Poíesis
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 22h16min de 15 de Outubro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- "Também a phýsis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma pro-dução, é poíesis. A phýsis é até a máxima poíesis. Pois o vigente da phýsis tem em si mesmo o eclodir da produção. Enquanto o que é pro-duzido pelo artesanato e pela arte, por exemplo, o cálice de prata, não possui o eclodir da pro-dução em si mesmo, mas em um outro, no artesão e no artista" (1). Mas o artista só tem em si a poíesis na medida em que ele é o que ele é no vigorar do ser. A obra de arte opera na medida em que ela contém em si a poíesis, o vigorar da phýsis enquanto mediação, medida, linguagem.
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "A questão da técnica". In: -----. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 16.
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- Poíesis é o vigorar da mediação como medida de tudo que é e não-é. O vigorar da medida denominou-se em grego logos, sendo uma tradução possível para o português linguagem. Por isso a poíesis se torna em arte a medida de toda obra uma vez que ela opera o manifestar a realidade e o humano de todo ser humano no e enquanto diálogo.
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- A melhor frequentação do silêncio nos advém da poíesis, das produções poéticas. A poíesis é o sentido de toda fala, porque a poíesis é o próprio silêncio vigorando. A poíesis é a sabedoria da fala do silêncio.
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- "A palavra grega “poíesis”, que gerou a palavra portuguesa poesia, em sentido amplo, não diz originariamente uma atividade cultural entre outras. Na e pela “poíesis” o próprio real se destina no homem para que este o realize numa plenitude que o próprio real por si não realiza. Na e pela “poíesis”, o próprio real se constitui como linguagem, mundo, verdade, sentido, tempo e história, em qualquer cultura" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Apresentação". In: Manuel Antônio de Castro, (org.). Arte: corpo, mundo e terra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 12.
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- "O que se dá a ver é, para os gregos, a physis; para nós, a realidade. Para mostrar o que se dá a ver (a realidade, a physis), o ser humano recebe da própria physis duas dimensões que o constituem, circunscrevem e determinam: o pensamento (nous, em grego) e a linguagem (logos, em grego). O nous é o pensamento que permite ver o não visto. E este pode ser dito enquanto sentido e mundo porque somos constituídos pelo logos, a linguagem. É o nous e o logos, na vigência da poíesis da realidade, que constituem o seu sentido e mundo, manifestados nos paradigmas. Chamamos poiesis a permanência e transformação da realidade, daí ser ela originária e radicalmente poética" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A globalização e os desafios do humano". In: Revista Tempo Brasileiro, 201/202 - Globalização, pensamento e arte. Rio de Janeiro, abr.-set., 2015, p. 19.
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- "Diversas disciplinas tratam do sentir e da dor como conhecimento. Porém, a dor e o sentir como identidade e diferença só se manifestam no poietizar do poeta. É que a poiesis é o logos enquanto entre. Poietizar é entrear" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Interdisciplinaridade poética: o entre". Revista Tempo Brasileiro: Rio de Janeiro: Interdisciplinaridade: dimensões poéticas, 164, jan.-mar., 2006, p. 29.
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- "O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poíesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
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- "Con-sumar o que somos é uma tarefa poética, isto é, não causal. A poiesis consiste propriamente em apropriar-se do que é próprio, do que cada um é. A poiesis é pensamento, pois no pensamento se con-suma a referência da Essência do homem ao sentido do Ser" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio não publicado.
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- Referência:
- (1) : CASTRO, Manuel Antônio de. “O mito de Midas da morte ou do ser feliz”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 186.
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- "A poiesis tem um estranho caminho no Ocidente, porque ela foi esquecida e silenciada pela metafísica. Por isso, a teoria literária e a estética bem como a poética aristotélica não falam de e a partir da poiesis. Falam a fala da metafísica e, por isso, é uma fala da ciência sobre a poiesis. Onde está o estranho e contraditório? É que poiesis nunca, jamais, significou expressão linguística, não é um expressão da língua. Isso a música prova largamente, como outras artes. Por que, então, se identifica o poeta como aquele que escreve poemas numa língua, se expressa a partir da língua, tem o trato com a língua? Isso é um equívoco desastroso. Poiesis diz essência do agir como ethos ligado à physis / ser, é o produzir e desvelar da physis / ser enquanto se vela. Quem nos diz isso? Platão, e no Diálogo O Banquete, cuja temática é o amor. "Todo deixar-viger o que
passa e procede do não vigente para a vigência é poiesis, é pro-dução" (205 b). Por isso, afirma Heidegger: "Também a physis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma produção, é poiesis. A physis é até a máxima poiesis" (2) (1).