Cinema
De Dicionrio de Potica e Pensamento
(Diferença entre revisões)
(Criou página com '== 1 == "O teatro e o cinema indiscutivelmente são duas formas de trabalho de imensa carga erótica. O diretor tenta ser perfeito como pessoa, como artista, em todos os sent...') |
(→2) |
||
(44 edições intermediárias não estão sendo exibidas.) | |||
Linha 1: | Linha 1: | ||
== 1 == | == 1 == | ||
- | "O teatro e o cinema indiscutivelmente são duas [[formas]] de trabalho de imensa carga erótica. O diretor tenta ser perfeito como pessoa, como artista, em todos os sentidos. E os atores e atrizes também tentam ser perfeitos. E isso pode facilmente gerar tensões incrivelmente prazerosas" (1). | + | : O [[grego]] pensa a [[realidade]], que não cessa de [[mudar]], a partir de quatro [[movimentos]]. Estes [[movimentos]] remetem para muitas [[questões]], sobretudo [[tempo]], [[fenômeno]], [[representação]], [[cinema]], [[imagem]], [[processo]], [[visão]]. A [[palavra]] [[cinema]] vem diretamente da [[palavra]] grega que diz [[movimento]]: ''kinesis''. |
+ | |||
+ | |||
+ | : - [[Manuel Antônio de Castro]] | ||
+ | |||
+ | == 2 == | ||
+ | : "O [[teatro]] e o [[cinema]] indiscutivelmente são duas [[formas]] de [[trabalho]] de imensa carga [[erótica]]. O diretor tenta [[ser]] [[perfeito]] como [[pessoa]], como [[artista]], em todos os [[sentidos]]. E os [[atores]] e [[atrizes]] também tentam [[ser]]perfeitos. E isso pode facilmente gerar [[tensões]] incrivelmente prazerosas" (1). | ||
: Referência: | : Referência: | ||
- | : (1) BERGMAN, Ingmar. Fala dele no filme: ''A ilha de Bergman''. Direção de Marie Nyreröd, 2004. | + | : (1) BERGMAN, Ingmar.''' Fala dele no [[filme]]: ''A ilha de Bergman''. Direção de Marie Nyreröd, 2004.''' |
+ | |||
+ | == 3 == | ||
+ | : "Amo muito o [[cinema]]. Eu mesmo ainda não sei muita coisa: se, por exemplo, meu [[trabalho]] corresponderá exatamente à [[concepção]] que tenho, ao [[sistema]] de hipóteses com que me defronto atualmente. Além do mais, as tentações são muitas: a tentação dos [[lugares-comuns]], das [[ideias]] [[artísticas]] dos [[outros]]. Em geral, na verdade, é tão fácil rodar uma cena de modo requintado, de efeito, para arrancar aplausos... Mas basta voltar-se nessa direção e você está perdido. Por meio do [[cinema]], é necessário situar os [[problemas]] mais complexos do [[mundo]] [[moderno]] no nível dos grandes [[problemas]] que, ao longo dos séculos, foram [[objetos]] da [[literatura]], da [[música]] e da [[pintura]]. É preciso [[procurar]], [[procurar]] sempre de novo, o [[caminho]], o veio ao longo do qual deve mover-se a [[arte]] do [[cinema]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) TARKOVSKI, Andrei.'''Esculpir o [[tempo]]. São Paulo: Martins, 2010. Texto da Orelha do livro.''' | ||
+ | |||
+ | == 4 == | ||
+ | : "''O senhor nunca foi de levantar bandeiras. Como era a [[recepção]] disso no pós-guerra?''" (1). | ||
+ | : "''As pessoas me acusavam de não ter [[opinião]], o que é precipitado, porque o [[fato]] de [[escolher]] um enquadramento já é um [[posicionamento]]. John Rouch falava que eu filmo o que eu não sei. Muitos diretores filmam aquilo que eles denunciam. Eu filmo para [[entender]] o que não conheço. Isso vai contra a regra do [[cinema]] [[engajado]] do pós-guerra. Sinto que fiz certo, porque dizem que o meu [[estilo]] não envelheceu''" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) DEPARDON, Raymond.''' Cineasta e [[fotógrafo]] francês. In: O Globo. Primeiro caderno, p. 2, 29-01-2018. Entrevista a Marcello Ramos.''' | ||
+ | |||
+ | == 5 == | ||
+ | : "''...que [[cinema]] você queria para o Brasil e quais as condições mínimas para que ele possa [[existir]]?''" (1). | ||
+ | : "''Estamos no meio de um enorme [[mutação]] [[tecnológica]], e isso afeta a maneira como vamos [[produzir]] e [[ver]] [[imagens]] daqui para a frente. O que vai [[ser]] do [[cinema]]? Essa [[pergunta]] não pode ser dissociada de uma [[questão]] mais ampla: em que [[mundo]] queremos [[viver]]? Anunciaram tantas vezes a [[morte]] da [[pintura]], da [[fotografia]], do [[teatro]], e essas [[formas]] de [[representação]] continuam firmes e fortes. Da mesma [[forma]], não acredito na [[morte]] do [[cinema]]. Desde as [[pinturas]] rupestres de Lascaux, o [[homem]] desejou deixar um registro de sua [[história]], algo que possa [[ser]] dividido com as [[gerações]] [[futuras]]. O [[cinema]] [[renascerá]] [[sempre]]''" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) SALLES, Walter.''' Cineasta. In: O Globo. Segundo Caderno, p. 2, 5-11-2019. Entrevista a Fátima Sá.''' | ||
+ | |||
+ | == 6 == | ||
+ | : Em uma entrevista publicada no jornal ''O Globo'', originalmente concedida ao jornal americano ''The New York Time'', o diretor americano de [[cinema]] Martin Scorcese, faz [[críticas]] aos [[filmes]] de franquias, que hoje dominam as [[produções]] cinematográficas. O título da entrevista é: ''Arte e risco, ausente nos filmes de franquia''. Segundo Caderno, p. 2, 6-11-2019. | ||
+ | : [[Entre]] outras considerações diz: "Para mim, para os cineastas que eu vim a [[amar]] e respeitar, para meus amigos que começaram a [[fazer]] [[filmes]] na mesma [[época]] que [[eu]], o [[cinema]] tratava de [[revelação]] - [[revelação]] [[estética]], [[emocional]] e [[espiritual]]. Eram os [[personagens]] - a complexidade das [[pessoas]] e suas [[naturezas]] contraditórias e às vezes [[paradoxais]], a maneira como elas podem se machucar e se [[amar]] e, de repente, encarar a si [[mesmos]]. Tratava-se de enfrentar o [[inesperado]] na tela e na [[vida]] dramatizada, ampliando o [[sentido]] do que era [[possível]] como [[forma]] de [[arte]]". | ||
+ | |||
+ | == 7 == | ||
+ | : "Diz-se que os [[filmes]] de Hitchcock tinham semelhanças entre si e talvez isso seja [[verdade]] - o [[próprio]] Hitchcock se perguntou isso. Mas a mesmice dos [[filmes]] de [[franquia]] é [[outra]] [[coisa]]. Muitos dos [[elementos]] que [[definem]] o [[cinema]] como [[eu]] o conheço estão nos [[filmes]] da Marvel. O que não está lá é [[revelação]], [[mistério]] ou risco [[emocional]] genuíno. [[Nada]] está em risco. Os [[filmes]] são feitos para [[satisfazer]] um conjunto específico de demandas e são projetados como variações de um número limitado de [[temas]]. Eles são continuações no [[nome]], mas são ''remakes'' em [[espírito]], e [[tudo]] neles é oficialmente sancionado, porque não pode [[ser]] de [[outra]] maneira. Essa é a [[natureza]] das [[franquias]] [[modernas]] de [[cinema]]: pesquisas de mercado , testes de [[público]], avaliações, [[mudanças]], mais avaliações e mais [[mudanças]] até estarem prontas para [[consumo]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) SCORCESE, Martin.''' [[Arte]] e risco, ausente nos [[filmes]] de franquia. Em entrevista publicada no jornal ''O Globo'', Segundo Caderno, p. 2, 6-11-2019, originalmente concedida e publicada no jornal americano ''The New York Time''.''' | ||
+ | |||
+ | == 8 == | ||
+ | : "Ganhador do Oscar em quatro [[categorias]], ''Parasita'', [[obra]] de [[autor]] do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, tem todos os ingredientes de um grande [[filme]]: [[coração]], ponto de vista e uma [[história]] bem contada. Pode ser adaptado para qualquer outro [[tempo]] da [[história]] e continuará a fazer [[sentido]] e a magnetizar a atenção do começo ao fim. Isso tudo somado à [[estética]] rigorosa faz de ''Parasita'', desde já, candidato provável a ser entronizado como um [[clássico]] do [[cinema]]" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) ALCÂNTARA, Eurípedes.''' "Pode-se [[criticar]] o ''Parasita''?". In: O Globo, sábado, 15-2-2020, Caderno Opinião, p. 3.''' | ||
+ | |||
+ | == 9 == | ||
+ | : " - A [[pergunta]] pode ser ingênua, mas como estamos tratando de [[realidade]] e de sua adaptação para a tela grande, o senhor acredita que o [[cinema]] pode [[mudar]] o [[mundo]]? | ||
+ | |||
+ | : " - Mas não mesmo! (''Risos''). Esta é uma [[ilusão]] que nunca tive. Não acho que a [[arte]] tenha esta [[função]] em si, ou este [[poder]]. Por outro lado, é justamente o conjunto da [[produção]] [[artística]] de nossas [[sociedades]] que faz o [[mundo]] um pouquinho mais [[possível]], especialmente nos dias de hoje. Ir além disso seria, sim, me entregar à ingenuidade. Não o farei" (1). | ||
+ | |||
+ | |||
+ | : Referência: | ||
+ | |||
+ | : (1) HANEKE, Michael.''' Entrevista a Eduardo Garcia. Publicada no Segundo Caderno de O Globo, 10-2-2018: "A internet tomou o lugar das igrejas".''' |
Edição atual tal como 20h08min de 22 de Maio de 2025
Tabela de conteúdo |
1
- O grego pensa a realidade, que não cessa de mudar, a partir de quatro movimentos. Estes movimentos remetem para muitas questões, sobretudo tempo, fenômeno, representação, cinema, imagem, processo, visão. A palavra cinema vem diretamente da palavra grega que diz movimento: kinesis.
2
- "O teatro e o cinema indiscutivelmente são duas formas de trabalho de imensa carga erótica. O diretor tenta ser perfeito como pessoa, como artista, em todos os sentidos. E os atores e atrizes também tentam serperfeitos. E isso pode facilmente gerar tensões incrivelmente prazerosas" (1).
- Referência:
- (1) BERGMAN, Ingmar. Fala dele no filme: A ilha de Bergman. Direção de Marie Nyreröd, 2004.
3
- "Amo muito o cinema. Eu mesmo ainda não sei muita coisa: se, por exemplo, meu trabalho corresponderá exatamente à concepção que tenho, ao sistema de hipóteses com que me defronto atualmente. Além do mais, as tentações são muitas: a tentação dos lugares-comuns, das ideias artísticas dos outros. Em geral, na verdade, é tão fácil rodar uma cena de modo requintado, de efeito, para arrancar aplausos... Mas basta voltar-se nessa direção e você está perdido. Por meio do cinema, é necessário situar os problemas mais complexos do mundo moderno no nível dos grandes problemas que, ao longo dos séculos, foram objetos da literatura, da música e da pintura. É preciso procurar, procurar sempre de novo, o caminho, o veio ao longo do qual deve mover-se a arte do cinema" (1).
- Referência:
- (1) TARKOVSKI, Andrei.Esculpir o tempo. São Paulo: Martins, 2010. Texto da Orelha do livro.
4
- "O senhor nunca foi de levantar bandeiras. Como era a recepção disso no pós-guerra?" (1).
- "As pessoas me acusavam de não ter opinião, o que é precipitado, porque o fato de escolher um enquadramento já é um posicionamento. John Rouch falava que eu filmo o que eu não sei. Muitos diretores filmam aquilo que eles denunciam. Eu filmo para entender o que não conheço. Isso vai contra a regra do cinema engajado do pós-guerra. Sinto que fiz certo, porque dizem que o meu estilo não envelheceu" (1).
- Referência:
- (1) DEPARDON, Raymond. Cineasta e fotógrafo francês. In: O Globo. Primeiro caderno, p. 2, 29-01-2018. Entrevista a Marcello Ramos.
