Sintaxe

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O que se entende por sintaxe esconde normalmente a verdadeira [[questão]]. É que sintaxe está relacionada ao ''[[lógos]]'', nos três sentidos fundamentais: a) o de reunir; b) o de dizer; c) de narrar ou enumerar, levando para o pôr, propor e dispor. Ocorre que isso acontece unido à ''poíesis'', a ''éthos'' e a ''alétheia''. Temos então a sintaxe poética. Já na retórica, o verbo perde seu vigor, deslocando-se para o sujeito. Desta forma, o ''lógos'', fundando a pro-posição, passa a ser entendido como o que reúne, mas absolutamente como ideia. Por isso, vamos ter uma sintaxe lógica. E aí se fala de [[código]], [[discurso]] e [[significado]]. Pois o ''lógos'' é reduzido à razão e não pode fundar sentido nem linguagem, só um código, uma [[semiologia]]. A sintaxe lógico-gramatical nunca funda uma [[verdade]] como tensão de [[desvelamento]] e [[velamento]], de fala e [[silêncio]].
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:O que se entende por sintaxe esconde normalmente a verdadeira [[questão]]. É que sintaxe está relacionada ao ''[[lógos]]'', nos três sentidos fundamentais: a) o de reunir; b) o de dizer; c) de narrar ou enumerar, levando para o pôr, propor e dispor. Ocorre que isso acontece unido à ''poíesis'', a ''éthos'' e a ''alétheia''. Temos então a sintaxe poética. Já na retórica, o verbo perde seu vigor, deslocando-se para o sujeito. Desta forma, o ''[[logos]]'', fundando a pro-posição, passa a ser entendido como o que reúne, mas absolutamente como ideia. Por isso, vamos ter uma sintaxe lógica. E aí se fala de [[código]], [[discurso]] e [[significado]]. Pois o ''[[logos]]'' é reduzido à [[razão]] e não pode [[fundar]] [[sentido]] nem [[linguagem]], só um [[código]], uma [[semiologia]]. A sintaxe lógico-gramatical nunca funda uma [[verdade]] como tensão de [[desvelamento]] e [[velamento]], de fala e [[silêncio]].
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:Além das diferentes sintaxes, é necessário correlacioná-las com outras palavras como: a) sistema de energias; b) organismo mecanicista de parte e todo; c) organismo sistêmico de relações; d) o fenômeno da auto-organização; e) o sistema imunológico; f) o corpo como mônada; g) padrão de organização. A sintaxe sistêmica se dá em torno de três dimensões: conexidade, relações e contexto. Porém, podemos distinguir duas sintaxes fundamentais: a) a sistêmica, acima vista, ou seja, é a sintaxe de um código que tende a ser confundida com a [[linguagem]]. Por outro lado, a sintaxe da linguagem ou poética incorpora o vazio e o silêncio, porque é a própria ''poíesis''. A sintaxe se torna então questão: Como pode haver sintaxe do [[silêncio]], sintaxe da não-verdade, do insólito, do [[Nada]]? Nem por isso eles deixam de ser, pois não se reduzem a relações e conexões.  
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: Além das diferentes [[sintaxes]], é necessário correlacioná-las com outras [[palavras]] como: a) [[sistema]] de [[energias]]; b) [[organismo]] mecanicista de [[parte]] e [[todo]]; c) [[organismo]] sistêmico de [[relações]]; d) o [[fenômeno]] da auto-organização; e) o [[sistema]] imunológico; f) o [[corpo]] como [[mônada]]; g) padrão de organização. A [[sintaxe]] sistêmica se dá em torno de três [[dimensões]]: conexidade, [[relações]] e contexto. Porém, podemos distinguir duas [[sintaxes]] fundamentais: a) a sistêmica, acima vista, ou seja, é a [[sintaxe]] de um [[código]] que tende a ser confundida com a [[linguagem]]. Por outro lado, a [[sintaxe]] da [[linguagem]] ou [[poética]] incorpora o [[vazio]] e o [[silêncio]], porque é a própria ''[[poíesis]]''. A [[sintaxe]] se torna então [[questão]]: Como pode haver [[sintaxe]] do [[silêncio]], [[sintaxe]] da [[não-verdade]], do [[insólito]], do [[Nada]]? Nem por isso eles deixam de [[ser]], pois não se reduzem a [[relações]] e conexões.  
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:A sintaxe é semelhante à tensão da ''alétheia''. Ela precisa ser vista em diversos níveis. O fragmento de Heráclito "phýsis krýptesthai phileî", que pode ser entendido de diversas maneiras, contém em si uma sintaxe tensional. ''Kaos'' e ''Kosmos'' míticos também contém. A sintaxe gramatical é vista como coordenação e subordinação. Isto pode pressupor na coordenação a não linearidade causal se vista não como proposição, mas como [[discurso]]. E a linearidade causal, se vista como subordinação, também no discurso. Ocorre que como, na ''alétheia'', o radical, o núcleo e o ''a-pêiron'' que se dá e se vela no ''pêiron'', assim como ''lethei'' é