Análise
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 22h17min de 1 de Novembro de 2020 por Profmanuel (Discussão | contribs)
1
- Filhos da análise são o comentário, a glosa e a explicação descritivista. Em geral, como não podia deixar de ser, levam a uma leitura pobre. Ou dizem mal o que o texto poético diz bem, ou criam esquemas objetivos de explicação em que a fala poética é substituída por conceitos formais em que estes se tornam o centro. Falam pelo texto, não o escutam. Ler poeticamente é falar-com, isto é, dialogar. Na análise não há o diálogo que pressupõe o falar-com e o corresponder à fala do texto poético como escuta. Pois, em última instância, sempre é a linguagem e a poesia que falam. A análise pressupõe que a realidade seja regida pela causalidade. Analisar é procurar a causa. Isso até pode ser feito, o negativo disso é ficar apenas nisso. Pois a leitura poética nada pode excluir, mas deve integrar tudo, procurando todas as dimensões possíveis. Quando vamos até à raiz das questões acabamos nos deparando com o que nos funda: o vazio, o nada criativo, o silêncio e sua musicalidade. Exemplo marcante é a Física Quântica. Pela análise chega à estrutura da matéria e descobre que ela se estrutura em ondas e partículas... no vazio.
2
- "A análise é o meio propiciador, por excelência, do predomínio da identidade, e, enquanto meio propiciador, acabou por se consolidar como o instrumento criador de uma expectativa de simplicidade unívoca como a compreensão do mundo por meio da identidade. Em geral existe a crença que pela análise é-se capaz de alcançar a unidade. Nada mais falaz. A análise desfaz precisamente a unidade, despedaça o sentido, e assim, se a alguma coisa não permite o acesso é à unidade" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 53.
3
- A análise procura dar conta da visão da teoria sem a prévia abertura para o fenômeno como oferta do acontecer. Aqui se deve fugir da fácil tentação de achar tudo isto ou verdadeiro ou falso, até porque aí falta o paradigma e medida desse falso ou verdadeiro. Logo, o que a análise traz em si não é falso nem verdadeiro, mas tão-somente o resultado e a definição e delimitação conceitual dentro de uma medida estabelecida pela própria teoria que visa ao conhecer sem o ser. Em última instância, a análise se defronta com a questão do método, pois o instrumento da ciência é a análise. E sem método não há ciência. Não há análise. E logo se levanta a questão que se torna diretriz: Qual método?
4
- "A análise, no seu processo de busca de padrões de identificação, converte a multiplicidade em menos múltipla, e a diferença em menos diferente. Por fim, se fosse possível, converteria a unidade em menos una. O que a análise afirma categoricamente é a vigência da identidade e de uma lógica a ela adstrita. Por sua vez, uma lógica da identidade propõe, ainda que sub-repticiamente, a diminuição da diferença pela erradicação da vigência da unidade, isto é, pela produção de unidades ideais que, de um modo ou de outro, são capazes de simular a vigência de unidades concretas. Uma unidade, nessa perspectiva, só tem sentido como algo que possa ser combinado, numa totalidade permeada pela ideia" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 54.
5
- "A pluralidade se vê constituída e reduzida a singularidades ordenadas a partir da análise e da perspectiva, isto é, desde um determinado modo de olhar. Esta tensão entre pluralidade e singularidade, dinamizadora da realidade, dá lugar, progressivamente, a uma realidade compreendida analítica e perspectivamente. Esta análise e perspectiva são decisivas para que se passe a entender a realidade reduzida aos padrões impostos pelas realizações, em que estas, por sua vez, estejam determinadas analítica e perspectivamente" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 71.
6
- "A análise, tal como é compreendida geralmente, pressupõe a necessidade de se encontrar a ordem causal, para então encontrar a causa primeira. Para operar desse modo, o próprio analista precisa estar persuadido de que o caminho é esse, isto é, há uma causa, além de acreditar ter as técnicas necessárias para segui-lo" (1).
- Referência:
- (1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 118.
7
- "Compreender é mais do que raciocinar, pois naquele não apenas se conhece, mas se é o que se conhece. Por isso, é que toda análise racional só dá e só pode dar significados, funções, analogias, relações sistêmicas e estatísticas, dados numérico-quantitativos, quadros comparativos, a partir de algum ou de alguns paradigmas, jamais o sentido" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
8
- "Dado este poema procede-se à sua leitura. Isso é feito naturalmente pelo leitor, desde que esteja alfabetizado. Mas o que acontece quando além da leitura normal, pede-se que se faça uma interpretação, ou, no linguajar escolar viciado, uma análise? Por onde começar? Há só um caminho considerado o certo? Para isso devemos nos perguntar: Qual é o objetivo da análise? Onde se quer chegar? O que é necessário para que se proceda à interpretação? Quais são os pressupostos (implícitos ou explícitos) para nos guiar na interpretação e na propalada e falsa análise?" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 122.
9
- "Ao comentário e à exegese, sucede a análise crítica. A análise é um procedimento metodológico decorrente do postulado crítico-científico que concebe a obra como um organismo, constituído de partes, cujo conhecimento dá o acesso ao que a obra é em sua constituição e classificação. Surgiram então as Correntes críticas, parte dominante da Teoria Literária, em sua prática" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura e Crítica". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 128.