Nada

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(10)
(11)
Linha 99: Linha 99:
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. ''Heidegger''. Coleção ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. ''Heidegger''. Coleção ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.
 +
 +
 +
 +
== 10 ==
 +
: "Posso [[compreender]] a [[ausência]] do [[Ser]],
 +
:  Mas quem pode [[compreender]] a [[ausência]] do [[Nada]]?
 +
:  Se agora, acima de [[tudo]] isto, o [[Não-ser]] é,
 +
:  Quem será capaz de compreendê-lo" (1).

Edição de 01h35min de 8 de Setembro de 2018

1

"O poeta, em seu canto, próximo à Terra Natal, desfia a alegria a troco de Nada. Isso é contradizer-se, jogar no Vazio ou meditar extra-vagâncias? Devagar, vagando se descobre a falta-que-faz, o fazer-que-falta: cercando o eixo das rodas com raios, se descobre que a utilidade da roda consiste no seu Nada; escavando-se a argila para modelar vasos, descobre-se que a utilidade dos vasos está no seu Nada; abrindo-se portas e janelas para que haja um quarto, descobre-se que a utilidade do quarto está no seu Nada. Por isso, parafraseando Lao-Tzu, em seu fragmento XI, do Tao Te King, pode-se dizer que enquanto nos aproximamos do fazer, o que não é feito se aproxima de nós" (1).


Referência:
(1) ALBERNAZ, Maria Beatriz. Paideia poética na cidade sitiada - um estudo de Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ, Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura, Área de Poética. Tese de doutorado, 2006.

2

"P - O vazio é então a mesma coisa que o nada, isto é, o vigor que procuramos pensar como o outro de toda vigência e de toda ausência?
J - De certo... Para nós, o vazio é o nome mais elevado para se designar o que o senhor quer dizer com a palavra ser" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 87.

3

"Através de seus graves defeitos - que um dia ela talvez pudesse mencionar sem se vangloriar - é que chegara agora a poder amar. Até aquela glorificação: ela amava o Nada. A consciência de sua permanente queda humana a levava ao amor do Nada" (1).


Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 25.

4

Nada não pode ser niilismo porque só pode advir ao niilismo o ente, o vivente, a oração, o discurso, o significado, o tempo linear, a lembrança, o instante, o ente, que está, sem referência.


- Manuel Antônio de Castro.


5

O nada, possibilidade das possibilidades, é sempre doação de novas realizações, tempo sendo, que voltam sempre ao nada que é tudo.


- Manuel Antônio de Castro.

6

"... em todo pensamento se dá algo que não somente não pode ser pensado como, sobretudo e em tudo que se pensa, significa pensar, isto é, faz e torna possível o pensamento. Este "não pensado", que nunca poderá ser pensado, é, pois, um nada. Mas não um nada somente negativo, nem um nada somente positivo e nem uma mistura, com ou sem dialética, de negativo e positivo. Mas então que nada é este? Um nada somente criativo tanto da negação como da posição e da composição de ambos" (1).


Referência:


(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Posfácio. In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. 2. e. Petrópolis: Vozes, 2006, p. 550.

7

O temor e a angústia do Nada é como o sentir o abismo e sua proximidade a nossos pés, faltando-nos não só o chão como o próprio respirar. No entanto, é nele que estamos plantados. Dis-traídos pelos movimentos nos fios da rede como teia da vida nem notamos que sempre estamos pendurados no abismo dos vazios da rede. Nem notamos pela ocupação nas e com as funções em meio aos entes que só funcionamos porque o sistema parece configurar tudo, inclusive, os vazios em que ele não só se estende e perdura como também se expande. Mas não é verdade. E de repente somos assaltados pela gratuidade e presença dos vazios não só da rede como também da possibilidade de a rede ser rede e ser rede em funcionamento e expansão, porque a rede é uma doação do vazio, do silêncio, do Nada. A rede só se constrói como rede porque o Nada que a doa se retrai e deixa a rede e as funções e o sistema se presentificarem em seu funcionar. O Nada não niilifica, estrutura, doa, presentifica.


- Manuel Antônio de Castro


8

"O professor só ensina quando aprende. O aluno só é ensinado quando aprende a aprender a pensar. O professor ensina nada e o aluno aprende o nada em que ele já desde sempre vigora, todo ser humano vigora. Pois ambos vigoram no mesmo. Esses são os horizontes das épocas das obras de arte da arte, onde aprender e ensinar é o deixar-se tomar pelo destinar-se do ser no vigorar da época. Época, nessa leitura e horizonte, é a essência do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 316.


9

"Mas é que também não sei que forma dar ao que me aconteceu. E sem dar uma forma , nada me existe. E - se a realidade é mesmo que nada existiu?! quem sabe nada me aconteceu? Só posso compreender o que me acontece, mas só acontece o que eu compreendo - que sei do resto? o resto não existiu. Quem sabe nada existiu" (1). Note o leitor a possibilidade de dupla leitura de algumas afirmações sobre o nada, quando Clarice diz: "... é mesmo que nada existiu...". "...quem sabe nada me aconteceu?". Aqui podemos compreender que o sujeito do acontecer é o "nada", sendo o sujeito da ação o "nada" e não o "eu". Por isso é que depois ela pode afirmar - perguntando - que deve haver uma referência profunda entre "acontecer" e "compreender". Porém, então o sujeito de acontecer é o mesmo do acontecer. Isto apenas, na dimensão de ser, comprova que o sujeito do agir é o ser, ou seja, como Clarice coloca e desenvolve: o "nada".


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo GH, 3. e. Rio de Janeiro: Sabiá, 1964, p. 11.


10

"O homem não é só um ser simplesmente finito. O homem é o mais finito dos seres, porque, na finitude, ele sente sempre o infinito do nada, mesmo em toda pretensão, escamoteada, de ser infinito. É na finitude sem fim do nada que afirma, em tudo que faz e/ou deixa de fazer, o infinito" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O sentido do pseudônimo". In: -----. Aprendendo a pensar III. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2017, p. 121.


11

"A angústia nos corta a palavra. Pelo fato de o ente em sua totalidade fugir e, assim, justamente, nos acossar o nada, em sua presença, emudece qualquer dicção do "é". O fato de nós procurarmos muitas vezes, na estranheza da angústia, romper o vazio silêncio com palavras sem nexo é apenas o testemunho da presença do nada. Que a angústia revela o nada é confirmado imediatamente pelo próprio homem quando a angústia se afastou. Na posse da claridade do olhar, a lembrança recente nos leva a dizer: Diante de que e por que nós nos angustiamos era "propriamente" - nada. Efetivamente: o nada mesmo - enquanto tal - estava aí" (1).
De alguma maneira a angústia está ligada à nossa condição humana de finitos, ou seja, à nossa finitude, pois nesta nos defrontamos com o nada que elimina quaisquer limites e então surge a angústia diante do infinito. É que a finitude se faz presente em todo o nosso caminhar, em todo o nosso querer, em todas as nossas ações em sua essência. Como fica a nossa liberdade e o nosso conhecer? Devemos seguir Sócrates quando diz que só sei que nada sei? Certamente somente o ser humano é tomado pela angústia, pois só ele é finito e sabe que é finito diante do infinito. Como fica diante da finitude a nossa plenitude e felicidade?


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Que é metafísica?". In: ------. Heidegger. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 40.


10

"Posso compreender a ausência do Ser,
Mas quem pode compreender a ausência do Nada?
Se agora, acima de tudo isto, o Não-ser é,
Quem será capaz de compreendê-lo" (1).
Ferramentas pessoais