Não ver

De Dicionário de Poética e Pensamento

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A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. Sem luz não há claridade nem escuridão. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio da luz. Portanto, a luz é o princípio de tudo, pois dela provêm tanto a claridade quanto a escuridão. E o silêncio é essa energia de plenitude e origem de sentido e verdade em que se constitui originariamente a luz. Como origem de tudo, a luz pode-se mostrar como desvelamento e velamento, como claridade e escuridão. É neste e somente neste horizonte que podemos diferenciar olhar e ver. Podemos olhar tudo e não ver nada. Nesta diferença está a essência do ver porque ele remete para a essência da luz. E é neste sentido que para o grego a luz é o princípio de tudo. Portanto, ver nos diz já originariamente o estar experienciando o princípio de tudo em tudo que se olha. Só assim podemos não apenas olhar, mas, ao mesmo tempo, ver. Para tal dimensão remete a passagem do conto de Rosa "Nada e a nossa condição", no livro Primeiras estórias (1). Dessa maneira, em todo ver e/ou olhar já vigora sempre o não-ver.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) ROSA, João Guimarães. "Nada e a nossa condição". In: ------. Primeiras estórias. 3. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1967, p. 89.
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