Gesto

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: ''Os pré-socráticos''. Coleção ''Os pensadores''. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.
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: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "A [[sentença]] de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Coleção Os [[pensadores]]. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.'''
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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: O ''[[Ânimo]]'' se desdobrando nos [[gestos]] é a [[essência]] da '''[[Dança]]'''. Fique, porém, claro que a [[palavra]] ''[[ânimo]]'' de ''[[anima]]'', [[alma]], traduz o termo [[grego]] ''[[psyché]]'', que quer [[dizer]] o [[movimento]] [[vital]] de inspirar e expirar: o [[livre]] [[viver]]. ''[[Dança]]'' são os [[gestos]] do [[movimento]] que nos [[libertam]] para o [[livre]] [[viver]] pela [[manifestação]] do que [[essencialmente]] somos. O [[gesto]] da [[dança]] é a [[procura]] da [[densidade]] do [[sentido]] do [[agir]] em sua [[manifestação]]. ''[[Dança]]'' é a [[sintaxe]] da ''[[physis]]'' se manifestando no [[ser humano]] em seu [[sentido]] [[poético]]. O [[gesto]], na [[figuração]] do [[movimento]], é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]] que colhe o seu [[sentido]] na busca da [[plenitude]] do [[agir]]: o [[repouso]]. O [[gesto]] é o [[sentido]] do [[corpo]] na tensão harmônica de [[limite]] e [[não-limite]], de atração para a [[Terra]] e [[experienciação]] da [[liberdade]] no [[aberto]] da [[vida]]. A [[dança]] não é o [[corpo]] em [[movimento]]. Pelo contrário, é o [[corpo]] eclodindo na densidade do que [[é]] enquanto [[procura]] de [[realização]] [[plena]] no [[não-movimento]] do [[repouso]]. [[Repouso]] diz aí [[sentido]] [[pleno]] e não falta de [[ação]].
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: O ''[[Ânimo]]'' se desdobrando nos [[gestos]] é a [[essência]] da '''[[Dança]]'''. Fique, porém, claro que a [[palavra]] ''[[ânimo]]'' de ''[[anima]]'', [[alma]], traduz o termo [[grego]] ''[[psyché]]'', que quer [[dizer]] o [[movimento]] [[vital]] de inspirar e expirar: o [[livre]] [[viver]]. ''[[Dança]]'' são os [[gestos]] do [[movimento]] que nos [[libertam]] para o [[livre]] [[viver]] pela [[manifestação]] do que [[essencialmente]] somos. O [[gesto]] da [[dança]] é a [[procura]] da densidade do [[sentido]] do [[agir]] em sua [[manifestação]]. ''[[Dança]]'' é a [[sintaxe]] da ''[[physis]]'' se manifestando no [[ser humano]] em seu [[sentido]] [[poético]]. O [[gesto]], na [[figuração]] do [[movimento]], é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]] que colhe o seu [[sentido]] na busca da [[plenitude]] do [[agir]]: o [[repouso]]. O [[gesto]] é o [[sentido]] do [[corpo]] na tensão harmônica de [[limite]] e [[não-limite]], de atração para a [[Terra]] e [[experienciação]] da [[liberdade]] no [[aberto]] da [[vida]]. A [[dança]] não é o [[corpo]] em [[movimento]]. Pelo contrário, é o [[corpo]] eclodindo na densidade do que [[é]] enquanto [[procura]] de [[realização]] [[plena]] no [[não-movimento]] do [[repouso]]. [[Repouso]] diz aí [[sentido]] [[pleno]] e não falta de [[ação]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].

Edição atual tal como 20h30min de 3 de Abril de 2025

1

"O vidente é aquele que já tem visto a totalidade das coisas que se apresenta na presença: em latim vidit; em alemão er steht in Wissen (ele está a par). Ter visto é a ausência do saber. No ter visto já há sempre outra coisa em jogo que a simples realização de um processo ótico. No ter visto a relação com aquilo que se apresenta já retrocedeu para trás de toda a espécie de percepção sensível e não-sensível. A partir daí, o ter visto está relacionado com a presença que se clarifica.
O ver não se determina a partir do olho, mas a partir da clareira do ser. A in-sistência nela constitui a articulação de todos os sentidos humanos. A essência do ver enquanto ter visto é o saber. Este contém a visão. Ele permanece na lembrança da presença. O saber é a lembrança do ser. É por isso que Mnemosýne é a mãe das musas. Saber não é a ciência no sentido moderno. Saber é salvaguarda pensante da guarda do ser" (1).
Na medida em que todo ver pressupõe o já ter visto de alguma maneira é que dá origem ao vidente e à evidência. Esta não precisa de mediação, por ela a realidade se mostra no que ela é e em-si. Por isso, dizemos frequentemente: isso é evidente, ou seja, não precisa de uma explicação, de uma mediação. Em sua essência, todo ser humano é um vidente, embora poucos consigam quebrar o hábito do ver banal e cotidiano. Todo artista, especialmente o poeta e pintor, se deixa tomar em seu ver e dizer pela evidência. Na dança, o meio de manifestar o evidente é o gesto. Todo gesto na dança manifesta a realidade acontecendo, dando-se a ver.


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "A sentença de Anaximandro". In: Os pré-socráticos. Coleção Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 34.
- Manuel Antônio de Castro

2

O Ânimo se desdobrando nos gestos é a essência da Dança. Fique, porém, claro que a palavra ânimo de anima, alma, traduz o termo grego psyché, que quer dizer o movimento vital de inspirar e expirar: o livre viver. Dança são os gestos do movimento que nos libertam para o livre viver pela manifestação do que essencialmente somos. O gesto da dança é a procura da densidade do sentido do agir em sua manifestação. Dança é a sintaxe da physis se manifestando no ser humano em seu sentido poético. O gesto, na figuração do movimento, é uma doação do vazio e do silêncio que colhe o seu sentido na busca da plenitude do agir: o repouso. O gesto é o sentido do corpo na tensão harmônica de limite e não-limite, de atração para a Terra e experienciação da liberdade no aberto da vida. A dança não é o corpo em movimento. Pelo contrário, é o corpo eclodindo na densidade do que é enquanto procura de realização plena no não-movimento do repouso. Repouso diz aí sentido pleno e não falta de ação.


- Manuel Antônio de Castro.
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