Desvelamento

De Dicionrio de Potica e Pensamento

(Diferença entre revisões)
(3)
(4)
Linha 20: Linha 20:
== 4 ==
== 4 ==
-
: "A [[obra]], enquanto [[verdade]] de desvelamento, eclosão de [[vida]], produz em nós a nossa eclosão como [[mundo]]. É que todo desvelamento já é em-si [[mundo]]. Então o [[real]] nos advém como [[verdade]].  E o [[sentido]] de nossa [[vida]], como corpo-mundo-erótico, se realiza como [[sabedoria]]: é a [[experienciação]] [[ética]] da [[vida]]. Sendo corpo-mundo-eros, o [[homem]], que somos, se torna homem [[humano]], isto é, essencializamo-nos em nossa [[humanidade]]. É que as [[possibilidades]] do [[humano]] são as [[possibilidades]] da semente-obra-de-arte. Nesse [[horizonte]], o [[humano]] é o ''[[logos]]'', reunindo em torno de si todos os [[seres]] do [[real]] enquanto tempo-memória, ou seja, [[mundo]].  É nesse sentido que o [[homem]] é [[homem]] enquanto ''[[logos]]'' (1).  
+
: "A [[obra]], enquanto [[verdade]] de [[desvelamento]], eclosão de [[vida]], produz em nós a nossa eclosão como [[mundo]]. É que todo [[desvelamento]] já é em-si [[mundo]]. Então o [[real]] nos advém como [[verdade]].  E o [[sentido]] de nossa [[vida]], como [[corpo]]-[[mundo]]-erótico, se realiza como [[sabedoria]]: é a [[experienciação]] [[ética]] da [[vida]]. Sendo [[corpo]]-[[mundo]]-[[eros]], o [[homem]], que somos, se torna [[homem]] [[humano]], isto é, essencializamo-nos em nossa [[humanidade]]. É que as [[possibilidades]] do [[humano]] são as [[possibilidades]] da semente-[[obra-de-arte]]. Nesse [[horizonte]], o [[humano]] é o ''[[logos]]'', reunindo em torno de si todos os [[seres]] do [[real]] enquanto [[tempo]]-[[memória]], ou seja, [[mundo]].  É nesse sentido que o [[homem]] é [[homem]] enquanto ''[[logos]]'' (1).  
Linha 27: Linha 27:
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 251.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ---------. ''Leitura: questões''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 251.
-
 
-
 
== 5 ==
== 5 ==

Edição de 22h29min de 14 de Julho de 2018

Ver também o verbete Aletheia.

Tabela de conteúdo

1

Os gregos diziam verdade com a palavra aletheia. Como traduzi-la? O alcance da tradução é que dirá ou tentará dizer todo o âmbito do que queremos dizer por verdade. Temos de sair da concepção dela como o que é lógico e real. Isto é certo, mas não é tudo o que a realidade implica, pois além de ser lógica ela também é dialética. Toda dialética é lógica, verdadeira, porém nenhuma lógica é dialética. Isto implica dizer que na lógica nunca acontece o que é e o que não é, isto é, a negatividade. É nesse sentido que aletheia pode ser traduzido para o português como desvelamento. Tanto mais se desvela, mostra, quanto mais se vela, se retrai. O prefixo português des- tanto diz negação quanto intensificação. Isto pode dizer: quanto mais se mergulha no desvelamento tanto mais se aprofunda o velamento e, dialeticamente, o desvelamento. Isso é a verdade da realidade, não da lógica. Não podemos esquecer que tanto em lógica quanto em dialética, o radical está na palavra logos, submetida a múltiplas interpretações ao longo do percurso ocidental. Porém, nenhuma consegue abarcar toda a profundidade e mistério que essa palavra diz e provoca a pensar.


- Manuel Antônio de Castro

2

Há uma ligação entre o radical etimológico de alétheia e os verbos lanthánomai - esquecer-se e lanthánein estar oculto. O radical é o mesmo na alternância vocálica: leth / lath. Esse mesmo radical aparece no verbo latino latere: estar latente, oculto, seguro. O radical de a-létheia reúne os dois sentidos, porque nele ressoa uma experiência originária da realidade enquanto não-verdade/não-desvelamento da verdade / desvelamento, isto é, a-létheia. Esta palavra forma-se de alethés, isto é, a privativo + leth / lath. Então temos com o alpha privativum respectivamente o sentido de lembrar-se e esquecer-se.


- Manuel Antônio de Castro

3

A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. Sem luz não há claridade nem escuridão. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio da luz. Portanto, a luz é o princípio de tudo, pois dela provêm tanto a claridade quanto a escuridão. E o silêncio é essa energia de plenitude e origem de sentido e verdade em que se constitui originariamente a luz. Como origem de tudo, a luz pode-se mostrar como desvelamento e velamento, como claridade e escuridão.


- Manuel Antônio de Castro

4

"A obra, enquanto verdade de desvelamento, eclosão de vida, produz em nós a nossa eclosão como mundo. É que todo desvelamento já é em-si mundo. Então o real nos advém como verdade. E o sentido de nossa vida, como corpo-mundo-erótico, se realiza como sabedoria: é a experienciação ética da vida. Sendo corpo-mundo-eros, o homem, que somos, se torna homem humano, isto é, essencializamo-nos em nossa humanidade. É que as possibilidades do humano são as possibilidades da semente-obra-de-arte. Nesse horizonte, o humano é o logos, reunindo em torno de si todos os seres do real enquanto tempo-memória, ou seja, mundo. É nesse sentido que o homem é homem enquanto logos (1).


Referência:


(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Obra de arte, vocabulário e mundo". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 251.

5

"Desvelamento é a realidade se dando como verdade no ser-humano, pelo qual ele respondendo e correspondendo a esse apelo de poiesis/linguagem/logos chega a ser o que é historicamente, isto é, no acontecer poético-apropriante (Ereignis). O que exercita o desvelo traduzimos por o desvelante. O leitor é o desvelante" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 237.


6

"Felizmente, em português ainda ressoa em desvelo não só a intensidade do velar o que é digno de ser velado e cuidado, mas, ao mesmo tempo, a intensidade no deixar ser, isto é, o deixar eclodir no que é, no desvelamento" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 237.


7

"O sendo de toda realidade é a luz de desvelamento em que todo velamento entre-acontece. Luz é energia irradiante e não apenas a luminosidade. O entre-acontecer de desvelamento e velamento é a própria verdade poética da realidade doando-se em Mundo e retraindo-se na Terra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.