Errância

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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"O [[desvelamento]] do ente enquanto tal é, ao mesmo tempo e em si mesmo, o encobrimento do [[ente]] em sua totalidade. É nesta simultaneidade do desvelamento e do encobrimento que impera a errância. E encobrimento do que está velado e a errância pertencem à [[essência]] inicial da [[verdade]]" (1).
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"O [[desvelamento]] do [[ente]] enquanto tal é, ao mesmo tempo e em si mesmo, o [[encobrimento]] do [[ente]] em sua [[totalidade]]. É nesta simultaneidade do [[desvelamento]] e do [[encobrimento]] que impera a [[errância]]. E [[encobrimento]] do que está velado e a [[errância]] pertencem à [[essência]] inicial da [[verdade]]" (1).
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:Toda errância é a clara [[manifestação]] da [[indigência]] (Pênia, mãe de Eros). "O [[homem]] se engana nas [[medidas]], tanto mais quanto mais exclusivamente toma a si mesmo, enquanto [[sujeito]], como [[medida]] para todo [[ente]]" (1).
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: Toda [[errância]] é a clara [[manifestação]] da [[indigência]] (''Pênia'', mãe de ''[[Eros]]''). "O [[homem]] se engana nas [[medidas]], tanto mais quanto mais exclusivamente toma a si mesmo, enquanto [[sujeito]], como [[medida]] para todo [[ente]]" (1).
: [[Manuel Antônio de Castro]]
: [[Manuel Antônio de Castro]]
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: "Na [[vigência]] da errância, é característico que no ponto de partida esteja já o ponto de chegada. Estar a um tempo no ponto de partida e fazer este compartilhar com a situação de [[estar]] ao mesmo tempo no ponto de chegada é uma [[experiência]] advinda desde a [[compreensão]] fundamental de que os trajetos são, essencialmente, errância. Nessa errância o que vigora é a [[possibilidade]] de, em se desfazendo as trajetórias determinadas por metas a serem atingidas, perceber a [[presença]] do [[caminho|caminhar]] como o maior e mais decisivo desafio" (1).
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: "Na [[vigência]] da [[errância]], é característico que no ponto de partida esteja já o ponto de chegada. Estar a um tempo no ponto de partida e fazer este compartilhar com a situação de [[estar]] ao mesmo tempo no ponto de chegada é uma [[experiência]] advinda desde a [[compreensão]] fundamental de que os trajetos são, essencialmente, [[errância]]. Nessa [[errância]] o que vigora é a [[possibilidade]] de, em se desfazendo as trajetórias determinadas por metas a serem atingidas, perceber a [[presença]] do [[caminho|caminhar]] como o maior e mais decisivo desafio" (1).
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 205.
: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 205.
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: '''Ver também'''
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: *[[Método]]
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: "Se considerarmos que vivencialmente a [[não-verdade]] se dá sempre como [[errância]], mesmo quando temos como [[horizonte]] a [[essência]] do [[agir]], ela deixará de [[vigorar]] na [[dobra]], quando em lugar da errância a substituímos pela verdade da representação, onde esta como verdade se opõe ao falso, ao erro e, assim, criamos uma oposição à verdade como ideia absoluta (inerente a todo sistema, seja ele qual for e em que época for), que não leve em consideração a errância ou existência que sempre vigora na dobra de verdade e de não-verdade. Vivemos essencialmente na errância (não no erro) porque vivemos na proximidade e distância de viver na vivência a morte como seres mortais" (1).
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: "Se considerarmos que vivencialmente a [[não-verdade]] se dá sempre como [[errância]], mesmo quando temos como [[horizonte]] a [[essência]] do [[agir]], ela deixará de [[vigorar]] na [[dobra]], quando em lugar da [[errância]] a substituímos pela [[verdade]] da [[representação]], onde esta como [[verdade]] se opõe ao [[falso]], ao [[erro]] e, assim, criamos uma [[oposição]] à [[verdade]] como [[ideia]] [[absoluta]] (inerente a todo [[sistema]], seja ele qual for e em que [[época]] for), que não leve em consideração a [[errância]] ou [[existência]] que [[sempre]] [[vigora]] na [[dobra]] de [[verdade]] e de [[não-verdade]]. Vivemos [[essencialmente]] na [[errância]] (não no [[erro]]) porque vivemos na [[proximidade]] e [[distância]] de [[viver]] na [[vivência]] a [[morte]] como [[seres]] [[mortais]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.
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: "A [[linguagem]] é nosso maior [[bem]], mas também o mais [[perigoso]]. Por quê? Porque podemos [[viver]] em [[errância]] em meio aos [[entes]], à posse cada vez maior disto e daquilo, querendo ter [[conhecimentos]] sem [[ser]] o que se conhece, em meio às [[vivências]] [[estéticas]], ao uso desse bem maior como simples e mero [[instrumento]] de [[comunicação]]. Nisto consiste o [[perigo]]. [[Perigo]] tem o mesmo [[radical]] de ''peras'', [[palavra]] grega, que significa ''[[limite]]''. Que [[limite]]? O do [[ente]], o das relações intramundanas dos [[entes]], o afã em torno dos [[entes]] e da posse deles e não do [[ser]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 27.

Edição atual tal como 22h06min de 16 de Outubro de 2020

1

"O desvelamento do ente enquanto tal é, ao mesmo tempo e em si mesmo, o encobrimento do ente em sua totalidade. É nesta simultaneidade do desvelamento e do encobrimento que impera a errância. E encobrimento do que está velado e a errância pertencem à essência inicial da verdade" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 210.

2

Toda errância é a clara manifestação da indigência (Pênia, mãe de Eros). "O homem se engana nas medidas, tanto mais quanto mais exclusivamente toma a si mesmo, enquanto sujeito, como medida para todo ente" (1).


Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Marcas do caminho. Trad. Enio Paulo Giachini e Ernildo Stein. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 207.

3

"Na vigência da errância, é característico que no ponto de partida esteja já o ponto de chegada. Estar a um tempo no ponto de partida e fazer este compartilhar com a situação de estar ao mesmo tempo no ponto de chegada é uma experiência advinda desde a compreensão fundamental de que os trajetos são, essencialmente, errância. Nessa errância o que vigora é a possibilidade de, em se desfazendo as trajetórias determinadas por metas a serem atingidas, perceber a presença do caminhar como o maior e mais decisivo desafio" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 205.
Ver também
*Método
*Não-compreender

4

"Se considerarmos que vivencialmente a não-verdade se dá sempre como errância, mesmo quando temos como horizonte a essência do agir, ela deixará de vigorar na dobra, quando em lugar da errância a substituímos pela verdade da representação, onde esta como verdade se opõe ao falso, ao erro e, assim, criamos uma oposição à verdade como ideia absoluta (inerente a todo sistema, seja ele qual for e em que época for), que não leve em consideração a errância ou existência que sempre vigora na dobra de verdade e de não-verdade. Vivemos essencialmente na errância (não no erro) porque vivemos na proximidade e distância de viver na vivência a morte como seres mortais" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 275.

5

"A linguagem é nosso maior bem, mas também o mais perigoso. Por quê? Porque podemos viver em errância em meio aos entes, à posse cada vez maior disto e daquilo, querendo ter conhecimentos sem ser o que se conhece, em meio às vivências estéticas, ao uso desse bem maior como simples e mero instrumento de comunicação. Nisto consiste o perigo. Perigo tem o mesmo radical de peras, palavra grega, que significa limite. Que limite? O do ente, o das relações intramundanas dos entes, o afã em torno dos entes e da posse deles e não do ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 27.