Habitar

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(8)
(2)
 
(22 edições intermediárias não estão sendo exibidas.)
Linha 1: Linha 1:
__NOTOC__
__NOTOC__
== 1 ==
== 1 ==
-
: O ensaio de Heidegger "Construir, habitar, pensar" (1) gira fundamentalmente em torno da essência do [[habitar]]. Ele não pensa a raiz latina (''habere''/haver/existir), embora no português seja possível. [[Existir]] é [[habitar]] no sentido de ter-se. Não [[ter]] algo externo a nós, mas o ter que se tem porque nos foi dado: o [[próprio]]. [[Habitar]] enquanto [[ter]] é apropriar-se do que é próprio: o [[ser]]. Então o ter deve ser pensado no [[horizonte]] em que Emmanuel Carneiro Leão o pensa no ensaio "Uma leitura órfica de uma [[sentença]] grega" (2). [[Heidegger]], em seu [[ensaio]], trata mais do ''bauen'' – [[construir]] – e não toca na raiz de ''wohnen'' – [[habitar]] –, embora todo o [[ensaio]] se faça a partir da [[essência]] do [[habitar]]. Isso fica mais claro ao final do [[ensaio]]: "Resguardar a [[quaternidade|quadratura]], salvar a [[terra]], acolher o [[céu]], aguardar os [[divino|divinos]], acompanhar os [[mortal|mortais]], esse resguardo de quatro faces é a [[essência]] simples do [[habitar]]" (3).
+
: O [[ensaio]] de [[Heidegger]] "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]" (1) gira fundamentalmente em torno da [[essência]] do [[habitar]]. Ele não pensa a [[raiz]] latina (''habere''/haver/existir), embora no português seja [[possível]]. [[Existir]] é [[habitar]] no [[sentido]] de ter-se. Não [[ter]] [[algo]] externo a nós, mas o [[ter]] que se tem porque nos foi dado: o [[próprio]]. [[Habitar]] enquanto [[ter]] é [[apropriar-se]] do que é [[próprio]]: o [[ser]]. Então o [[ter]] deve [[ser]] [[pensado]] no [[horizonte]] em que Emmanuel Carneiro Leão o pensa no [[ensaio]] "Uma [[leitura]] órfica de uma [[sentença]] [[grega]]" (2). [[Heidegger]], em seu [[ensaio]], trata mais do ''bauen'' – [[construir]] – e não toca na raiz de ''wohnen'' – [[habitar]] –, embora todo o [[ensaio]] se faça a partir da [[essência]] do [[habitar]]. Isso fica mais [[claro]] ao [[final]] do [[ensaio]]: "Resguardar a [[quaternidade|quadratura]], [[salvar]] a [[terra]], acolher o [[céu]], aguardar os [[divino|divinos]], acompanhar os [[mortal|mortais]], esse resguardo de quatro faces é a [[essência]] [[simples]] do [[habitar]]" (3).
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
: - [[Manuel Antônio de Castro]]
-
 
