Cálculo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: - LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Crença, fé e teoria na filosofia". In: Revista Tempo Braileiro 186, ''Cláudio Magris'': 125-132, jul.-set., 2011, p.129.
: - LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Crença, fé e teoria na filosofia". In: Revista Tempo Braileiro 186, ''Cláudio Magris'': 125-132, jul.-set., 2011, p.129.
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: A [[prática]] vai levar a [[metáfora]] do [[relógio]]/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às [[reduções]] que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que [[determina]] [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] ''[[criador]]''.  E vamos ter as seguintes [[reduções]]:
: A [[prática]] vai levar a [[metáfora]] do [[relógio]]/[[tempo]] para todas as esferas da [[realidade]]/[[natureza]]. Temos de ficar atentos às [[reduções]] que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da [[preocupação]] [[ontológica]] com ''o que é'' e o foco único ''no como é'', mas não mais relacionado a ''o que é''. Agora ''o como é'' diz respeito a ''o como se conhece''. É este em última [[instância]] que [[determina]] [[tudo]], pois [[tudo]] será [[objeto]] do [[conhecimento]] que se torna o [[verdadeiro]] [[sujeito]], o [[verdadeiro]] ''[[criador]]''.  E vamos ter as seguintes [[reduções]]:
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: ''[[Ente]] > [[obra]] > [[relógio]]/[[organismo]]>[[corpo]]''. Por isso não se fala mais em [[ente]] nem em [[obra]] nem em [[corpo]], mas se falará sempre e para [[tudo]] em [[objeto]]. No lugar da ''[[Ontologia]]'' vamos ter na [[Modernidade]] a ''[[Epistemologia]]''. E no lugar da ''[[Poética]]'' vamos ter a ''[[Estética]]''  E cada [[objeto]]/[[corpo]]/[[máquina]]/[[organismo]] é [[objeto]] de um [[conhecimento]], submetido à [[razão]] [[crítica]], que [[fundamenta]] ''o como se conhece''. Surgem as [[disciplinas]] e seus [[objetos]] de [[conhecimento]]. Isso tanto no plano [[singular]] quanto no plano das [[entidades]] [[coletivas]], como o [[Estado]], a [[Sociedade]], as [[Épocas]]. Daí a [[história]] [[estar]] submetida [[radicalmente]] à [[cronologia]]. Aliás, [[tudo]] ficará submetido à [[cronologia]]/[[tempo]]. [[Conhecer]] a partir do [[tempo]]/[[cronologia]] é uma [[questão]] de [[medição]]/[[cálculo]]. No fundo, [[tudo]] estará submetido ao [[tempo]]. Mas este passa a [[ser]] ''o que é acessível à [[medição]]/[[cálculo]]''. Disso se encarregam as [[diferentes]] [[disciplinas]] que para tal são criadas. Porém, o [[princípio]] de [[medição]] que dará o [[verdadeiro]] [[conhecimento]] será o efetuado a partir do que se opera pela [[matemática]], base  de todo  cálculo, a [[possibilidade]] de [[aprender]] e [[ser]] [[ensinado]].
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: ''[[Ente]] > [[obra]] > [[relógio]]/[[organismo]]>[[corpo]]''. Por isso não se fala mais em [[ente]] nem em [[obra]] nem em [[corpo]], mas se falará sempre e para [[tudo]] em [[objeto]]. No lugar da ''[[Ontologia]]'' vamos ter na [[Modernidade]] a ''[[Epistemologia]]''. E no lugar da ''[[Poética]]'' vamos ter a ''[[Estética]]''  E cada [[objeto]]/[[corpo]]/[[máquina]]/[[organismo]] é [[objeto]] de um [[conhecimento]], submetido à [[razão]] [[crítica]], que [[fundamenta]] ''o como se conhece''. Surgem as [[disciplinas]] e seus [[objetos]] de [[conhecimento]]. Isso tanto no plano [[singular]] quanto no plano das [[entidades]] [[coletivas]], como o [[Estado]], a [[Sociedade]], as [[Épocas]]. Daí a [[história]] [[estar]] submetida [[radicalmente]] à [[cronologia]]. Aliás, [[tudo]] ficará submetido à [[cronologia]]/[[tempo]]. [[Conhecer]] a partir do [[tempo]]/[[cronologia]] é uma [[questão]] de [[medição]]/[[cálculo]]. No fundo, [[tudo]] estará submetido ao [[tempo]]. Mas este passa a [[ser]] ''o que é acessível à [[medição]]/[[cálculo]]''. Disso se encarregam as [[diferentes]] [[disciplinas]] que para tal são criadas. Porém, o [[princípio]] de [[medição]] que dará o [[verdadeiro]] [[conhecimento]] será o efetuado a partir do que se opera pela [[matemática]], base  de todo  [[cálculo]], a [[possibilidade]] de [[aprender]] e [[ser]] [[ensinado]].
: - [[Manuel Antônio de Castro]].
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: "Por toda a [[parte]] somos hoje um [[pensamento que calcula]]. E calcula com sempre maiores [[possibilidades]], com [[possibilidades]] cada vez mais abrangentes. [[Progressivamente]] o [[pensamento]], que calcula, pula com sucesso de um campo para outro. Passa de chance em chance. O [[pensamento que calcula]] não pode parar. Nunca chega à [[serenidade]] do [[sentido]]. O [[pensamento]], que calcula, não é um [[pensamento]] do [[sentido]], um [[pensamento]] que pensa o [[sentido]] de si mesmo ou de qualquer outra [[coisa]]" (1).
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: (1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. ''Aprendendo a pensar''. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.
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: "... no [[Egito]], houve um velho [[deus]]  deste [[país]], [[deus]] a quem é consagrada a ave que chamam ''[[íbis]]'', e a quem chamavam ''[[Thoth]]''. Dizem que foi ele quem [[inventou]] os [[números]] e o [[cálculo]], a [[geometria]] e a [[astronomia]], bem como o [[jogo]] das damas e dos dados e, finalmente, fica sabendo, os [[caracteres]] [[gráficos]] ([[escrita]])" (1).
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: (1) PLATÃO. ''Fedro''. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, ''Les Belles Lettres'', 1966.  Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 120, 274c.
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: "Qual é a [[essência]] da [[sabedoria]]? Ela estará [[radicalmente]] ligada ao [[poético]] e [[ético]] do [[humano]]. E este não pode [[ser]] ensinado, só experienciado. E isso as [[análises]] das [[obras de arte]] nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o [[poético]] e [[ético]] para se criar um [[conhecimento]] [[crítico]] [[objetivo]]-[[científico]], resultante da [[análise]] [[crítica]]. A [[medida]] do [[real]] para a [[ciência]] tornou-se o [[calculável]]. O [[cálculo]] [[racional]] é a [[medida]] da tecno-ciência. O [[humano]] é sem [[medida]] [[calculável]]. A sua [[medida]] é [[outra]]. A sua [[medida]] é o [[poético]]" (1).
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: Referência:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.

