Vontade

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 22h44min de 31 de Agosto de 2017 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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Há uma tensão essencial entre saber e querer, ou seja, vontade e razão: poíesis e lógos. Ela, como referência dupla essencial (entre poíesis e lógos, vontade e razão, ser e ente, limite e não-limite, verdade e não-verdade) se torna a questão das questões, a questão do entre-ser e da liberdade. Aqui naufraga a subjetividade e se abrem as portas para a questão de ser e mônada (ente). Toda a modernidade é o grande debate sobre a vontade e a razão (querer e saber), afirmados ôntica e epistemicamente. O caminho do tempo e da história, porque onticamente considerados, deságua hoje na memória alargada até o génos / moíra. Nesses e por esses a questão se coloca como ser e saber, onde o querer é cura do ser como realização enquanto saber. Daí a questão do mito em Narciso: por que o saber implica a morte? Assim como em Midas, o querer implica também a morte. No entre vige o mito de Prometeu, mas dimensionado pelo mito de Cura, na medida em que esse remete para o fingere. Em todos e sempre presente, a morte. Por isso Cristo, Prometeu, Narciso, Midas, Cura experienciam a Morte, a descida ao rio Léthe. O que a Morte tem a ver com o querer e o não-querer, com verdade e não-verdade? Como questão, o querer é mais complexo do que aquilo que normalmente se compreende por vontade.


- Manuel Antônio de Castro

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"O homem não escolhe nascer. Tampouco escolhe, uma vez tendo nascido, ter de morrer. O homem não escolhe estar lançado no tempo, no jogo entre a vida e a morte, a qual acontece não apenas no termo da vida, mas durante toda a existência. O homem não escolhe surgir em dada época e tradição cultural, que inclusive orientam sua percepção do que é a liberdade. Não escolhe sua língua materna. Não escolhe nascer em um tronco familiar, ter os pais que tem. O homem não escolhe o corpo que tem, nem mesmo seu próprio nome. Tudo isso já lhe foi destinado a partir do desdobramento de outros destinos, em um jogo de espelhos que remete ao infinito" (1).


Referência:
(1) FERRAZ, Antônio Máximo. "Liberdade". In: Convite ao pensar. Org. de Manuel Antônio de Castro e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2014, p. 133.


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"Não existe arma mais fatal que a vontade!
A arma mais pontiaguda
Não lhe é comparável!
Não há assaltante mais perigoso
Que a Natureza (Yang e Yin).
Apesar de que não se identifica à natureza
Que causa a desgraça:
É a própria vontade humana!" (1).
Referência:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. 9.e. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 174.


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"O ser humano, desde Édipo - o mito imemorial que pensa o humano no que lhe é próprio em sua essência sócio-político-histórica - sempre teve a pretensão de ser o sujeito das suas escolhas e realizações. A Moira sorri, em silêncio, diante de tais pretensões, deixando-o iludir-se, em seu pseudo-poder racional de dar-se a existência, segundo a liberdade fundada na sua vontade. É uma ilusão que custa caro e gera o sofrimento de muitos fracassos inúteis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 40.
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