Loucura

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: 3a. É a [[loucura]] inspirada pelas [[Musas]]. Está [[presente]] em todos os [[grandes]] [[criadores]] de todas as [[artes]]. Aí se podem incluir os grandes [[pensadores]]. É quando eles são tomados e [[inspirados]] pelas [[Musas]]. Diz Sócrates: "Há ainda uma terceira [[espécie]] de [[loucura]], aquela que é [[inspirada]] pelas [[Musas]]" (3);
: 3a. É a [[loucura]] inspirada pelas [[Musas]]. Está [[presente]] em todos os [[grandes]] [[criadores]] de todas as [[artes]]. Aí se podem incluir os grandes [[pensadores]]. É quando eles são tomados e [[inspirados]] pelas [[Musas]]. Diz Sócrates: "Há ainda uma terceira [[espécie]] de [[loucura]], aquela que é [[inspirada]] pelas [[Musas]]" (3);
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: 4a. É a [[loucura]] (delírio) diante da Beleza. Diz Sócrates: "Do que dissemos atingimos a quarta [[espécie]] de [[delírio]], sim, do [[delírio]]: quando, vivendo neste [[mundo]], se consegue vislumbrar alguma [[coisa]] [[bela]]. A [[alma]] recorda-se então da [[Beleza]] [[real]], recebe asas e deseja subir cada vez mais alto, como se fosse uma ave. Impossibilitada de conseguir, negligencia as [[coisas]] [[terrenas]], assim dando a [[parecer]] que não passa de um [[louco]]! Por isso, entre as várias [[formas]] de [[entusiasmo]], esta revela-se como sendo a mais [[perfeita]] e a que melhores consequências acarreta, tanto para quem a possui como para quem dela participa, e, por isso, se costuma também [[dizer]] que os possuídos por este [[entusiasmo]] se designam por [[amantes]]" (4).
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: 4a. É a [[loucura]] ([[delírio]]) diante da [[Beleza]]. Diz Sócrates: "Do que dissemos atingimos a quarta [[espécie]] de [[delírio]], sim, do [[delírio]]: quando, vivendo neste [[mundo]], se consegue vislumbrar alguma [[coisa]] [[bela]]. A [[alma]] recorda-se então da [[Beleza]] [[real]], recebe asas e deseja subir cada vez mais alto, como se fosse uma ave. Impossibilitada de conseguir, negligencia as [[coisas]] [[terrenas]], assim dando a [[parecer]] que não passa de um [[louco]]! Por isso, entre as várias [[formas]] de [[entusiasmo]], esta revela-se como sendo a mais [[perfeita]] e a que melhores consequências acarreta, tanto para quem a possui como para quem dela participa, e, por isso, se costuma também [[dizer]] que os possuídos por este [[entusiasmo]] se designam por [[amantes]]" (4).
: Se bem observarmos, o que se denomina [[loucura]] nestas [[dimensões]], são [[ações]] que [[nada]] têm de [[racional]], pois são [[diferentes]] [[manifestações]] do [[sagrado]]. Estas três [[loucuras]] ultrapassam o [[poder]] da [[razão]]. E manifestam um [[outro]] [[poder]], que não depende do [[ser humano]], mas se manifesta no [[ser humano]]. Certamente para o [[grego]] não havia essa [[oposição]], uma vez que ele havia o ''[[Logos]]'', que foi reduzido pela [[tradução]] [[latina]] à ''ratio'', isto é, à [[razão]]. Esta elimina, desde o [[Iluminismo]] [[moderno]], a [[dimensão]] do [[sagrado]]. O que podemos concluir é que diante das quatro [[manifestações]] da [[loucura]] ([[delírio]]), a [[razão]] conforme se compreende na [[modernidade]] é impotente.
: Se bem observarmos, o que se denomina [[loucura]] nestas [[dimensões]], são [[ações]] que [[nada]] têm de [[racional]], pois são [[diferentes]] [[manifestações]] do [[sagrado]]. Estas três [[loucuras]] ultrapassam o [[poder]] da [[razão]]. E manifestam um [[outro]] [[poder]], que não depende do [[ser humano]], mas se manifesta no [[ser humano]]. Certamente para o [[grego]] não havia essa [[oposição]], uma vez que ele havia o ''[[Logos]]'', que foi reduzido pela [[tradução]] [[latina]] à ''ratio'', isto é, à [[razão]]. Esta elimina, desde o [[Iluminismo]] [[moderno]], a [[dimensão]] do [[sagrado]]. O que podemos concluir é que diante das quatro [[manifestações]] da [[loucura]] ([[delírio]]), a [[razão]] conforme se compreende na [[modernidade]] é impotente.

