Sou

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Num [[diálogo]], [[eu]] me dirijo ao [[tu]] e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o [[tu]] responde, [[eu]] escuto, não como [[eu]], mas como [[tu]]. Portanto, para podermos [[dialogar]] temos de [[ser]] a [[dobra]] de [[eu]] e [[tu]], pois aí depende só da [[posição]] de quem fala e de quem escuta, não de [[ser]] como [[possibilidade]]. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me [[escutar]]. Ontologicamente há a [[unidade]] interna de [[eu]] e [[tu]] (outro). Só na [[unidade]] pode [[vigorar]] a [[identidade]] e a [[diferença]] da [[unidade]], uma vez que para haver e [[vigorar]] [[unidade]] é necessária a afirmação tanto da [[identidade]] quanto da [[diferença]]. A unidade é o sou. É neste mesmo [[horizonte]] ontológico que devemos [[compreender]] em nós a [[vigência]] de [[masculino]] e [[feminino]]. Dessa maneira o [[próprio]] que cada um é vigora no sou.
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: Num [[diálogo]], [[eu]] me dirijo ao [[tu]] e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o [[tu]] responde, [[eu]] escuto, não como [[eu]], mas como [[tu]]. Portanto, para podermos [[dialogar]] temos de [[ser]] a [[dobra]] de [[eu]] e [[tu]], pois aí depende só da [[posição]] de quem fala e de quem escuta, não de [[ser]] como [[possibilidade]]. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me [[escutar]]. Ontologicamente há a [[unidade]] interna de [[eu]] e [[tu]] (outro). Só na [[unidade]] pode [[vigorar]] a [[identidade]] e a [[diferença]] da [[unidade]], uma vez que para haver e [[vigorar]] [[unidade]] é necessária a afirmação tanto da [[identidade]] quanto da [[diferença]]. A [[unidade]] é o [[sou]]. É neste mesmo [[horizonte]] ontológico que devemos [[compreender]] em nós a [[vigência]] de [[masculino]] e [[feminino]]. Dessa maneira o [[próprio]] que cada um é vigora no [[sou]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: [[Eu]] [[sou]] significa para o grego que o [[Eu]] só é [[Eu]] porque o [[sou]] do [[eu]] como o que [[é]] se faz presente. Assim o [[Eu]] só pode ser [[Eu]] não por uma [[vontade]] e decisão, seja subjetiva seja epistemológica, mas porque o [[sou]] implica [[presença]] como [[desvelamento]] enquanto [[eu]], a partir do que sempre se vela, seja no [[tu]] que eu mesmo tenho de ser também, seja no [[mistério]] da [[realidade]], que  os gregos denominavam ''[[physis]]''. Trata-se, neste caso, do [[Outro]] de todos os [[outros]] e de todos os [[eus]], ou seja, o [[Ser]], que é [[Nada]] de tudo que é e vem a ser. Esclareço: ''[[physis]]'' foi traduzida para o latim por ''natura'', em português, [[natureza]]. No entanto, ''[[physis]]'' é muito mais do que [[natureza]], a inclui, mas vai além, pois diz também os [[mitos]], a [[história]], todos os [[entes]], enfim, ''[[physis]]'' é [[tudo]] e [[nada]], um [[mistério]]. E é deste [[mistério]] que o [[sou]] se origina e para ele volta. Por mais que o [[ser humano]] pense o [[sou]], ele sempre se oculta, se vela, em seu [[mistério]]. E todas as grandes [[obras de arte]] são, em sua [[essência]], [[procuras]] do [[sou]], que cada [[ser humano]] [[é]], sem distinção de [[masculino]] ou [[feminino]]. Isto fica bem evidente na [[modernidade]] com o mergulho profundo na [[subjetividade]] e no [[jogo]] de [[espelhos]] em que ele tanto mais se revela quanto mais se vela, numa espiral [[infinita]]...Em vista disto, um dos grandes [[temas]] da [[modernidade]] se tornou o [[espelho]], na [[procura]] da [[identidade]]...
