Análise

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Filhos da análise são o [[comentário]], a [[glosa]] e a [[explicação]] descritivista. Em geral, como não podia deixar de ser, levam a uma [[leitura]] pobre. Ou dizem mal o que o [[texto]] diz bem, ou criam esquemas objetivos de explicação em que a fala poética é substituída por [[conceitos]] formais em que estes se tornam o centro. Falam pelo texto, não o escutam. [[Ler]] poeticamente é falar-com, isto é, [[dialogar]]. Na análise não há o [[diálogo]] que pressupõe o falar-com e o corresponder à fala do texto poético como [[escuta]]. Pois, em última instância, sempre é a [[linguagem]] e a [[poesia]] que fala. A análise pressupõe que a realidade seja regida pela causalidade. Analisar é procurar a [[causa]].
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: Filhos da [[análise]] são o [[comentário]], a [[glosa]] e a [[explicação]] descritivista. Em geral, como não podia deixar de ser, levam a uma [[leitura]] pobre. Ou dizem mal o que o [[texto]] poético diz bem, ou criam esquemas objetivos de [[explicação]] em que a fala poética é substituída por [[conceitos]] formais em que estes se tornam o centro. Falam pelo [[texto]], não o escutam. [[Ler]] poeticamente é falar-com, isto é, [[dialogar]]. Na [[análise]] não há o [[diálogo]] que pressupõe o falar-com e o corresponder à fala do [[texto]] [[poético]] como [[escuta]]. Pois, em última instância, sempre é a [[linguagem]] e a [[poesia]] que falam. A [[análise]] pressupõe que a [[realidade]] seja regida pela [[causalidade]]. [[Analisar]] é [[procurar]] a [[causa]]. Isso até pode ser feito, o negativo disso é ficar apenas nisso. Pois a [[leitura poética]] nada pode excluir, mas deve [[integrar]] tudo, procurando todas as [[dimensões]] possíveis. Quando vamos até à raiz das [[questões]] acabamos nos deparando com o que nos funda: o [[vazio]], o [[nada criativo]], o [[silêncio]] e sua [[musicalidade]]. Exemplo marcante é a Física Quântica. Pela [[análise]] chega à [[estrutura]] da [[matéria]] e descobre que ela se estrutura em [[ondas]] e [[partículas]]... no [[vazio]].
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:"A análise é o meio propiciador, por excelência, do predomínio da [[identidade]], e, enquanto meio propiciador, acabou por se consolidar como o instrumento criador de uma expectativa de simplicidade unívoca como a compreensão do mundo por meio da identidade. Em geral existe a crença que pela análise é-se capaz de alcançar a unidade. Nada mais falaz. A análise desfaz precisamente a unidade, despedaça o [[sentido]], e assim, se a alguma coisa não permite o acesso é à unidade" (1).
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:"A [[análise]] é o meio propiciador, por excelência, do predomínio da [[identidade]], e, enquanto meio propiciador, acabou por se consolidar como o instrumento criador de uma expectativa de [[simplicidade]] unívoca como a [[compreensão]] do [[mundo]] por meio da [[identidade]]. Em geral existe a crença que pela [[análise]] é-se capaz de alcançar a [[unidade]]. Nada mais falaz. A [[análise]] desfaz precisamente a [[unidade]], despedaça o [[sentido]], e assim, se a alguma coisa não permite o acesso é à [[unidade]]" (1).
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 53.
:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 53.
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: A análise procura dar conta da [[visão]] da [[teoria]] sem a prévia abertura para o [[fenômeno]] como oferta do [[acontecer]]. Aqui se deve fugir da fácil tentação de achar tudo isto ou [[verdadeiro]] ou [[falso]], até porque aí falta o [[paradigma]] e [[medida]] desse falso ou verdadeiro. Logo, o que a análise traz em si não é falso nem verdadeiro, mas tão-somente o resultado e a [[definição]] e delimitação conceitual dentro de uma medida estabelecida pela própria teoria que visa ao [[conhecer]] sem o [[ser]].
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: A análise procura dar conta da [[visão]] da [[teoria]] sem a prévia abertura para o [[fenômeno]] como oferta do [[acontecer]]. Aqui se deve fugir da fácil tentação de achar tudo isto ou [[verdadeiro]] ou [[falso]], até porque aí falta o [[paradigma]] e [[medida]] desse [[falso]] ou [[verdadeiro]]. Logo, o que a [[análise]] traz em si não é [[falso]] nem [[verdadeiro]], mas tão-somente o resultado e a [[definição]] e delimitação conceitual dentro de uma [[medida]] estabelecida pela própria [[teoria]] que visa ao [[conhecer]] sem o [[ser]]. Em última instância, a [[análise]] se defronta com a [[questão]] do [[método]], pois o instrumento da [[ciência]] é a [[análise]]. E sem [[método]] não há [[ciência]]. Não há [[análise]]. E logo se levanta a [[questão]] que se torna diretriz: Qual [[método]]?
