Feminino

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de ''Cura'' e o ser humano". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 227.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de ''Cura'' e o ser humano". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 227.
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: Podemos [[compreender]]  o tu pensando o [[eu]], porque o tu é o [[outro]] do [[eu]]. Um [[outro]] que pode [[ser]] ele mesmo desdobrando-se no que ainda não é, mas pode vir a ser, pois tudo é e não é. Para então compreender o tu, é necessário que saibamos que antes de o [[eu]] se descobrir como [[eu]] é necessário que saia dele e se projete no [[outro]]. Somente assim o [[eu]] retorna a si e toma consciência de que é um [[eu]]. Ou seja, para chegarmos a saber quem [[eu]] sou, temos que já ser também o não-eu, ou seja, o tu. E o [[eu]] chega a [[ser]] neste desdobramento de [[eu]] e tu. Do mesmo modo, cada um chega a saber se é do gênero [[masculino]] ou feminino na medida em que para chegar a se saber já tem de [[ser]] os dois gêneros. Os dois gêneros pressupõem, por isso mesmo, o sou [[sendo]]. Todo [[sendo]] é [[sendo]] de uma [[dobra]]: o [[eu]] e o tu. Percebamos isso bem: num [[diálogo]], [[eu]] me dirijo ao tu e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o tu responde, [[eu]] escuto, não como [[eu]], mas como tu. Portanto, para podermos dialogar temos de ser a [[dobra]] de [[eu]] e tu, pois aí depende só da [[posição]] de quem fala e de quem escuta. E esta [[dobra]] acontece também com o [[feminino]] e o [[masculino]]. Se de alguma maneira não fôssemos ambos, seria impossível a [[escuta]]. Seria impossível o [[diálogo]]. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me [[escutar]]. Ontologicamente há a [[unidade]]. Só nesta pode [[vigorar]] a [[identidade]] e a [[diferença]] da [[unidade]], uma vez que para haver e [[vigorar]] [[unidade]] é necessária a afirmação tanto da [[identidade]] quanto da [[diferença]]. É neste mesmo [[horizonte]] ontológico que devemos [[compreender]] em nós a [[vigência]] de [[masculino]] e [[feminino]].  
: Podemos [[compreender]]  o tu pensando o [[eu]], porque o tu é o [[outro]] do [[eu]]. Um [[outro]] que pode [[ser]] ele mesmo desdobrando-se no que ainda não é, mas pode vir a ser, pois tudo é e não é. Para então compreender o tu, é necessário que saibamos que antes de o [[eu]] se descobrir como [[eu]] é necessário que saia dele e se projete no [[outro]]. Somente assim o [[eu]] retorna a si e toma consciência de que é um [[eu]]. Ou seja, para chegarmos a saber quem [[eu]] sou, temos que já ser também o não-eu, ou seja, o tu. E o [[eu]] chega a [[ser]] neste desdobramento de [[eu]] e tu. Do mesmo modo, cada um chega a saber se é do gênero [[masculino]] ou feminino na medida em que para chegar a se saber já tem de [[ser]] os dois gêneros. Os dois gêneros pressupõem, por isso mesmo, o sou [[sendo]]. Todo [[sendo]] é [[sendo]] de uma [[dobra]]: o [[eu]] e o tu. Percebamos isso bem: num [[diálogo]], [[eu]] me dirijo ao tu e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o tu responde, [[eu]] escuto, não como [[eu]], mas como tu. Portanto, para podermos dialogar temos de ser a [[dobra]] de [[eu]] e tu, pois aí depende só da [[posição]] de quem fala e de quem escuta. E esta [[dobra]] acontece também com o [[feminino]] e o [[masculino]]. Se de alguma maneira não fôssemos ambos, seria impossível a [[escuta]]. Seria impossível o [[diálogo]]. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me [[escutar]]. Ontologicamente há a [[unidade]]. Só nesta pode [[vigorar]] a [[identidade]] e a [[diferença]] da [[unidade]], uma vez que para haver e [[vigorar]] [[unidade]] é necessária a afirmação tanto da [[identidade]] quanto da [[diferença]]. É neste mesmo [[horizonte]] ontológico que devemos [[compreender]] em nós a [[vigência]] de [[masculino]] e [[feminino]].  
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]

Edição de 01h01min de 10 de Agosto de 2017

1

De acordo com Franz: "Junto com o feminino está o sentimento, o irracional e a fantasia..." (1). Nas páginas anteriores, também se refere ao feminismo como o princípio de Éros e o liga à Terra. "Como pode ter acontecido, em nossa história, que o elemento feminino tenha sido mais consciente numa determinada época e esteja agora submergido no inconsciente? As religiões pagãs originárias dos germânicos e dos celtas tinham muitos cultos à Mãe Terra e a outras deusas da natureza, mas a superestrutura unilateralmente patriarcal da civilização cristã aos poucos foi reprimindo esse elemento... Na Idade Média, com o culto da Virgem Maria e com os Trovadores, o reconhecimento da anima era muito mais vivo do que o foi no séc. XVI em diante, época essa que está caracterizada por um aumento de repressão do elemento feminino e da cultura de Éros, em nossa civilização" (2).
Mas não nota a autora que justamente o fato de ligar o feminino ao sentimento e ao irracional é uma caracterização do que ela mesma condena na seguda citação, ou seja, é uma leitura do feminino a partir de um racionalismo de predominância patriarcal.


