Sabedoria

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A sabedoria é fundamentalmente [[abertura]], já que não se conjuga a partir de modelos paradigmáticos. Há muitos saberes dados pelas óticas que filtram nosso acometimento com algum [[saber]] específico, porém a sabedoria é uma constante inesgotável de percepção que se amplia conforme nos colocamos abertos. Podemos entender esta movimentação como tensão entre saber e não-saber, uma vez que não há o espaço do saber e o do não-saber ([[nada]]), mas uma captação mútua em que determinada dimensão se vela para que outra se manifeste simultaneamente.
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: "Um [[saber]] que sabe o que sabe e não-sabe foi denominado pelos [[poetas]] e [[pensadores]] [[originários]] e pelo [[mito]]: [[sabedoria]]. Ela inclui [[luz]]-[[razão]], [[clareira]]-Apolo, ''zoé''-Dioniso - [[sabor]] como vigorar da ''[[phýsis]]'',  enquanto [[saber]] E [[não-saber]], ou seja, a [[sabedoria]] é o [[sabor]] do [[saber]] E do [[não-saber]], do [[ser]] e do [[não-ser]], onde [[ser]] [[sabor]] é o [[sentido]] do [[existir]]" (1).
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:A [[percepção]] do que a visão nos proporciona recondiciona tanto a coisa vista quanto a nós mesmos, já que ao avistarmos algo nos percebemos neste avistamento. Então, a este contínuo trânsito entre não-saber e saber, chegamos à sabedoria enquanto caminhada: "Não posso saber o que é o Nada, mas posso saber que não sei. Se sei que não sei, não estou vencido. Ainda tenho o saber de meu não-saber. O auge da sabedoria não é o [[não-saber]] do saber, mas o saber do não-saber" (1).
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:- [[Fábio Santana Pessanha]]
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:(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Diana e Heráclito". In: ______. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 184.
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: Referência:
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Edição de 22h54min de 29 de Junho de 2019

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Sabedoria é uma postura essencial, mas não podemos confundi-la com um sistema de valores. Daí a profundidade de Heráclito quando diz sobre a sabedoria: "Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HERÁCLITO. Os pensadores originários. Sentença (Frag.) 112. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 89.

2

"Você sabe que podemos voar com asas: ainda não aprendemos a voar sem elas. Já nos familiarizamos com a sabedoria dos que sabem, mas ainda não nos familiarizamos com a sabedoria dos que não sabem" (1).


Referência:
(1) MERTON, Thomas. A via de Chuang Tzu. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 72.


3

A sabedoria é um tema muito rico. Há nela uma relação muito grande entre a possibilidade de a virtude ser ensinada: a questão da liberdade e a essência da sabedoria. Ética, sabedoria, liberdade e natureza se interrelacionam profundamente, mas Heidegger vai levar isso tudo para o campo do ser, enquanto verdade e sentido. A essência da sabedoria e da liberdade estão sintetizadas na misteriosa afirmação de Santo Agostinho: "Ama e faze o que quiseres".


- Manuel Antônio de Castro


4

A questão da sabedoria é inerente ao mito, à religião, à arte, à filosofia. Nessa última, toma uma forma especial: a ética, que não deve ser confundida com o ético. O ético é, originariamente, próprio do mito, do sagrado, da arte e do pensamento. Depois, toma o sentido geral de humanismo. Na filosofia pós-clássica tende a se tornar um saber. Porém, já na própria filosofia há a crítica em torno do saber, gerando a epistemologia e também os saberes setoriais como o da natureza e das paixões. Mas só no Renascimento se dá uma cisão maior, quando os saberes filosófico-científicos se separam dos ditos saberes metafísicos. Aqueles, além de racionais, asumem uma dimensão nitidamente físico-matemática, abarcando campos de conhecimento sem uma preocupação de sabedoria. Essa evolução tem enormes conseqüências para o mito que é negado, para a religião, que é negada (morte de Deus) e para a arte, em que a crítica assume uma faceta científica, destruindo na arte aquilo que lhe é próprio. Isso gerou uma indagação de Harold Bloom: "Nos dias de hoje, a informação é facilmente encontrada, mas onde está a sabedoria?" (1). Há na tecnociência uma incompatibilidade com a sabedoria, daí a dificuldade de lhe atribuir um sentido ético.