a não-verdade da verdade. Por isso, a teoria da AUTO-ORGANIZAÇÃO tendo como base a "teoria das estruturas dissipativas" de Prigogine, pode-se dar aparentemente nessa sintaxe da ''alétheia''. Daí, dizer Capra: "Desse modo, a amplificação da realimentação que gera em aumento disparado, e sempre foi olhada como destrutiva na cibernética, aparece como uma fonte de nova ordem e complexidade na teoria das estruturas dissipativas" (1). Aí a questão nunca fala porque não se a [[escuta]]. Quando se fala em "estrutura dissipativa", o dissipativo é um [[atributo]] da estrutura. E esta é lida conceitualmente e determina o alcance da dissipação, desfazendo o vigor da questão. Nesse sentido, a questão que se coloca é a seguinte: Qual a [[coesão]] e a [[coerência]], qual é a estrutura do silêncio? A sintaxe do silêncio é sempre ético-poética. É um acontecer poético. O conceito e a obra aberta e a estrutura ausente sofre da mesma contradição. O vigor da sintaxe poética está na palavra poética, porque o que é para ser são as palavras.
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:A sintaxe é semelhante à tensão da ''[[aletheia]]''. Ela precisa ser vista em diversos níveis. O fragmento 123 de Heráclito "Phýsis krýptesthai phileî", que pode ser entendido de diversas maneiras, contém em si uma sintaxe tensional. ''Kaos'' e ''Kosmos'' míticos também contém. A sintaxe gramatical é vista como coordenação e subordinação. Isto pode pressupor na coordenação a não linearidade causal se vista não como proposição, mas como [[discurso]]. E a linearidade causal, se vista como subordinação, também no discurso. Ocorre que como, na ''alétheia'', o radical, o núcleo e o ''a-pêiron'' que se dá e se vela no ''pêiron'', assim como ''lethei'' é a não-verdade da verdade. Por isso, a teoria da AUTO-ORGANIZAÇÃO tendo como base a "teoria das estruturas dissipativas" de Prigogine, pode-se dar aparentemente nessa sintaxe da ''alétheia''. Daí, dizer Capra: "Desse modo, a amplificação da realimentação que gera em aumento disparado, e sempre foi olhada como destrutiva na cibernética, aparece como uma fonte de nova ordem e complexidade na teoria das estruturas dissipativas" (1). Aí a [[questão]] nunca fala porque não se a [[escuta]]. Quando se fala em "estrutura dissipativa", o dissipativo é um [[atributo]] da [[estrutura]]. E esta é lida conceitualmente e determina o alcance da dissipação, desfazendo o vigor da [[questão]]. Nesse sentido, a [[questão]] que se coloca é a seguinte: Qual a [[coesão]] e a [[coerência]], qual é a estrutura do [[silêncio]]? A sintaxe do [[silêncio]] é sempre ético-poética. É um acontecer poético. O conceito e a obra aberta e a estrutura ausente sofre da mesma contradição. O vigor da sintaxe [[poética]] está na [[palavra]] [[poética]], porque o que é para ser são as [[palavras]].
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:Distingo duas sintaxes: a retórico-gramatical, onde ocorrem abstrações e se move no âmbito dos conceitos, do [[paradigma]], do [[código]]. E há a sintaxe poética que advém do próprio núcleo de Hermes como verbo. O exemplo que posso dar é o da sintaxe que consiste na Ciranda das quatro a que Heidegger se reporta no ensaio "A coisa" (1). A excessividade do [[ser]] produz a sintaxe poética. Ora, tal excessividade se origina de um combate e de um repouso, ou seja, só há excessividade do ser ou multiplicidade porque existe o [[vazio]] de excessividade, ou seja, a [[unidade]]. Por tal unidade se entende o repouso ou não-ação como máximo da ação, silêncio como o máximo de fala. Só por esta excessividade o silêncio fala e até pode ser ruidoso. A excessividade da sintaxe retórica-gramatical responde e corresponde aos conceitos e abstrações, produzindo as reproduções, a produção em cadeia, as simulações, a oferta em longa escala. É o sistema da reprodução como reprodução do sistema, como vigência da [[representação]]. O que está em jogo nas duas sintaxes é o caráter metafísico do [[ente]] como algo substantivo e objetual e o sendo-ser como Ciranda, onde não há subjetividade na medida em que o sendo-ser é.
