Ente

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "De todas as [[coisas]] [[eu]] posso [[perguntar]]: o que “[[é]]”?  O que “[[é]]” isto?  O que “[[é]]” aquilo?  Também posso [[perguntar]] por [[tudo]] de uma só vez: o que “[[é]]” isto [[tudo]]?  O que “[[é]]” a [[totalidade]] e a [[unidade]] de [[tudo]] aquilo sobre o que posso [[perguntar]]?  [[Nada]] de [[tudo]] o que é pode fugir à [[possibilidade]] de [[ser]] perguntado se “[[é]]” e o que “[[é]]”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “[[é]]”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela [[é]] entra neste seu “[[é]]”.  E também posso [[perguntar]] para além de todos os [[limites]] por [[tudo]] [[simplesmente]], e [[sempre]] de novo esta [[pergunta]] será sobre o “[[é]]” de [[tudo]] o que ultrapassa os [[limites]] imagináveis.  Significa que [[tudo]] aquilo a que posso dirigir minha [[pergunta]] - e isto significa [[tudo]] o que “[[é]]” de uma ou de outra [[forma]] - tem sua [[unidade]] [[fundamental]] no [[fato]] de que “[[é]]”; de cada [[coisa]] da [[realidade]] em [[particular]] e da [[realidade]] como [[totalidade]], devo [[dizer]] que é perguntável por seu “[[é]]”. Ora, o que “[[é]]”, nós chamamos de [[ente]]" (1).
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
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: "Ora, todos os [[entes]] não concordam nisto de que são isto ou aquilo segundo uma grande [[variedade]], mas nisto que todos “são”, ou seja de que de cada um posso [[dizer]] que “[[é]]”.  Por isto [[perguntar]] pelo [[ente]] enquanto [[ente]] significa [[perguntar]] por aquilo pelo qual o ente “[[é]]”, pelo qual um [[ente]] [[é]] um [[ente]].  Ora, [[ente]] [[é]] [[ente]] pelo [[fato]] de que ele “[[é]]”.  Assim podemos finalmente [[dizer]], [[ente]] é [[ente]] por virtude do [[ser]]" (1). Aqui se coloca a [[questão]] da [[identidade]] e da [[diferença]]. Para não cair no [[abstrato]] do [[conceito]] é [[necessário]] manter sempre o [[vigorar]] e a [[questão]] da [[proximidade]] e da [[distância]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
: (1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. ''Metafísica''. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

Edição de 20h59min de 20 de Junho de 2020

Tabela de conteúdo

1

A palavra ente, em português, provém do particípio presente latino do verbo esse: ens, entis. É, portanto, uma forma verbal em sua origem. E ela traduz o particípio presente do verbo einai (ser), em grego: on. Ente (on), particípio presente do verbo ser (em grego eínai), é entendido tanto como substantivo quanto como verbo. Ente significa o que se apresenta, o que se realiza. E o que se apresenta remete para duas dimensões: a) verbo; b) substantivo. Como substantivo é o positum (posto). Na consideração do positum não se leva em conta o verbo, a apresentação, ou seja, uma dinâmica relacional/referencial que pres-supõe a dis-posição e que remete para a quaternidade (em alemão Geviert). O ob-jeto (o posto diante de) é: 1o. relacional (ao sujeito); 2o. apresentativo. A concepção do ob-jeto como algo fixo do conhecimento não leva em conta a inter-subjetividade nem o caráter verbal e muito menos a Physis / Logos. Mas sem physis e logos não há ente nem sua percepção como logos. Daí a tradução do on como coisa ou ente não poder ser reduzida a um conceito nem subjetivo nem objetivo. Ele, como tal, sempre se retrai ao assédio dos conceitos. A outra tradução do on como res/coisa, de onde se originou a palavra realidade, deve nos levar e ver nesta algo dinâmico, verbal e não somente como algo já posto e disposto.


- Manuel Antônio de Castro.

2

Entificar é esquecer o sentido do ser. Esquecer o sentido do ser é reduzir o ser ao ente e a língua a código. Daí surge também a substituição do sentido pelo significado, este é o sentido sem a linguagem e seu vigorar, ou seja, a mera representação do que é, uma vez que foi reduzido a ente.


