Interpretação

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 19h28min de 21 de janeiro de 2012 por Profmanuel (Discussão | contribs)

1

Através da etimologia da palavra interpretação, chega-se ao valor. Mas pode-se ampliar essa compreensão, partindo da inter-subjetividade e da realidade social. Para aprofundar a discussão, confira Bárbara Freitag (1) quando trata da teoria da ação comunicativa de Habermas.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) FREITAG, Bárbara. Teoria crítica: ontem e hoje. São Paulo: Brasiliense, 1985, pp. 58-9.


2

Na questão da interpretação, em que se pensa a diferença da análise, da explicação e do diá-logo, é essencial ter em mente a exegese e, nesta, os três passos fundamentais: intelligendi, aprehendi e applicandi. Ora, este processo tem alguns passos que julgam o texto/obra como algo objetivo. Aqui está a questão: como dar esses três passos sem questionar o que se apresenta sem a tensão com o que se vela? Mas, constatando que toda obra de arte opera a partir da linguagem, como ler radicalmente se não for como diálogo, onde o que é comum e o mesmo é o lógos? Para aprofundar esta questão, confira o ensaio "A questão da hermenêutica" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A questão hermenêutica". In: Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994. Acessível em Travessia Poética.


3

O que ocorre na leitura de cada um como ente singular? Certamente ela se dá em cada um como interpretação e diá-logo. Contudo, duas dimensões também aí se fazem presentes: ser e linguagem. Martin Heidegger no ensaio "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador" (1), diz que as duas grandes questões que o frequentam são: ser e linguagem. Surge a questão: cada leitor é um ente absolutamente original. Na medida em que o ser se dá em cada ente, certamente também a linguagem. E o mesmo acontece com a leitura, ou seja, cada leitor é único, não como subjetividade, mas como ente do ser. Então a interpretação/diá-logo certamente vai seguir essa mesma dimensão. Pode-se perguntar então perguntar: o que une a todos? Duas dimensões ontológicas: o não-saber e o lógos como mundo e memória de todas as leituras e diálogos. O lógos é a medida de todas as dimensões e possíveis leituras.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "De uma conversa sobre a linguagem entre um japonês e um pensador". In: A caminho da linguagem. Petrópolis: Vozes, 2003.


4

Na poíesis o que permanece é o caminho. E aí temos: leitura como diálogo a partir da interpretação como pensamento e caminho. Ligando estes três termos, amplia-se e radicaliza-se a questão da leitura como interpretação: o diálogo interpretativo passa a ser caminhada de manifestação do que cada um é, no vigor poético da poíesis como verdade. Ler, interpretar e dialogar é percorrer na tripla dimensão horídzo (limite/horizonte/limiar), ex-peras (porta/passagem) e télos (sentido) o caminho do ser. É a travessia. Ocorre então que interpretar como diálogo onto-poético é uma ascese. Quando interpretamos nesse sentido não iremos transmitir conceitos nem conhecimento nem informações, mas apenas e tão somente assinalar a caminhada. Toda caminhada que se move na poíesis do ser é co-letiva, onde o lógos reúne como identidade as diferenças.


- Manuel Antônio de Castro


5

Criação é concriação, assim como interpretar é concriar. A interpretação não é um ato epistemológico-científico, mas poético. Por isso, a palavra hermenêutica tem sua origem no mito de Hermes. A interpretação se dá sempre como um ato de compreensão e jamais de análise. A criação do poeta só é criação se for con-criação, porque na obra não é o poeta que cria, mas é a própria realidade que advém como verdade e sentido, na medida em que ela opera desvelando-se tanto mais quanto mais se vela, enquanto linguagem do silêncio.


