Desejo
De Dicionrio de Potica e Pensamento
Edição feita às 01h30min de 27 de Setembro de 2018 por Profmanuel (Discussão | contribs)
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- Todo prazer é a satisfação de um desejo. Mas o que é o desejo? Formou-se da palavra latina: desiderium: (1) Desejo (de alguma coisa que se teve e não se tem mais) (o que já temos porque somos e não temos mais é o outro de nós mesmos); (2) objeto de carinho; (3) Necessidade natural (natural vem de physis, de quem recebemos o que somos, nosso ser como doação. Como doação que somos já nos foi doado também o desejo, a falta, de ter aquilo que nos foi dado e não temos, o que nos co-pertence e não temos, por isso pro-curamos como sendo parte de nós, mas que não pode ser outro senão o que já somos e não temos. É, portanto, uma necessidade natural, um desejo). Desiderium formou-se do verbo: de-sidero: deixar de ver, sentir falta de; daí: procurar, desejar, exigir. O deixar de ver está ligado à formação do verbo: de+sidus: astro, sol, estelas (constelação) ou sidereus: sidéreo, relativo a um astro, celeste, divino. O prefixo de- diz perda de alto a baixo. O desejo em sentido essencial remete para o que em nós vigora como luz e ainda não temos, daí o desejar, cobiçar, a concupiscência.
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- "Mas, sem dúvida, se não podemos falar em sensação pura, também, em se tratando do ser humano, é impossível ficar preso a uma razão pura. Por isso, melhor do que falar em instinto, seja melhor dimensioná-lo pelo mito de Cura, conjugando a sua origem, tanto em Eros, quanto em Cura, fazendo desta uma dimensão do próprio Eros, pois, em última instância, as libidos são sempre uma procura, inerente ao próprio do ser humano, enquanto dimensionada por Eros" (1).
- Esse sentido de procura como impulso da libido, a denominamos também desejo, embora tenha este um âmbito semântico mais amplo e variado.
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 47.
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- "Mas pela ambígua origem de Eros e nossa nele, podemos falar de quatro libidos: libido sentiendi, sciendi, essendi e, reunindo-as no querer, a libido dominandi. Libido, palavra latina, diz originariamente o impulso vital, regido pelo desejo e pela procura do prazer, da satisfação, da completude e realização. Não se pode aí reduzir “vital” a animal, reduzindo a libido a um instinto, próprio dos animais. Tal classificação já parte da interpretação do ser humano como “animal racional”... . Não se pode ligar só a essa dimensão. O problema todo está em determiná-lo por ela. Seria reduzir o ser humano, tendo a origem em Eros, de onde provém certamente a libido, à libido sentiendi (impulso para o sentir)" (1).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Eros, o humano e os humanismos". In: Eros, tecnologia, transumanismo. MONTEIRO, Maria Conceição e Outros (org.). Rio de Janeiro: Caetés, 2015, p. 46.
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- No filme Samsara, do diretor indiano Pan Nalin, há a seguinte fala do monge Tashi:
- Tem coisas que devemos "desaprender" para poder aprendê-las. E tem coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas (1)
- O monge budista Tashi está na dúvida se deve sair do mosteiro ou não, para poder realizar o desejo sexual pela mulher Pema, tomado que se sente pela libido sentiendi.
- (1) NALIN, Pan. Samsara, filme de 2002.