Belo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:O que "belo" significava para os gregos nada tem a ver com o [[estético]] ou [[forma|formal]]. Está fundamentalmente ligado à [[ordem]], manifestação onde vigora a Beleza e o Bem, de que nos fala o pensador Platão. A leitura sofística de Platão, isto é, o platonismo, não se guia mais pela questão em que se move o pensar do Platão pensador. Eis o que nos diz Jaa Torrano. "Belavoz é a mais importante das Musas, porque ela é que acompanha os reis venerandos (vv.79-80). A voz é bela não porque seja agradável e requintada, é bela não por características que consideraríamos formais, mas por este poder, compartilhado por reis e poetas, de configurar e assegurar a Ordem, por este poder de manutenção da Vida e de custódia do Ser. O cantor servo das Musas é o guardião do Ser, os reis alunos de Zeus são os mantenedores da Ordem (do Cosmos), a ambos por igual patrocina e sustenta Belavoz - Bela, por seu poder influi decisivamente nas fontes do Ser e da Vida, pela sua pertinência às dimensões do mundo e ao sentido e totalidade da Vida" (1).
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: O que "[[belo]]" significava para os [[gregos]] [[nada]] tem a ver com o [[estético]] ou [[forma|formal]]. Está fundamentalmente ligado à [[ordem]], manifestação onde [[vigora]] a [[Beleza]] e o [[Bem]], de que nos fala o [[pensador]] [[Platão]]. A [[leitura]] [[sofística]] de [[Platão]], isto é, o [[platonismo]], não se guia mais pela [[questão]] em que se move o [[pensar]] do [[Platão]] [[pensador]]. Eis o que nos diz Jaa Torrano:
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: "[[Belavoz]] é a mais importante das [[Musas]], porque ela é que acompanha os [[reis]] venerandos (vv.79-80). A [[voz]] é [[bela]] não porque seja agradável e requintada, é [[bela]] não por características que consideraríamos [[formais]], mas por este [[poder]], compartilhado por [[reis]] e [[poetas]], de configurar e assegurar a [[Ordem]], por este [[poder]] de manutenção da [[Vida]] e de [[custódia]] do [[Ser]]. O [[cantor]] servo das [[Musas]] é o guardião do [[Ser]], os [[reis]], alunos de [[Zeus]], são os mantenedores da [[Ordem]] (do [[Cosmos]]), a ambos por igual patrocina e sustenta [[Belavoz]] - [[Bela]], por seu [[poder]] influi decisivamente nas [[fontes]] do [[Ser]] e da [[Vida]], pela sua pertinência às [[dimensões]] do [[mundo]] e ao [[sentido]] e [[totalidade]] da [[Vida]]" (1).
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:(1) TORRANO, Jaa. "Introdução". In: HESÍODO. ''Teogonia''. São Paulo: Iluminuras, 1992, pp. 37-38.
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: TORRANO, Jaa. "Introdução". In: HESÍODO. '''Teogonia'''. São Paulo: Iluminuras, 1992, pp. 37-38 (1).
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: "O [[fundar]] que faz o [[amor]] [[acontecer]] enquanto [[belo]] não é o [[próprio]] [[amor]], pois o [[acontecer]] se dá no [[amor]] acontecendo enquanto [[belo]]. Porém, o [[acontecer]] é que, como tal, funda o [[acontecer]] do [[amor]] e não é o [[amor]] acontecendo enquanto [[belo]] que funda o [[acontecer]]. O [[belo]] só será [[belo]] se for, e não enquanto uma [[qualidade]] do [[sujeito]]" (1).
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:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ''Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão''.  SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.
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: "As [[ações]], enquanto tais, não são com efeito, nem [[boas]] nem [[más]]. Por exemplo: o que estamos fazendo neste [[momento]], como seja beber,  cantar, falar, [[nada]] disto é em si mesmo [[belo]], mas torna-se [[belo]] de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as [[regras]] do honesto e do [[justo]], torna-se [[belo]]; se o fizermos contrariamente à [[justiça]], torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de [[Eros]], pois que nem todo [[Eros]] é em si mesmo [[belo]] e louvável, mas de torna [[belo]] quando nos leva a [[amar]] segundo as [[regras]] do [[belo]]" (1).
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: (1) PLATÃO. '''O Simpósio ou Do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986''', p. 34. Discurso de Pausânias.
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: "Na realidade, a [[gramática]] está estreitamente ligada à [[retórica]] e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do ''[[logos]]'' [[humano]] o seu [[fundamento]] e interpretando a [[linguagem]] como [[língua]], tornando-se esta um [[instrumento]] [[político]] de tomada do [[poder]] e de convencimento das [[mentes]] dos [[cidadãos]]. É a [[publicidade]] de hoje. [[Platão]], diante dessa [[prática]], escreve o [[diálogo]] ''[[Fedro]]'', onde ataca o [[formalismo]] [[retórico]] e propõe, em seu lugar, a [[dialética]]. Nesta, a [[linguagem]] e seu uso são determinados pela [[ideia]] de [[Bem]], fazendo do [[discurso]] algo de [[Belo]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. ''Linguagem: nosso maior bem''. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.

