Possibilidade
De Dicionário de Poética e Pensamento
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+ | : Diz: "[[Ser]] não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao [[vigor]] do [[ser]]. A [[própria]] [[metafÃsica]], de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida [[doutrina]] das modalidades. Segundo a [[doutrina]] [[metafÃsica]] das modalidades, ao [[ser]] pertence não só a [[realidade]] e [[necessidade]] como também [[possibilidade]]" (1). | ||
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+ | : O [[essencial]] é voltar a Parmênides e [[pensar]] a ''[[phýsis]]'' como: ''[[on]]'', ''me-on'', ''dóxa'' e ''noein''. Neste [[sentido]], falar de [[real]] é sempre [[pensar]] o apelo do [[ser]] enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: ''[[alétheia]]'', ''[[lógos]]'', ''[[phýsis]]''. Ou o [[fragmento]] 123 de [[Heráclito]]: ''phýsis krýptesthai phileî'': ''a excessividade [[poética]] apropria-se no [[nada]] excessivo''. Devemos, pois, distinguir a [[possibilidade]] do [[on]] e a [[possibilidade]] do ''krýptesthai'', do [[nada]] excessivo, ou seja o [[nada]] [[criativo]]. | ||
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- | : (1) HEIDEGGER, Martin. "A coisa". In: | + | : (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[coisa]]". In: [[Ensaios]] e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 161.''' |
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- | : "Os [[eruditos]] formais e acomodados preferem guiar-se pelo conforto da [[memória]] acumulativa e repetitiva do já produzido. O [[possÃvel]] enquanto [[possÃvel]] não nos é obscuro? E, no entanto, é a [[fonte]] de toda [[realização]] na [[claridade]] da [[luz]]" (1). O [[erudito]] não formal é justamente o que pensa e, pensando, deixa-se tomar pelo [[inaugural]], pelo [[originário]], de tal maneira que [[ser]] [[erudito]] é [[ser]] tomado pela [[sabedoria]] do que sempre nos convida a [[pensar]]: [[é]] [[ser]] [[pensador]], [[poeta]]. | + | : "Os [[eruditos]] formais e acomodados preferem guiar-se pelo conforto da [[memória]] acumulativa e repetitiva do já produzido. O [[possÃvel]] enquanto [[possÃvel]] não nos é obscuro? E, no entanto, é a [[fonte]] de toda [[realização]] na [[claridade]] da [[luz]]" (1). O [[erudito]] não formal é justamente o que [[pensa]] e, [[pensando]], deixa-se tomar pelo [[inaugural]], pelo [[originário]], de tal maneira que [[ser]] [[erudito]] é [[ser]] tomado pela [[sabedoria]] do que sempre nos convida a [[pensar]]: [[é]] [[ser]] [[pensador]], [[poeta]]. |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "Eduardo Portella, o [[professor]]". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 41.''' |
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- | : "O que gostaria de explicar rapidamente, é que chegamos a uma [[visão]] da racionalidade que entende o ''clinamen'', que entende o possÃvel, no qual as [[leis]] no qual as [[leis]] da [[natureza]] não expressam a [[certeza]], mas, sim, [[possibilidades]], no qual o [[futuro]] permanece aberto, no qual o [[futuro]] não é oferecido" (1). | + | : "O que gostaria de explicar rapidamente, é que chegamos a uma [[visão]] da [[racionalidade]] que entende o ''clinamen'', que entende o [[possÃvel]], no qual as [[leis]] no qual as [[leis]] da [[natureza]] não expressam a [[certeza]], mas, sim, [[possibilidades]], no qual o [[futuro]] permanece [[aberto]], no qual o [[futuro]] não é oferecido" (1). |
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- | : (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo?" | + | : (1) PRIGOGINE, Ilya.''' "Estaremos às vésperas de um terceiro [[humanismo]]?" In? Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 168, jan.-mar., 2007, p.8.''' |
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- | : "A [[unidade]] é, portanto, um [[poder]] [[querer]] porque é um [[querer]] [[poder]]. A [[unidade]] se constitui de [[possibilidade]] de para [[possibilidades]]. [[Todos]] os | + | : "A [[unidade]] é, portanto, um [[poder]] [[querer]] porque é um [[querer]] [[poder]]. A [[unidade]] se constitui de [[possibilidade]] de para [[possibilidades]]. [[Todos]] os passos e [[escolhas]] de nossa [[vida]] já nos foram dadas como [[possibilidades]] de realizá-las, mas elas não extinguem as nossas [[possibilidades]]. Pelo contrário, perdem sua mera [[circunstancialidade]] [[entitativa]] e se tornam o ativar de novas [[possibilidades]] para continuar nossos passos e [[escolhas]]. Somos [[essencialmente]] não um [[algo]], mas [[possibilidades]]" (1). |
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- | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota | + | : (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "A gota d’[[água]] e o [[mar]]". In: -----. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 242.''' |
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- | : (1) KAUR, rupi. '''meu corpo / minha casa | + | : (1) KAUR, rupi. '''meu [[corpo]] / minha [[casa]]. Trad. Ana Guadalupe. São Paulo: Editora Planeta, 2020, p. 179.''' |
Edição atual tal como 20h40min de 11 de Maio de 2025
1
- Há a tendência a pensar o Ser como a possibilidade, bem na linha de Aristóteles e da dýnamis, embora não se tematize essa dýnamis em toda a sua complexidade. Heidegger faz alusão ao real como possÃvel no posfácio a "A coisa".
