Leitura

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(3)
(10)
 
(10 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 12: Linha 12:
== 2 ==
== 2 ==
-
: [...] uma leitura é sempre uma [[aprendizagem]] de entrega” (1).
+
: “De fato, [[originariamente]], toda [[leitura]] só é [[leitura]] na [[medida]] em que já está acontecendo um [[diá-logo]]. Por sermos [[essencialmente]] [[diálogo]] é que, [[necessariamente]], somos uns com os [[outros]], isto é, somos [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[social]]. Por isso mesmo, o [[social]] não depende de nenhuma [[cultura]]. [[Seres humanos]] de [[diferentes]] [[culturas]] e [[épocas]] podem [[aprender]] [[outras]] [[línguas]] e conviver pacificamente, isto é, serem [[sociais]]. A [[linguagem]] [[funda]] o [[ser humano]] e, por isso mesmo, qualquer [[pré-conceito]] de cor, [[raça]], [[cultura]], etnia, [[religião]], [[valores]] [[morais]], [[gênero]] etc. é uma aberração e injustificável" (1).
 +
 
: Referência:
: Referência:
-
: (1) PESSANHA, Fábio Santana. ''A hermenêutica do mar – Um estudo sobre a poética de Virgílio de Lemos''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2013, p. 116.
+
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 123.
== 3 ==
== 3 ==
-
: [[Ler]] é alimentar-se da e pela [[memória]] do que já desde sempre somos. [[Ser]] é o que há de mais autêntico, íntimo, profundo, imediato, evidente em cada um. O [[dizer]] mais radical e essencial é sempre: ''eu sou''. Onde o sou é que é a fonte originária de todo [[eu]], de toda [[subjetividade]]. Mas também o mais misterioso. O hábito das leituras essenciais nos predispõe para a [[escuta]] do seu [[silêncio]], do seu [[mistério]]. Então se dá o sabor da [[sabedoria]] como advento do véu do [[mistério]] que se rasga: a [[morte]]. [[Viver]] e [[morrer]] são faces da mesma moeda. Mas quem faz do [[viver]] uma [[experienciação]] do morrer como [[sabedoria]]? A leitura silenciosa  e que interioriza prepara um tal [[diálogo]] e [[caminho]].
+
: [[Ler]] é alimentar-se da e pela [[memória]] do que já desde sempre somos. [[Ser]] é o que há de mais [[autêntico]], íntimo, [[profundo]], imediato, [[evidente]] em cada um. O [[dizer]] mais [[radical]] e [[essencial]] é sempre: ''[[eu]] [[sou]]''. Onde o [[sou]] é que é a [[fonte]] [[originária]] de todo [[eu]], de toda [[subjetividade]]. Mas também o mais misterioso. O hábito das [[leituras]] [[essenciais]] nos predispõe para a [[escuta]] do seu [[silêncio]], do seu [[mistério]]. Então se dá o sabor da [[sabedoria]] como [[advento]] do véu do [[mistério]] que se rasga: a [[morte]]. [[Viver]] e [[morrer]] são faces da mesma moeda. Mas quem faz do [[viver]] uma [[experienciação]] do [[morrer]] como [[sabedoria]]? A [[leitura]] [[silenciosa]] e que interioriza prepara um tal [[diálogo]] e [[caminho]].
-
 
