Compreensão

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "[[Tudo]] que se abre para a [[compreensão]] é sustentado pelo [[sentido]]. O [[sentido]] é aquilo que pode ser articulado na [[abertura]] da [[compreensão]], sendo esta [[abertura]] [[hermenêutica]]" (1).  
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:(1) HEIDEGGER, Martin. ''Ser e tempo''. Parte I. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 208.
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: [[HEIDEGGER]], Martin. ''' "Ser e tempo". Parte I. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 208 '''(1).
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: "Nesse [[sentido]], a [[compreensão]] é a [[vigência]] do [[limiar]] em todo o [[pensamento]] que questiona o [[ser]] ou que tem a [[questão]] do [[ser]] como o [[horizonte]] em que se dá a [[pergunta]]" (1).  
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:(1) AGUIAR, Werner. ''Música: poética do sentido''. Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da UFRJ. Programa de Pós-graduação de Ciência da Literatura. Área de Poética, 2004, pp. 15-16.
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: (1) AGUIAR, Werner. ''' "Música: poética do sentido". Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da UFRJ. Programa de Pós-graduação de Ciência da Literatura. Área de Poética, 2004''', pp. 15-16.
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: [[Apreender]] o que é [[compreensão]] passa pela [[intuição]] e pela [[inteligência]], porque ela para [[acontecer]] exige um mergulho no que se prende, capta, a partir do que se dá para poder ser prendido (com-preendido) e captado, conceituado. O [[compreender]] só acontece porque estamos nos movendo no ''intus-ir'' ([[intuir]]) e no ''intus-legere'', isto é, ''interior, entre ler no sentido de apreender, no voltar-se para (em latim: ''ad'' o que nos prende e dá sentido, pois vigora na linguagem (''[[logos]]'', substantivo  formado a partir do verbo grego ''legein'', no latim ''[[legere]]'', de onde forma também o [[substantivo]] [[inteligência]], [[apreensão]] com [[compreensão]], ou seja, no [[inteligir]]. Esse ''intus'' é o dentro que se doa no [[entre]]. Pois o ''intus'' se forma do "''in''", de onde se forma também o [[entre]]. [[Compreender]] é, pois, o prender que acontece na dinâmica do [[entre]], ou seja, daquilo que denominamos [[intuição]] (''noésis'', em grego). Mas esta está ligada à [[inteligência]], porque ela diz o que no e a partir do [[entre]] se dá como [[sentido poético]] no ''[[logos]]'' e ''[[noesis]]'' (do verbo ''noein'', [[pensar]]. Mas este pensar será sempre o pensar do [[ser]], ou seja, é a partir e na vigência do ser que podemos apreender e compreender.  Podemos fazer esta ligação a partir do fragmento III de Parmênides: "O [[mesmo]] é [[pensar]] e [[ser]]" (1). É nesse [[horizonte]] que se funda a inter-subjetividade, exercício e [[horizonte]] da [[compreensão]]. Esta é o exercício dialético intuitivo, inter-subjetivo e inteligente. Mas na inter-subjetividade enquanto [[diálogo]], quem fala nunca é o [[sujeito]], mas o ''[[logos]]'', a [[linguagem]] do [[pensamento]], do [[ser]]. O ''[[logos]]'' fala, não o [[homem]]. Ao [[homem]] convém [[escutar]] e [[corresponder]] ao acontecer nele da [[linguagem]].
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: [[Apreender]] o que é [[compreensão]] passa pela [[intuição]] e pela [[inteligência]], porque ela para [[acontecer]] exige um mergulho no que se prende, capta, a partir do que se dá para poder ser prendido (com-preendido) e captado, conceituado. O [[compreender]] só acontece porque estamos nos movendo no ''intus-ir'' ([[intuir]]) e no ''intus-legere'', isto é, ''interior, entre ler no sentido de apreender, no voltar-se para (em [[latim]]: ''ad'' o que nos prende e dá sentido, pois vigora na linguagem (''[[logos]]'', substantivo  formado a partir do verbo grego ''legein'', no latim ''[[legere]]'', de onde forma também o [[substantivo]] [[inteligência]], [[apreensão]] com [[compreensão]], ou seja, no [[inteligir]]. Esse ''intus'' é o dentro que se doa no [[entre]]. Pois o ''intus'' se forma do "''in''", de onde se forma também o [[entre]]. [[Compreender]] é, pois, o [[prender]] que acontece na dinâmica do [[entre]], ou seja, daquilo que denominamos [[intuição]] (''noésis'', em grego). Mas esta está ligada à [[inteligência]], porque ela diz o que no e a partir do [[entre]] se dá como [[sentido poético]] no ''[[logos]]'' e ''[[noesis]]'' (do verbo ''noein'', [[pensar]]. Mas este pensar será sempre o pensar do [[ser]], ou seja, é a partir e na vigência do ser que podemos apreender e compreender.  