Criticar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O [[viver]], o [[ver]] e o conhecer-da-consciência, eis nossos limites como presentes e presentificações do [[morrer]], do não-ver e do não-conhecer da consciência. Mas então viver, ver e conhecer é estar originariamente jogado e projetado no [[entre]] [[limite]] e [[não-limite]]. É um entre que já constitutivamente nos põe num krinein/criticar histórico-ontológico, que se desdobra num [[questionar]], [[escutar]], [[discernir]], [[dialogar]] e [[amar]].
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:O [[viver]], o [[ver]] e o conhecer-da-consciência, eis nossos limites como presentes e presentificações do [[morrer]], do não-ver e do não-conhecer da consciência. Mas então viver, ver e conhecer é estar originariamente jogado e projetado no [[entre]] [[limite]] e [[não-limite]]. É um entre que já constitutivamente nos põe num ''krinein''/[[criticar]] histórico-ontológico, que se desdobra num [[questionar]], [[escutar]], [[discernir]], [[dialogar]] e [[amar]].
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: "[[Criticar]] forma-se diretamente do [[verbo]] grego: ''krinein''. Em grego é um [[verbo]] de múltiplos [[sentidos]] que cobrem e manifestam as facetas essenciais do que implica todo criticar, jogando-nos num [[agir]] da [[linguagem]] (''[[poiesis]]'') em que a própria [[realidade]] se dá e mostra em sua radicalidade [[originária]]. Nele estão implicados a ''[[realidade/physis]]'' e o [[homem]], e a própria [[referência]] de ambos, em que ambiguamente a [[realidade]] se dá e se retrai, projetando-se e dissimulando-se no [[criticar]], não do [[ser humano]] como [[sujeito]], mas do [[acontecer]] do [[homem]] como [[acontecer]] da [[realidade]], ou seja, em sua [[condição humana]] (1).  
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: "[[Criticar]] forma-se diretamente do [[verbo]] grego: ''krinein''. Em grego é um [[verbo]] de múltiplos [[sentidos]] que cobrem e manifestam as facetas essenciais do que implica todo criticar, jogando-nos num [[agir]] da [[linguagem]] (''[[poiesis]]'') em que a própria [[realidade]] se dá e mostra em sua radicalidade [[originária]]. Nele estão implicados a [[realidade]], entendida como ''[[physis]]'', e o [[homem]], e a própria [[referência]] de ambos, em que ambiguamente a [[realidade]] se dá e se retrai, projetando-se e dissimulando-se no [[criticar]], não do [[ser humano]] como [[sujeito]], mas do [[acontecer]] do [[homem]] como [[acontecer]] da [[realidade]], ou seja, em sua [[condição humana]] (1).  
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Criticar]], [[origem]] e [[vigência]]". In: www.travessiapoetica.blogspot.com. Postagem 2016.'''
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: Grande [[equívoco]] é [[viver]] na [[ilusão]] de que somente a [[Modernidade]] é [[crítica]]. Pelo contrário, a [[realidade]] é contínua e desde sempre [[crítica]], caso contrário não haveria [[fenômenos]], [[diferenciações]]. E é [[crítica]] continuamente em [[virtude]] da [[questão]] dos [[limites]]. Sem [[limite]] não há [[diferenciação]], isto é, [[fenômeno]], e, portanto, [[possibilidade]] de [[conhecimento]]. [[Criticar]] é deixar-se tomar pelo [[vigorar]] do de-limitar.  [[Crise]], [[crítica]] e [[critério]] têm [[origem]] no [[verbo]] [[criticar]]. Mas este se diz em [[grego]]: ''[[krinein]]''. Em latim temos o [[verbo]] ''[[cerno]]'', cujo [[particípio]] é ''cretum''. Daí se formou o [[verbo]] em [[português]] [[criticar]]. E o que diz ''[[cerno]], crevi, cretum, cernere''? [[Discernir]], [[distinguir]], [[diferenciar]]. Em última e primeira [[instância]]: [[dialogar]]. O significado negativo de [[crítica]] se origina do [[fato]] de que todo [[limite]], em princípio, implica [[negação]], [[diferenciação]], embora a [[negação]] seja relativa em [[relação]] à [[posição]] que se ocupa, seja [[ontológica]], seja [[epistemológica]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "Não podemos [[julgar]] a [[verdade]] e [[não-verdade]] por um [[critério]] prévio de [[verdade]], seja da [[fé]] ou dos [[paradigmas]] da [[representação]] [[racional]]. Se assim for, estaremos [[vigorando]] e agindo de acordo com [[fatos]] prévios e não estaremos deixando [[vigorar]] o [[agir]], o [[agir]]-[[ser]]. Ele sempre se [[dá]] na [[dobra]] de [[não-verdade]] e [[verdade]], e só no [[agir]] é que podemos [[distinguir]] e [[julgar]] (''[[krinein]]'', [[verbo]] [[grego]], quer [[dizer]] [[criticar]] distinguindo, discernindo) o alcance da [[errância]] como [[verdade]] e [[não-verdade]]. [[Errância]] não é [[erro]] (este tem seu [[critério]] de [[julgamento]] numa [[representação]])" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Criticar, origem e vigência". In: www.travessiapoetica.blogspot.com. Postagem 2016.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de drogas". In: ----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.'''