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:Distingo duas sintaxes: a retórico-gramatical, onde ocorrem abstrações e se move no âmbito dos conceitos, do [[paradigma]], do [[código]]. E há a sintaxe poética que advém do próprio núcleo de Hermes como verbo. O exemplo que posso dar é o da sintaxe que consiste na Ciranda das quatro a que Heidegger se reporta no ensaio "A coisa" (1). A excessividade do [[ser]] produz a sintaxe poética. Ora, tal excessividade se origina de um combate e de um repouso, ou seja, só há excessividade do ser ou multiplicidade porque existe o [[vazio]] de excessividade, ou seja, a [[unidade]]. Por tal unidade se entende o repouso ou não-ação como máximo da ação, silêncio como o máximo de fala. Só por esta excessividade o silêncio fala e até pode ser ruidoso. A excessividade da sintaxe retórica-gramatical responde e corresponde aos conceitos e abstrações, produzindo as reproduções, a produção em cadeia, as simulações, a oferta em larga escala. É o [[sistema]] da reprodução como reprodução do sistema, como vigência da [[representação]]. O que está em jogo nas duas sintaxes é o caráter metafísico do [[ente]] como algo [[substantivo]] e objetual e o [[sendo]] como [[Ciranda]], onde não há [[subjetividade]] na medida em que o [[sendo]] é verbal. E é verbal porque o [[ser]] é verbal.
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: "Sem [[sentido]] não há sintaxe. Não se trata de um ordenamento [[lógico]], mas de uma sintaxe que se funda no [[sentido]], porque aí [[sentido]] é [[linguagem]] e a [[linguagem]] é a [[casa]] do [[ser]]" (1).
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: "Sem [[sentido]] não há [[sintaxe]]. Não se trata de um ordenamento [[lógico]], mas de uma [[sintaxe]] que se funda no [[sentido]], porque aí [[sentido]] é [[linguagem]] e a [[linguagem]] é a [[casa]] do [[ser]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.
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: A [[sintaxe]] [[gramática|gramatical]] dilui o [[vigor]] da [[palavra]], em geral, na [[proposição]]. A sintaxe poética concentra seu [[vigor]] na [[palavra]]. Na [[palavra]] [[poética]] e de [[pensamento]], estão concentradas as forças centrífugas e centrípetas. No centro dessa tensão, há o [[mistério]] do "[[entre]]". É no "entre" que a [[sintaxe]] tem sua [[origem]]. Mas para a [[gramática]] a ordem vem das [[relações]] entre as [[palavras]] na [[proposição]], determinando o [[sentido]] e o [[valor]] estrutural das [[palavras]]. Há, portanto, uma inversão. O operar da [[obra poética]] se concentra na [[sintaxe]] [[poética]], pois esta institui e constitui o [[sentido]] [[ético]]-[[poético]] da [[verdade]] da realidade.
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: Já a [[gramática]] se origina da [[verdade]] [[metafísica]], ou seja, aquela [[verdade]] que se fundamenta na [[adequação]]. Ao passo que a [[verdade poética]] se funda no [[desvelar]] e [[velar]] incessante da [[realidade]]. Diziam os [[poetas]] e [[pensadores]] [[gregos]]: ''[[aletheia]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: a [[poesia]] está ligada à [[ação]]-[[verbo]]-[[Hermes]], mas enquanto ''[[poíesis]]'', isto é, o [[vigor]] [[poético]] ou a [[ação]] enquanto [[sentido]] do [[ser]] e de [[ser]], o [[Ética|ético]]. Por isso, a [[música]] e a [[linguagem]], o [[mesmo]], estão ligados à ''[[poíesis]]'' ou [[vigor]] [[poético]] como [[sintaxe]]: o [[ordenamento]] da [[realidade]] em [[mundo]]. [[Linguagem]] é [[sintaxe]] [[poética]], é [[mundo]], [[é]] ''[[éthos]]'' (morada). A [[música]] cria [[sintaxe]] [[poética]], daí ser [[linguagem]]. O mesmo ocorre com a [[dança]] e outras [[artes]]. Notemos que normalmente se liga [[sintaxe]] à [[gramática]]. Porém, esta [[sintaxe]] se restringe a [[apreender]] e [[analisar]] o [[ordenamento]] [[lógico]]. Mas este já  depende de uma [[redução]] do [[vigorar]] do ''[[logos]]''.
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "[[Paradigma]] é formado da [[preposição]] grega ''para'-'', que significa: ''ao lado de''; e do [[verbo]] ''deiknymi'', que diz: ''fazer algo aparecer'', ''mostrar''. Já o [[conceito]] [[sintagma]] é composto da [[preposição]]: ''syn'': ''com''; e ''-tagma'', do [[verbo]]: ''tasso'', que significa: ''assinalar um lugar'', daí que [[sintaxe]] quer [[dizer]]: ''ordenar um conjunto''. Notamos que [[paradigma]] e [[sintagma]] não se excluem: os [[elementos]] do [[sintagma]] adquirem seu [[sentido]] na [[ordenação]], enquanto [[manifestação]] do [[todo]], isto é, do [[paradigma]]. O eixo [[vertical]] manifesta e põe em [[ordem]] os [[elementos]] do ''deiknymi'', enquanto [[ações]] ocorridas e paralelas, mas ordenadas (''tasso'') umas às outras (''syn''), daí [[sintaxe]].  Os [[fatos]] percebidos [[horizontalmente]] são [[manifestações]] do eixo [[vertical]].  Os dados que aparecem são [[percebidos]] [[horizontalmente]], daí a [[sensação]] [[linear]] de [[história]], de mera [[sucessão]] de [[fatos]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ------. ''Tempos de Metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 189.