Podemos fazer esta ligação a partir do fragmento III de Parmênides: "O [[mesmo]] é [[pensar]] e [[ser]]" (1). É nesse [[horizonte]] que se funda a inter-subjetividade, exercício e [[horizonte]] da [[compreensão]]. Esta é o exercício [[dialético]] [[intuitivo]], inter-subjetivo e [[inteligente]]. Mas na inter-subjetividade enquanto [[diálogo]], quem fala nunca é o [[sujeito]], mas o ''[[logos]]'', a [[linguagem]] do [[pensamento]], do [[ser]]. O ''[[logos]]'' fala, não o [[homem]]. Ao [[homem]] convém [[escutar]] e [[corresponder]] ao acontecer nele da [[linguagem]].
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: (1) PARMÊNIDES. ''Os pensadores originários''. Trad. Sérgio Wrublewski. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 45.
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: (1) PARMÊNIDES. '''"Os pensadores originários". Trad. Sérgio Wrublewski. Petrópolis: Vozes, 1999''', p. 45.
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: Em português, a melhor expressão para o [[conceito]] em Hegel é a compreensão, em seu [[sentido]] constitutivo. Diz de um ''cum-prendere'', ou seja, de um ser tomado no próprio [[acontecer]] da [[realidade]] e no deixar-se ''prendere'', isto é, prender, agarrar, ser tomado. Tomado pelo quê? Pelo acontecer da [[realidade]] em seu doar-se e retrair-se enquanto linguagem e sentido. Daí a ligação profunda com a [[dialética]] [[originária]], que Hegel denomina, especulativa, pois nela acontece a [[especulação]]. Para tal é necessário deixar-se tomar pela ''[[luz]]''.
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: Em português, a melhor expressão para o [[conceito]] em Hegel é a compreensão, em seu [[sentido]] constitutivo. Diz de um ''cum-prendere'', ou seja, de um ser tomado no próprio [[acontecer]] da [[realidade]] e no deixar-se ''[[prendere]]'', isto é, [[prender]], agarrar, ser tomado. Tomado pelo quê? Pelo [[acontecer]] da [[realidade]] em seu [[doar-se]] e [[retrair-se]] enquanto [[linguagem]], isto é, o [[sentido]], pois essencialmente, [[linguagem]] é o que funda [[sentido]]. Daí a ligação profunda com a [[dialética]] [[originária]], que Hegel denomina, especulativa, pois nela acontece a [[especulação]]. Para tal é necessário deixar-se tomar pela ''[[luz]]''.
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: (1) GIACOIA JR., Oswaldo. ''Heidegger urgente'' - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 30.
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: (1) GIACOIA JR., Oswaldo. ''Heidegger urgente'' - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 31.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: Não é minha [[pergunta]] pela [[essência]] do [[agir]] que funda o [[agir]], assim como não é meu pro-pósito de fazer uma [[leitura]]-caminhada que funda a [[obra]] e até a [[compreensão]] que possa vir a ter dela. Mas todo [[ser humano]] está implicado nela. Porque o [[agir]] já precede toda [[ação]] [[concreta]], significa isso que no simples [[ato]] de [[perguntar]] já me advém, de algum modo, o [[sentido]] do próprio [[perguntar]], ou seja, o [[agir]] não só funda todo [[saber]] que se sabe, mas também de algum modo todo [[saber]] que não se sabe. É o que se está querendo dizer ao [[nomear]] isso como a [[compreensão]] e a [[pré-compreensão]]. Isso se chama o [[círculo]] [[poético]]-[[hermenêutico]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A ação e a caminhada de vida". In: --------. ''https://travessiapoetica.blogspot.com'', agosto de 2006.
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: "Ao [[desvelar]] velando-se denominamos [[compreensão]], que funda o [[operar]] da [[presença]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: "O que queremos [[dizer]] com ''[[compreensão]]'' é justamente a redução da [[multiplicidade]] de [[fenômenos]] a um [[princípio]] [[geral]] e [[simples]], ou, como diriam os [[gregos]], a redução do [[múltiplo]] ao [[uno]]. A capacidade de [[prever]] é, muitas vezes, uma [[consequência]] da de [[compreender]], de [[dispor]] dos [[conceitos]] certos, mas não é [[idêntica]] à [[compreensão]]" (1).
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: (1) HEISENBERG, Werner. "O Conceito de ''Compreensão'' na Física Moderna". In: ______. ''A parte e o todo'', tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1996, p. 46.

