Pós-modernidade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:No exame da [[questão]] da [[arte]] na pós-modernidade, ao fugir da classificação por [[forma]] e [[matéria]], entram para o primeiro plano duas questões, ao menos por enquanto, junto com o que Heidegger denomina quaternidade: o [[mundo]], na medida em que a coisa coisando surge, constitui-se mundo, e o que Heidegger traz para o pensar como sendo os imortais, a questão do [[sagrado]], ou inversamente, a questão do profano: a fuga dos deuses num mundo dominado pela essência da técnica, como é a pós-modernidade.  
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:No exame da [[questão]] da [[arte]] na pós-modernidade, ao fugir da classificação por [[forma]] e [[matéria]], entram para o primeiro plano duas questões, ao menos por enquanto, junto com o que Heidegger denomina quaternidade: o [[mundo]], na medida em que a [[coisa]] coisando surge, constitui-se mundo, e o que Heidegger traz para o pensar como sendo os imortais, a questão do [[sagrado]], ou inversamente, a questão do [[profano]]: a fuga dos deuses num mundo dominado pela essência da [[técnica]], como é a pós-modernidade.  
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:Em que consiste a progressiva dessacralização? Como ficam esses dois temas na pós-modernidade? Baudelaire inaugura a problemática da [[modernidade]] em estreita relação com a temática do homem e da [[pólis|cidade]]. O que isso tem a ver com a perda da [[aura]] e com o profano, e, sobretudo, com a questão do mundo? Estaria a cidade predominantemente ligada à [[representação]]? Como se dá esta construção do homem e do [[real]] a partir da cidade? O que significa a cidade na pós-modernidade?  
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:Em que consiste a progressiva dessacralização? Como ficam esses dois temas na pós-modernidade? Baudelaire inaugura a problemática da [[modernidade]] em estreita relação com a temática do [[homem]] e da [[cidade]]. O que isso tem a ver com a perda da [[aura]] e com o profano, e, sobretudo, com a questão do mundo? Estaria a cidade predominantemente ligada à [[representação]]? Como se dá esta construção do homem e do [[real]] a partir da cidade? O que significa a cidade na pós-modernidade?  
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:De alguma maneira isto remete para o [[mito]]. E ainda seria possível experienciar a coisa na cidade sem mitos e esquecida do mítico? O que há aí? Não é o caminho da pós-modernidade o caminho, seja da [[subjetividade]] impessoal, da extrema [[comunicação]] sem [[proximidade]], ou seja, do domínio da distância, num paradoxo com a sociedade do [[conhecimento]] e da comunicação, da solidão tão profunda onde não se tem ninguém para ouvir um segredo? Não será esta a essência da globalização, ou seja, da pós-modernidade?
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:De alguma maneira isto remete para o [[mito]]. E ainda seria possível experienciar a coisa na cidade sem mitos e esquecida do mítico? O que há aí? Não é o caminho da pós-modernidade o caminho, seja da [[subjetividade]] impessoal, da extrema [[comunicação]] sem [[proximidade]], ou seja, do domínio da distância, num paradoxo com a sociedade do [[conhecimento]] e da comunicação, da solidão tão profunda onde não se tem ninguém para ouvir um segredo? Não será esta a essência da [[globalização]], ou seja, da pós-modernidade?
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:O engano maior em relação à pós-modernidade é procurar características formais. O que então procurar? Em primeiro lugar as questões fundamentais, trazendo ao pensamento: [[natureza]], [[tempo]], [[linguagem]], [[memória]], [[história]]. Mas isto não basta. É necessário complementar como e que experienciações se fazem delas, ou seja, [[mito]], [[pensamento]], misticismo, ''[[poíesis]]''. Estas experienciações têm um eixo básico: ''éros'' e ''thánatos''. Quer dizer: como as questões são realizadas enquanto essas experienciações e depois como essas experienciações se "realizam", mobilizadas, alimentadas pelas experienciações fundamentais que são: ''éros'' e ''thánatos''. Esse é o caminho para estudo e caracterização da [[arte]] na pós-modernidade. É necessário erradicar de vez o estudo formal e funcional.
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:O exemplo maior dessa esterilidade está na discussão em torno do penico de Duchamp. Em vista das profundas transformações por que passa a humanidade e as novas experienciações de ''éros'' e ''thánatos'', ficar discutindo esses [[formalismo|formalismos]] é de uma inatualidade e crueldade devastadora. Daí a necessidade também de combater o esteticismo. Para tudo isso se faz necessário levantar três fontes: 1ª) abandonar o formalismo, retomando o estudo e aprofundamento da diferenciação fundamental de [[obra]], [[coisa]], [[objeto]], [[utensílio]]; 2ª) retomar a questão da história e do [[destino]]. Para isto é necessário: a) estudar a história hegeliana e marxista enquanto interpretação ideológica e política do tempo, da história, etc; b) estudar a postura heideggeriana sobre esses temas, o trans-humanismo e o destino; 3ª) estudar o homem e o real a partir da essência da [[ciência]] e da [[técnica]]. Os tópicos anteriores: as questões, a experiência e pólo/tensão básica ''éros'' e ''thánatos'' têm que ser vistas nesse novo [[horizonte]] do homem e real atuais.
