Máscara

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Tabela de conteúdo

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O homem moderno é concebido em duas tendências: ou subjetividade psicológica, ou através das leis estabelecidas pela ciência que podem ser naturais, sociais, econômicas, culturais etc. É nessa tensão que se dá a personalidade. Esta vem de persona, palavra grega usada no teatro para nomear a máscara que o ator usava no palco quando desempenhava um papel e encarnava determinada personagem. Há aí uma construção do homem de cunho metafísico, baseada na aparência e no falso, a persona, ou seja, que parece ser, mas não é, desempenha um papel, isto é, uma personagem. Nota-se facilmente que a persona nomeia um agir aparente, que não corresponde à essência do que se é. As ações e valores de um ator e/ou atriz não são, necessariamente, as ações e valores dos personagens que representa. Às vezes são o contrário, mas o agir e valores da personagem exigem que mostre essas aparências. Por outro lado, isso gera um paradoxo no ator e/ou atriz, porque muitas vezes há a tendência de o ator passar a viver uma vida dupla na tensão de ser e parecer, de ser e não ser.
O famoso Diretor de cinema Ingmar Bergman, tematiza esse paradoxo no seu famoso filme Depois do ensaio. E ainda mais expressamente no filme Persona. Nele reflete sobre a essência da máscara, além, claro, de tematizar outras questões essenciais.


Manuel Antônio de Castro.

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Também Riobaldo não é um personagem ficcional. Tanto o leitor como o personagem-Riobaldo só são ficção enquanto obra poética, um figurar da verdade em seu acontecer, manifestando e velando. Enquanto verdade, nas verdadeiras obras poéticas, manifesta, desvela e vela, por isso personagem forma-se da palavra latina persona e diz, em seu significado original na língua latina: “máscara”, aquilo que parecemos ser e não somos, em verdade, só em aparência é que somos. Mas isso revela uma faceta de nossa personalidade. É uma questão complexa, porque há também um jogo entre consciente e inconsciente. Por isso os grandes autores nas suas obras poéticas remetem a questão para o "espelho". Esse jogo pode aparecer também entre o ver e o não ver, como acontece no caso exemplar de Édipo. Por detrás destas questões de consciente e inconsciente, de ser e parecer e/ou aparecer, de ver e não-ver, surge a questão decisiva da essência do agir. Qual o motivo que nossas ações verdadeiramente ocultam? Em todo ver há de algum modo já um saber e, claro, um não saber. Os gregos em suas obras poéticas nomearam tudo isso nossa Moira ou destino.


- Manuel Antônio de Castro.

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"Os relacionamentos tendem muito mais para o estar sem ser, daí a geração social das máscaras, a face com que tendemos a nos olhar, sem nos vermos, conhecermos e pensarmos. E toda representação é máscara. E até podemos nos perguntar: será que o relacionamento afetivo não tende em princípio e no começo a se guiar pelas máscaras? Dar-se a ver e ver-se neste dar-se não é algo que se dá de repente. É necessário o cultivo e disciplina do aprender a pensar, para ser o que se vê e pensa" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 26.

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"O máximo da aprendizagem do aprender a pensar, o que sempre procuramos, o penhor que procuramos em todos os nossos empenhos, é o próprio, pois este consiste simplesmente em saber que não-sabemos. Que não-sabemos em tudo que sabemos nos convida e impulsiona para o saber do nada, fonte inesgotável da vida de cada e de todos os viventes. Eis o motivo do motivo. Nesse sentido, o próprio jamais é o conjunto de conhecimentos com que se vai constituindo cada eu, acumulando-se em máscaraspersona - que encobrem e dificultam a constante realização das possibilidades de ser. Ser próprio é o aprender a viver enquanto o saber de saber-se como o a-ser-pensado. Só sabendo renunciar a todo acúmulo de conhecimentos, pelo aprender a pensar, é que poderemos saborear o nada, a plena liberdade do sem limites" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Ser e pensar: o aprender". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 63.
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