Aprender

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 02h50min de 19 de Dezembro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)

Tabela de conteúdo

1

Se ensinar, enquanto pensar, é deixar aprender, o que é aprender? O que a palavra aprender nos quer dizer? Que processo de compreensão e apreensão daquilo que somos como seres humanos, realidade e destino, se concentra na palavra aprender? Ela é constituída do prefixo latino: ad- e do verbo -preendere, -prendere. Este significa no latim: agarrar, prender, ser tomado por. E o ad- é aquele processo de travessia em que nós estamos já existindo em direção a, para ficar junto de. Junto do quê? Daquilo que nos prende, daquilo que nos constituiu. O que nos prende? O que nos constitui enquanto sentido, ou seja, o que é o ser humano, a realidade, o destino. Enfim, o Ser.


- Manuel Antônio de Castro

2

"Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas" (1).


Referência:
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 6. e. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1968, 312.

3

Aprender - manthano em grego - não é conhecer algo, aprender algo sobre, é chegar a ser o que já se é. É o que nos ensina Píndaro quando nos convida a pensar: Genoi 'óios essi mathon...: Chega a ser o que és, aprendendo.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"Só se compreende o que se aprende. Pois aprender é esvaziar-se de todo continente e de qualquer conteúdo e, assim, abrir-se e manter-se aberto para o estranho e não sabido, para o outro, a diferença e o desconhecido. Por isso só aprende quem pensa, pois pensar significa acolher o mistério da realidade irrompendo nas realizações do real" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "A história na filosofia grega". In: ------. Filosofia grega - uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010, p. 23.

5

"O professor só ensina quando aprende. O aluno só é ensinado quando aprende a aprender a pensar. O professor ensina nada e o aluno aprende o nada em que ele já desde sempre vigora, todo ser humano vigora. Pois ambos vigoram no mesmo. Esses são os horizontes das épocas das obras de arte da arte, onde aprender e ensinar é o deixar-se tomar pelo destinar-se do sentido do ser no vigorar da época. Época, nessa leitura e horizonte, é a essência do tempo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A história do sentido das artes e as épocas". In: ------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 316.

6

O verbo para dizer aprender (tender para junto de – ad, prender-se, agarrar-se ao que vigora como princípio, o ser, a physis), em grego, é manthano. A aprendizagem é mathesis. E na vigência do legein em seu vigorar no destinar-se do sentido do ser, manthano sempre se alternou com lanthano, onde alternar é o próprio vigorar da dialética interna e o aprender e vigorar na verdade da physis, do ser.


- Manuel Antônio de Castro

7

"Todo pensador só é pensador na medida em que se abre e deixa acontecer nele e em cada um o que é, e é, aprendendo o seu sentido sócio-histórico. Professor não é quem ensina, mas quem com a paciência do silêncio eloquente deixa aprender " (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 39.

8

"Uma interpretação mais antiga do que a de Freud, sempre nos acompanha os passos de ser e/ou não ser em todo relacionamento. É a experiência grega da condição humana formulada por Píndaro, com quatro palavras apenas numa passagem famosa do Epinícios: geneos essi mathon: vem a ser, a cada instante, como és, tendo aprendido com a experiência de viver!" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "O Édipo em Píndaro e Freud". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 65.

9

"O poeta aprendeu a renunciar. Aprender significa: tornar-se quem sabe. Quem sabe é em latim qui vidit, quem viu e entreviu alguma coisa, de modo a não mais perder de vista o que viu. Aprender significa: alcançar essa visão. Para isso é preciso alcançar, estando a caminho, numa travessia. Fazer uma travessia, atravessar na experiência (¹) significa: aprender" (1).
(¹) A palavra alemã para dizer experiência é Erfahrung, uma composição do prefixo er- e da raiz fahr, fahren, que quer dizer: viajar, fazer uma travessia, atravessar.
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A palavra". In: ----. A caminho da Linguagem. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis (RJ): Vozes. Bragança Paulista (SP): Editora Universitária São Francisco, 2003, p. 176.

10

"Vemos no pensamento de Heidegger a copertença entre aprender a esperar e aprender a pensar. Se aprender a esperar é uma ascese, uma disciplina, o dom da espera favorece uma possibilidade de experienciarmos a essência do homem enquanto abertura e correspondência com o ser. Aquele que espera, espera o que não tem. Se o tivesse, não precisaria esperar, mas pode esperar porque de alguma maneira pertence àquilo que espera. Aprender a esperar é uma das modalidades de aprender a pensar" (1).


Referência:
(1) UNGER, Nancy Mangabeira. "Heidegger e a espera do inesperado". Rio de Janeiro: Editora Tempo Brasileiro. Revista Tempo Brasileiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, Jan.-mar. 2006, 180.

11

"Aprender é tomar posse das e se integrarem, em todo relacionamento, as possibilidades de ser e de não ser, em que já se encontra imerso todo ser humano. O homem só aprende o que já sabe" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Dialética: entre o fechado e o aberto". Revista Tempo Brasileiro: Dialética em questão II. Editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jul.-set., 2013, 194, p. 6.


12

"Como chamavam os gregos o movimento de ensinar e aprender? Chamavam com um só radical: manthano. Assim, mathesis é o ensino e a aprendizagem, tanto no sentido do que é aprendido e ensinado como no sentido do processo de ensinar e aprender. Mathémata, o que pode ser ensinado e o que pode ser aprendido; e mathetés, o aluno, aquele que ensina aprendendo; o professor, aquele que aprende ensinando" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 46.

13

"Ensinar é um dar e prestar. Mas o que no ensino se dá e se presta, não são conteúdos, doutrinas, técnicas, em uma palavra, informações apenas. São condições e indicações para se tomar e aprender por si mesmo o que já se tem. Por isso, se alguém aprende e toma apenas conteúdos e doutrinas, técnicas e know how, se armazena apenas informações, não aprende. Pois aprender não é acumular, como crescer não é aumentar de tamanho. Só aprende quem sabe no que compreende, o sabor do que já possui, a riqueza misteriosa de sua identidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 48.


14

"Acontece realmente um aprender, quando a compreensão do que se tem, for e vier a ser sempre um dar-se a si mesmo sua própria identidade. Neste movimento radical, ensinar passa sempre de simples informação e explicação para vir a ser formação e criação. Formar é deixar o outro aprender, integrando no que ele é, os limites do que ele não é" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 49.

15

"Acontece realmente um aprender, quando a compreensão do que se tem, for e vier a ser sempre um dar-se a si mesmo sua própria identidade. Neste movimento radical, ensinar passa sempre de simples informação e explicação para vir a ser formação e criação. Formar é deixar o outro aprender, integrando no que ele é, os limites do que ele não é" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 49.


16

"Só entrando no jogo da Linguagem é que encontramos um princípio de unidade realmente integrador das dimensões e níveis de aprender e ensinar. Os planos de formação, de que tratam diferentes línguas, têm na Linguagem a força de integração que lhes garante crescer e diversificar-se sem perda da identidade" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e ensinar". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 50.

17

"A pensar o quê? Essa é a questão de todo aprender. Não só do aprender, mas também de todo ensinar, pois não há aprender sem ensinar nem ensinar sem aprender. O pensar é a questão de todo ensinar e aprender. Nela e por ela nos pensamos enquanto nos debruçamos sobre o que somos, num caminhar que nos leve à apropriação do que nos é próprio, bem como à essência da con-vivência, na medida em que somos encaminhados ao fundamento de todas as vivências de realidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O silêncio como tecelão da realidade". Ensaio não publicado.
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