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: [[Eu]] sou significa para o grego que o [[Eu]] só é [[Eu]] porque o sou do [[eu]] como o que é se faz presente. Assim o [[Eu]] só pode ser [[Eu]] não por uma [[vontade]] e decisão seja subjetiva seja epistemológica, mas porque o sou implica [[presença]] como [[desvelamento]] enquanto [[eu]], a partir do que sempre se vela, seja no [[tu]] que eu mesmo tenho de ser também, seja no [[mistério]] da [[realidade]], diziam os gregos ''[[physis]]''. Trata-se neste caso do Outro de todos os outros e de todos os eus.
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: Assim como há um [[jogo]] [[dialético]] [[entre]] [[sou]] e [[eu]], o mesmo se dá [[entre]] o [[não sou]] do que recebi para [[ser]] e não chegou ainda a [[ser]]. Nesse sentido, também todo [[eu]] é ao mesmo tempo um [[não eu]], caso contrário, o [[eu]] se conheceria completamente. O [[não sou]] é o [[acontecer]] do [[não ser]] que recebi para [[ser]]. Desse modo tanto o [[sou]] como o [[eu]] estão em contínua [[transformação]] e [[revelação]]. Não há aqui nenhuma evolução, pois isso é [[existir]] e [[existência]], em que se manifesta e realiza o [[próprio]] de cada um,  insubstituível e imprevisível.
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "O [[ser]], o mais próximo de cada um de nós e inegável em sua [[presença]] fundadora, se tornou tão distante e estranho a nós, pela [[educação]] [[sofística]] e [[gramatical]], que não notamos, por exemplo, quando dizemos: [[Eu]] [[sou]], que o [[Eu]] só pode ser afirmado quando fundado no [[sou]]. Se o [[eu]] é o [[sujeito]] enquanto [[fundamento]], o [[sou]] é que funda o [[fundamento]], o [[eu]]. Não é o eu que funda o [[sou]], mas este é que funda o [[eu]]. Sem [[ser]] não há [[eu]]. E então o que [[é]] o [[eu]]? Um [[eu]] nunca é [[masculino]] ou [[feminino]], nunca tem uma [[identidade]] [[cultural]] a ou b. Um [[eu]] não é nenhum nenhuma, não é algum alguma. Um [[eu]] [[é]]. O [[eu]], [[sendo]], vigora num [[abismo]] tão profundo que cada [[eu]] ao se colocar e [[procurar]] como [[eu]] se encontra na mais profunda [[solidão]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão''.  SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.
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: "E agora é necessária uma primeira distinção, sempre a partir da [[essência]] do [[agir]], do [[questionar]]. Ontologicamente, podemos conceber todo [[sendo]] como a [[dobra]]: a) do que é; b) do como é. É sempre no [[agir]] do como sou que, desdobrando-me dialeticamente, chego a [[ser]] o que [[sou]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 38.
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: "Diz Kant, resumindo: O que de mim posso [[conhecer]] com a pura autoconsciência [[intelectiva]] é que [[eu]] [[sou]]; mas para [[saber]] que [[sou]] devo [[conhecer-me]] como [[atividade]] [[unificadora]] (=no [[juízo]]); para [[conhecer-me]] como [[atividade]] [[unificadora]] devo ter dados a [[unificar]], e estes dados são [[sensíveis]] e, por conseguinte, [[fenomênicos]]; “logo, não tenho [[conhecimento]] de mim como [[sou]], senão apenas como [[apareço]] a mim mesmo” "(1).
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: HUMMES ofm, Cardeal Dom Cláudio. ''História da Filosofia''. Curso dado em 1963, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS.
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: "...Uzodinma quis [[saber]] se me incomodava [[ser]] tratado por mulato. Nunca me reconheci em [[classificações]] [[racistas]]. Na verdade, nem sequer me [[reconheço]] no meu [[nome]], que me soa tão alheio agora quanto me soava quando era [[criança]]. Acho tão [[estranho]] [[ser]] apresentado como branco, quanto como mulato ou indiano - o que também [[acontece]]. Nenhuma [[raça]] me [[define]]. Não [[sou]] uma [[raça]]. Respondi que aquela [[palavra]] tanto pode magoar quanto [[celebrar]] ou [[acarinhar]]. O que magoa é o [[sentimento]] que nela coloca quem a utiliza" (1).
