Dúvida

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: "Quando duvido só posso [[duvidar]] porque ajo a partir do [[radicar]] na [[essência]] do [[agir]] enquanto o [[não-querer]] de todo [[querer]] e, portanto, no [[procurar]] no [[saber]] sempre o [[não-saber]] de todo [[saber]]. Todo [[duvidar]] radica na [[essência]] do [[agir]]. Só deixamos de [[agir]] quando um outro [[agir]] nos toma e do qual nada podemos [[falar]]. Para [[agir]] [[essencialmente]] não basta [[viver]], é necessário [[ser]] o que se vive. [[Agir]] [[essencialmente]] é [[ser]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: -----. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Liberdade]], [[vontade]] e uso de drogas". In: ---. [[Arte]]: o [[humano]] e o [[destino]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.'''
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: "[[Hesse]] afastou a [[espiritualidade]] da [[perfeição]], lançando-a, em vez disso, no [[caminho]] incerto da [[dúvida]] e da [[imperfeição]], e aproximando-a, de certo modo, da [[arte]]. A [[fé]] e a [[dúvida]], ele ensinava, em vez de se excluírem, se correspondem. Onde não se duvida, não se crê [[verdadeiramente]]. Lição que se torna luminosa no [[mundo]] sectário e sombrio em que vivemos" (1).  
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: "[[Hesse]] afastou a [[espiritualidade]] da [[perfeição]], lançando-a, em vez disso, no [[caminho]] incerto da [[dúvida]] e da imperfeição, e aproximando-a, de certo modo, da [[arte]]. A [[fé]] e a [[dúvida]], ele ensinava, em vez de se excluírem, se correspondem. Onde não se duvida, não se crê [[verdadeiramente]]. Lição que se torna luminosa no [[mundo]] sectário e sombrio em que vivemos" (1).
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: Afirmar que a [[fé]] e a [[dúvida]] se correspondem é não [[conhecer]] a [[essência]] da [[fé]] em sua [[vigência]]. A [[fé]] não é algo [[vazio]]. Em que se tem [[fé]]? E pode a [[fé]] [[conviver]] com o [[questionar]]? São [[questões]] [[difíceis]]. E justamente ao longo da [[vida]] [[humana]], como a [[fé]] exclui o que não é do seu [[âmbito]], há a tendência a [[excluir]] aqueles que não têm a mesma [[fé]]. Porém, podemos admitir [[diferentes]] [[crenças]], cada uma com a sua [[fé]]. E elas podem [[conviver]] em [[diálogo]] e [[compreensão]]. Por outro lado, o [[questionar]] se defronta em sua [[radicalidade]] com o [[mistério]]. E diante do [[mistério]] só resta o [[silêncio]], sobretudo o da [[razão]].
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: Afirmar que a [[fé]] e a dúvida se correspondem é não [[conhecer]] a [[essência]] da [[fé]] em sua [[vigência]]. A [[fé]] não é algo [[vazio]]. Em que se tem [[fé]]? E pode a [[fé]] [[conviver]] com o [[questionar]]? São [[questões]] difíceis. E justamente ao longo da [[vida]] [[humana]], como a [[fé]] exclui o que não é do seu âmbito, há a tendência a excluir aqueles que não têm a mesma [[fé]]. Porém, podemos admitir [[diferentes]] [[crenças]], cada uma com a sua [[fé]]. E elas podem [[conviver]] em [[diálogo]] e [[compreensão]]. Por outro lado, o [[questionar]] se defronta em sua radicalidade com o [[mistério]]. E diante do [[mistério]] só resta o [[silêncio]], sobretudo o da [[razão]].
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: CASTELLO, José. Resenha publicada no Caderno "Prosa & Verso", p. 5, do Jornal ''O Globo''.
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: "Mas quem se debruçou filosófica e metodicamente sobre a [[dúvida]] foi [[Descartes]]. E são dele as famosas [[palavras]] que sintetizam o [[problema]] e o passo seguinte. ''Dubito, ergo cogito; cogito, ergo sum'' (''Duvido, logo penso''; ''penso, logo sou''). Quando [[Descartes]] faz o [[percurso]] da [[dúvida]], constata que pode [[duvidar]] de [[tudo]], exceto da própria [[dúvida]]. Pois no [[duvidar]] reinstala [[sempre]] a [[dúvida]]. [[Duvidar]] é [[pensar]]. O [[pensamento]] como [[realidade]] de que não posso [[duvidar]] coloca a [[subjetividade]] no cerne da [[modernidade]]. [[Descartes]] busca um ponto de [[referência]] indubitável a partir do qual possa erguer um novo [[paradigma]] de organização do [[real]], de [[conhecimento]] do [[real]]. Tudo o que é [[externo]] pode [[parecer]] uma grande [[ilusão]], uma grande [[fantasia]]. Só o [[pensamento]] resiste indestrutível à [[dúvida]]. O [[pensamento]] é algo que diz estritamente respeito ao [[homem]], por isso a [[modernidade]] é [[antropocêntrica]] e [[subjetiva]]. É a partir de dentro do [[homem]] que se redesenha o [[real]] e o [[próprio]] novo [[homem]] na nova paisagem desse novo [[real]]" (1).
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: "Mas quem se debruçou filosófica e metodicamente sobre a [[dúvida]] foi Descartes. E são dele as famosas [[palavras]] que sintetizam o [[problema]] e o passo seguinte. ''Dubito, ergo cogito; cogito, ergo sum'' (''Duvido, logo penso''; ''penso, logo sou''). Quando Descartes faz o [[percurso]] da [[dúvida]], constata que pode [[duvidar]] de [[tudo]], exceto da própria [[dúvida]]. Pois no [[duvidar]] reinstala [[sempre]] a [[dúvida]]. [[Duvidar]] é [[pensar]]. O [[pensamento]] como [[realidade]] de que não posso [[duvidar]] coloca a [[subjetividade]] no cerne da [[modernidade]]. Descartes busca um ponto de [[referência]] indubitável a partir do qual possa erguer um novo [[paradigma]] de organização do [[real]], de [[conhecimento]] do [[real]]. Tudo o que é externo pode [[parecer]] uma grande [[ilusão]], uma grande [[fantasia]]. Só o [[pensamento]] resiste indestrutível à [[dúvida]]. O [[pensamento]] é algo que diz estritamente respeito ao [[homem]], por isso a [[modernidade]] é antropocêntrica e [[subjetiva]]. É a partir de dentro do [[homem]] que se redesenha o [[real]] e o [[próprio]] novo [[homem]] na nova paisagem desse novo [[real]]" (1).
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ..... ''Tempos de metamorfose''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 65.
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de.''' "[[Metamorfose]] da [[narrativa]]". In: ... [[Tempos]] de [[metamorfose]]. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 65.'''