Referência:
(1) BLOOM, Harold. Como e por que ler?. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 15.


8

"Muito saber não ensina sabedoria, pois teria ensinado a Hesíodo e Pitágoras, a Xenófanes e Hecateu" (1).


Referência:
(1) ANAXIMANDRO et alii. Os pensadores originários. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1981, p. 69.


9

"Um saber que sabe o que sabe e não-sabe foi denominado pelos poetas e pensadores originários e pelo mito: sabedoria. Ela inclui luz-razão, clareira-Apolo, zoé-Dioniso - sabor como vigorar da phýsis, enquanto saber E não-saber, ou seja, a sabedoria é o sabor do saber E do não-saber, do ser e do não-ser, onde ser sabor é o sentido do existir" (1).


Referência:

10

A sabedoria é o sabor do amor a tudo unindo: terra, céu, corpo, mundo, sentido e verdade.


- Manuel Antônio de Castro

11

"Olha, meu querido Govinda, entre as ideias que se me descortinaram encontra-se esta: a sabedoria não pode ser comunicada. A sabedoria que um sábio quiser transmitir sempre cheirará a tolice" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 117.

12

"Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la" (1).


Referência:
(1) HESSE, Hermann. Sidarta. Trad. Herbert Caro. Rio de Janeiro: O Globo, 2003, p. 117.


13

"A sabedoria, em princípio, constitui-se a partir de um reconhecimento de que nada se sabe. O "sei que nada sei" socrático conduz-nos à esfera das possibilidades de realizações. É esvaziando-me de todo saber que posso liberar-me para a possibilidade de uma experiência com a própria sabedoria. Saber aqui não implica conhecer muitas coisas, mas simplesmente nascer com o real em seu processo de realização" (1).


- Referência:
(1) COSTA, Affonso Henrique Vieira da. "Acerca da ação, da dialética e da educação em Sócrates". In: Revista Tempo Brasileiro, 192: Dialética em questão I. Rio de Janeiro, jan.-mar., 2013, p. 42.


14

Os gregos distinguiram quatro tipos de movimento: 1º o local, a mudança de lugar; 2º o movimento quantitativo: o aumento e diminuição; 3º o qualitativo ou alteração; 4ºo substancial: a geração e a corrupção. Se pensarmos todos esses movimentos numa única questão, na união de ser e saber, de lógos e poíesis, teremos a questão fundamental da sabedoria. Esta é a questão que atravessa mito, poíesis e filosofia. E então joga o ser humano no horizonte do sagrado, onde o ser do ser humano acontece.


- Manuel Antônio de Castro

15

"É bem necessário serem os homens amantes da sabedoria para investigar muitas coisas" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 35. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 67.


16

"Pensar é a maior coragem, e a sabedoria, acolher a verdade e fazer com que se ausculte ao longo do vigor" (1).


Referência:
(1) HERÁCLITO. Fragmento 112. In: Os pensadores originários - Anaximandro, Parmênides, Heráclito. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Petrópolis: Vozes, 1991, p. 89.


17

"A sabedoria pela qual se alcança a felicidade está em agir para ser e ser para agir. O agir essencial é o saber que se é. Sabedoria não é, pois, um conhecimento que a mais refinada techne me propicie. Também não é o simples nascer-conhecer. Sabedoria é o empenho pelo que já desde sempre se é, e o agir é saber e saber é ser, sendo o mesmo, embora não sejam a mesma coisa. Se não somos, nem podemos agir" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 193.
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