- Manuel Antônio de Castro

3

O ser humano pela instrumentalização da razão tende a entificar tudo, sobretudo o fundamento a que se reduziu a realidade. Toda conceituação é representação e entificação. A realidade é sem fundamento. Ela funda os fundamentos, os suportes, mas sem se fundamentar. Realidade é o vigorar e acontecer do fundar.


- Manuel Antônio de Castro.

4

Surpreendemo-nos então numa con-juntura de questão: nós, seres humanos, isto é, cada sendo, só é e pode ser no, com e a partir do ser. Porém, o ser não é, pois se fosse seria ente e não ser. Ente diz todo sendo em com-posição. Composição diz todo estar sendo. Todo estar é o ser se dando em posição, ou seja, vigorando no ente. O ser se dá em posição na medida do seu vigorar como linguagem, isto é, enquanto lógos.


- Manuel Antônio de Castro.

5

"O ser não pode ser. Se fosse, já não seria ser, mas um ente. Contudo, o primeiro pensador que pensou o ser, Parmênides, não diz: Esti gar einai" (frag. 6)? Há, de fato, ser e está presente o ser presente. Temos que pensar que se, efetivamente, no einai, o ser presente, está falando a aletheia, o desvelar-se, acentuado no esti e dito do einai, é : o deixar que venha à presença. Ser: na realidade o que permite a presença"(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. In: A tese de Kant sobre o ser. Trad. Helena Cortés e Arturo Leyte. Madri: Alianza Editorial, 2007, p. 387. (Tradução do espanhol: Manuel Antônio de Castro).

6

Distinguir ser e ente não é fácil, tratando-se do pensamento grego. É sobretudo uma questão de pensamento e tradução. Vejamos. Em Carta sobre o humanismo, à p. 24 diz Heidegger: "Por isso, em sentido próprio, só pode ser consumado o que já é. Ora, o que é, antes de tudo, é o Ser ". Porém, na mesma obra à p. 56 esclarece: "O gibt (dá) evoca a Essência do Ser, que se doa, concedendo a sua Verdade. O dar-se a si mesmo com a abertura à abertura é o próprio Ser. Ao mesmo tempo, emprega-se o es gibt (se dá), para evitar, por enquanto, a locução: o Ser é; pois o é se diz comumente daquilo que é. E a isso chamamos ente" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Sobre o humanismo. Trad. Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 56.


7

"Só no plano do ente e porque somos entes é que somos, necessariamente, mortais. E ser mortal diz exatamente isso: experienciarmos como entes ser o ser do não-ente, pois todo sendo é e não é, daí estar sendo sem jamais chegar a ser como sendo o ser do sendo. O ser do não-ente não é mortal porque não é. Se fosse, seria ente e não o ser de todo não-ente. O ser não é.


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 210.

8

"De todas as coisas eu posso perguntar: o que “é”? O que “é” isto? O que “é” aquilo? Também posso perguntar por tudo de uma só vez: o que “é” isto tudo? O que “é” a totalidade e a unidade de tudo aquilo sobre o que posso perguntar? Nada de tudo o que é pode fugir à possibilidade de ser perguntado se “é” e o que “é”. E enquanto ela é perguntável justamente por seu “é”, ela é de todo perguntável, pois todo o que ela é entra neste seu “é”. E também posso perguntar para além de todos os limites por tudo simplesmente, e sempre de novo esta pergunta será sobre o “é” de tudo o que ultrapassa os limites imagináveis. Significa que tudo aquilo a que posso dirigir minha pergunta - e isto significa tudo o que “é” de uma ou de outra forma - tem sua unidade fundamental no fato de que “é”; de cada coisa da realidade em particular e da realidade como totalidade, devo dizer que é perguntável por seu “é”. Ora, o que “é”, nós chamamos de ente" (1).


Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.

9

"Ora, todos os entes não concordam nisto de que são isto ou aquilo segundo uma grande variedade, mas nisto que todos “são”, ou seja de que de cada um posso dizer que “é”. Por isto perguntar pelo ente enquanto ente significa perguntar por aquilo pelo qual o ente “é”, pelo qual um ente é um ente. Ora, ente é ente pelo fato de que ele “é”. Assim podemos finalmente dizer, ente é ente por virtude do ser" (1). Aqui se coloca a questão da identidade e da diferença. Para não cair no abstrato do conceito é necessário manter sempre o vigorar e a questão da proximidade e da distância.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.