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:"A pluralidade se vê constituída e reduzida a singularidades ordenadas a partir da análise e da perspectiva, isto é, desde um determinado modo de olhar. Esta tensão entre pluralidade e singularidade, dinamizadora da realidade, dá lugar, progressivamente, a uma realidade compreendida analítica e perspectivamente. Esta análise e [[perspectiva]] são decisivas para que se passe a entender a realidade reduzida aos padrões impostos pelas realizações, em que estas, por sua vez, estejam determinadas analítica e perspectivamente" (1).
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:"A pluralidade se vê constituída e reduzida a [[singularidades]] ordenadas a partir da [[análise]] e da [[perspectiva]], isto é, desde um determinado modo de [[olhar]]. Esta tensão entre [[pluralidade]] e [[singularidade]], dinamizadora da [[realidade]], dá lugar, progressivamente, a uma [[realidade]] compreendida analítica e perspectivamente. Esta [[análise]] e [[perspectiva]] são decisivas para que se passe a entender a [[realidade]] reduzida aos [[padrões]] impostos pelas [[realizações]], em que estas, por sua vez, estejam determinadas analítica e perspectivamente" (1).
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:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 71.
:(1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 71.
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: "A [[análise]], tal como é compreendida geralmente, pressupõe a [[necessidade]] de se encontrar a [[ordem]] [[causal]], para então encontrar a [[causa]] primeira. Para operar desse modo, o próprio analista precisa estar persuadido de que o [[caminho]] é esse, isto é, há uma [[causa]], além de acreditar [[ter]] as [[técnicas]] necessárias para segui-lo" (1).
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: "A análise, tal como é compreendida geralmente, pressupõe a necessidade de se encontrar a ordem causal, para então encontrar a [[causa]] primeira. Para operar desse modo, o próprio analista precisa estar persuadido de que o caminho é esse, isto é, há uma causa, além de acreditar ter as técnicas necessárias para segui-lo" (1).
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: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 118.
: (1) JARDIM, Antonio. ''Música: vigência do pensar poético''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 118.
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: "[[Compreender]] é mais do que raciocinar, pois naquele não apenas se conhece, mas se é o que se conhece. Por isso, é que toda análise racional só dá e só pode dar [[significados]], [[funções]], [[analogias]], relações sistêmicas e estatísticas, dados numérico-quantitativos, quadros comparativos, a partir de algum ou de alguns [[paradigmas]], jamais o sentido" (1).  
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: "[[Compreender]] é mais do que [[raciocinar]], pois naquele não apenas se conhece, mas se é o que se conhece. Por isso, é que toda [[análise]] [[racional]] só dá e só pode dar [[significados]], [[funções]], [[analogias]], [[relações]] sistêmicas e estatísticas, dados numérico-quantitativos, quadros comparativos, a partir de algum ou de alguns [[paradigmas]], jamais o [[sentido]]" (1).  
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
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: "Dado este [[poema]] procede-se à sua [[leitura]]. Isso é feito naturalmente pelo [[leitor]], desde que esteja alfabetizado. Mas o que acontece quando além da [[leitura]] normal, pede-se que se faça uma [[interpretação]], ou, no linguajar escolar viciado, uma [[análise]]? Por onde [[começar]]? Há só um [[caminho]] considerado o certo? Para isso devemos nos [[perguntar]]: Qual é o [[objetivo]] da [[análise]]? Onde se quer chegar? O que é [[necessário]] para que se proceda à [[interpretação]]? Quais são os pressupostos (implícitos ou explícitos) para nos guiar na [[interpretação]] e na propalada e [[falsa]] [[análise]]?" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 122.
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: "Ao [[comentário]] e à [[exegese]], sucede a [[análise]] [[crítica]]. A [[análise]] é um procedimento metodológico decorrente do postulado [[crítico]]-[[científico]] que concebe a [[obra]] como um [[organismo]], constituído de [[partes]], cujo [[conhecimento]] dá o acesso ao que a [[obra]] é em sua constituição e [[classificação]]. Surgiram então as [[Correntes críticas]], parte dominante da [[Teoria Literária]], em sua [[prática]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 128.
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: "É ainda necessário incluir dois [[modelos]] de [[analisar]] e [[classificar]] as [[obras]] que não são tratados como [[correntes críticas]], mas que se movem nos mesmos [[princípios]] da [[epistemologia]] [[crítica]] da [[Modernidade]]:
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: Eles são especialmente estudados e tratados pela [[Teoria Literária]].
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 129.