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:Olhando o termo [[época]] para estudar a pós-modernidade, devemos pensar a essência dessa palavra: O que é época? Uma coisa fica evidente: a toda época corresponde um [[mundo]]. Então a pergunta básica a respeito da pós-modernidade como época é: Que mundo está se configurando? Até onde este mundo se diferencia do mundo da modernidade? Do mundo medieval? Do mundo antigo? Do mundo de outras culturas não ocidentais?
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: O engano maior em relação à pós-modernidade é procurar características formais. O que então procurar? Em primeiro lugar as questões fundamentais, trazendo ao pensamento: [[natureza]], [[tempo]], [[linguagem]], [[memória]], [[história]]. Mas isto não basta. É necessário complementar como e que experienciações se fazem delas, ou seja, [[mito]], [[pensamento]], misticismo, ''[[poíesis]]''. Estas experienciações têm um eixo básico: ''[[éros]]'' e ''[[thánatos]]''. Quer dizer: como as questões são realizadas enquanto essas experienciações e depois como essas experienciações se "realizam", mobilizadas, alimentadas pelas experienciações fundamentais que são ''éros'' e ''thánatos''. Esse é o caminho para estudo e caracterização da [[arte]] na pós-modernidade. É necessário erradicar de vez o estudo formal e funcional.
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: O exemplo maior dessa esterilidade está na discussão em torno do penico de Duchamp. Em vista das profundas transformações por que passa a humanidade e as novas experienciações de ''éros'' e ''thánatos'', ficar discutindo esses [[formalismo|formalismos]] é de uma inatualidade e crueldade devastadora. Daí a necessidade também de combater o [[estética|esteticismo]]. Para tudo isso se faz necessário levantar três fontes: 1ª) abandonar o formalismo, retomando o estudo e aprofundamento da diferenciação fundamental de [[obra]], [[coisa]], [[objeto]], [[utensílio]]; 2ª) retomar a questão da [[história]] e do [[destino]]. Para isto é necessário: a) estudar a história hegeliana e marxista enquanto interpretação [[ideologia|ideológica]] e [[política]] do tempo, da história, etc; b) estudar a postura heideggeriana sobre esses temas, o trans-humanismo e o destino; 3ª) estudar o homem e o real a partir da essência da [[ciência]] e da [[técnica]]. Os tópicos anteriores: as questões, a experiência e pólo/tensão básica ''éros'' e ''thánatos'' têm que ser vistas nesse novo [[horizonte]] do homem e real atuais.
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: Olhando o termo [[época]] para estudar a pós-modernidade, devemos pensar a essência dessa palavra: O que é época? Uma coisa fica evidente: a toda época corresponde um [[mundo]]. Então, a pergunta básica a respeito da pós-modernidade como época é: Que mundo está se configurando? Até onde este mundo se diferencia do mundo da [[modernidade]]? Do mundo medieval? Do mundo antigo? Do mundo de outras [[cultura|culturas]] não ocidentais?
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: "O [[pensar]] a complexidade do [[conhecimento]], numa [[sociedade]] do [[conhecimento]] dominada pelas [[infovias]], é o desafio maior da [[Pós-modernidade]] e um de seus [[caminhos]] é o da [[interdisciplinaridade]], onde a complexidade do [[conhecer]] tem [[lugar]] e acontece. Mas não se trata simplesmente de problemas [[epistemológicos]]. Trata-se de [[pensar]] a [[sociedade]] em [[rede]] e a [[Terra]] como uma grande [[teia]] [[poética]], a [[teia]] da [[vida]]. Porém, não há como [[pensar]] essa [[teia]] [[poética]] sem repensar o [[lugar]] do [[homem]] centrado na [[subjetividade]] [[moderna]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 11.
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: "A [[Pós-modernidade]] traz um “Pós-” que não quer [[dizer]] um algo que vem depois, mas um “Pós-” que mergulha ainda mais fundo no [[interior]] da [[Modernidade]], para lá encontrar a [[fala]] do ''[[Logos]]'' [[originário]], como nos convocou a fazer o [[pensador]] Heráclito na [[sentença]] 50: Auscultando não a mim, mas ao ''[[Logos]]'', é sábio reunirmo-nos em torno do [[mesmo]], pois [[tudo]] é [[um]]" (1), (2).
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: Referências:
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: (1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: ''Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito''. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71.
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:  (2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte: corpo, mundo e terra''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.