Edição de 22h30min de 4 de Maio de 2020

1

"A medida da loucura não é a razão, mas o sem-causa, o sem fundamento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e Ser". In: -------------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 294.

2

Temos o caso da loucura. Esta não se encaixa na definição do homem como animal racional e aí ele começa a ser excluído do sistema, porque a loucura é humana e só o homem pode ser louco, mas não é racional. A loucura é uma das características mais tradicionais e originárias do ser humano. No fundo, o racional nada tem a dizer sobre a loucura, até porque a loucura em seu sentido mais radical indicia a eclosão do homem como linguagem.


- Manuel Antônio de Castro.

3

Um modo simples da ciência definir a loucura é: quando não se age seguindo a razão, ou seja, a ação motivada por algo não racional. Porém, Platão no Diálogo Fedro trata de três loucuras. Conferir a fala de Sócrates, Fedro, 244, a, b, c; d; 245, a, b; 249 d. Em resumo:
1a. É uma loucura inspirada pelos deuses: "Efectivamente, é em estado de delírio que as profetisas de Delfos e as sacerdotisas de Dódona prestam grandes serviços à Grécia" (1);
2a. Quando se possui o dom de profetizar o futuro. São os seres humanos denominados Profetas. "...o delírio profético manifestou-se em alguns predestinados e encontrou o meio de afastar esses males, precisamente pelo recurso às preces dirigidas aos deuses e pela prática de cerimônias em seu louvor" (2);
3a. É a loucura inspirada pelas Musas. Está presente em todos os grandes criadores de todas as artes. Aí se podem incluir os grandes pensadores. É quando eles são tomados e inspirados pelas Musas. Diz Sócrates: "Há ainda uma terceira espécie de loucura, aquela que é inspirada pelas Musas" (3);
4a. É a loucura (delírio) diante da Beleza. Diz Sócrates: "Do que dissemos atingimos a quarta espécie de delírio, sim, do delírio: quando, vivendo neste mundo, se consegue vislumbrar alguma coisa bela. A alma recorda-se então da Beleza real, recebe asas e deseja subir cada vez mais alto, como se fosse uma ave. Impossibilitada de conseguir, negligencia as coisas terrenas, assim dando a parecer que não passa de um louco! Por isso, entre as várias formas de entusiasmo, esta revela-se como sendo a mais perfeita e a que melhores consequências acarreta, tanto para quem a possui como para quem dela participa, e, por isso, se costuma também dizer que os possuídos por este entusiasmo se designam por amantes" (4).
Se bem observarmos, o que se denomina loucura nestas dimensões, são ações que nada têm de racional, pois são diferentes manifestações do sagrado. Estas três loucuras ultrapassam o poder da razão. E manifestam um outro poder, que não depende do ser humano, mas se manifesta no ser humano. Certamente para o grego não havia essa oposição, uma vez que ele havia o Logos, que foi reduzido pela tradução latina à ratio, isto é, à razão. Esta elimina, desde o Iluminismo moderno, a dimensão do sagrado. O que podemos concluir é que diante das quatro manifestações da loucura (delírio), a razão conforme se compreende na modernidade é impotente.


- Manuel Antônio de Castro.
Referências:
(1) PLATÃO. Fedro. Trad. Pinharanda Gomes, 5.e. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 53, 244 a.
(2) PLATÃO. Fedro. Trad. Pinharanda Gomes, 5.e. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 55, 244 d.
(3) PLATÃO. Fedro. Trad. Pinharanda Gomes, 5.e. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 56, 245 a.
(4) PLATÃO. Fedro. Trad. Pinharanda Gomes, 5.e. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 65, 249 d.