- Manuel Antônio de Castro


6

O pensamento está relacionado com o diálogo-pensante em sua relação com o passado. Márcia Cavalcante Schuback diz: "O diálogo pensante não pode restaurar. Pode apenas traduzir para um começo. Isto é o que Heidegger chama de interpretação. A interpretação não é jamais neutra. A interpretação nunca é apreensão de um dado preliminar, isenta de pressuposições. Se a concreção da interpretação, no sentido da interpretação textual exata, se compraz em se basear nisso que 'está' no texto, aquilo que, de imediato, se apresenta como estranho no texto nada mais é do que a opinião prévia, indiscutida e supostamente evidente do intérprete" (1). A interpretação é sempre uma intervenção poética pessoal, se for escuta do lógos, senão torna-se mero subjetivismo opiniativo.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) SCHUBACK, Márcia Sá Cavalcante. "Para que língua se traduz o Ocidente". In: O que nos faz pensar. PUC-Rio, nº 10, 1996, p. 63.


7

A quantidade de informações deve ser vista levando em consideração três atitudes (entre outros aspectos):
1º) Linguístico-contextual: entram aí forma, língua, discurso, linguagem, dados estruturais etc.
2º) Fenomenológica: ultrapassa-se aqui a percepção de coisa como objeto conceitual (inerente à atitude anterior) e entra-se mais radicalmente na complexidade da "coisa". Esta pode limitar-se a uma operação epistemológica.
3º) Ontológica: englobando as duas anteriores, operacionaliza-se no diálogo, onde a abertura para a escuta do lógos é fundamental. O conceito social de linguagem está ligado à concepção determinística do homem pela história e ao seu determinismo histórico-material.


- Manuel Antônio de Castro


Ver também:


8

A caracterização do ser humano como mortal se desdobra em três níveis: a) vida vivida; b) vida experienciada; e c) vida narrada. (Não poeticamente, há vida racionalizada ou epistêmica). Contudo, há duas instâncias sem as quais isso não confere ao ente humano, o ser mortal. Elas acabam por ordenar e reunir os três níveis. De um lado eles são reunidos pelo lógos, mas por outro lado as três ações diferentes constituem sentido advindas de poíesis. A linguagem como tal é, pois, lógos e poíesis, ou seja, a linguagem que colhe, recolhe e reúne na medida em que os três níveis recebem pela poíesis um sentido. A linguagem só será então linguagem se inseminada pelo sentido do agir da poíesis. Ora, isso constitui a obra de arte. Na medida em que lhe é correlato o desvelo originário, essas cinco dimensões também se devem fazer nela presente. E isso é absolutamente singular em cada um, o que não quer dizer subjetivo, mas uma aprendizagem como método de ser. Porém, a aprendizagem vai além. Ela exige o inter-pretium, ou seja, o mergulho e o advento do ético. Mas o ético é éthos, a linguagem como morada. E quando falamos linguagem como morada, então, a arte acontece. Então, dá-se interpretação. A arte sempre é obra e como tal não é ente, pois como lugar da verdade acontece como verdade do ser. E a verdade não é, dá-se, acontece.


- Manuel Antônio de Castro


9

"Interpretação é a força, o princípio, o fundamento, a essência, isto é, a gênese do real. Assim interpretação, de imediato e formalmente, será entendida e determinada como a própria vida do real" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 100.


Ver também:


10

"Assim, hermeneúein, interpretar, não diz conduzir alguma coisa para a claridade da razão e para o discurso da língua, mas reconduzi-la a seu lugar de origem no mistério da Linguagem" (1).


Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar. Petrópolis: Vozes, 1977, p. 248.


11

"Nietzsche escreveu (1): "Uma 'coisa em si' é algo tão absurdo quanto um 'sentido em si', uma 'significação em si'. Nâo há nenhum 'fato em si', mas, para que um (estado de) fato possa haver, é preciso que um sentido primeiramente sempre já tenha sido introduzido (2).


Referências:
(1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antônio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2011, p. 101.
(2) Cf. NIetzsche, F., Kritische Gesamtausgabe, VIII-1, 2[149, De Gruyter, Berlin, 1974, p. 138, ou A vontade de poder. Contraponto: Rio de Janeiro, 2008, nr. 556, p. 290.