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Palavras más". Crônica publicada no "Segundo Caderno", de ''O Globo'', sábado, 21-09-2019, p. 8.
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: "A minha [[casa]], costumo [[dizer]], é todo o [[lugar]] onde estão as [[pessoas]] que amo. Contudo, não é inteiramente [[verdade]], porque já me aconteceu [[estar]] com as [[pessoas]] que amo em [[lugares]] nos quais não me sinto em [[casa]]. Então, descobri a [[resposta]]: a minha [[casa]] é [[todo]] o [[lugar]] onde não preciso [[explicar]] quem [[sou]]. Apenas [[sou]]" (1).
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: (1) AGUALUSA, José Eduardo. "Minha Casa". In: .... '''O Globo''', ''Segundo Caderno'', 14-03-2020, p. 6.
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: "Quando digo “[[eu]] [[sou]]”, o alcance desse “[[eu]]” está na estrita dependência e [[determinação]] necessária do “[[sou]]”. Até para [[dizer]] “[[eu]] não [[sou]]”, só [[sendo]] o [[não-ser]] é que o “[[eu]]” pode se afirmar como [[sendo]] o que [[não-é]]. [[Ser]] é a [[necessidade]] [[essencial]] de [[todo]] “[[eu]]” (de todo [[sendo]]). Só ela liberta.
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: Quando o “[[eu]]” se dimensiona pelo [[ser]], então, o “[[eu]]” [[é]] e, [[sendo]], [[é]] [[livre]], porque [[ser]] é a [[essência]] da [[liberdade]], da [[ação]]. A [[essência]] é o [[vigorar]] do [[ser]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.
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: [[Ser]] é [[silêncio]], o [[vigorar]] do [[repouso]] e [[recolhimento]] que se manifesta e desvela em cada [[sou]] e [[não-sou]]. Assim como o [[silêncio]] origina cada [[fala]], o [[ser]] origina cada [[conhecimento]]. [[Fala]] e [[conhecimento]] configuram o “[[eu]]”.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "[[Eu]] [[sou]], por isto exerço meu [[ser]], exerço [[ser]]. Isto significa que não apenas exerço a mim mesmo como [[ente]], ou seja, que não apenas exerço meu [[ser]], mas também exerço o [[ser]] na sua [[plenitude]], pois somente enquanto relaciono meu [[ser]] ao [[ser]] simplesmente, posso compreender-me como [[ente]]. [[Eu]] me encontro a mim mesmo como [[ente]] somente se me encontro como posto no [[horizonte]] do [[ser]] [[ilimitado]] e [[incondicionado]]" (1).
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "... se eu sei “que [[eu]] [[sou]]”, isto não provém de um puro [[saber]] do [[ser]].  Pelo contrário, [[eu]] só posso [[saber]] “que [[eu]] [[sou]]” sabendo mais ou menos “[[o que eu sou]]”, ou seja, sabendo acerca dos [[limites]] do [[ser]] deste [[ente]] [[finito]] que [[eu]] [[sou]].  Por mais [[atemático]] que seja este [[saber]] da minha “[[quidditas]]”, “do que” [[eu]] [[sou]], é só nele que [[eu]] sei “que [[sou]]”. Isto é importante [[compreender]]: a [[saber]] que [[eu]] só posso dar-me conta de meu [[ser]], se me dou conta dos [[limites]] de meu [[ser]].  Isto talvez fique mais claro na seguinte [[reflexão]]: Antes de mais nada – que [[eu]], seja o que for, ou qualquer que seja a [[forma]] como possa [[saber]] o que [[sou]] – [[eu]] não [[sou]] o [[ser]] em [[ilimitada]] [[plenitude]], mas um [[ente]] [[finito]], que está posto e fundamentado no [[ser]], mas [[limitado]] no [[ser]]. E por isto deixa margem para maior [[plenitude]] de [[ser]] para além dele [[mesmo]].  Por isto, se [[eu]] me sei a mim [[mesmo]], então devo saber-me como algo que “[[é]]”, mas que não [[é]] o [[ser]] mesmo e [[total]]" (1).
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:  Referência:
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:  (1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

