Paradigma

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "A [[palavra]] [[paradigma]] se forma do grego: ''pará'': de parte de; [[entre]]; durante, por causa de; e do [[verbo]] ''deiknymi'': mostrar, fazer [[ver]]; [[produzir]]; fazer [[conhecer]]; [[revelar]]; pôr sob os olhos de alguém. O [[paradigma]] conjuga então duas [[dimensões]]: é um fazer [[ver]], [[conhecer]], [[mostrar]], mas num [[entre]], durante, por causa de, numa [[liminaridade]]" (1). Previamente, algo se dá a [[ver]] e a [[conhecer]], e se cria um [[conhecimento]] através do qual se desvela ou representa o que se mostra. Sem algo se [[mostrar]] não pode ser visto e, portanto, serem criados os [[paradigmas]]. Não há [[paradigma]] sem o que se dá a [[ver]]. E o que se dá a [[ver]] é que possibilita ultrapassar e [[criar]] novos [[paradigmas]]. Quando o [[paradigma]] se autonomiza como [[representação]], ele se torna [[modelo]] de [[compreensão]]  da [[realidade]], contrariando a própria [[dinâmica]] da [[realidade]] em sua [[verdade]], pois tanto mais se dá a [[ver]] quanto mais se vela. O que se dá a [[ver]] e se vela é, para os gregos, a ''[[physis]]''; para nós, a [[realidade]]. Para [[mostrar]] o que se dá a [[ver]] (a [[realidade]], a ''[[physis]]''), o [[ser humano]] recebe da própria ''[[physis]]'' duas [[dimensões]] que o constituem, circunscrevem e determinam: o [[conhecimento]] (''[[nous]]'', em grego) e a [[linguagem]] (''[[logos]]'', em grego). O ''[[nous]]'' é um [[conhecimento]] pré-compreensivo, que permite [[ver]] o não visto ([[teoria]]). E ele pode ser dito porque somos constituídos pelo ''[[logos]]'', a [[linguagem]], (daí ser [[próprio]] do [[ser-humano]] formular [[teorias]], ou seja, [[paradigmas]]).

Edição de 00h01min de 16 de Dezembro de 2018

Tabela de conteúdo

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"A palavra paradigma se forma do grego: pará: de parte de; entre; durante, por causa de; e do verbo deiknymi: mostrar, fazer ver; produzir; fazer conhecer; revelar; pôr sob os olhos de alguém. O paradigma conjuga então duas dimensões: é um fazer ver, conhecer, mostrar, mas num entre, durante, por causa de, numa liminaridade" (1). Previamente, algo se dá a ver e a conhecer, e se cria um conhecimento através do qual se desvela ou representa o que se mostra. Sem algo se mostrar não pode ser visto e, portanto, serem criados os paradigmas. Não há paradigma sem o que se dá a ver. E o que se dá a ver é que possibilita ultrapassar e criar novos paradigmas. Quando o paradigma se autonomiza como representação, ele se torna modelo de compreensão da realidade, contrariando a própria dinâmica da realidade em sua verdade, pois tanto mais se dá a ver quanto mais se vela. O que se dá a ver e se vela é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o conhecimento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é um conhecimento pré-compreensivo, que permite ver o não visto (teoria). E ele pode ser dito porque somos constituídos pelo logos, a linguagem, (daí ser próprio do ser-humano formular teorias, ou seja, paradigmas).


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 18.

2

A questão é constituída de uma pergunta e de uma resposta, a partir de e sobre a realidade (sem adjetivos). As diferentes respostas – teorias - tornam-se paradigmas da realidade. A questão diz sempre respeito à realidade e o paradigma diz sempre respeito a uma determinada teoria ou visão da realidade como resposta à questão. É deste complexo que surgiram e surgem ainda as correntes críticas. E também surgem as épocas. Cada época é sempre um certo paradigma ou modelo de ler e apreender o acontecer da realidade, ou seja, a realidade enquanto tempo se dá a conhecer e este conhecer se configura numa época, ou seja, num paradigma. Como o acontecer da realidade nunca para, devemos distinguir cada época, enquanto acontecer, do acontecer poético. Este é aquele que, de alguma maneira, participa também de um paradigma, mas vai além dele porque apreende não só o que se manifesta, mas igualmente a realidade em sua dinâmica (acontecer) de velar-se, matriz de novos acontecimentos. A verdadeira obra de arte é aquela que jamais se deixa reduzir a um paradigma. Ela nos remete para o enigma do tempo desdobrando-se em linguagem e sentido, incessantemente. Heráclito diz isto na sentença 123, quando nos provoca a pensar: "O nascer incessante ama desvelar-se, velando-se" (Physis kryptestai philei ").


- Manuel Antônio de Castro

3

"Paradigma é uma palavra múltipla. Talvez mais que múltipla é uma palavra flexível. Para as mais diferentes situações, empregamos tranquilamente a palavra paradigma. Sem suscitar contradições. Ela aceita como sinônimos diversas outras: modelo, sistema, estrutura, cânone. Daí talvez a sua ambiguidade" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 188.


4

"Se podemos nos aproximar da história através do próprio conceito de paradigma, não podemos deixar de afirmar também que os paradigmas são históricos, pois não há um paradigma só. Realmente, podemos falar de paradigmas no plural. Nas diferenças destes entrelaçamentos, o que fica em questão é: Como se opera a mudança num e noutro conceito. Seja como for, na relação história e paradigma, a explicação das próprias mudanças históricas se faz segundo um determinado paradigma. Fica claro que se se muda o paradigma, a história passa a ser outra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Paradigma e identidade". In: ------. Tempos de Metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 189.
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