Símbolo

De Dicionrio de Potica e Pensamento

Edição feita às 01h26min de 16 de Junho de 2018 por Profmanuel (Discussão | contribs)

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Bibliografia.
O leitor encontra aqui ensaios que questionam e pensam essencialmente o símbolo.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010.
HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar”. In: ---------------. Ensaios e conferências. Trad. Márcia Sá Cavalcente Schuback Petrópolis: Vozes,2002.
FOGEL, Gilvan. “O desaprendizado do símbolo (a poética do ver imediato)". In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.
BACHELARD, Gaston. A psicanálise do fogo (PF). Trad. Maria Isabel Braga. Lisboa: Estúdios Cor, 1971.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço (PE). Trad. Antônio da Costa Leal e Lídia do Valle Santos LEAL. Rio de Janeiro: Eldorado, s / d.
DE FARIA, Maria Lúcia Guimarães. “Bachelard e a permanência da poética”. In: Permanência e atualidade da poética. Revista Tempo Brasileiro, 171, out.-dez., 2007.

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Eis aí um conceito nuclear, embora seja portador de uma ampla semântica. "Todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos. Elas têm aquilo que Edward Said chama de suas geografias imaginárias" (1). O simbólico não tem o vigor em si mesmo. Há, por exemplo, silêncio simbólico. Porém, não é o simbólico que fala, mas o vigor do silêncio.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP7A, 2001, p. 71.

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Heidegger em A origem da obra de arte trata do símbolo, em que ocorre uma separação entre a coisa, o suporte e o que além disso ela "expressa": o símbolo. Ele se coloca contra essa separação, na medida em que não aceita a noção de "coisa" como "suporte". Nos ensaios "A coisa" e "Construir, habitar, pensar", desenvolve o que entende por "coisa". E no ensaio "Construir, habitar, pensar" retorna à questão do símbolo. Só podemos apreender e compreender os equívocos que o conceito de símbolo possui se aprofundarmos o que é "coisa" poética e originariamente. Heidegger nesse ensaio dá o exemplo de uma "ponte" como "coisa". E então diz: "Enquanto expressão, a ponte pode tornar-se, por exemplo, símbolo para tudo aquilo que mencionamos anteriormente. Se for autêntica, a ponte nunca é primeiro e apenas ponte e depois um símbolo. A ponte tampouco é, de antemão, um símbolo, no sentido de exprimir algo que, em sentido rigoroso, a ela não pertence. Tomada em sentido, a ponte nunca se mostra como expressão. A ponte é uma coisa e somente isso" (1).


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Construir, habitar, pensar". In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 133.


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A questão do símbolo está fundamentalmente ligada à discussão do significado e do sentido convencional ou natural das palavras. A questão é que não se pode confundir sentido e significado. Tudo isso radica nos muitos significados que a palavra grega lógos foi sofrendo pela visão metafísica e racionalista. O mesmo se pode dizer da outra palavra fundamental: phýsis. A tradução por natureza pode desfigurar completamente o seu sentido poético e originário. Dessas duas palavras há duas visões básicas: a epistemológica e a ontológica. Segundo cada uma destas posições, o símbolo terá sentidos radicalmente diferentes. Para uma visão epistemológica e metafísica ver (1). Para uma visão ontológica, ver (2).


- Manuel Antônio de Castro


Referências:
(1) NEVES, Maria Helena de Moura. A vertente grega da gramática tradicional. São Paulo: Hucitec, 1987.
(2) BEAUFRET, Jean. Dialogue avec Heidegger III. Paris: Minuit, 1974, especialmente o ensaio: "Du logos au langage".

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"No grego symbolon (de symbálleo, juntar, fazer conjunto) era um cubo ou um osso que se repartia entre dois hóspedes, como sinal de um compromisso. Transmitindo-se aos descendentes de ambos, podiam estes conferir os seus 'símbolos' e ter assim a prova de antigos liames de hospitalidade" (1). Como ocorre muito com a criação poética e de pensamento, as palavras são engravidadas de sentidos originários. É o que ocorre com o uso da palavra símbolo por Platão em O Banquete. De maneira alguma aí a palavra símbolo significa algo que remete ou representa outra coisa ou realidade. Platão nesse contexto fala de complementaridade, de um "entre si", de que é constituído o ser humano. O "entre-si" remete, no caso, para a conjunção no homem e na mulher, do masculino e do feminino, eroticamente vistos. O símbolo como símbolo destaca sempre os constituintes e não o vigor e vigência ambígua do que como princípio pode constituir. Daí o sentido genérico de representação e representado.


- Manuel Antônio de Castro


Referência:
(1) SOUZA, José Cavalcante de. Nota de tradução. "O Banquete" In: Os Pensadores. Platão. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 24.


Ver também:


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"... o símbolo, como a alegoria, de que nos fala Walter Benjamin, não é apenas a face inquieta de uma operação linguística, mas, e aqui reside a sua força, é antes o processamento dialético da realidade, a apreensão global do movimento alternado das contradições. O símbolo não é somente uma instauração, porque é a força instauradora" (1).


Referência:
(1) PORTELLA, Eduardo. Limites ilimitados da teoria literária. In: PORTELLA, Eduardo e Outros. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991, p. 13.


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"Ver pela primeira vez é ver des-habitualmente, ver imediatamente, ou seja, ver, ter presente e evidente sem a mediação, sem a intermediação do velho, do já visto e já sabido, porque já dado e já previamente constituído, ao qual é reduzido ou reconduzido - subsumido! - o novo, o inédito, que é também sempre singular. Enfim, ver pela primeira vez é não ter e não ver através da mediação do conceito, do símbolo. Conceito é símbolo. O saber representativo-conceptual - o conhecimento - é simbólico" (1).


Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "O desaprendizado do símbolo (A poética do ver imediato)". In: Revista Tempo Brasileiro, 171, Permanência e atualidade da Poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007, p. 43.


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"O papel dos símbolos religiosos é dar significação à vida do homem. Os índios pueblos acreditam que são filhos do Pai Sol, e esta crença dá a suas vidas uma perspectiva (e um objetivo) que ultrapassa a sua limitada existência; abre-lhes espaço para um maior desdobramento das suas personalidades e permite-lhes uma vida plena como seres humanos" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.


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Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.


- Manuel Antônio de Castro


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"O mito que se apoderou de São Paulo fez dele algo muito maior que um mero artesão.
Um mito assim, no entanto, consiste de símbolos que não foram conscientemente inventados. Aconteceram. Não foi o homem Jesus que criou o mito do homem-deus: este já existia muitos séculos antes do seu nascimento. E ele mesmo foi dominado por esta ideia simbólica que, segundo São Marcos, o elevou para muito além da obscura vida de um carpinteiro de Nazaré" (1).


Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
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