Edição atual tal como 23h01min de 24 de Outubro de 2018

1

No exame da questão da arte na pós-modernidade, ao fugir da classificação por forma e matéria, entram para o primeiro plano duas questões, ao menos por enquanto, junto com o que Heidegger denomina quaternidade: o mundo, na medida em que a coisa coisando surge, constitui-se mundo, e o que Heidegger traz para o pensar como sendo os imortais, a questão do sagrado, ou inversamente, a questão do profano: a fuga dos deuses num mundo dominado pela essência da técnica, como é a pós-modernidade.
Em que consiste a progressiva dessacralização? Como ficam esses dois temas na pós-modernidade? Baudelaire inaugura a problemática da modernidade em estreita relação com a temática do homem e da cidade. O que isso tem a ver com a perda da aura e com o profano, e, sobretudo, com a questão do mundo? Estaria a cidade predominantemente ligada à representação? Como se dá esta construção do homem e do real a partir da cidade? O que significa a cidade na pós-modernidade?
De alguma maneira isto remete para o mito. E ainda seria possível experienciar a coisa na cidade sem mitos e esquecida do mítico? O que há aí? Não é o caminho da pós-modernidade o caminho, seja da subjetividade impessoal, da extrema comunicação sem proximidade, ou seja, do domínio da distância, num paradoxo com a sociedade do conhecimento e da comunicação, da solidão tão profunda onde não se tem ninguém para ouvir um segredo? Não será esta a essência da globalização, ou seja, da pós-modernidade?


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


2

O engano maior em relação à pós-modernidade é procurar características formais. O que então procurar? Em primeiro lugar as questões fundamentais, trazendo ao pensamento: natureza, tempo, linguagem, memória, história. Mas isto não basta. É necessário complementar como e que experienciações se fazem delas, ou seja, mito, pensamento, misticismo, poíesis. Estas experienciações têm um eixo básico: éros e thánatos. Quer dizer: como as questões são realizadas enquanto essas experienciações e depois como essas experienciações se "realizam", mobilizadas, alimentadas pelas experienciações fundamentais que são éros e thánatos. Esse é o caminho para estudo e caracterização da arte na pós-modernidade. É necessário erradicar de vez o estudo formal e funcional.
O exemplo maior dessa esterilidade está na discussão em torno do penico de Duchamp. Em vista das profundas transformações por que passa a humanidade e as novas experienciações de éros e thánatos, ficar discutindo esses formalismos é de uma inatualidade e crueldade devastadora. Daí a necessidade também de combater o esteticismo. Para tudo isso se faz necessário levantar três fontes: 1ª) abandonar o formalismo, retomando o estudo e aprofundamento da diferenciação fundamental de obra, coisa, objeto, utensílio; 2ª) retomar a questão da história e do destino. Para isto é necessário: a) estudar a história hegeliana e marxista enquanto interpretação ideológica e política do tempo, da história, etc; b) estudar a postura heideggeriana sobre esses temas, o trans-humanismo e o destino; 3ª) estudar o homem e o real a partir da essência da ciência e da técnica. Os tópicos anteriores: as questões, a experiência e pólo/tensão básica éros e thánatos têm que ser vistas nesse novo horizonte do homem e real atuais.
Olhando o termo época para estudar a pós-modernidade, devemos pensar a essência dessa palavra: O que é época? Uma coisa fica evidente: a toda época corresponde um mundo. Então, a pergunta básica a respeito da pós-modernidade como época é: Que mundo está se configurando? Até onde este mundo se diferencia do mundo da modernidade? Do mundo medieval? Do mundo antigo? Do mundo de outras culturas não ocidentais?


- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Pós-moderno


3

"O pensar a complexidade do conhecimento, numa sociedade do conhecimento dominada pelas infovias, é o desafio maior da Pós-modernidade e um de seus caminhos é o da interdisciplinaridade, onde a complexidade do conhecer tem lugar e acontece. Mas não se trata simplesmente de problemas epistemológicos. Trata-se de pensar a sociedade em rede e a Terra como uma grande teia poética, a teia da vida. Porém, não há como pensar essa teia poética sem repensar o lugar do homem centrado na subjetividade moderna" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 11.


4

"A Pós-modernidade traz um “Pós-” que não quer dizer um algo que vem depois, mas um “Pós-” que mergulha ainda mais fundo no interior da Modernidade, para lá encontrar a fala do Logos originário, como nos convocou a fazer o pensador Heráclito na sentença 50: Auscultando não a mim, mas ao Logos, é sábio reunirmo-nos em torno do mesmo, pois tudo é um" (1), (2).


Referências:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 50. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 71.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 13.
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