Velamento

De Dicionrio de Potica e Pensamento

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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.
: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.
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: "... o [[mito]] criou a [[figura]] de ''[[Mnēmosýnē]]'': a [[memória]]. Ora, esta não é só o que se lembra, mas também o que se vela e como tal [[vige]] no [[esquecimento]], no [[vigor]] do [[silêncio]] do [[esquecer]], sem o qual não pode nem haver [[lembrança]]. Contudo, a [[presença]] da [[lembrança]] é tão pregnante, tão [[evidente]], tão forte e abrangente que nos esquecemos da [[memória]] como [[velamento]]-[[silêncio]]-[[esquecimento]]. [[Esquecer]] não significa deixar de [[ser]], mas [[ser]] a [[memória]] só no âmbito do [[lembrar]], isto é, do [[ente]], do desvelado, da [[luz]] da [[clareira]] do desvelado. Ficamos tão empolgados pela [[luz]] da [[razão]] que esquecemos a [[clareira]] e o que nela se ausenta: o velado, o [[ser]]" (1).
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: Referência bibliográfica:
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: (1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. ''Arte: o humano e o destino''. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.

Edição de 21h43min de 28 de Setembro de 2020

Ver também os verbetes Desvelamento e Aletheia.

Tabela de conteúdo

1

Os gregos diziam verdade com a palavra aletheia. Como traduzi-la? O alcance da tradução, além de ser desvelamento é também velamento. Não se pode falar em desvelamento sem nos abrirmos para o velamento. E essa tensão de opostos constituem uma dobra, que é a dialética da realidade, originária e histórica. Isso faz compreender melhor o que nos diz a palavra época: suspensão, que podemos compreender por um entre, um hiato, bem expresso na prefixo grego diá-, com que se formam as palavras diálogo e dialética. É nesta dinâmica da realidade, que se vela e desvela, que não podemos reduzir o movimento histórico da realidade à dialética, seja hegeliana, seja marxista. Toda dialética é lógica, verdadeira, porém nenhuma lógica é dialética. Isto implica dizer que na lógica nunca acontece o que é e o que não é, isto é, a negatividade. É nesse sentido que aletheia pode ser traduzido para o português como desvelamento. Tanto mais se desvela, mostra, quanto mais se vela, se retrai. O prefixo português des- tanto diz negação quanto intensificação. Isto pode dizer: quanto mais se mergulha no desvelamento tanto mais se aprofunda o velamento e, dialeticamente, o desvelamento. Isso é a verdade da realidade, não da lógica. Não podemos esquecer que tanto em lógica quanto em dialética, o radical está na palavra logos, submetida a múltiplas interpretações ao longo do percurso ocidental. Porém, nenhuma consegue abarcar toda a profundidade e mistério que essa palavra diz e provoca a pensar. É nesse horizonte que ao lógico não se opõe o i-lógico. Para apreender, em português, o âmbito ambíguo da aletheia, teríamos a palavra, travessia.


- Manuel Antônio de Castro

2

A luz é a energia do silêncio e seu manto é a claridade. Sem luz não há claridade nem escuridão. A claridade da luz é o sentido e verdade do agir, o vigorar do silêncio da luz. Portanto, a luz é o princípio de tudo, pois dela provêm tanto a claridade quanto a escuridão. E o silêncio é essa energia de plenitude e origem de sentido e verdade em que se constitui originariamente a luz. Como origem de tudo, a luz pode-se mostrar como desvelamento e velamento, como claridade e escuridão.


- Manuel Antônio de Castro

3

"O sendo de toda realidade é a luz de desvelamento em que todo velamento entre-acontece. Luz é energia irradiante e não apenas a luminosidade. O entre-acontecer de desvelamento e velamento é a própria verdade poética da realidade doando-se em Mundo e retraindo-se na Terra" (1).


Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. “A menina e a bicicleta: arte e confiabilidade”. In: ------. ‘’Arte: o humano e o destino’’. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 281.

4

"... o mito criou a figura de Mnēmosýnē: a memória. Ora, esta não é só o que se lembra, mas também o que se vela e como tal vige no esquecimento, no vigor do silêncio do esquecer, sem o qual não pode nem haver lembrança. Contudo, a presença da lembrança é tão pregnante, tão evidente, tão forte e abrangente que nos esquecemos da memória como velamento-silêncio-esquecimento. Esquecer não significa deixar de ser, mas ser a memória só no âmbito do lembrar, isto é, do ente, do desvelado, da luz da clareira do desvelado. Ficamos tão empolgados pela luz da razão que esquecemos a clareira e o que nela se ausenta: o velado, o ser" (1).


Referência bibliográfica:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 201.
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