- Diz: "Ser não se contrapõe, de forma alguma, ao não-mais-ser e ao ainda-não-ser. Tanto o não-mais-ser como o ainda-não-ser pertencem ao vigor do ser. A própria metafÃsica, de algum modo, já intui um pouco disso na sua tão pouco compreendida doutrina das modalidades. Segundo a doutrina metafÃsica das modalidades, ao ser pertence não só a realidade e necessidade como também possibilidade" (1).
- O essencial é voltar a Parmênides e pensar a phýsis como: on, me-on, dóxa e noein. Neste sentido, falar de real é sempre pensar o apelo do ser enquanto o ter-sido já desvelado velando-se: alétheia, lógos, phýsis. Ou o fragmento 123 de Heráclito: phýsis krýptesthai phileî: a excessividade poética apropria-se no nada excessivo. Devemos, pois, distinguir a possibilidade do on e a possibilidade do krýptesthai, do nada excessivo, ou seja o nada criativo.
- Referência:
2
- "Os eruditos formais e acomodados preferem guiar-se pelo conforto da memória acumulativa e repetitiva do já produzido. O possÃvel enquanto possÃvel não nos é obscuro? E, no entanto, é a fonte de toda realização na claridade da luz" (1). O erudito não formal é justamente o que pensa e, pensando, deixa-se tomar pelo inaugural, pelo originário, de tal maneira que ser erudito é ser tomado pela sabedoria do que sempre nos convida a pensar: é ser pensador, poeta.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 41.
3
- "O que gostaria de explicar rapidamente, é que chegamos a uma visão da racionalidade que entende o clinamen, que entende o possÃvel, no qual as leis no qual as leis da natureza não expressam a certeza, mas, sim, possibilidades, no qual o futuro permanece aberto, no qual o futuro não é oferecido" (1).
- Referência:
- (1) PRIGOGINE, Ilya. "Estaremos às vésperas de um terceiro humanismo?" In? Revista Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, 168, jan.-mar., 2007, p.8.
4
- "A unidade é, portanto, um poder querer porque é um querer poder. A unidade se constitui de possibilidade de para possibilidades. Todos os passos e escolhas de nossa vida já nos foram dadas como possibilidades de realizá-las, mas elas não extinguem as nossas possibilidades. Pelo contrário, perdem sua mera circunstancialidade entitativa e se tornam o ativar de novas possibilidades para continuar nossos passos e escolhas. Somos essencialmente não um algo, mas possibilidades" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 242.
5
- "É isso que queremos constatar ao afirmar que não somos nós que temos as questões, mas são elas que nos têm. E nos têm pelo simples fato de que é a Vida que nos tem e não nós que a temos. Quando nascemos significa isso: receber uma vida. Cada um de nós recebe uma vida e, com ela, as possibilidades. Receber vida: receber possibilidades. Essas possibilidades não são algo já estabelecido, caso contrário não seriam possibilidades" (1). Mas, enigmaticamente, elas já constituem o nosso destino, a nossa Moira.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 243.
6
- Possibilidade de é a própria condição de possibilidade de, seja de ser, seja de saber, mas onde o ser já nos foi dado e o saber é o a-ser-conquistado enquanto o a-ser-sabido. É isso que Sócrates não cessa de pedir às pessoas em seu viver cotidiano.
7
- a chance de darmos a volta por cima
- depois de todas as tristezas da vida
- é a coisa mais linda que eu já vi (1)
- Referência: