Espelho

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: Mergulhar no [[enigma]] que é o [[ser humano]] é trazer para o [[questionamento]] tudo o que o [[mito]] de Narciso implica. Narciso tem como [[lugar]] de [[questionamento]] o [[espelho]], [[palavra]] que se forma do [[verbo]] latino: ''speculare'', através do [[substantivo]] ''speculum'', de que se formaram as [[palavras]] [[espelho]] e [[especulação]], ou seja, [[reflexão]]. Mas o que o [[espelho]] implica? Não podemos reduzir o [[espelho]] ao vidro ou uma superfície plana, côncava ou convexa. Para tal é necessário ter [[consciência]] de que o núcleo central de todo [[espelho]] é a [[luz]]. Nela e por ela é que refletimos. É pensando que refletimos: ''[[noein]]'' / ''[[nous]]'', em grego. E também se colocam imediatamente duas outras [[questões]]: [[imagem]] e [[representação]]. E com estas a [[questão]] essencial para todo [[ser humano]] em seu [[próprio]]: [[identidade]]. É no e com o [[espelho]] que melhor podemos [[compreender]] o [[limite]] e alcance [[verdadeiro]] do [[social]].
: Mergulhar no [[enigma]] que é o [[ser humano]] é trazer para o [[questionamento]] tudo o que o [[mito]] de Narciso implica. Narciso tem como [[lugar]] de [[questionamento]] o [[espelho]], [[palavra]] que se forma do [[verbo]] latino: ''speculare'', através do [[substantivo]] ''speculum'', de que se formaram as [[palavras]] [[espelho]] e [[especulação]], ou seja, [[reflexão]]. Mas o que o [[espelho]] implica? Não podemos reduzir o [[espelho]] ao vidro ou uma superfície plana, côncava ou convexa. Para tal é necessário ter [[consciência]] de que o núcleo central de todo [[espelho]] é a [[luz]]. Nela e por ela é que refletimos. É pensando que refletimos: ''[[noein]]'' / ''[[nous]]'', em grego. E também se colocam imediatamente duas outras [[questões]]: [[imagem]] e [[representação]]. E com estas a [[questão]] essencial para todo [[ser humano]] em seu [[próprio]]: [[identidade]]. É no e com o [[espelho]] que melhor podemos [[compreender]] o [[limite]] e alcance [[verdadeiro]] do [[social]].
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: - [[Manuel Antônio de Castro]]
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Edição de 14h23min de 17 de Outubro de 2017

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Mergulhar no enigma que é o ser humano é trazer para o questionamento tudo o que o mito de Narciso implica. Narciso tem como lugar de questionamento o espelho, palavra que se forma do verbo latino: speculare, através do substantivo speculum, de que se formaram as palavras espelho e especulação, ou seja, reflexão. Mas o que o espelho implica? Não podemos reduzir o espelho ao vidro ou uma superfície plana, côncava ou convexa. Para tal é necessário ter consciência de que o núcleo central de todo espelho é a luz. Nela e por ela é que refletimos. É pensando que refletimos: noein / nous, em grego. E também se colocam imediatamente duas outras questões: imagem e representação. E com estas a questão essencial para todo ser humano em seu próprio: identidade. É no e com o espelho que melhor podemos compreender o limite e alcance verdadeiro do social.


- Manuel Antônio de Castro

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"Pareceu-lhe então, meditativa, que não havia homem ou mulher que por acaso não se tivesse olhado ao espelho e não se surpreendesse consigo próprio. Por uma fração de segundo a pessoa se via como um objeto a ser olhado, o que poderiam chamar de narcisismo mas, já influenciada por Ulisses, ela chamaria de: gosto de ser. Encontrar na figura exterior os ecos da figura interna: ah, então é verdade que eu não imaginei: eu existo" (1).
Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. 4. e. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974, p. 1.

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"Hermes, como palavra dos deuses ofertada aos homens na dicção do poeta, diz sempre a verdade, porém não toda a verdade. Desta tensão entre verdade e não-verdade é que surge o próprio mito como espelho de toda especulação. A essência do espelho não é representar o eu como o seu outro, não é reduplicar o real em representações, mas mostrar o que se esconde enquanto aparece. Ou seja, Hermes é o próprio diálogo. No diálogo, as diferenças se especulam, não como diferenças de si, mas do real" (1).


Referência:
(1) CASTRO. Manuel Antônio de. Poética e poiesis: a questão da interpretação. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ. Série Conferências, v. 5. 2000, p. 10.