Edição atual tal como 22h51min de 3 de Novembro de 2020

Tabela de conteúdo

1

"Do ponto de vista dos conteúdos vividos, crença diz pulsão de repetir, diz constância de relações, teoria diz cálculo de operações. Do ponto de vista das atitudes de andamento, crença inclui adesão, implica fidelidade e teoria abrange objetivações. São três vertentes que se excluem mutuamente nos processos de fazer e agir, mas que a vida reúne, dialeticamente, nas posições e situações existenciais" (1).


Referência:
- LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Crença, fé e teoria na filosofia". In: Revista Tempo Braileiro 186, Cláudio Magris: 125-132, jul.-set., 2011, p.129.

2

A prática vai levar a metáfora do relógio/tempo para todas as esferas da realidade/natureza. Temos de ficar atentos às reduções que se vão operando. A mais complexa é aí o abandono da preocupação ontológica com o que é e o foco único no como é, mas não mais relacionado a o que é. Agora o como é diz respeito a o como se conhece. É este em última instância que determina tudo, pois tudo será objeto do conhecimento que se torna o verdadeiro sujeito, o verdadeiro criador. E vamos ter as seguintes reduções:
Ente > obra > relógio/organismo>corpo. Por isso não se fala mais em ente nem em obra nem em corpo, mas se falará sempre e para tudo em objeto. No lugar da Ontologia vamos ter na Modernidade a Epistemologia. E no lugar da Poética vamos ter a Estética E cada objeto/corpo/máquina/organismo é objeto de um conhecimento, submetido à razão crítica, que fundamenta o como se conhece. Surgem as disciplinas e seus objetos de conhecimento. Isso tanto no plano singular quanto no plano das entidades coletivas, como o Estado, a Sociedade, as Épocas. Daí a história estar submetida radicalmente à cronologia. Aliás, tudo ficará submetido à cronologia/tempo. Conhecer a partir do tempo/cronologia é uma questão de medição/cálculo. No fundo, tudo estará submetido ao tempo. Mas este passa a ser o que é acessível à medição/cálculo. Disso se encarregam as diferentes disciplinas que para tal são criadas. Porém, o princípio de medição que dará o verdadeiro conhecimento será o efetuado a partir do que se opera pela matemática, base de todo cálculo, a possibilidade de aprender e ser ensinado.


- Manuel Antônio de Castro.

3

"Por toda a parte somos hoje um pensamento que calcula. E calcula com sempre maiores possibilidades, com possibilidades cada vez mais abrangentes. Progressivamente o pensamento, que calcula, pula com sucesso de um campo para outro. Passa de chance em chance. O pensamento que calcula não pode parar. Nunca chega à serenidade do sentido. O pensamento, que calcula, não é um pensamento do sentido, um pensamento que pensa o sentido de si mesmo ou de qualquer outra coisa" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.

4

"... no Egito, houve um velho deus deste país, deus a quem é consagrada a ave que chamam íbis, e a quem chamavam Thoth. Dizem que foi ele quem inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, bem como o jogo das damas e dos dados e, finalmente, fica sabendo, os caracteres gráficos (escrita)" (1).


Referência:
(1) PLATÃO. Fedro. 5. e. Trad. Pinharanda Gomes. Texto grego estabelecido por Léon Robin, Paris, Les Belles Lettres, 1966. Lisboa: Guimarães Editores, 1994, p. 120, 274c.

5

"Qual é a essência da sabedoria? Ela estará radicalmente ligada ao poético e ético do humano. E este não pode ser ensinado, só experienciado. E isso as análises das obras de arte nunca podem conseguir. Nelas, destrói-se o poético e ético para se criar um conhecimento crítico objetivo-científico, resultante da análise crítica. A medida do real para a ciência tornou-se o calculável. O cálculo racional é a medida da tecno-ciência. O humano é sem medida calculável. A sua medida é outra. A sua medida é o poético" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 131.