Edição atual tal como 21h59min de 2 de Novembro de 2020

1

Filhos da análise são o comentário, a glosa e a explicação descritivista. Em geral, como não podia deixar de ser, levam a uma leitura pobre. Ou dizem mal o que o texto poético diz bem, ou criam esquemas objetivos de explicação em que a fala poética é substituída por conceitos formais em que estes se tornam o centro. Falam pelo texto, não o escutam. Ler poeticamente é falar-com, isto é, dialogar. Na análise não há o diálogo que pressupõe o falar-com e o corresponder à fala do texto poético como escuta. Pois, em última instância, sempre é a linguagem e a poesia que falam. A análise pressupõe que a realidade seja regida pela causalidade. Analisar é procurar a causa. Isso até pode ser feito, o negativo disso é ficar apenas nisso. Pois a leitura poética nada pode excluir, mas deve integrar tudo, procurando todas as dimensões possíveis. Quando vamos até à raiz das questões acabamos nos deparando com o que nos funda: o vazio, o nada criativo, o silêncio e sua musicalidade. Exemplo marcante é a Física Quântica. Pela análise chega à estrutura da matéria e descobre que ela se estrutura em ondas e partículas... no vazio.


- Manuel Antônio de Castro

2

"A análise é o meio propiciador, por excelência, do predomínio da identidade, e, enquanto meio propiciador, acabou por se consolidar como o instrumento criador de uma expectativa de simplicidade unívoca como a compreensão do mundo por meio da identidade. Em geral existe a crença que pela análise é-se capaz de alcançar a unidade. Nada mais falaz. A análise desfaz precisamente a unidade, despedaça o sentido, e assim, se a alguma coisa não permite o acesso é à unidade" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 53.

3

A análise procura dar conta da visão da teoria sem a prévia abertura para o fenômeno como oferta do acontecer. Aqui se deve fugir da fácil tentação de achar tudo isto ou verdadeiro ou falso, até porque aí falta o paradigma e medida desse falso ou verdadeiro. Logo, o que a análise traz em si não é falso nem verdadeiro, mas tão-somente o resultado e a definição e delimitação conceitual dentro de uma medida estabelecida pela própria teoria que visa ao conhecer sem o ser. Em última instância, a análise se defronta com a questão do método, pois o instrumento da ciência é a análise. E sem método não há ciência. Não há análise. E logo se levanta a questão que se torna diretriz: Qual método?


- Manuel Antônio de Castro

4

"A análise, no seu processo de busca de padrões de identificação, converte a multiplicidade em menos múltipla, e a diferença em menos diferente. Por fim, se fosse possível, converteria a unidade em menos una. O que a análise afirma categoricamente é a vigência da identidade e de uma lógica a ela adstrita. Por sua vez, uma lógica da identidade propõe, ainda que sub-repticiamente, a diminuição da diferença pela erradicação da vigência da unidade, isto é, pela produção de unidades ideais que, de um modo ou de outro, são capazes de simular a vigência de unidades concretas. Uma unidade, nessa perspectiva, só tem sentido como algo que possa ser combinado, numa totalidade permeada pela ideia" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 54.

5

"A pluralidade se vê constituída e reduzida a singularidades ordenadas a partir da análise e da perspectiva, isto é, desde um determinado modo de olhar. Esta tensão entre pluralidade e singularidade, dinamizadora da realidade, dá lugar, progressivamente, a uma realidade compreendida analítica e perspectivamente. Esta análise e perspectiva são decisivas para que se passe a entender a realidade reduzida aos padrões impostos pelas realizações, em que estas, por sua vez, estejam determinadas analítica e perspectivamente" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 71.

6

"A análise, tal como é compreendida geralmente, pressupõe a necessidade de se encontrar a ordem causal, para então encontrar a causa primeira. Para operar desse modo, o próprio analista precisa estar persuadido de que o caminho é esse, isto é, há uma causa, além de acreditar ter as técnicas necessárias para segui-lo" (1).


Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 118.

7

"Compreender é mais do que raciocinar, pois naquele não apenas se conhece, mas se é o que se conhece. Por isso, é que toda análise racional só dá e só pode dar significados, funções, analogias, relações sistêmicas e estatísticas, dados numérico-quantitativos, quadros comparativos, a partir de algum ou de alguns paradigmas, jamais o sentido" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.

8

"Dado este poema procede-se à sua leitura. Isso é feito naturalmente pelo leitor, desde que esteja alfabetizado. Mas o que acontece quando além da leitura normal, pede-se que se faça uma interpretação, ou, no linguajar escolar viciado, uma análise? Por onde começar? Há só um caminho considerado o certo? Para isso devemos nos perguntar: Qual é o objetivo da análise? Onde se quer chegar? O que é necessário para que se proceda à interpretação? Quais são os pressupostos (implícitos ou explícitos) para nos guiar na interpretação e na propalada e falsa análise?" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 122.

9

"Ao comentário e à exegese, sucede a análise crítica. A análise é um procedimento metodológico decorrente do postulado crítico-científico que concebe a obra como um organismo, constituído de partes, cujo conhecimento dá o acesso ao que a obra é em sua constituição e classificação. Surgiram então as Correntes críticas, parte dominante da Teoria Literária, em sua prática" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 128.

10

"É ainda necessário incluir dois modelos de analisar e classificar as obras que não são tratados como correntes críticas, mas que se movem nos mesmos princípios da epistemologia crítica da Modernidade:
Estilos de época.
Gêneros literários" (1).
Eles são especialmente estudados e tratados pela Teoria Literária.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 129.
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