: Referências:
: Referências:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin. "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: '''[[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.'''
-
: (2) In: ''Aprendendo a pensar II''. Petrópolis: Vozes, 1992.  
+
: (2) In: '''[[Aprendendo]] a [[pensar]] II. Petrópolis: Vozes, 1992.'''
-
: (3) HEIDEGGER, Martin. Op. cit., p. 138.
+
: (3) [[HEIDEGGER]], Martin.''' Op. cit., p. 138.'''
== 2 ==
== 2 ==
Linha 19: Linha 18:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 130.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. [[Tradução]] de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 130.'''
== 3 ==
== 3 ==
Linha 27: Linha 26:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sa Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 131.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 131.'''
== 4 ==
== 4 ==
Linha 35: Linha 34:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.'''
== 5 ==
== 5 ==
Linha 43: Linha 42:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.
+
: (1) HEIDEGGER, Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.'''
== 6 ==
== 6 ==
-
: "A [[crise]] propriamente dita de [[habitação]] é, além disso, mais antiga do que as guerras mundiais e as destruições, mais antiga também do que o crescimento populacional na [[terra]] e a situação do [[trabalhador]] industrial. A [[crise]] propriamente dita do [[habitar]] consiste em que os [[mortais]] precisam sempre, de novo, [[buscar]] a [[essência]] do [[habitar]], consiste em que os mortais ''devem primeiro [[aprender]] a [[habitar]]''." (1)
+
: "A [[crise]] propriamente dita de [[habitação]] é, além disso, mais antiga do que as guerras mundiais e as destruições, mais antiga também do que o crescimento populacional na [[terra]] e a situação do trabalhador industrial. A [[crise]] propriamente dita do [[habitar]] consiste em que os [[mortais]] precisam sempre, de novo, buscar a [[essência]] do [[habitar]], consiste em que os mortais ''devem primeiro [[aprender]] a [[habitar]]''." (1)
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.'''
== 7 ==
== 7 ==
Linha 59: Linha 58:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback.  In: -----. ''Ensaios e conferências''. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2002, p. 161.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "...[[poeticamente]] o [[homem]] habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback.  In: -----. [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2002, p. 161.'''
== 8 ==
== 8 ==
-
: "Pois o "[[poético]]" parece pertencer, quanto ao seu [[valor]] [[poético]], ao reino da [[fantasia]]. O [[habitar]] [[poético]]  sobrevoa fantasticamente o [[real]]. O [[poeta]] faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o [[habitar]] [[poético]] é o [[habitar]] "esta [[terra]]". Assim, Hölderlin não somente protege o [[poético]] contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as [[palavras]] "esta [[terra]]", remete para o [[vigor]] [[essencial]] da [[poesia]]. A [[poesia]] não sobrevoa e nem se eleva sobre a [[terra]] a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a [[poesia]] que traz o [[homem]] para a [[terra]], para ela, e assim o traz para um [[habitar]]" (1). Esta passagem de do [[pensador]] Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de [[ficção]], atribuída a toda [[literatura]]. É [[necessário]], certamente, repensar tanto a noção corrente de [[ficção]], bem como de [[fantasia]], quanto o que se entende por [[real]] e [[realidade]].
+
: "Pois o "[[poético]]" parece pertencer, quanto ao seu [[valor]] [[poético]], ao reino da [[fantasia]]. O [[habitar]] [[poético]]  sobrevoa fantasticamente o [[real]]. O [[poeta]] faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o [[habitar]] [[poético]] é o [[habitar]] "esta [[terra]]". Assim, Hölderlin não somente protege o [[poético]] contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as [[palavras]] "esta [[terra]]", remete para o [[vigor]] [[essencial]] da [[poesia]]. A [[poesia]] não sobrevoa e nem se eleva sobre a [[terra]] a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a [[poesia]] que traz o [[homem]] para a [[terra]], para ela, e assim o traz para um [[habitar]]" (1). Esta passagem de do [[pensador]] [[Heidegger]] é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de [[ficção]], atribuída a toda [[literatura]]. É [[necessário]], certamente, repensar tanto a noção corrente de [[ficção]], bem como de [[fantasia]], quanto o que se entende por [[real]] e [[realidade]].
Linha 69: Linha 68:
: Referência:
: Referência:
-
: (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ------.  ''Ensaios e conferências''. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.
+
: (1) [[HEIDEGGER]], Martin.''' "...[[poeticamente]] o [[homem]] habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback.  In: ------.  [[Ensaios]] e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.'''
-
 
+
-
 
+
== 9 ==
== 9 ==
: "Não habitamos porque construímos. Ao contrário, construímos e chegamos a [[construir]] à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos ''como aqueles que habitam'' "(1).
: "Não habitamos porque construímos. Ao contrário, construímos e chegamos a [[construir]] à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos ''como aqueles que habitam'' "(1).
 +
 +
 +
: Referência:
 +
 +
: (1) HEIDEGGER, Martin.''' "[[Construir]], [[habitar]], [[pensar]]". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: [[Ensaios]] e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 128.'''
 +
 +
== 10 ==
 +
: "[[Energia]] [[Cósmica]]. É difícil [[apreender]] toda importância desta [[energia]] pela densidade e amplitude de sua [[atuação]] e [[presença]]. Aí [[cósmica]] não diz uma noção [[científica]] e [[astronômica]], [[espacial]]. Não se trata de meio ambiente no [[sentido]] [[espacial]]. Propriamente diz [[habitação]], [[morada]], onde, além de entrar em [[harmonia]] com [[tudo]] e [[todos]], também vigora aí a [[energia]] [[cósmica]] como [[mundo]] e [[sentido]] de [[tudo]]. [[Habitar]] é o difícil [[exercício]] [[existencial]] de [[harmonizar]] essa [[tensão]] [[diferenciadora]] [[entre]] o que [[sou]] e o [[lugar]] do [[habitar]], pois este não determina, mas influi ou para ''[[Yin]]'' ou para ''[[Yan]]''. Isso [[é]] [[ser]] [[corpo]]" (1).
 +
 +
 +
:  Referência:
 +
 +
:  (1) CASTRO, Manuel Antônio de.'''' "[[Filosofia]] e o [[pensamento]] do [[corpo]]". In: [[Desdobramentos]] do [[corpo]] no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 24.'''

