Obra

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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:A obra não é, opera, mas só opera enquanto é. Um tal operar no qual ela consiste se dá enquanto [[linguagem]] e [[verdade]]. Como a linguagem e a verdade não são, mas dão-se, uma tal doação nos advém como imagem-questão e sintaxe-questão ou poética. Quando digo que a obra não é, quero acentuar sua dimensão [[verbo|verbal]]. Nesse sentido, um tal verbal lhe advém do ser. Por isso, o que a ''phýsis'' destina à ação do homem para ser, não consiste num [[ente]] como, por exemplo, todo sendo-ser dotado de um código genético. Mas este código genético não dá a substantividade objetual, mas a singularidade do ''sendo'' na dinâmica da ciranda. O encontro do ''ón'' seja como código genético, seja como obra/ instrumento está no fato de o ser ser sempre verbal e fundar o ''hèn pánta''. A instrumentalidade/intensidade objetual vem da obra e na dimensão da obra dentro da sintaxe-poética. Nesta, como ciranda, tudo se harmoniza na ''[[medida]]'' dos quatro.
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:A obra não é, opera, mas só opera enquanto é. Um tal [[operar]] no qual ela consiste se dá enquanto [[linguagem]] e [[verdade]]. Como a [[linguagem]] e a [[verdade]] não são, mas dão-se, uma tal [[doação]] nos advém como imagem-questão e sintaxe-questão ou poética. Quando digo que a [[obra]] não é, quero acentuar sua [[dimensão]] [[verbo|verbal]]. Nesse sentido, um tal verbal lhe advém do [[ser]]. Por isso, o que a ''phýsis'' destina à [[ação]] do [[homem]] para [[ser]], não consiste num [[ente]] como, por exemplo, todo [[sendo-se]] dotado de um [[código]] [[genético]]. Mas este código genético não dá a substantividade objetual, mas a singularidade do ''[[sendo]]'' na dinâmica da ciranda. O encontro do ''ón'' seja como [[código]] [[genético]], seja como [[obra]]/[[instrumento]] está no [[fato]] de o [[ser]] ser sempre verbal e [[fundar]] o ''hèn pánta''. A instrumentalidade/intensidade objetual vem da [[obra]] e na [[dimensão]] da [[obra]] dentro da sintaxe-poética. Nesta, como [[ciranda]], tudo se harmoniza na ''[[medida]]'' dos quatro.
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:No fundo, trata-se apenas de uma questão: sair do caráter substantivo/subjetivo a que a metafísica reduziu o ser e que a tradução latina só fez acentuar. Por isso, toda questão do enigma do [[ser]] não está no ser, mas no seu destinar-se no ser humano, daí a insistência da ligação de obra de [[arte]] ao ser humano não enquanto o ser humano a produz, mas enquanto um tal destino produz como [[cura]] o ser humano.
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:No fundo, trata-se apenas de uma [[questão]]: sair do caráter substantivo/subjetivo a que a metafísica reduziu o [[ser]] e que a [[tradução]] latina só fez acentuar. Por isso, toda [[questão]] do [[enigma]] do [[ser]] não está no [[ser]], mas no seu [[destinar-se]] no [[ser humano]], daí a insistência da ligação de [[obra de arte]] ao [[ser humano]] não enquanto o [[ser humano]] a produz, mas enquanto um tal [[destino]] produz como [[cura]] o [[ser humano]].
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Edição de 08h11min de 1 de Agosto de 2017