5
- "...que cinema você queria para o Brasil e quais as condições mínimas para que ele possa existir?" (1).
- "Estamos no meio de um enorme mutação tecnológica, e isso afeta a maneira como vamos produzir e ver imagens daqui para a frente. O que vai ser do cinema? Essa pergunta não pode ser dissociada de uma questão mais ampla: em que mundo queremos viver? Anunciaram tantas vezes a morte da pintura, da fotografia, do teatro, e essas formas de representação continuam firmes e fortes. Da mesma forma, não acredito na morte do cinema. Desde as pinturas rupestres de Lascaux, o homem desejou deixar um registro de sua história, algo que possa ser dividido com as gerações futuras. O cinema renascerá sempre" (1).
- Referência:
- (1) SALLES, Walter. Cineasta. In: O Globo. Segundo Caderno, p. 2, 5-11-2019. Entrevista a Fátima Sá.
6
- Em uma entrevista publicada no jornal O Globo, originalmente concedida ao jornal americano The New York Time, o diretor americano de cinema Martin Scorcese, faz críticas aos filmes de franquias, que hoje dominam as produções cinematográficas. O título da entrevista é: Arte e risco, ausente nos filmes de franquia. Segundo Caderno, p. 2, 6-11-2019.
- Entre outras considerações diz: "Para mim, para os cineastas que eu vim a amar e respeitar, para meus amigos que começaram a fazer filmes na mesma época que eu, o cinema tratava de revelação - revelação estética, emocional e espiritual. Eram os personagens - a complexidade das pessoas e suas naturezas contraditórias e às vezes paradoxais, a maneira como elas podem se machucar e se amar e, de repente, encarar a si mesmos. Tratava-se de enfrentar o inesperado na tela e na vida dramatizada, ampliando o sentido do que era possível como forma de arte".
7
- "Diz-se que os filmes de Hitchcock tinham semelhanças entre si e talvez isso seja verdade - o próprio Hitchcock se perguntou isso. Mas a mesmice dos filmes de franquia é outra coisa. Muitos dos elementos que definem o cinema como eu o conheço estão nos filmes da Marvel. O que não está lá é revelação, mistério ou risco emocional genuíno. Nada está em risco. Os filmes são feitos para satisfazer um conjunto específico de demandas e são projetados como variações de um número limitado de temas. Eles são continuações no nome, mas são remakes em espírito, e tudo neles é oficialmente sancionado, porque não pode ser de outra maneira. Essa é a natureza das franquias modernas de cinema: pesquisas de mercado , testes de público, avaliações, mudanças, mais avaliações e mais mudanças até estarem prontas para consumo" (1).
- Referência:
- (1) SCORCESE, Martin. Arte e risco, ausente nos filmes de franquia. Em entrevista publicada no jornal O Globo, Segundo Caderno, p. 2, 6-11-2019, originalmente concedida e publicada no jornal americano The New York Time.
8
- "Ganhador do Oscar em quatro categorias, Parasita, obra de autor do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, tem todos os ingredientes de um grande filme: coração, ponto de vista e uma história bem contada. Pode ser adaptado para qualquer outro tempo da história e continuará a fazer sentido e a magnetizar a atenção do começo ao fim. Isso tudo somado à estética rigorosa faz de Parasita, desde já, candidato provável a ser entronizado como um clássico do cinema" (1).
- Referência:
- (1) ALCÂNTARA, Eurípedes. "Pode-se criticar o Parasita?". In: O Globo, sábado, 15-2-2020, Caderno Opinião, p. 3.
9
- " - A pergunta pode ser ingênua, mas como estamos tratando de realidade e de sua adaptação para a tela grande, o senhor acredita que o cinema pode mudar o mundo?
- " - Mas não mesmo! (Risos). Esta é uma ilusão que nunca tive. Não acho que a arte tenha esta função em si, ou este poder. Por outro lado, é justamente o conjunto da produção artística de nossas sociedades que faz o mundo um pouquinho mais possível, especialmente nos dias de hoje. Ir além disso seria, sim, me entregar à ingenuidade. Não o farei" (1).
- Referência:
- (1) HANEKE, Michael. Entrevista a Eduardo Garcia. Publicada no Segundo Caderno de O Globo, 10-2-2018: "A internet tomou o lugar das igrejas".