Objeto

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Um outro exemplo da [[idade]] [[moderna]] de [[criação]] da [[razão]] e da [[consciência]] é de Kant, ''cogitans objectum me objectum'', da ''Analítica dos Princípios''. Pensando o [[objeto]] que não [[sou]] [[eu]], mas que se opõe a mim e por isso é ''“ob-jecto”'', descubro que [[sou]] [[eu]] que penso o [[objeto]] oposto a mim. Essa [[oposição]] não é tão radical assim. Por isso, isso é o que constitui a [[consciência]]. Sem essa [[experiência]] de não [[ser]] [[radical]], de não ser por exclusividade e exclusão [[radical]] a [[diferença]] [[entre]] [[sujeito]] e [[objeto]]; por isso é que há a [[possibilidade]] da [[consciência]], que pode se tornar qualquer [[coisa]], sem violar e deturpar a [[diferença]]" (1).
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: "Um outro exemplo da [[idade]] [[moderna]] de [[criação]] da [[razão]] e da [[consciência]] é de Kant, ''cogitans objectum me objectum'', da ''Analítica dos Princípios''. [[Pensando]] o [[objeto]] que não [[sou]] [[eu]], mas que se opõe a mim e por isso é ''“ob-jecto”'', descubro que [[sou]] [[eu]] que [[penso]] o [[objeto]] oposto a mim. Essa [[oposição]] não é tão [[radical]] assim. Por isso, [[isso]] é o que constitui a [[consciência]]. Sem essa [[experiência]] de não [[ser]] [[radical]], de não ser por exclusividade e exclusão [[radical]] a [[diferença]] [[entre]] [[sujeito]] e [[objeto]]; por isso é que há a [[possibilidade]] da [[consciência]], que pode se tornar qualquer [[coisa]], sem violar e deturpar a [[diferença]]" (1).
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: (1) MERTON, Thomas. ''A via de Chuang Tzu'', 9. e. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 137.
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: A [[prática]] vai levar a [[metáfora]] do [[relógio]]/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às [[reduções]] que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que [[determina]] [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] ''[[criador]]''.  E vamos ter as seguintes [[reduções]]:
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: ''[[Ente]] > [[obra]] > [[relógio]]/[[organismo]]>[[corpo]]''. Por isso não se fala mais em [[ente]] nem em [[obra]] nem em [[corpo]], mas se falará sempre e para [[tudo]] em [[objeto]]. E cada [[objeto]]/[[corpo]]/[[máquina]]/[[organismo]] é [[objeto]] de um [[conhecimento]], submetido à [[razão]] [[crítica]], que [[fundamenta]] ''o como se conhece''. Surgem as [[disciplinas]] e seus [[objetos]] de [[conhecimento]]. Isso tanto no plano [[singular]] quanto no plano das [[entidades]] [[coletivas]], como o [[Estado]], a [[Sociedade]], as [[Épocas]]. Daí a [[história]] [[estar]] submetida [[radicalmente]] à [[cronologia]]. Aliás, [[tudo]] ficará submetido à [[cronologia]]/[[tempo]]. [[Conhecer]] a partir do [[tempo]]/[[cronologia]] é uma [[questão]] de [[medição]]/[[cálculo]]. No fundo, [[tudo]] estará submetido ao [[tempo]]. Mas este passa a [[ser]] ''o que é acessível à [[medição]]/[[cálculo]]''. Disso se encarregam as [[diferentes]] [[disciplinas]] que para tal são criadas. Porém, o [[princípio]] de [[medição]] que dará o [[verdadeiro]] [[conhecimento]] será o efetuado a partir do que se opera pela [[matemática]], base  de todo  cálculo, a [[possibilidade]] de [[aprender]] e [[ser]] [[ensinado]].
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: ''[[Ente]] > [[obra]] > [[relógio]]/[[organismo]]>[[corpo]]''. Por isso não se fala mais em [[ente]] nem em [[obra]] nem em [[corpo]], mas se falará sempre e para [[tudo]] em [[objeto]]. No lugar da ''[[Ontologia]]'' vamos ter na [[Modernidade]] a ''[[Epistemologia]]''. E no lugar da ''[[Poética]]'' vamos ter a ''[[Estética]]''.  E cada [[objeto]]/[[corpo]]/[[máquina]]/[[organismo]] é [[objeto]] de um [[conhecimento]], submetido à [[razão]] [[crítica]], que [[fundamenta]] ''o como se conhece''. Surgem as [[disciplinas]] e seus [[objetos]] de [[conhecimento]]. Isso tanto no plano [[singular]] quanto no plano das [[entidades]] [[coletivas]], como o [[Estado]], a [[Sociedade]], as [[Épocas]]. Daí a [[história]] [[estar]] submetida [[radicalmente]] à [[cronologia]]. Aliás, [[tudo]] ficará submetido à [[cronologia]]/[[tempo]]. [[Conhecer]] a partir do [[tempo]]/[[cronologia]] é uma [[questão]] de [[medição]]/[[cálculo]]. No fundo, [[tudo]] estará submetido ao [[tempo]]. Mas este passa a [[ser]] ''o que é acessível à [[medição]]/[[cálculo]]''. Disso se encarregam as [[diferentes]] [[disciplinas]] que para tal são criadas. Porém, o [[princípio]] de [[medição]] que dará o [[verdadeiro]] [[conhecimento]] será o efetuado a partir do que se opera pela [[matemática]], base  de todo  cálculo, a [[possibilidade]] de [[aprender]] e [[ser]] [[ensinado]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "[[Sujeito]] e [[objeto]] são, portanto, [[entes]] limitados, [[finitos]]. Esta [[oposição]], por sua vez, se manifesta como necessária [[relação]]: um perguntado só existe para o perguntador; um sabido só existe para o sabedor.  E vice-versa: um perguntador só existe enquanto alguém pergunta algo que lhe é oposto; sabedor só existe enquanto alguém sabe algo a ele oposto.  Portanto, [[sujeito]] é sempre [[sujeito]] relacionado com um [[objeto]], e [[objeto]] é sempre [[objeto]] relacionado com um [[sujeito]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Alguém poderia, no entanto, objetar que o [[sujeito]] também pode [[perguntar]] por si mesmo, [[saber]] a si mesmo, parecendo assim destruir a [[necessidade]] da [[relação]] [[sujeito]]-[[objeto]].  A esta objeção se responde que realmente se trata aqui de mera [[aparência]].  De fato, quando o [[sujeito]] pergunta por si mesmo, torna-se para si mesmo, até certa medida, [[objeto]].  Neste caso, ele não é mais [[sujeito]] como puramente [[sujeito]], mas [[sujeito]] como [[sujeito]]-[[objeto]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