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A obra não é, opera, mas só opera enquanto é. Um tal operar no qual ela consiste se dá enquanto linguagem e verdade. Como a linguagem e a verdade não são, mas dão-se, uma tal doação nos advém como imagem-questão e sintaxe-questão ou poética. Quando digo que a obra não é, quero acentuar sua dimensão verbal. Nesse sentido, um tal verbal lhe advém do ser. Por isso, o que a phýsis destina à ação do homem para ser, não consiste num ente como, por exemplo, todo sendo-se dotado de um código genético. Mas este código genético não dá a substantividade objetual, mas a singularidade do sendo na dinâmica da ciranda. O encontro do ón seja como código genético, seja como obra/instrumento está no fato de o ser ser sempre verbal e fundar o hèn pánta. A instrumentalidade/intensidade objetual vem da obra e na dimensão da obra dentro da sintaxe-poética. Nesta, como ciranda, tudo se harmoniza na medida dos quatro.
No fundo, trata-se apenas de uma questão: sair do caráter substantivo/subjetivo a que a metafísica reduziu o ser e que a tradução latina só fez acentuar. Por isso, toda questão do enigma do ser não está no ser, mas no seu destinar-se no ser humano, daí a insistência da ligação de obra de arte ao ser humano não enquanto o ser humano a produz, mas enquanto um tal destino produz como cura o ser humano.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:

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A palavra obra, do latim opus, operis, do verbo operar, se diz em alemão Werk. "Operar", wirken, pertence à raiz indo-européia uerg, de onde provém a palavra "obra", "Werk", e o grego érgon. Para ver o que é ergon para Aristóteles, cf. (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, pp. 42-3.


Ver também:


3

"Pode-se alegar que um texto não passa da realização de um discurso em uma ordem sintática coesa e coerente. Não basta coesão e coerência sintática, toda obra de arte vai além disso. Uma obra só é obra se, em sua constituição originária, opera. O operar de toda obra exige e solicita um diálogo, não qualquer diálogo, mas um diálogo poético. Neste somos provocados a nos deixarmos tomar pelo nada criativo a partir do qual toda obra de arte opera" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, 225.


4

"A moral tende ao estático e estabelecido, ao sistema auto-referenciado. É bem o contrário da ética, onde o essencial é o poético. Não há ético sem poético e não há poético sem ético. E é isso que desde sempre se denominou obra de arte, se pusermos em primeiro lugar o que a palavra “obra” diz, aliás, o mesmo que poético no grego: o que age, o que faz acontecer, o que realiza. É necessário pensar a essência do agir, horizonte onde nos aparece a condição humana" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O humano, o poético e a contracultura". In: www.travessiapoetica.Blogspot.com.


5

"... não podemos confundir “obra” nem com suporte material, escrito ou oral, nem com o discurso entendido gramatical ou até ficcionalmente, e muito menos com objeto ou forma estética" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.


6

língua como corpo vivo que é mundo é que denomino vocabulário. A grande diferença que aí acontece está em que mundo passa a ser o sentido do ser. Sentido se constitui então no sangue do corpo vivo, porque nele o ser acontece permanentemente. Surpreender numa obra o seu vocabulário não é uma tarefa gramatical, nem semântica, nem lexical, nem sintática. É poética, enquanto corpo vivo; mundo, enquanto sentido. Este não provém do vocabulário, mas do logon [ver logos] do ser, da voz do sagrado. Logon [ver logos] mais do que vocabulário é sentido".


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ------------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 249.


7

"O vigor permanente da obra (verdade) como figura (a disputa de delimitação e vazio/nada) está aí para ser manifestado, operado. Mas tem que ser uma operação que deixe a obra ser obra. A esta operação que não impõe uma perspectiva nem uma vontade subjetiva nem objetiva, é que Heidegger denomina Bewahrung. Nós escolhemos uma palavra portuguesa aproximada, pois toda tradução é sempre um aproximar: desvelo. Desvelo: grande cuidado, carinho, vigilância, dedicação sem impor, deixando ser, aguardar o que é próprio e persiste, resguardar o deixar acontecer. Nela ressoa o cuidado e doação amorosa como ocorre, por exemplo, no desvelo da mãe para com o filho, o que pressupõe também no leitor o desvelo para com o que na obra Se dá, presenteia (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 236.
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