Edição atual tal como 01h17min de 13 de Abril de 2024

1

"Tudo que se abre para a compreensão é sustentado pelo sentido. O sentido é aquilo que pode ser articulado na abertura da compreensão, sendo esta abertura hermenêutica" (1).


Referência:
HEIDEGGER, Martin. "Ser e tempo". Parte I. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 208 (1).

2

"Nesse sentido, a compreensão é a vigência do limiar em todo o pensamento que questiona o ser ou que tem a questão do ser como o horizonte em que se dá a pergunta" (1).


Referência:
(1) AGUIAR, Werner. "Música: poética do sentido". Tese de Doutorado. Faculdade de Letras da UFRJ. Programa de Pós-graduação de Ciência da Literatura. Área de Poética, 2004, pp. 15-16.

3

Apreender o que é compreensão passa pela intuição e pela inteligência, porque ela para acontecer exige um mergulho no que se prende, capta, a partir do que se dá para poder ser prendido (com-preendido) e captado, conceituado. O compreender só acontece porque estamos nos movendo no intus-ir (intuir) e no intus-legere, isto é, interior, entre ler no sentido de apreender, no voltar-se para (em latim: ad o que nos prende e dá sentido, pois vigora na linguagem (logos, substantivo formado a partir do verbo grego legein, no latim legere, de onde forma também o substantivo inteligência, apreensão com compreensão, ou seja, no inteligir. Esse intus é o dentro que se doa no entre. Pois o intus se forma do "in", de onde se forma também o entre. Compreender é, pois, o prender que acontece na dinâmica do entre, ou seja, daquilo que denominamos intuição (noésis, em grego). Mas esta está ligada à inteligência, porque ela diz o que no e a partir do entre se dá como sentido poético no logos e noesis (do verbo noein, pensar. Mas este pensar será sempre o pensar do ser, ou seja, é a partir e na vigência do ser que podemos apreender e compreender. Podemos fazer esta ligação a partir do fragmento III de Parmênides: "O mesmo é pensar e ser" (1). É nesse horizonte que se funda a inter-subjetividade, exercício e horizonte da compreensão. Esta é o exercício dialético intuitivo, inter-subjetivo e inteligente. Mas na inter-subjetividade enquanto diálogo, quem fala nunca é o sujeito, mas o logos, a linguagem do pensamento, do ser. O logos fala, não o homem. Ao homem convém escutar e corresponder ao acontecer nele da linguagem.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) PARMÊNIDES. "Os pensadores originários". Trad. Sérgio Wrublewski. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 45.

4

Em português, a melhor expressão para o conceito em Hegel é a compreensão, em seu sentido constitutivo. Diz de um cum-prendere, ou seja, de um ser tomado no próprio acontecer da realidade e no deixar-se prendere, isto é, prender, agarrar, ser tomado. Tomado pelo quê? Pelo acontecer da realidade em seu doar-se e retrair-se enquanto linguagem, isto é, o sentido, pois essencialmente, linguagem é o que funda sentido. Daí a ligação profunda com a dialética originária, que Hegel denomina, especulativa, pois nela acontece a especulação. Para tal é necessário deixar-se tomar pela luz.


- Manuel Antônio de Castro

5

"A ênfase na experiência vivida, na diversidade das manifestações da vida social e cultural, em detrimento das abstrações, resultou na importante distinção metodológica entre explicação (Erklärung) e compreensão (Verstehen), que cindiu a unidade do saber científico entre, de um lado, as ciências formais e da natureza e, de outro, as ciências do espírito ou da cultura" (1).


Referência:
(1) GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger urgente - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 30.

6

"A compreensão é um processo hermenêutico visando ao sentido dos eventos do mundo histórico-cultural, especificamente humano. Na interpretação do sentido o próprio cientista (sujeito), com seu lastro subjetivo de estimativas de valor, nunca pode ser separado inteiramente do objeto a ser interpretado, de modo que um teor de subjetividade não pode ser retirado das ciências da cultura, ao contrário do que ocorre com as ciências da natureza, cujas explicações se pretendem fundadas apenas na objetividade dos fatos, sem interferência subjetiva (valorativa) por parte do cientista" (1).


Referência:
(1) GIACOIA JR., Oswaldo. Heidegger urgente - introdução a um novo pensar. São Paulo: Três Estrelas, 2013, p. 31.

7

"Nas obras de arte, o sentido explode, advém, transborda, de dentro para fora, não havendo mais fora nem dentro, enfim, acontece compreensão. Uma obra de arte só é epocal por estar sempre transbordando, se desdobrando no sentido dos sentidos e do raciocinar. O sentido é o incessante provocar a pensar como abertura do compreender" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

8

Não é minha pergunta pela essência do agir que funda o agir, assim como não é meu pro-pósito de fazer uma leitura-caminhada que funda a obra e até a compreensão que possa vir a ter dela. Mas todo ser humano está implicado nela. Porque o agir já precede toda ação concreta, significa isso que no simples ato de perguntar já me advém, de algum modo, o sentido do próprio perguntar, ou seja, o agir não só funda todo saber que se sabe, mas também de algum modo todo saber que não se sabe. É o que se está querendo dizer ao nomear isso como a compreensão e a pré-compreensão. Isso se chama o círculo poético-hermenêutico" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A ação e a caminhada de vida". In: --------. https://travessiapoetica.blogspot.com, agosto de 2006.

9

"Ao desvelar velando-se denominamos compreensão, que funda o operar da presença" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

10

"O que queremos dizer com compreensão é justamente a redução da multiplicidade de fenômenos a um princípio geral e simples, ou, como diriam os gregos, a redução do múltiplo ao uno. A capacidade de prever é, muitas vezes, uma consequência da de compreender, de dispor dos conceitos certos, mas não é idêntica à compreensão" (1).


Referência:
(1) HEISENBERG, Werner. "O Conceito de Compreensão na Física Moderna". In: ______. A parte e o todo, tradução: Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1996, p. 46.