+
-
 
+
-
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
+
 +
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
== 4 ==
== 4 ==
Linha 34: Linha 33:
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. ''A origem da obra de arte''. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.
 +
 +
 +
 +
== 5 ==
 +
: "Todas as [[línguas]], como [[ritos]], dizem o diferente, mas como [[linguagem]] dizem sempre o [[mesmo]], embora não digam as mesmas coisas. Só porque a [[linguagem]] diz sempre o [[mesmo]] é que um [[mesmo]] [[ser humano]] pode falar diferentes [[línguas]], [[traduções]] podem ser feitas e haver a [[tradição]] viva da [[memória]]. Tudo isso é [[leitura]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.
 +
 +
== 6 ==
 +
: "Hoje todos sabem que temos um [[código]] [[genético]] que “comanda” a [[formação]] de nosso [[organismo]] e de suas tendências orgânicas, mas não “comanda” a nossa [[formação]] [[cultural]], o nosso crescimento [[intelectual]], o nosso desenvolvimento [[emocional]], ou seja, não “comanda” aquilo que chamamos com muita propriedade: nosso [[corpo]], nosso [[próprio]], nosso [[ser]]. É que [[corpo]] diz a integridade do que somos" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: -----. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.
 +
 +
== 7 ==
 +
: "A [[leitura]] será o [[ato]] [[livre]] pelo qual nos alimentamos para podermos chegar a [[ser]] o que somos. Hoje, em nossa [[sociedade]] [[globalizada]], sem esse alimento propiciado pela [[leitura]], não será [[possível]] de jeito nenhum o [[crescimento]] normal, a inclusão [[social]], a [[realização]] do que somos. [[Leitura]] é alimento. E na [[leitura]] deve ocorrer o mesmo processo do alimento físico: um metabolismo [[intelectual]] pelo qual devemos transformar o que os [[outros]] [[dizem]] e escrevem em algo nosso, [[incorporado]] a nosso [[ser]].  Isso pressupõe que o [[ler]] não deve consistir em decorar nem em repetir o que os [[outros]] [[dizem]]. [[Leitura]] é alimento à espera de metabolização em cada [[leitor]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.
 +
 +
== 8 ==
 +
: "A [[leitura]] é o grão que o moinho da [[inteligência]] e do sopro [[vital]] - a [[alma]] - mói e transforma, transformando-se. Sem [[leitura]] não há [[crescimento]]. Como temos o hábito de comer devemos ter também o de [[ler]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 83.
 +
 +
== 9 ==
 +
: "Alguém que está só e tem o [[hábito]] de [[ler]] e um bom [[livro]] à mão, tornará a [[solidão]], muitas vezes, até um [[ato]] desejado, para [[poder]] [[ler]]. Na [[leitura]] das grandes [[obras]] damos um grande mergulho em nós mesmos e através da [[reflexão]] aprendemos muito sobre os [[outros]] e muito mais sobre [[nós]]. Os [[limites]] do [[ser humano]] são insondáveis. E do [[sofrimento]], na [[leitura]] e com a [[leitura]], podem surgir grandes [[alegrias]]. Alguém que tem o [[hábito]] de [[leitura]], de [[boas]] [[leituras]], poderá [[sofrer]] muito menos e fazer da [[solidão]] uma [[convivência]] [[inimaginável]]. E mais, a [[vida]] se densifica. E até algo surpreendente acontece, vivermos mais, porque a atividade [[intelectual]] ativa a circulação do sangue e nossa [[memória]] se mantém viva" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.
 +
 +
== 10 ==
 +
: "O [[silêncio]] da [[leitura]] das grandes [[obras]] articula a tessitura daquilo que recebemos para [[ser]]. A [[leitura]] nos permite recuperar como [[memória]] o [[tempo]] aparentemente perdido, e que está vivo como [[memória]] da [[linguagem]] das [[obras de arte]], da [[poesia]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.
 +
 +
== 11 ==
 +
: "O [[sentido do Ser]] torna a [[questão]] da [[essência]] do [[agir]] o fio condutor para [[repensar]] não só a [[filosofia]], mas também a [[poesia]] e o seu exercício de [[leitura]] e [[interpretação]]. É porque [[ação]] em seu [[sentido]] não pode [[ser]] apenas algo [[racional]], [[abstrato]] e distante, implica a [[presença]] do ''[[Dasein]]'' [[concreto]] e [[vital]]" (1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). ''Arte em questão: as questões da arte''. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.

Edição atual tal como 22h13min de 21 de Novembro de 2020

1

Toda leitura só será verdadeira leitura se, para além da relação com um texto escrito, houver leitura de mundo e vida e do que toca a essência do ser humano. Não podemos reduzir a leitura à relação do leitor com a representação da realidade e do ser humano e suas questões. Toda leitura no que ela tem de essencial é apreender o sentido originário tanto da realidade quanto do ser humano em viver e realizar-se. Toda leitura, por isso, é o caminho do chegar a ser o que é em seu sentido, verdade e mundo.


- Manuel Antônio de Castro


Consultar também:
* Ler.

2

“De fato, originariamente, toda leitura só é leitura na medida em que já está acontecendo um diá-logo. Por sermos essencialmente diálogo é que, necessariamente, somos uns com os outros, isto é, somos sociais. A linguagem funda o social. Por isso mesmo, o social não depende de nenhuma cultura. Seres humanos de diferentes culturas e épocas podem aprender outras línguas e conviver pacificamente, isto é, serem sociais. A linguagem funda o ser humano e, por isso mesmo, qualquer pré-conceito de cor, raça, cultura, etnia, religião, valores morais, gênero etc. é uma aberração e injustificável" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 123.