Edição atual tal como 02h39min de 25 de Outubro de 2020

1

O que se entende por sintaxe esconde normalmente a verdadeira questão. É que sintaxe está relacionada ao lógos, nos três sentidos fundamentais: a) o de reunir; b) o de dizer; c) de narrar ou enumerar, levando para o pôr, propor e dispor. Ocorre que isso acontece unido à poíesis, a éthos e a alétheia. Temos então a sintaxe poética. Já na retórica, o verbo perde seu vigor, deslocando-se para o sujeito. Desta forma, o logos, fundando a pro-posição, passa a ser entendido como o que reúne, mas absolutamente como ideia. Por isso, vamos ter uma sintaxe lógica. E aí se fala de código, discurso e significado. Pois o logos é reduzido à razão e não pode fundar sentido nem linguagem, só um código, uma semiologia. A sintaxe lógico-gramatical nunca funda uma verdade como tensão de desvelamento e velamento, de fala e silêncio.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

2

Além das diferentes sintaxes, é necessário correlacioná-las com outras palavras como: a) sistema de energias; b) organismo mecanicista de parte e todo; c) organismo sistêmico de relações; d) o fenômeno da auto-organização; e) o sistema imunológico; f) o corpo como mônada; g) padrão de organização. A sintaxe sistêmica se dá em torno de três dimensões: conexidade, relações e contexto. Porém, podemos distinguir duas sintaxes fundamentais: a) a sistêmica, acima vista, ou seja, é a sintaxe de um código que tende a ser confundida com a linguagem. Por outro lado, a sintaxe da linguagem ou poética incorpora o vazio e o silêncio, porque é a própria poíesis. A sintaxe se torna então questão: Como pode haver sintaxe do silêncio, sintaxe da não-verdade, do insólito, do Nada? Nem por isso eles deixam de ser, pois não se reduzem a relações e conexões.


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Arte
*Estruturalismo

3

A sintaxe é semelhante à tensão da aletheia. Ela precisa ser vista em diversos níveis. O fragmento 123 de Heráclito "Phýsis krýptesthai phileî", que pode ser entendido de diversas maneiras, contém em si uma sintaxe tensional. Kaos e Kosmos míticos também contém. A sintaxe gramatical é vista como coordenação e subordinação. Isto pode pressupor na coordenação a não linearidade causal se vista não como proposição, mas como discurso. E a linearidade causal, se vista como subordinação, também no discurso. Ocorre que como, na alétheia, o radical, o núcleo e o a-pêiron que se dá e se vela no pêiron, assim como lethei é a não-verdade da verdade. Por isso, a teoria da AUTO-ORGANIZAÇÃO tendo como base a "teoria das estruturas dissipativas" de Prigogine, pode-se dar aparentemente nessa sintaxe da alétheia. Daí, dizer Capra: "Desse modo, a amplificação da realimentação que gera em aumento disparado, e sempre foi olhada como destrutiva na cibernética, aparece como uma fonte de nova ordem e complexidade na teoria das estruturas dissipativas" (1). Aí a questão nunca fala porque não se a escuta. Quando se fala em "estrutura dissipativa", o dissipativo é um atributo da estrutura. E esta é lida conceitualmente e determina o alcance da dissipação, desfazendo o vigor da questão. Nesse sentido, a questão que se coloca é a seguinte: Qual a coesão e a coerência, qual é a estrutura do silêncio? A sintaxe do silêncio é sempre ético-poética. É um acontecer poético. O conceito e a obra aberta e a estrutura ausente sofre da mesma contradição. O vigor da sintaxe poética está na palavra poética, porque o que é para ser são as palavras.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996, p. 86.