Edição atual tal como 20h09min de 25 de janeiro de 2025

1

O viver, o ver e o conhecer-da-consciência, eis nossos limites como presentes e presentificações do morrer, do não-ver e do não-conhecer da consciência. Mas então viver, ver e conhecer é estar originariamente jogado e projetado no entre limite e não-limite. É um entre que já constitutivamente nos põe num krinein/criticar histórico-ontológico, que se desdobra num questionar, escutar, discernir, dialogar e amar.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

2

"Criticar forma-se diretamente do verbo grego: krinein. Em grego é um verbo de múltiplos sentidos que cobrem e manifestam as facetas essenciais do que implica todo criticar, jogando-nos num agir da linguagem (poiesis) em que a própria realidade se dá e mostra em sua radicalidade originária. Nele estão implicados a realidade, entendida como physis, e o homem, e a própria referência de ambos, em que ambiguamente a realidade se dá e se retrai, projetando-se e dissimulando-se no criticar, não do ser humano como sujeito, mas do acontecer do homem como acontecer da realidade, ou seja, em sua condição humana (1).


Referência Bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Criticar, origem e vigência". In: www.travessiapoetica.blogspot.com. Postagem 2016.

3

Grande equívoco é viver na ilusão de que somente a Modernidade é crítica. Pelo contrário, a realidade é contínua e desde sempre crítica, caso contrário não haveria fenômenos, diferenciações. E é crítica continuamente em virtude da questão dos limites. Sem limite não há diferenciação, isto é, fenômeno, e, portanto, possibilidade de conhecimento. Criticar é deixar-se tomar pelo vigorar do de-limitar. Crise, crítica e critério têm origem no verbo criticar. Mas este se diz em grego: krinein. Em latim temos o verbo cerno, cujo particípio é cretum. Daí se formou o verbo em português criticar. E o que diz cerno, crevi, cretum, cernere? Discernir, distinguir, diferenciar. Em última e primeira instância: dialogar. O significado negativo de crítica se origina do fato de que todo limite, em princípio, implica negação, diferenciação, embora a negação seja relativa em relação à posição que se ocupa, seja ontológica, seja epistemológica.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Não podemos julgar a verdade e não-verdade por um critério prévio de verdade, seja da ou dos paradigmas da representação racional. Se assim for, estaremos vigorando e agindo de acordo com fatos prévios e não estaremos deixando vigorar o agir, o agir-ser. Ele sempre se na dobra de não-verdade e verdade, e só no agir é que podemos distinguir e julgar (krinein, verbo grego, quer dizer criticar distinguindo, discernindo) o alcance da errância como verdade e não-verdade. Errância não é erro (este tem seu critério de julgamento numa representação)" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
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