Edição atual tal como 22h26min de 3 de Agosto de 2020

Tabela de conteúdo

1

Num diálogo, eu me dirijo ao tu e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o tu responde, eu escuto, não como eu, mas como tu. Portanto, para podermos dialogar temos de ser a dobra de eu e tu, pois aí depende só da posição de quem fala e de quem escuta, não de ser como possibilidade. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me escutar. Ontologicamente há a unidade interna de eu e tu (outro). Só na unidade pode vigorar a identidade e a diferença da unidade, uma vez que para haver e vigorar unidade é necessária a afirmação tanto da identidade quanto da diferença. A unidade é o sou. É neste mesmo horizonte ontológico que devemos compreender em nós a vigência de masculino e feminino. Dessa maneira o próprio que cada um é vigora no sou.


- Manuel Antônio de Castro

2

Eu sou significa para o grego que o Eu só é Eu porque o sou do eu como o que é se faz presente. Assim o Eu só pode ser Eu não por uma vontade e decisão, seja subjetiva seja epistemológica, mas porque o sou implica presença como desvelamento enquanto eu, a partir do que sempre se vela, seja no tu que eu mesmo tenho de ser também, seja no mistério da realidade, que os gregos denominavam physis. Trata-se, neste caso, do Outro de todos os outros e de todos os eus, ou seja, o Ser, que é Nada de tudo que é e vem a ser. Esclareço: physis foi traduzida para o latim por natura, em português, natureza. No entanto, physis é muito mais do que natureza, a inclui, mas vai além, pois diz também os mitos, a história, todos os entes, enfim, physis é tudo e nada, um mistério. E é deste mistério que o sou se origina e para ele volta. Por mais que o ser humano pense o sou, ele sempre se oculta, se vela, em seu mistério. E todas as grandes obras de arte são, em sua essência, procuras do sou, que cada ser humano é, sem distinção de masculino ou feminino. Isto fica bem evidente na modernidade com o mergulho profundo na subjetividade e no jogo de espelhos em que ele tanto mais se revela quanto mais se vela, numa espiral infinita...Em vista disto, um dos grandes temas da modernidade se tornou o espelho, na procura da identidade...


- Manuel Antônio de Castro

3

Assim como há um jogo dialético entre sou e eu, o mesmo se dá entre o não sou do que recebi para ser e não chegou ainda a ser. Nesse sentido, também todo eu é ao mesmo tempo um não eu, caso contrário, o eu já se conheceria completamente. O não sou é o acontecer do não ser que recebi para ser. Desse modo tanto o sou como o eu estão em contínua transformação e revelação. Não há aqui nenhuma evolução, pois isso é existir e existência, em que se manifesta e realiza o próprio de cada um, insubstituível e imprevisível.


- Manuel Antônio de Castro

4

"O ser, o mais próximo de cada um de nós e inegável em sua presença fundadora, se tornou tão distante e estranho a nós, pela educação sofística e gramatical, que não notamos, por exemplo, quando dizemos: Eu sou, que o Eu só pode ser afirmado quando fundado no sou. Se o eu é o sujeito enquanto fundamento, o sou é que funda o fundamento, o eu. Não é o eu que funda o sou, mas este é que funda o eu. Sem ser não há eu. E então o que é o eu? Um eu nunca é masculino ou feminino, nunca tem uma identidade cultural a ou b. Um eu não é nenhum nenhuma, não é algum alguma. Um eu é. O eu, sendo, vigora num abismo tão profundo que cada eu ao se colocar e procurar como eu se encontra na mais profunda solidão" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.


5

"E agora é necessária uma primeira distinção, sempre a partir da essência do agir, do questionar. Ontologicamente, podemos conceber todo sendo como a dobra: a) do que é; b) do como é. É sempre no agir do como sou que, desdobrando-me dialeticamente, chego a ser o que sou" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 38.

