós. Os limites do ser humano são insondáveis. E do sofrimento, na leitura e com a leitura, podem surgir grandes alegrias. Alguém que tem o hábito de leitura, de boas leituras, poderá sofrer muito menos e fazer da solidão uma convivência inimaginável. E mais, a vida se densifica. E até algo surpreendente acontece, vivermos mais, porque a atividade intelectual ativa a circulação do sangue e nossa memória se mantém viva" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.

10

"O silêncio da leitura das grandes obras articula a tessitura daquilo que recebemos para ser. A leitura nos permite recuperar como memória o tempo aparentemente perdido, e que está vivo como memória da linguagem das obras de arte, da poesia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.

11

"O sentido do Ser torna a questão da essência do agir o fio condutor para repensar não só a filosofia, mas também a poesia e o seu exercício de leitura e interpretação. É porque ação em seu sentido não pode ser apenas algo racional, abstrato e distante, implica a presença do Dasein concreto e vital" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de.Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.
Ferramentas pessoais