Edição atual tal como 19h01min de 15 de fevereiro de 2025

Tabela de conteúdo

1

Diante da morte, toda dúvida, fundamentada na razão duvidante, mostra como é limitada em sua pretensão de conhecer tudo, quando se trata da vigência da realidade da morte. O conhecer da razão jamais nos abrirá as portas da questão que nos convida a saber o não-saber de toda morte. A morte é o originário de todo saber que não-sabe.


- Manuel Antônio de Castro

2

"Quando duvido só posso duvidar porque ajo a partir do radicar na essência do agir enquanto o não-querer de todo querer e, portanto, no procurar no saber sempre o não-saber de todo saber. Todo duvidar radica na essência do agir. Só deixamos de agir quando um outro agir nos toma e do qual nada podemos falar. Para agir essencialmente não basta viver, é necessário ser o que se vive. Agir essencialmente é ser" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 271.

3

"Hesse afastou a espiritualidade da perfeição, lançando-a, em vez disso, no caminho incerto da dúvida e da imperfeição, e aproximando-a, de certo modo, da arte. A e a dúvida, ele ensinava, em vez de se excluírem, se correspondem. Onde não se duvida, não se crê verdadeiramente. Lição que se torna luminosa no mundo sectário e sombrio em que vivemos" (1).
Afirmar que a e a dúvida se correspondem é não conhecer a essência da em sua vigência. A não é algo vazio. Em que se tem ? E pode a conviver com o questionar? São questões difíceis. E justamente ao longo da vida humana, como a exclui o que não é do seu âmbito, há a tendência a excluir aqueles que não têm a mesma . Porém, podemos admitir diferentes crenças, cada uma com a sua . E elas podem conviver em diálogo e compreensão. Por outro lado, o questionar se defronta em sua radicalidade com o mistério. E diante do mistério só resta o silêncio, sobretudo o da razão.


- Manuel Antônio de Castro.
Referência:
(1) CASTELLO, José. Resenha publicada no Caderno Prosa & Verso, p. 5, do Jornal O Globo.

4

"Mas quem se debruçou filosófica e metodicamente sobre a dúvida foi Descartes. E são dele as famosas palavras que sintetizam o problema e o passo seguinte. Dubito, ergo cogito; cogito, ergo sum (Duvido, logo penso; penso, logo sou). Quando Descartes faz o percurso da dúvida, constata que pode duvidar de tudo, exceto da própria dúvida. Pois no duvidar reinstala sempre a dúvida. Duvidar é pensar. O pensamento como realidade de que não posso duvidar coloca a subjetividade no cerne da modernidade. Descartes busca um ponto de referência indubitável a partir do qual possa erguer um novo paradigma de organização do real, de conhecimento do real. Tudo o que é externo pode parecer uma grande ilusão, uma grande fantasia. Só o pensamento resiste indestrutível à dúvida. O pensamento é algo que diz estritamente respeito ao homem, por isso a modernidade é antropocêntrica e subjetiva. É a partir de dentro do homem que se redesenha o real e o próprio novo homem na nova paisagem desse novo real" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Metamorfose da narrativa". In: ... Tempos de metamorfose. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994, p. 65.
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