Edição atual tal como 04h15min de 18 de fevereiro de 2025

1

O ensaio de Heidegger "Construir, habitar, pensar" (1) gira fundamentalmente em torno da essência do habitar. Ele não pensa a raiz latina (habere/haver/existir), embora no português seja possível. Existir é habitar no sentido de ter-se. Não ter algo externo a nós, mas o ter que se tem porque nos foi dado: o próprio. Habitar enquanto ter é apropriar-se do que é próprio: o ser. Então o ter deve ser pensado no horizonte em que Emmanuel Carneiro Leão o pensa no ensaio "Uma leitura órfica de uma sentença grega" (2). Heidegger, em seu ensaio, trata mais do bauenconstruir – e não toca na raiz de wohnenhabitar –, embora todo o ensaio se faça a partir da essência do habitar. Isso fica mais claro ao final do ensaio: "Resguardar a quadratura, salvar a terra, acolher o céu, aguardar os divinos, acompanhar os mortais, esse resguardo de quatro faces é a essência simples do habitar" (3).


- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
(2) In: Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992.
(3) HEIDEGGER, Martin. Op. cit., p. 138.

2

"Salvando a terra, acolhendo o céu, aguardando os deuses, conduzindo os mortais, é assim que acontece propriamente um habitar. Acontece enquanto um resguardo de quatro faces da quadratura" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 130.

3

"Habitar é bem mais um demorar-se junto às coisas. Enquanto resguardo, o habitar preserva a quadratura naquilo junto a que os mortais se demoram: nas coisas" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 131.

4

"A referência do homem aos lugares e através dos lugares aos espaços repousa no habitar. A relação entre homem e espaço nada mais é do que um habitar pensado de maneira essencial" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 137.

5

"Habitar é, porém, o traço essencial do ser de acordo com o qual os mortais são. Quem sabe se nessa tentativa de concentrar o pensamento no que significa habitar e construir torne-se mais claro que ao habitar pertence um construir e que dele recebe a sua essência. Já é um enorme ganho se habitar e construir tornarem-se dignos de se questionar e, assim, permanecerem dignos de se pensar" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.

6

"A crise propriamente dita de habitação é, além disso, mais antiga do que as guerras mundiais e as destruições, mais antiga também do que o crescimento populacional na terra e a situação do trabalhador industrial. A crise propriamente dita do habitar consiste em que os mortais precisam sempre, de novo, buscar a essência do habitar, consiste em que os mortais devem primeiro aprender a habitar." (1)


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 140.

7

"Com isso, deixamos de lado a representação corriqueira do que seja habitar. De acordo com essa representação, habitar continua sendo simplesmente um modo do comportamento humano, dentre tantos outros. Trabalhamos na cidade e habitamos fora. Empreendemos uma viagem e habitamos ora aqui, ora ali. Nesse sentido, habitar é sempre apenas a posse de um domicílio. Quando Hölderlin fala do habitar, ele vislumbra o traço fundamental da presença humana. Ele vê o "poético" a partir da relação com esse habitar, compreendido nesse modo vigoroso e essencial" (1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. In: -----. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis R/J: Vozes, 2002, p. 161.

8

"Pois o "poético" parece pertencer, quanto ao seu valor poético, ao reino da fantasia. O habitar poético sobrevoa fantasticamente o real. O poeta faz face a esse temor e diz, com propriedade, que o habitar poético é o habitar "esta terra". Assim, Hölderlin não somente protege o poético contra sua incompreensão usual corriqueira mas, acrescentando as palavras "esta terra", remete para o vigor essencial da poesia. A poesia não sobrevoa e nem se eleva sobre a terra a fim de abandoná-la e pairar sobre ela. É a poesia que traz o homem para a terra, para ela, e assim o traz para um habitar" (1). Esta passagem de do pensador Heidegger é extremamente importante, porque desfaz completamente a falsa noção de ficção, atribuída a toda literatura. É necessário, certamente, repensar tanto a noção corrente de ficção, bem como de fantasia, quanto o que se entende por real e realidade.


- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: ------. Ensaios e conferências. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 169.

9

"Não habitamos porque construímos. Ao contrário, construímos e chegamos a construir à medida que habitamos, ou seja, à medida que somos como aqueles que habitam "(1).


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 128.

10

"Energia Cósmica. É difícil apreender toda importância desta energia pela densidade e amplitude de sua atuação e presença. Aí cósmica não diz uma noção científica e astronômica, espacial. Não se trata de meio ambiente no sentido espacial. Propriamente diz habitação, morada, onde, além de entrar em harmonia com tudo e todos, também vigora aí a energia cósmica como mundo e sentido de tudo. Habitar é o difícil exercício existencial de harmonizar essa tensão diferenciadora entre o que sou e o lugar do habitar, pois este não determina, mas influi ou para Yin ou para Yan. Isso é ser corpo" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de.' "Filosofia e o pensamento do corpo". In: Desdobramentos do corpo no século XXI. MONTEIRO, Maria Conceição & GIUCCI, Guilhermo (orgs.). Rio de Janeiro: FAPERJ, Editora Caetés, 2016, p. 24.
Ferramentas pessoais