Cultura
De Dicionrio de Potica e Pensamento
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- | :Por que a [[essência]] da [[poesia]] não pode ser apreendida em [[relação]] à cultura? Aí há dois [[caminhos]]. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na [[essência]] da [[linguagem]]. Nessa [[dimensão]], as culturas são [[manifestações]] da [[linguagem]] e, portanto, todas provêm de um mesmo ''genos'', ou seja, da tensão ''[[physis]]''/''[[logos]]''. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como [[língua]], a partir da [[linguagem]]. Neste caso, não se pode apreender a [[essência]] da [[poesia]] a partir da [[língua]], mas sempre a partir da [[linguagem]]. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da [[poesia]]. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o [[rito]] da linguagem. Pois é a linguagem como [[mito]] que dá origem (memória) aos [[ritos]], ou seja, às [[línguas]] e, portanto, às culturas. | + | : Por que a [[essência]] da [[poesia]] não pode ser apreendida em [[relação]] à cultura? Aí há dois [[caminhos]]. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na [[essência]] da [[linguagem]]. Nessa [[dimensão]], as culturas são [[manifestações]] da [[linguagem]] e, portanto, todas provêm de um mesmo ''genos'', ou seja, da tensão ''[[physis]]''/''[[logos]]''. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como [[língua]], a partir da [[linguagem]]. Neste caso, não se pode apreender a [[essência]] da [[poesia]] a partir da [[língua]], mas sempre a partir da [[linguagem]]. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da [[poesia]]. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o [[rito]] da linguagem. Pois é a linguagem como [[mito]] que dá origem (memória) aos [[ritos]], ou seja, às [[línguas]] e, portanto, às culturas. |
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- | :(1) Citado por Martin Heidegger. In: ______. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: ''Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung''. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33. | + | : (1) Citado por Martin Heidegger. In: ______. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: ''Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung''. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33. |
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+ | : "A [[cultura]] é o [[espírito]] da [[nação]], o [[valor]] [[simbólico]] que a mantém una, que a faz [[existir]]. Ela não é só responsável por [[produtos]] de [[cinema]], [[música]], televisão, [[literatura]], [[artes plásticas]] etc., como também pelos [[costumes]] de um [[povo]], os hábitos da população que se desenvolvem ao longo do [[tempo]]" (1). | ||
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+ | : (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal ''O Globo'', 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018. |
Edição de 01h25min de 21 de Agosto de 2018
1
- "Pois que é a cultura? Eu sempre acreditei que era o ciclo que o Indivíduo percorria para chegar ao conhecimento de si próprio; e aquele que recusa segui-lo obtém um muito magro proveito de ter nascido na mais preclara das épocas" (1).
- Referência:
- (1) KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Lisboa: Guimarães Editores, 1998, p. 62.
2
- "Toda cultura resulta de uma conjuntura. Nela o homem se hominiza. Um famoso filme abordou essa situação de uma maneira admirável: 2001: uma odisseia no espaço, de Arthur Clarke e Stanley Kubrick. Toda grande época tem sua epopeia. e esta é, sem dúvida nenhuma, a epopeia da tematização, celebração e crítica angustiada da era da Técnica. Representa a continuação das grandes epopeias, embora narrada, sintomaticamente, na linguagem cinematográfica. Nela, a epopeia reencontra o caráter essencial do narrar" (1).
- Procura-se fazer nesse capítulo do livro ("O fenômeno cultural")uma reflexão ampla e essencial do que se compreender por cultura. Eis uma questão extremamente complexa e que se relaciona com outras questões essenciais, geralmente deixada entregue às definições e compreensões meramente sociológicas ou antropológicas. Nestas já se parte de uma posição prévia que não leva em consideração o que há de essencial no fenômeno cultural. Claro que são importantes tais considerações, mas insuficientes, uma vez que não tematizam o que é a cultura em sua essência. Igualmente são insuficientes as reflexões psicológicas. Para que se compreenda um pouco esta nossa crítica, leve-se em consideração que Freud, o grande criador da psicanálise, não partiu de reflexões da psicologia da sua época, mas, sim, do mito de Édipo, narrado na tragédia de Sófocles: Rei Édipo. E ele consegue no início do século XX fazer uma leitura original dessa obra-prima, escrita há 2.400 anos (2).
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -----. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 19.
- (2) - Manuel Antônio de Castro.
3
- Referência:
- (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O fenômeno cultural". In: -------. O acontecer poético - a história literária, 2. e. Rio de Janeiro: Antares, 1982, p. 35.
3
- "O homem cuida do crescimento das coisas da terra e colhe o que ali cresce. Cuidar e colher (colere, cultura) é um modo de construir. O homem constrói não apenas o que se desdobra a partir de si mesmo num crescimento. Ele também constrói no sentido de aedificare, edificando o que não pode surgir e manter-se mediante um crescimento. Construídas e edificadas são, nesse sentido, não somente as construções, mas todos os trabalhos feitos com a mão e instaurados pelo homem. No entanto, os méritos dessas múltiplas construções nunca conseguem preencher a essência do habitar. Ao contrário: elas chegam mesmo a vedar para o habitar a sua essência, tão logo sejam perseguidas e conquistadas somente com vistas a elas mesmas" (1).
- Referência:
- (1) HEIDEGGER, Martin. "...poeticamente o homem habita...". In: ----------. Ensaios e conferências. Tradução de Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel, Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2001, pp. 168-9.
- Ver Também:
4
- "Mas o que permanece os poetas o fundam", Hölderlin (1).
- Por que a essência da poesia não pode ser apreendida em relação à cultura? Aí há dois caminhos. Pelo primeiro se fundamenta a cultura na essência da linguagem. Nessa dimensão, as culturas são manifestações da linguagem e, portanto, todas provêm de um mesmo genos, ou seja, da tensão physis/logos. Pelo segundo se considera a cultura na sua diferença, como uma construção como língua, a partir da linguagem. Neste caso, não se pode apreender a essência da poesia a partir da língua, mas sempre a partir da linguagem. Então, a essência da poesia não se fundamenta na cultura. Pelo contrário, pois são as culturas que surgem a partir da essência da poesia. Sendo assim, não podemos apreendê-la partindo de uma ou outra cultura, embora sempre de imediato tenhamos uma língua como o rito da linguagem. Pois é a linguagem como mito que dá origem (memória) aos ritos, ou seja, às línguas e, portanto, às culturas.
- Referência:
- (1) Citado por Martin Heidegger. In: ______. "Hölderlin und das Wesen der Dichtung". In: Erläuterungen zu Hölderlin Dichtung. Frankfurt am Main: Vittorio Klostermann, 1971, p. 33.
5
- "A cultura é o espírito da nação, o valor simbólico que a mantém una, que a faz existir. Ela não é só responsável por produtos de cinema, música, televisão, literatura, artes plásticas etc., como também pelos costumes de um povo, os hábitos da população que se desenvolvem ao longo do tempo" (1).
- Referência:
- (1) DIEGUES, Cacá. "Cultura como economia". In: Jornal O Globo, 1o. Caderno, p.3, Segunda-feira, 20-08-2018.