Moira

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 20h38min de 8 de Julho de 2019 por Profmanuel (Discussão | contribs)

Tabela de conteúdo

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Moira nunca é uma questão de escolha da vontade, mas uma questão de ser possuído pelo extraordinário e é neste "ser possuído" que se dá o acontecer poético. Não é o ser tomado pelo extraordinário uma questão de êxtase ou de êntase repentino, mas é o próprio acontecer poético longa e essencialmente amadurecendo e tomando corpo. É aion desdobrado na tensão poética de kronos e kairós ao longo do suceder das estações e suas horas.


- Manuel Antônio de Castro

2

"O ser humano, desde Édipo - o mito imemorial que pensa o humano e seu sentido no que lhe é próprio em sua essência sócio-político-histórica - sempre teve a pretensão de ser o sujeito das suas escolhas e realizações. A Moira sorri, em silêncio, diante de tais pretensões, deixando-o iludir-se, em seu pseudo-poder racional de dar-se a existência, segundo a liberdade fundada na sua vontade. É uma ilusão que custa caro e gera o sofrimento de muitos fracassos inúteis" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eduardo Portella, o professor". In: Quatro vezes vinte - Eduardo Portella - Depoimentos. Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012, p. 40.

3

"Como é possível o agir em nós? Não estamos, já desde o início, constituídos na perfeição do nosso ser pelos princípios do ser e da essência? Ou como diz o mito: ao nascer já recebemos desde sempre nossa moira. Mal traduzida como destino, no sentido de fatalidade, de fato, diz: possibilidades próprias de realização"(1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O ser, o agir e o humano". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 33.


4

"O mito é julgado e descartado a partir do logos, reduzido à razão. E o mito sempre falou do ser humano como pertencente a um genos (de onde se forma a palavra moderna genética). Indicava uma família, um gênero (formada também de genos), uma etnia. Como família tinha algo em comum, o genos, mas cada um dentro desse genos recebia um quinhão, a sua “cota” no genos da família. O nome para esse quinhão foi e é: Moira. A tradução mais tradicional não é quinhão, mas destino" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Poético-ecologia". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 26.


5

"A palavra grega moira provém do verbo meiresethai, obter ou ter em partilha, obter por sorte, repartir, donde Moira é parte, lote, quinhão, aquilo que a cada um coube por sorte, o destino. Associada a Moira tem-se, como seu seu sinônimo, nos poemas homéricos, a voz árcado-cipriota, um dos dialetos usados pelo poeta, Aisa. Note-se logo o gênero feminino de ambos os termos, o que remete à ideia de fiar, ocupação própria da mulher: o destino, simbolicamente, é "fiado" para cada um" (1).


Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega, vol. I. Petrópolis/RJ: Vozes, 1986, p. 140.


6

"As Moiras são a personificação do destino individual, da "parcela" que toca a cada um. Originariamente, cada ser humano tinha a sua moira, "sua parte, seu quinhão", de vida, de felicidade, de desventura. Personificada, Moira se tornou uma divindade muito semelhante às Queres (v.)...Impessoal e inflexível, a Moira é a projeção de uma lei que nem mesmo Zeus pode transgredir, sem colocar em perigo a ordem do cosmo" (1).


Referência:
(1) BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário mítico-etimológico da Mitologia Grega, volume II, J-Z, 3.e. Petrópolis/RJ: Vozes, 2000, p. 141.
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