Vazio

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Tanto os [[nós]] como as [[ligações]] precisam do “[[entre]]” enquanto [[identidade]] das [[diferenças]]. Uma tal faceta do “[[entre]]” aparece bem claramente na [[imagem-questão]]: [[rede]]. Uma tal faceta é o [[vazio]], o [[silêncio]]. A [[rede]] sem o [[vazio]]/[[silêncio]] não se pode constituir como [[rede]], ou seja, como “fios” e “[[nós]]”. A [[rede]] é uma [[doação]] do [[vazio]] e do [[silêncio]]. O [[vazio]] é o [[não-limite]] do [[silêncio]] e seu [[sentido]]. A [[língua]] enquanto [[código]] é a [[rede]] enquanto fios e [[nós]]. Mas assim como a [[rede]] precisa do [[vazio]]/[[silêncio]], a [[língua]] precisa da [[linguagem]]. Por isso, a [[linguagem]] é a [[mãe]] de todas as [[línguas]], assim como o [[vazio]] é a [[origem]] de todas as [[redes]], de todos os [[códigos]]. E o [[silêncio]] é a [[origem]] de todas as [[falas]] e [[escutas]], enquanto [[energia]] de [[sentido]], [[verdade]] e [[mundo]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o ''entre''". Revista ''Tempo Brasileiro'': Rio de Janeiro: ''Interdisciplinaridade: dimensões poéticas'', 164, jan.-mar., 2006, p. 33.

Edição de 22h55min de 10 de Agosto de 2019

Tabela de conteúdo

1

"Vejamos três pontos de diferentes tamanhos. No vazio, é impossível determinar a medida, a representação. Só os três entre si possibilitam determinar uma medida. Nos três pontos, o tamanho é determinado pela relação entre eles e não por eles, em si mesmo, quanto ao tamanho" (1).


 : Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.

2

"Trinta raios convergem, no círculo de uma roda
E pelo espaço que há entre eles
Origina-se a utilidade da roda
A argila é trabalhada na forma de vasos
E no vazio origina-se a utilidade deles
Origina-se a utilidade da roda
Abrem-se portas e janelas nas paredes da casa
E pelos vazios é que podemos utilizá-la
Assim, da não-existência vem a utilidade, e
da existência, a posse" (1)


Referência:
(1) LAO TSE. Tao te king - O livro do sentido e da vida. Tradução e Introdução Norberto de Paulo Lima. São Paulo: Hemus Editora, 1983, p. 39.


3

"Numa fossa da vida, quando distamos igualmente da esperança e do desespero, e a banalidade de todo dia estende um vazio onde se nos afigura indiferente se há ou não empenho. Ressoa novamente a questão: a existência se dá sempre como o penhor de todo empenho e desempenho" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Aprender e Ensinar". In: -----. Aprendendo a pensar. Petrópolis R/J: Vozes, 1977, p. 45.


4

“A não-ação do sábio não é a inação.
Não é estudada. Coisa alguma a abala.
O sábio é quieto porque não se altera
Não porque ele queira ser quieto”.

....................................................

“O coração do sábio está tranquilo.
É o espelho do céu e da terra.
O espelho de tudo.
É vazio, é quieto, é tranquilo, é sem-sabor
O silêncio, a não-ação: esta é a medida do céu e da terra”.

.........................................................

“Assim, do vazio do sábio surge a quietude:
Da quietude, a ação. Da ação, a realização.
Da sua quietude vem sua não-ação, que é também ação
E é, portanto, sua realização.
Pois a quietude é alegria. A alegria é isenta de preocupações,
Fértil por muitos anos.
A alegria faz tudo despreocupadamente:
O silêncio e a não-ação
Eis a raiz de todas as coisas” (1).
TZU, Chuang. “Ação e não-ação”. In: MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 106.

5

"Nós ocidentais temos a tendência de pensar o vazio como o nada, como algo completamente oco. Mas o pensamento originário de Chuang Tzu nos mostra que o vazio não é vazio. É um vazio cheio de possibilidades, de potencialidades, um vazio pleno, um vazio-todo, bem diferente do vazio-nada como o pensamento mecanicista do Ocidente percebe" (1).


Referência:
(1) ROCHA, Antônio Carlos Pereira Borba. "Diálogo com Chuang Tzu, hoje". In: Revista Tempo Brasileiro, 171 - Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro, out.-dez., 2007, p. 164.


6

A ideia de autor propalada desde a Modernidade é falha porque não se abre para o acontecer da realidade, entendendo esta como o que vigora. Se a denominamos, sempre impropriamente, de imaginação, silêncio, vazio, nada criativo, é porque como finitos temos sempre de nos mover no limite. Porém, o que nos caracteriza é justamente não ficarmos determinados pela finitude. Criar mesmo nunca criamos, não somos autores de nada, mas acontece em nós o advir ao sentido a própria realidade, o vazio de que nos fala o pensador. Mover-se na autoria é ainda ficar restrito à entificação subjetiva. Mas sem ser não há ente. Deve haver dialética entre língua e linguagem, entre silêncio e fala. O oleiro faz a jarra com o que a realidade lhe oferece, mas quem lhe dá sentido e acolhimento é o vazio. O poético é isso e é essencialmente dialético.


- Manuel Antônio de Castro


7

"Tanto os nós como as ligações precisam do “entre” enquanto identidade das diferenças. Uma tal faceta do “entre” aparece bem claramente na imagem-questão: rede. Uma tal faceta é o vazio, o silêncio. A rede sem o vazio/silêncio não se pode constituir como rede, ou seja, como “fios” e “nós”. A rede é uma doação do vazio e do silêncio. O vazio é o não-limite do silêncio e seu sentido. A língua enquanto código é a rede enquanto fios e nós. Mas assim como a rede precisa do vazio/silêncio, a língua precisa da linguagem. Por isso, a linguagem é a mãe de todas as línguas, assim como o vazio é a origem de todas as redes, de todos os códigos. E o silêncio é a origem de todas as falas e escutas, enquanto energia de sentido, verdade e mundo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 33.
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