3

Ler é alimentar-se da e pela memória do que já desde sempre somos. Ser é o que há de mais autêntico, íntimo, profundo, imediato, evidente em cada um. O dizer mais radical e essencial é sempre: eu sou. Onde o sou é que é a fonte originária de todo eu, de toda subjetividade. Mas também o mais misterioso. O hábito das leituras essenciais nos predispõe para a escuta do seu silêncio, do seu mistério. Então se dá o sabor da sabedoria como advento do véu do mistério que se rasga: a morte. Viver e morrer são faces da mesma moeda. Mas quem faz do viver uma experienciação do morrer como sabedoria? A leitura silenciosa e que interioriza prepara um tal diálogo e caminho.


- Manuel Antônio de Castro.

4

"O vigor permanente da obra (verdade) como figura (a disputa de delimitação e vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a obra ser obra. A esta operação que não impõe uma perspectiva nem uma vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina Bewahrung. Nós escolhemos uma palavra portuguesa aproximada, pois toda tradução é sempre um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando ser, aguardar o que é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer. Nela ressoa o cuidado e doação amorosa como ocorre, por exemplo, no desvelo da mãe para com o filho, o que pressupõe também no leitor o desvelo para com o que na obra Se dá, presenteia (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.


5

"Todas as línguas, como ritos, dizem o diferente, mas como linguagem dizem sempre o mesmo, embora não digam as mesmas coisas. Só porque a linguagem diz sempre o mesmo é que um mesmo ser humano pode falar diferentes línguas, traduções podem ser feitas e haver a tradição viva da memória. Tudo isso é leitura" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A linguagem poética e instrumental". In: --------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 56.

6

"Hoje todos sabem que temos um código genético que “comanda” a formação de nosso organismo e de suas tendências orgânicas, mas não “comanda” a nossa formação cultural, o nosso crescimento intelectual, o nosso desenvolvimento emocional, ou seja, não “comanda” aquilo que chamamos com muita propriedade: nosso corpo, nosso próprio, nosso ser. É que corpo diz a integridade do que somos" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: -----. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.

7

"A leitura será o ato livre pelo qual nos alimentamos para podermos chegar a ser o que somos. Hoje, em nossa sociedade globalizada, sem esse alimento propiciado pela leitura, não será possível de jeito nenhum o crescimento normal, a inclusão social, a realização do que somos. Leitura é alimento. E na leitura deve ocorrer o mesmo processo do alimento físico: um metabolismo intelectual pelo qual devemos transformar o que os outros dizem e escrevem em algo nosso, incorporado a nosso ser. Isso pressupõe que o ler não deve consistir em decorar nem em repetir o que os outros dizem. Leitura é alimento à espera de metabolização em cada leitor" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 82.

8

"A leitura é o grão que o moinho da inteligência e do sopro vital - a alma - mói e transforma, transformando-se. Sem leitura não há crescimento. Como temos o hábito de comer devemos ter também o de ler" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 83.

9

"Alguém que está só e tem o hábito de ler e um bom livro à mão, tornará a solidão, muitas vezes, até um ato desejado, para poder ler. Na leitura das grandes obras damos um grande mergulho em nós mesmos e através da reflexão aprendemos muito sobre os outros e muito mais sobre nós. Os limites do ser humano são insondáveis. E do sofrimento, na leitura e com a leitura, podem surgir grandes alegrias. Alguém que tem o hábito de leitura, de boas leituras, poderá sofrer muito menos e fazer da solidão uma convivência inimaginável. E mais, a vida se densifica. E até algo surpreendente acontece, vivermos mais, porque a atividade intelectual ativa a circulação do sangue e nossa memória se mantém viva" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.

10

"O silêncio da leitura das grandes obras articula a tessitura daquilo que recebemos para ser. A leitura nos permite recuperar como memória o tempo aparentemente perdido, e que está vivo como memória da linguagem das obras de arte, da poesia" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 86.

11

"O sentido do Ser torna a questão da essência do agir o fio condutor para repensar não só a filosofia, mas também a poesia e o seu exercício de leitura e interpretação. É porque ação em seu sentido não pode ser apenas algo racional, abstrato e distante, implica a presença do Dasein concreto e vital" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “Heidegger e as questões da arte”. In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte em questão: as questões da arte. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 32.
Ferramentas pessoais