Edição atual tal como 20h17min de 12 de Abril de 2024

1

O que "belo" significava para os gregos nada tem a ver com o estético ou formal. Está fundamentalmente ligado à ordem, manifestação onde vigora a Beleza e o Bem, de que nos fala o pensador Platão. A leitura sofística de Platão, isto é, o platonismo, não se guia mais pela questão em que se move o pensar do Platão pensador. Eis o que nos diz Jaa Torrano:
"Belavoz é a mais importante das Musas, porque ela é que acompanha os reis venerandos (vv.79-80). A voz é bela não porque seja agradável e requintada, é bela não por características que consideraríamos formais, mas por este poder, compartilhado por reis e poetas, de configurar e assegurar a Ordem, por este poder de manutenção da Vida e de custódia do Ser. O cantor servo das Musas é o guardião do Ser, os reis, alunos de Zeus, são os mantenedores da Ordem (do Cosmos), a ambos por igual patrocina e sustenta Belavoz - Bela, por seu poder influi decisivamente nas fontes do Ser e da Vida, pela sua pertinência às dimensões do mundo e ao sentido e totalidade da Vida" (1).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
TORRANO, Jaa. "Introdução". In: HESÍODO. Teogonia. São Paulo: Iluminuras, 1992, pp. 37-38 (1).

2

"O fundar que faz o amor acontecer enquanto belo não é o próprio amor, pois o acontecer se dá no amor acontecendo enquanto belo. Porém, o acontecer é que, como tal, funda o acontecer do amor e não é o amor acontecendo enquanto belo que funda o acontecer. O belo só será belo se for, e não enquanto uma qualidade do sujeito" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 218.

3

"As ações, enquanto tais, não são com efeito, nem boas nem más. Por exemplo: o que estamos fazendo neste momento, como seja beber, cantar, falar, nada disto é em si mesmo belo, mas torna-se belo de acordo com a maneira como o fazemos. Se o fizermos segundo as regras do honesto e do justo, torna-se belo; se o fizermos contrariamente à justiça, torna-se feio. O mesmo podemos afirmar de Eros, pois que nem todo Eros é em si mesmo belo e louvável, mas de torna belo quando nos leva a amar segundo as regras do belo" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. O Simpósio ou Do Amor. Tradução Revista e Notas: Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimarães Editores, 1986, p. 34. Discurso de Pausânias.

4

"Na realidade, a gramática está estreitamente ligada à retórica e esta se guiava por interesses econômicos e formais, fazendo do logos humano o seu fundamento e interpretando a linguagem como língua, tornando-se esta um instrumento político de tomada do poder e de convencimento das mentes dos cidadãos. É a publicidade de hoje. Platão, diante dessa prática, escreve o diálogo Fedro, onde ataca o formalismo retórico e propõe, em seu lugar, a dialética. Nesta, a linguagem e seu uso são determinados pela ideia de Bem, fazendo do discurso algo de Belo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Linguagem: nosso maior bem. Série Aulas Inaugurais. Faculdade de Letras, UFRJ, 2o. sem. / 2004, p. 18.