Edição atual tal como 22h10min de 17 de Abril de 2024

Tabela de conteúdo

1

"Um outro exemplo da idade moderna de criação da razão e da consciência é de Kant, cogitans objectum me objectum, da Analítica dos Princípios. Pensando o objeto que não sou eu, mas que se opõe a mim e por isso é “ob-jecto”, descubro que sou eu que penso o objeto oposto a mim. Essa oposição não é tão radical assim. Por isso, isso é o que constitui a consciência. Sem essa experiência de não ser radical, de não ser por exclusividade e exclusão radical a diferença entre sujeito e objeto; por isso é que há a possibilidade da consciência, que pode se tornar qualquer coisa, sem violar e deturpar a diferença" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Idea, Eidos". Conf. proferida na UERJ, em 2005.

2

"Tudo que for limitado pela forma, aspecto, som, cor,
Chama-se objeto.
Entre todos eles, só o homem
É mais do que um objeto.
Embora, como os objetos, possua ele forma e aspecto,
Não se limita pela forma. Ele é mais.
Não pode atingir a não-forma.
Quando está ele além da forma e aspecto,
Além 'deste', ou 'daquele',
Onde a comparação
Com outro objeto?
Onde o conflito?
O que pode servir de obstáculo?
Ele ficará em seu lugar eterno
Que é o não-lugar" (1).
Referência:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu, 9. e. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 137.

3

O homem moderno criará a partir da imaginação. Contudo, para isto haverá uma profunda transformação. E a grande metáfora para indicar e conduzir esta mudança será o universo como um gigantesco relógio. Nesta mudança o Ser é substituído pelo Tempo, mas agora um tempo que pode ser conhecido, medido e até se podem efetuar intervenções, fundamentadas, claro, desde então, nesse novo conhecimento que passou a ser denominado científico, porque objetivo. E desde então só será verdadeiro o que for científico. A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeirocriador”. Um tal conhecimento é exercido pela razão crítica, que se fundamenta na Razão Crítica de Kant.


- Manuel Antônio de Castro.


4

A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro criador. E vamos ter as seguintes reduções:
Ente > obra > relógio/organismo>corpo. Por isso não se fala mais em ente nem em obra nem em corpo, mas se falará sempre e para tudo em objeto. No lugar da Ontologia vamos ter na Modernidade a Epistemologia. E no lugar da Poética vamos ter a Estética. E cada objeto/corpo/máquina/organismo é objeto de um conhecimento, submetido à razão crítica, que fundamenta o como se conhece. Surgem as disciplinas e seus objetos de conhecimento. Isso tanto no plano singular quanto no plano das entidades coletivas, como o Estado, a Sociedade, as Épocas. Daí a história estar submetida radicalmente à cronologia. Aliás, tudo ficará submetido à cronologia/tempo. Conhecer a partir do tempo/cronologia é uma questão de medição/cálculo. No fundo, tudo estará submetido ao tempo. Mas este passa a ser o que é acessível à medição/cálculo. Disso se encarregam as diferentes disciplinas que para tal são criadas. Porém, o princípio de medição que dará o verdadeiro conhecimento será o efetuado a partir do que se opera pela matemática, base de todo cálculo, a possibilidade de aprender e ser ensinado.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"No exercício da pergunta se manifestou a dualidade de perguntador e perguntado. Quando eu pergunto, tenho a consciência de mim como perguntador e daquilo-outro como perguntado. Quando sei algo, sou cônscio de mim como sabedor e daquilo-outro como sabido. Esta dualidade de perguntador e perguntado ou de sabedor e sabido se chama sujeito e objeto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

6

"Sujeito e objeto são, portanto, entes limitados, finitos. Esta oposição, por sua vez, se manifesta como necessária relação: um perguntado só existe para o perguntador; um sabido só existe para o sabedor. E vice-versa: um perguntador só existe enquanto alguém pergunta algo que lhe é oposto; sabedor só existe enquanto alguém sabe algo a ele oposto. Portanto, sujeito é sempre sujeito relacionado com um objeto, e objeto é sempre objeto relacionado com um sujeito" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

7

"Alguém poderia, no entanto, objetar que o sujeito também pode perguntar por si mesmo, saber a si mesmo, parecendo assim destruir a necessidade da relação sujeito-objeto. A esta objeção se responde que realmente se trata aqui de mera aparência. De fato, quando o sujeito pergunta por si mesmo, torna-se para si mesmo, até certa medida, objeto. Neste caso, ele não é mais sujeito como puramente sujeito, mas sujeito como sujeito-objeto" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.