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) FRANZ, Marie Louise Von. A interpretação dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, p.81.
(2) Idem, p. 82.


2

A filosofia chinesa parte de um princípio que a tudo origina: Qi (grafado também como: Ki, Chi). De maneira muito especial se manifesta nos seres vivos, especialmente no ser humano, no qual se faz presente de maneira muito complexa. Enfim, tudo é Qi. É no horizonte do vigorar deste princípio que se pensa o corpo no pensamento chinês. Ele é composto de outros dois princípios, opostos, mas não dicotômicos nem excludentes, pois sempre convergentes e divergentes, pelos quais acontece toda diferenciação, na procura (tao) inesgotável da harmonia: Yin e Yan (também se grafa Ying e Yang). As traduções mais correntes são: luz e escuridão; masculino e feminino. É impossível a existência de um sem o outro. De algum modo, cada ser, cada ser humano é partícipe de ambos, embora em cada ser um ou outro predomine.


- Manuel Antônio de Castro


3

“E o feminino é o que recolhe no ventre poético a possibilidade de possibilitar diferenças, é pujança de criação que não escolhe sexo, mas irriga a terra (corpo de homem e de mulher) com excessividade de luz, fecundando o mistério do que vem a ser. O feminino é o gestual de edificação que atravessa qualquer limite corporal para eclodir em obra de arte, de modo que nem um e nem outro – homem e mulher – são depositários absolutos de tal originariedade, e sim maneiras diferentes de nascerem com a nascividade que os fertilizam, mediante a conservação de suas singularidades. Não é o corpo enquanto organismo que retém o privilégio da invenção poética, esta extrapola o sentido biológico ou o agentivo de seu enunciado moderno” (1).


Referência:
(1) PESSANHA, Fábio Santana. A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 131.

4

"Por isso, no mito, Cura é algo muito mais profundo do que os simples significados semânticos da palavra cura. Em latim, cura diz cuidado, cuidar. Em torno de Cura acontece o próprio constituir-se e plenificar-se poético-ontológico do ser humano. Nesse sentido, qualquer determinação de gênero ou cultura identitária, para a ontologia do ser humano, é reducionista. A Cura que vigora em cada ser humano, sempre de uma maneira originária, não se reduz, seja ao feminino, seja ao masculino, seja a uma identidade cultural. O que está em jogo no operar de Cura' é sempre o destino de cada ser humano, que é o acontecer de seu próprio, ou seja, aquilo que é. A Cura é sempre Cura do sou. E este é absolutamente original para cada um. Não dá para reduzi-lo a classificações. Na regência de Cura se decide o destino do que cada um deve e consegue realizar" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 227.

5

Podemos compreender o tu pensando o eu, porque o tu é o outro do eu. Um outro que pode ser ele mesmo desdobrando-se no que ainda não é, mas pode vir a ser, pois tudo é e não é. Para então compreender o tu, é necessário que saibamos que antes de o eu se descobrir como eu é necessário que saia dele e se projete no outro. Somente assim o eu retorna a si e toma consciência de que é um eu. Ou seja, para chegarmos a saber quem eu sou, temos que já ser também o não-eu, ou seja, o tu. E o eu chega a ser neste desdobramento de eu e tu. Do mesmo modo, cada um chega a saber se é do gênero masculino ou feminino na medida em que para chegar a se saber já tem de ser os dois gêneros. Os dois gêneros pressupõem, por isso mesmo, o sou sendo. Todo sendo é sendo de uma dobra: o eu e o tu. Percebamos isso bem: num diálogo, eu me dirijo ao tu e ele me escuta e sabe que está me escutando. Porém, quando o tu responde, eu escuto, não como eu, mas como tu. Portanto, para podermos dialogar temos de ser a dobra de eu e tu, pois aí depende só da posição de quem fala e de quem escuta. E esta dobra acontece também com o feminino e o masculino. Se de alguma maneira não fôssemos ambos, seria impossível a escuta. Seria impossível o diálogo. Igualmente podemos falar conosco mesmo, ou seja, eu posso me escutar. Ontologicamente há a unidade. Só nesta pode vigorar a identidade e a diferença da unidade, uma vez que para haver e vigorar unidade é necessária a afirmação tanto da identidade quanto da diferença. É neste mesmo horizonte ontológico que devemos compreender em nós a vigência de masculino e feminino.


- Manuel Antônio de Castro
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