Ver também:

4

Distingo duas sintaxes: a retórico-gramatical, onde ocorrem abstrações e se move no âmbito dos conceitos, do paradigma, do código. E há a sintaxe poética que advém do próprio núcleo de Hermes como verbo. O exemplo que posso dar é o da sintaxe que consiste na Ciranda das quatro a que Heidegger se reporta no ensaio "A coisa" (1). A excessividade do ser produz a sintaxe poética. Ora, tal excessividade se origina de um combate e de um repouso, ou seja, só há excessividade do ser ou multiplicidade porque existe o vazio de excessividade, ou seja, a unidade. Por tal unidade se entende o repouso ou não-ação como máximo da ação, silêncio como o máximo de fala. Só por esta excessividade o silêncio fala e até pode ser ruidoso. A excessividade da sintaxe retórica-gramatical responde e corresponde aos conceitos e abstrações, produzindo as reproduções, a produção em cadeia, as simulações, a oferta em larga escala. É o sistema da reprodução como reprodução do sistema, como vigência da representação. O que está em jogo nas duas sintaxes é o caráter metafísico do ente como algo substantivo e objetual e o sendo como Ciranda, onde não há subjetividade na medida em que o sendo é verbal. E é verbal porque o ser é verbal.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: ______. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002.


Ver também:
*Coisa

5

"Sem sentido não há sintaxe. Não se trata de um ordenamento lógico, mas de uma sintaxe que se funda no sentido, porque aí sentido é linguagem e a linguagem é a casa do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.

6

A sintaxe gramatical dilui o vigor da palavra, em geral, na proposição. A sintaxe poética concentra seu vigor na palavra. Na palavra poética e de pensamento, estão concentradas as forças centrífugas e centrípetas. No centro dessa tensão, há o mistério do "entre". É no "entre" que a sintaxe tem sua origem. Mas para a gramática a ordem vem das relações entre as palavras na proposição, determinando o sentido e o valor estrutural das palavras. Há, portanto, uma inversão. O operar da obra poética se concentra na sintaxe poética, pois esta institui e constitui o sentido ético-poético da verdade da realidade.
Já a gramática se origina da verdade metafísica, ou seja, aquela verdade que se fundamenta na adequação. Ao passo que a verdade poética se funda no desvelar e velar incessante da realidade. Diziam os poetas e pensadores gregos: aletheia.


- Manuel Antônio de Castro.

7

a poesia está ligada à ação-verbo-Hermes, mas enquanto poíesis, isto é, o vigor poético ou a ação enquanto sentido do ser e de ser, o ético. Por isso, a música e a linguagem, o mesmo, estão ligados à poíesis ou vigor poético como sintaxe: o ordenamento da realidade em mundo. Linguagem é sintaxe poética, é mundo, é éthos (morada). A música cria sintaxe poética, daí ser linguagem. O mesmo ocorre com a dança e outras artes. Notemos que normalmente se liga sintaxe à gramática. Porém, esta sintaxe se restringe a apreender e analisar o ordenamento lógico. Mas este já depende de uma redução do vigorar do logos.


- Manuel Antônio de Castro

8

"Paradigma é formado da preposição grega para'-, que significa: ao lado de; e do verbo deiknymi, que diz: fazer algo aparecer, mostrar. Já o conceito sintagma é composto da preposição: syn: com; e -tagma, do verbo: tasso, que significa: assinalar um lugar, daí que sintaxe quer dizer: ordenar um conjunto. Notamos que paradigma e sintagma não se excluem: os elementos do sintagma adquirem seu sentido na ordenação, enquanto manifestação do todo, isto é, do paradigma. O eixo vertical manifesta e põe em ordem os elementos do deiknymi, enquanto ações ocorridas e paralelas, mas ordenadas (tasso) umas às outras (syn), daí sintaxe. Os fatos percebidos horizontalmente são manifestações do eixo vertical. Os dados que aparecem são percebidos horizontalmente, daí a sensação linear de história, de mera sucessão de fatos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 189.
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