6

"Diz Kant, resumindo: O que de mim posso conhecer com a pura autoconsciência intelectiva é que eu sou; mas para saber que sou devo conhecer-me como atividade unificadora (=no juízo); para conhecer-me como atividade unificadora devo ter dados a unificar, e estes dados são sensíveis e, por conseguinte, fenomênicos; “logo, não tenho conhecimento de mim como sou, senão apenas como apareço a mim mesmo” "(1).


Referência:
HUMMES ofm, Cardeal Dom Cláudio. História da Filosofia. Curso dado em 1963, em Daltro Filho, hoje cidade de Imigrantes, RS.

7

"...Uzodinma quis saber se me incomodava ser tratado por mulato. Nunca me reconheci em classificações racistas. Na verdade, nem sequer me reconheço no meu nome, que me soa tão alheio agora quanto me soava quando era criança. Acho tão estranho ser apresentado como branco, quanto como mulato ou indiano - o que também acontece. Nenhuma raça me define. Não sou uma raça. Respondi que aquela palavra tanto pode magoar quanto celebrar ou acarinhar. O que magoa é o sentimento que nela coloca quem a utiliza" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "Palavras más". Crônica publicada no "Segundo Caderno", de O Globo, sábado, 21-09-2019, p. 8.

8

"A minha casa, costumo dizer, é todo o lugar onde estão as pessoas que amo. Contudo, não é inteiramente verdade, porque já me aconteceu estar com as pessoas que amo em lugares nos quais não me sinto em casa. Então, descobri a resposta: a minha casa é todo o lugar onde não preciso explicar quem sou. Apenas sou" (1).


Referência:
(1) AGUALUSA, José Eduardo. "Minha Casa". In: .... O Globo, Segundo Caderno, 14-03-2020, p. 6.

9

"Quando digo “eu sou”, o alcance desse “eu” está na estrita dependência e determinação necessária do “sou”. Até para dizereu não sou”, só sendo o não-ser é que o “eu” pode se afirmar como sendo o que não-é. Ser é a necessidade essencial de todoeu” (de todo sendo). Só ela liberta.
Quando o “eu” se dimensiona pelo ser, então, o “eué e, sendo, é livre, porque ser é a essência da liberdade, da ação. A essência é o vigorar do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.

10

Ser é silêncio, o vigorar do repouso e recolhimento que se manifesta e desvela em cada sou e não-sou. Assim como o silêncio origina cada fala, o ser origina cada conhecimento. Fala e conhecimento configuram o “eu”.


- Manuel Antônio de Castro

11

"Eu sou, por isto exerço meu ser, exerço ser. Isto significa que não apenas exerço a mim mesmo como ente, ou seja, que não apenas exerço meu ser, mas também exerço o ser na sua plenitude, pois somente enquanto relaciono meu ser ao ser simplesmente, posso compreender-me como ente. Eu me encontro a mim mesmo como ente somente se me encontro como posto no horizonte do ser ilimitado e incondicionado" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

12

"... se eu sei “que eu sou”, isto não provém de um puro saber do ser. Pelo contrário, eu só posso saber “que eu sou” sabendo mais ou menos “o que eu sou”, ou seja, sabendo acerca dos limites do ser deste ente finito que eu sou. Por mais atemático que seja este saber da minha “quidditas”, “do que” eu sou, é só nele que eu sei “que sou”. Isto é importante compreender: a saber que eu só posso dar-me conta de meu ser, se me dou conta dos limites de meu ser. Isto talvez fique mais claro na seguinte reflexão: Antes de mais nada – que eu, seja o que for, ou qualquer que seja a forma como possa saber o que soueu não sou o ser em ilimitada plenitude, mas um ente finito, que está posto e fundamentado no ser, mas limitado no ser. E por isto deixa margem para maior plenitude de ser para além dele mesmo. Por isto, se eu me sei a mim mesmo, então devo saber-me como algo que “é”, mas que não é o ser mesmo e total" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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